quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Civil war - Guns n' Roses





Composição: W. Axl Rose / Izzy Stradlin


"what we've got here is failure to communicate
some men you just can't reach...
so, you get what we had here last week
which is the way he wants it!
well, he gets it!
n' i don't like it any more than you men."

look at your young men fighting
look at your women crying
look at your young men dying
the way they've always done before

look at the hate we're breeding
look at the fear we're feeding
look at the lives we're leading
the way we've always done before

my hands are tied
the billions shift from side to side
and the wars go on with brainwashed pride
for the love of god and human rights
and all these things are swept aside
by bloody hands time can't deny
and are washed away by your genocide
and history hides the lies of our civil wars

d'you wear a black armband
when they shot the man
who said "peace could last forever"
and in my first memories
they shot kennedy
an i went numb when i learned to see
so i never fell for vietnam
we got the wall of d.c. to remind us all
that you can't trust freedom
when it's not in your hands
when everybody's fightin'
for their promised land

and
i don't need your civil war
it feeds the rich while it buries the poor
your power hungry sellin' soldiers
in a human grocery store
ain't that fresh
i don't need your civil war

look at the shoes you're filling
look at the blood we're spilling
look at the world we're killing
the way we've always done before
look in the doubt we've wallowed
look at the leaders we've followed
look at the lies we've swallowed
and i don't want to hear no more

my hands are tied
for all i've seen has changed my mind
but still the wars go on as the years go by
with no love of god or human rights
'cause all these dreams are swept aside
by bloody hands of the hypnotized
who carry the cross of homicide
and history bears the scars of our civil wars

"we practice selective annihilation of mayors
and government officials
for example to create a vacuum
then we fill that vacuum
as popular war advances
peace is closer"

i don't need your civil war
it feeds the rich while it buries the poor
your power hungry sellin' soldiers
in a human grocery store
ain't that fresh
and i don't need your civil war
i don't need your civil war
i don't need your civil war
your power hungry sellin' soldiers
in a human grocery store
ain't that fresh
i don't need your civil war
i don't need one more war

i don't need one more war
whaz so civil 'bout war anyway


Escrita há quase duas décadas, sua mensagem é extremamente atual. E como ela nos lembra alguns governos como, por exemplo, o norte-americano!

Post Scriptum (8/02/16):

Releitura oito anos depois. A letra é impressionante. Perfeita! 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O velho e o mar - Ernest Hemingway, 1952


Minha edição do livro.

Terminei minha quarta leitura do livro e relendo meus comentários nas abas, feitas nas leituras anteriores, vejo que a sensação e emoção é a mesma de então.

Na oportunidade havia escrito:

“hoje, terminei a segunda leitura este mês de 'O velho e o mar' de Hemingway. Acho o livro maravilhoso. Há entre nós aquele não-sei-quê de identificação.

Ao mesmo tempo em que a história nos coloca no devido lugar, ao mostrar-nos a potência das forças da natureza perante o homem, também mostra o quão instigante é o homem perante a natureza, pois mesmo com nossa pequeneza comparativa, somos grandes na insistência de viver, lutar, sobreviver, recomeçar, do jeito que der e com o que sobrou de ontem.

Diria quase que essa insistência é involuntária como o bater do coração.”
(janeiro de 2006)

Frases e momentos marcantes


Os velhos – uma boa pergunta de Santiago

- Por que será que os velhos acordam sempre tão cedo? Será para terem um dia mais comprido?

Dureza e fragilidade


As aves têm uma vida mais dura do que a nossa, excetuando as aves de rapina e as mais fortes. Por que existiriam aves tão delicadas e tão frágeis, como as andorinhas-do-mar, se o mar pode ser tão violento e cruel? O mar é generoso e belo. Mas pode tornar-se tão cruel e tão rapidamente, que aves assim, que voam mergulhando no mar e caçando com as suas fracas e tristes vozes, são demasiado frágeis para enfrentá-lo

O mar e as mulheres


A lua afeta o mar tal como afeta as mulheres

O recomeçar a cada manhã


Cada dia é um novo dia” (sempre, sempre, velho Santiago!)

Solidão


Pessoas da minha idade nunca deviam estar sozinhas

A batalha começa


Agarra na isca como um macho e puxa como um macho, e na sua luta não há pânico. Terá algum plano ou estará tão desesperado como eu?

A vida é um risco


- Repouse bem, pequena ave (aconselhou o velho). Depois siga viagem e arrisque-se como qualquer homem, pássaro ou peixe

Uma oração de pescador


- Deus mande essa cãibra embora, pois não sei o que o peixe vai fazer e como é que vou combatê-lo

Debilidades


Detesto cãibras (pensou o velho pescador). É uma traição do corpo. É humilhante ser atacado de diarreia devido a um envenenamento de ptomaínas ou, pela mesma causa, nos vermos obrigados a vomitar.” (Mas uma cãibra, se não era humilhante ante os outros, humilhava-o diante dele mesmo, muito especialmente quando estava sozinho)

Inteligência x nobreza entre homens e animais


... graças a Deus, não são tão inteligentes como nós, que os matamos, embora sejam mais nobres e mais valiosos

Mas tenho de matá-lo (murmurou o velho). Em toda a sua grandeza e glória. Embora seja injusto. Mas vou mostrar-lhe o que um homem pode fazer e o que é capaz de aguentar. Eu disse ao garoto que era um velho muito estranho. Agora chegou a hora de prová-lo

Ao mesmo tempo em que quer provar a superioridade humana, pensa que o homem não vale tanto quanto alguns animais


O homem não vale lá muito comparado aos grandes pássaros e animais. Eu por mim gostaria muito mais de ser aquele peixe lá embaixo na escuridão do mar

A dor


- Não está em muito mau estado (falou o velho sobre sua mão). E a dor não tem importância para um homem

Preciso evitar que a dor dele aumente (pensou o velho sobre o peixe). A minha, não importa. A minha, eu posso suportar. Mas a dor dele pode enlouquecê-lo

No auge da batalha


Você está me matando, peixe (pensou o velho pescador). Mas tem o direito de fazê-lo. Nunca vi nada mais bonito, mais sereno ou mais nobre do que você, meu irmão. Venha daí e mate-me. Para mim, tanto faz quem mate quem, por aqui

Mensagem profunda do velho Santiago


- Mas o homem não foi feito para a derrota (disse em voz alta). Um homem pode ser destruído, mas nunca derrotado

A esperança


É uma estupidez não ter esperança...

Tudo mata tudo


Além disso (pensou), tudo mata tudo de uma maneira ou de outra. Pescar mata-me tal como me faz viver. O garoto é que me mantém na vida (pensou). Não devo ter muitas ilusões

A dor pra lembrar a vida


... e julgou que talvez já estivesse morto. Juntou as mãos e sentiu as palmas. Não estavam mortas e podia sentir a dor da vida ao abri-las e fechá-las. Encostou-se para trás de encontro à popa e verificou que não estava morto. Os ombros diziam-lhe bem, com a dor que irradiavam”. (A dor. A dor para dizer que há vida. Há dor, há vida)


É isso. É de encher os olhos. (muito bom para quem tem vista seca como eu. Que colírio!)


Post Scriptum (8/02/16):


Releitura da postagem oito anos depois. Que livro! Que pensamentos e reflexões que nos põem a olhar a vida entendendo que existir não é uma escolha. Temos que viver.


Post Scriptum II (14/04/17):

Acabei de ler o terceiro livro de Hemingway. Depois de ler "O sol também se levanta" (1926), li agora "Adeus às armas" de 1929, sobre um romance que se passa no cenário da 1ª Guerra Mundial. Livro com final muito triste.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Lágrimas de Xerxes, conto de Machado de Assis de 1899





Em 1873, Machado faz críticas à literatura brasileira no que diz respeito ao Romantismo e ao Nacionalismo em seu texto "Instinto de Nacionalidade".

Tentativa de se criar um ethos do povo tupiniquim. José de Alencar é um dos idealizadores desse projeto burguês brasileiro.

Descrever-se a natureza - as frutas, as árvores, os índios etc - para o "povo culto". Falar-se do típico local.

Machado acha que falar sobre isso não é fazer essas referências. Acha que a literatura não deve ser documento. Deve ser arte literária.

A verdadeira literatura enquanto arte é o escritor estar atualizado com os meios artísticos. Cuidar da própria arte. (França = arte pela arte - ideia da torre de marfim. A arte não terá nenhuma vocação social. Vai dar lá no Parnasianismo. Também havia a total desvalorização da arte pela burguesia e pelo não-valor comercial dela)

Machado correu o risco da arte pela arte - falar de fruta muito bem, ou grandes descrições. Mas ele conseguiu dar um salto importante em sua obra.

Ele representa ideias. Estruturas que ordenam a sociedade. Elementos constitutivos da Corte, depois da república.

No primeiro conto que analisamos - Pai contra Mãe - o caso é banal. Mas Cândido não tinha profissão; era branco; não-proprietário, ou seja, teoria da estrutura social. Cândido está prensado entre a elite e os escravos.

Lágrimas de Xerxes, de 1899

Leia o conto AQUI

"... Eu sei o que me contaram os ventos, que andam cá e lá, abaixo e acima, de um tempo a outro tempo, e sabem muito, porque são testemunhas de tudo. A dispersão não lhes tira a unidade, nem a inquietação a constância", disse Frei Lourenço a Romeu e Julieta, querendo casá-los sob as luzes das velas da igreja e não sob as luzes das estrelas.

"Cousas duras. Heródoto conta que Xerxes um dia chorou; mas não conta mais nada. Os ventos é que me disseram o resto...", responde o Frei ao ser questionado por Romeu sobre o que havia dito os ventos.

O conto é aquilo que ele critica no romantismo da nacionalidade. Os românticos leram Shakespeare e babaram com sua obra.

O professor Hansen fala brevemente da peça "Romeu e Julieta". Ideia do amor absoluto: 1 + 1 = 1 (ou seja, não tem como dar certo!)

Machado escreve um texto que é romântico na "inspiração". O texto não tem narrador. É dramático. Personagens no presente (diálogo). Eles (os personagens) sabem menos que os seus leitores (acham que vão viver felizes para sempre).

Machado faz ironia dramática. Contradição entre a expectativa do personagem e a do leitor. O espectador/leitor já sabe que vai acontecer o contrário do que os personagens desejam.

O autor faz de forma dramática o núcleo de seus contos. Ao mesmo tempo que representa personagens individuais, representa também a realidade, ou seja, a sociedade com relação aos grupos sociais constituintes. A personagem machadiana está e/ou faz em desacordo com o que o leitor espera daquele representante de determinado grupo social.

"... O próprio mar, quando ousou destruir a ponte que ele mandara construir, recebeu em castigo trezentas chicotadas", diz o Frei ao contar a crueza de Xerxes.

Literatura não é representação do real (senão seria ciência). Literatura tem que produzir estranhamento do real:

"Desautomatizar os atos". A verdade não existe dada. (na aula, Hansen lê Heródoto em grego falando de Xerxes)

"Os ventos... unidade na dispersão..." (isso é Machado de Assis)

Devemos ter compaixão pela dor - versão romântica da lua.

Mas, tem o Sol - astro da ironia. As lágrimas lembrarão sempre da brevidade de tudo. O amor, por exemplo. A morte que chega e leva tudo.

O altar é melhor que o céu, diz o Frei.

A religião dá o conforto. Vende a salvação. O céu, não. É real. É a biologia. É a realidade.

Enquanto indivíduos não somos nada. A espécie sobrevive. Mas quem pensa é o indivíduo. Xerxes chora por si. Compaixão por ele mesmo. Não pelos outros.

Ironia em cima de ironia.

O padre desmente o amor imortal deles. O leitor sabe que eles morrem (só eles não sabem).

Somos um conjunto de representações de vontades que nos preenchem (Schopenhauer)

A vida é acaso. Princípio de Machado de Assis. O autor não toma parte. Mostra o Sol e a Lua. Só isso.

Bela análise do conto.


Post Scriptum (8/02/16):

Relendo as postagens deste período (janeiro de 2008), acabei por reler o conto de Machado, Lágrimas de Xerxes, e atualizei esta postagem. Também aproveitei para atualizar links e classificação em categorias.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Miguel Ángel Asturias (1899-1974 - Guatemala)





Refeição Cultural

De maneira verdadeiramente casual, tomei conhecimento sobre o autor e sua obra e vida.

Primeiro, comprei um livro sobre ele por engano na feira do livro da FFLCH na USP. Achei que era uma obra de Lezama Lima e depois percebi que era um tal Astúrias.

Também comecei a ler algumas informações sobre ele nesse mesmo livro há poucos dias.

Interessado, comprei depois dois livros dele e comecei a lê-los.

Week-end na Guatemala, que reúne contos sobre a tragédia da invasão de mercenários ao país em 1954, golpe militar financiado pelo imperialismo americano. Tema sempre atual e que serve de alerta para aqueles posicionados mais à direita no espectro político em relação à democracia e aos direitos humanos.

El Señor Presidente, que também aborda o tema da ditadura militar e do massacre de civis em um país dilacerado pelos conflitos internos, conflitos quase sempre favoráveis à etnia de origem estrangeira em detrimento da etnia de origem maia-índia.

Como suporte, já li um pouco a respeito do país e sobre o autor.

Tenho grande interesse em ser um estudioso da América Latina.


Post Scriptum (8/02/16):

Releitura da postagem. Li todos os contos do livro "Week-end na Guatemala". Não li o livro "El Señor Presidente". Atualizei links e classificação das categorias.

No ano seguinte à postagem (2009), conheci uma guatemalteca, representante do movimento sindical daquele país, em um curso internacional feito na OIT em Torino, Itália. Ela nos falou bastante sobre a história do país.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Artigo - Há que se educar as pessoas



Por William Mendes*

A falta de educação segue sendo um dos maiores problemas e atrasos do Brasil. Não estou falando daquelas bobagens de falta de etiqueta ou outras frescuras inventadas pela autointitulada nobreza. Falo da falta de educação enquanto conhecimento. Falo de educação enquanto instrumento libertador. Aliás, justamente por isso é que se nega ao povo a boa educação.

Sem acesso à educação, que é um direito e não um produto, fica mais fácil o trabalho de alienação dos corações e mentes de nossos quase-cidadãos.

Observando algumas reações das pessoas diante de eventos cotidianos é que percebemos o quão longe estamos de alcançar um melhor nível de educação e de desalienação de nossos concidadãos.

Cito aqui alguns casos pós-votação e fim da cobrança da CPMF, notório caso de derrota recente do governo do Partido dos Trabalhadores no Congresso Nacional.

Os partidos de oposição conseguiram eliminar uma contribuição que gerava uma receita de 40 bilhões de reais, praticamente toda ela utilizada para os programas sociais do governo Lula, e que, além disso, fazia com que sonegadores pagassem alguma coisa ao longo do ano para os cofres públicos. Lembro aqui que o País é dirigido hoje pelo PT assim como o foi por 8 anos - caóticos, por sinal - pela oposição (o partido tem um programa diferente do programa do PSDB e DEM).

A parte que mais me chama a atenção é o "efeito manada" das versões levadas ao ar e o papel exercido pela grande mídia e que, de certa forma, por mais que a "opinião pública" não seja mais a "opinião publicada" pelas 10 famílias que dominam a comunicação no Brasil, acabam alimentando o diz-que-diz do povão (só como exemplo vejam os números na mídia de radiodifusão: no Brasil, seis grupos controlam 667 estações de rádio e televisão, conforme matéria da Revista Fórum nº 57 de dez/07).

Meu velho pai é um bom exemplo desse "efeito manada" provocado pela deturpação da grande mídia. Eu não o culpo, pois ele é um sujeito até muito brioso e vai sempre atrás de seus direitos: disse-me que adorou a votação que pôs fim à "famigerada" cobrança da CPMF. Fiquei puto da vida e perguntei se ele sabia o que estava falando. Antes que me respondesse, contextualizei onde ele estava situado na pirâmide social para falar uma bobagem daquela.

Meu pai é um senhor de 65 anos de idade, com muitos problemas de saúde, cuja única fonte de renda até quatro meses atrás era o bolsa família dos dois netos - de 13 e 12 anos - que estão sob sua tutela e que chegava perto de R$ 80, sendo que as crianças têm que comprovar presença e nota na escola para manterem o direito.

Agora que completou a idade para requerer o seu direito de aposentadoria de um salário mínimo (por idade), sua vida se tornou um pouquinho mais digna, pois não precisa do auxílio dos parentes até para o básico como o pagamento de água e luz e comida. Ele não conseguiu a aposentadoria, mas conseguiu um auxílio idoso por seus problemas de saúde e idade avançada.

Expliquei que, como ele, existem milhões de pessoas no Brasil e que, provavelmente, ele pagasse cerca de R$0,30 ou R$0,40 por mês de CPMF. Por outro lado, o Governo Federal tem a obrigação de lhe pagar a previdência social (por idade e garantido pela Constituição), o atendimento à sua saúde e de esposa e netos, bem como fornecer boa parte dos remédios que precisam. 

Além disso, o Governo tem programas como o Fome Zero, que nos últimos cinco anos alterou definitivamente a vida de milhões de brasileiros que, inclusive já saíram do programa, por mudarem de escala social e auferirem hoje renda familiar maior do que antes de participarem do programa do governo (por favor, olhem os números da diminuição da pobreza nos últimos cinco anos, pois é difícil esconder).

Então eu pergunto: qual o sentido de pessoas simples como o meu pai comemorarem o fim da "famigerada" CPMF?

Querem ver outro exemplo muito triste para nós que somos progressistas e defendemos a coisa pública e que sofreu um revés importante após a derrota do governo com o fim da CPMF?

Nos últimos cinco anos, o governo do PT revigorou a máquina pública, ou seja, via concurso público, tem equipado o Estado Brasileiro para poder atuar enquanto tal (dizer que o Estado está aparelhado por nomeações pelo PT é uma bobagem. Olhem os números do governo do PSDB e DEM de 1995 a 2002 - se acharem, pois estão muito bem esquecidos).

Os principais órgãos federais têm hoje capacidade de atuar, pois receberam investimentos e verbas para imobilizados e mão-de-obra qualificada (troca de terceirizados por concursados e incremento no número de servidores). É só olhar os números da Polícia Federal, Ministério Público, aumento no número de fiscais e auditores nos mais diversos órgãos que combatem a corrupção no Estado Brasileiro.

Sabem quem ganha também com o Estado Nacional sendo recuperado para exercer o seu papel via concursos públicos, além do povo mais necessitado? A classe média e seus filhos, pois são esses que acabam por entrar nas carreiras oferecidas pelos órgãos públicos.

Após o rombo de 40 bilhões nas receitas do Estado Nacional, grande parte dos concursos para provimentos de cargos foi suspensa.

É engraçado. A comemoração da oposição e seus agregados como a grande mídia e os empresários (todos defensores do Estado Mínimo que só lhes garanta segurança e propriedade) não condiz com a tristeza e decepção de seus filhos que estavam investindo em cursos de preparação para as carreiras públicas. É uma pena, pois muita gente simples, com dedicação e afinco, acaba entrando na carreira e mudando suas vidas para melhor.

Poderia citar uma boa quantidade de exemplos sobre grupos sociais que "vão na onda" da direita e da grande mídia e, muitas vezes, não enxergam o que estão comemorando ou aplaudindo:

- grupos da classe média como bancários - que represento - que defendem que o Governo Federal deve dar calote na dívida pública e não se lembram que, eles, como aplicadores e beneficiários de fundos de pensão, fazem parte daqueles que auferem renda com o pagamento da mesma dívida pública;

- pessoas de baixa renda ou nenhuma renda que defendem que a polícia deve "arrepiar sem dó", ao estilo "Tropa de elite", os marginais (não se lembram que o conceito de marginal é tão volúvel, pois quando entram numa favela atirando e matando gente inocente, todo mundo é qualificado de bandido e vagabundo);

- o que dizer então dos cocódromos que viraram as nossas calçadas - banheiro dos cachorrinhos de madames e 'madamos' que, ao mesmo tempo em que arrotam fineza, nunca descem com um saquinho para recolher as fezes de seus animais. Ai de nós das cidades grandes que não conseguimos atravessar 50 metros de calçada sem melecar os sapatos.

Há que se educar as pessoas. Para isso, é preciso ensiná-las a ler e interpretar. Ler nas entrelinhas. Ensinar que a sociedade foi, está e sempre estará dividida em classes e que todos falam de algum lugar e estão defendendo interesses. Todos. Patrões e empregados. Políticos e seus partidos. As igrejas. Os amigos e os adversários. Os colegas. Os familiares. As autoridades como juízes e seus grupos. Os "técnicos" como advogados, professores, os doutores etc.

Há que se educar as pessoas.


William Mendes foi secretário de Imprensa da Contraf-CUT (2006/09) e funcionário do Banco do Brasil

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Memórias Póstumas de Brás Cubas (até cap. 29)


Mestre Machado de Assis.

Clássico Brasileiro

1881

Esta obra marca uma profunda mudança de rumo na literatura de Machado de Assis e, também, na Literatura Brasileira.

Como falo bastante da obra de Machado ao disponibilizar comentários sobre minhas aulas uspianas a respeito do tema, aqui destacarei frases, momentos e outras passagens marcantes do livro.

Não poderia deixar de começar por aqui:

"AO VERME
QUE
PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES
DO MEU CADÁVER
DEDICO
COMO SAUDOSA LEMBRANÇA
ESTAS
MEMÓRIAS PÓSTUMAS."

Não é fascinante para a época?

DEFUNTO AUTOR

> "eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor".

> "A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta, e pedra, e lodo, e cousa nenhuma".

OBJETIVOS DE BRÁS CUBAS

Objetivos de Brás Cubas ao tentar a invenção do emplasto (o nobre e o pessoal):

> "a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade" (que belo e sublime, heim?).

> "posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo?... De um lado, filantropia e lucro; de outro, sede de nomeada. Digamos: - amor da glória" (que humano, não?).

IDEIA FIXA

Veja o valor de uma ideia fixa:

> "direi que é ela a que faz os varões fortes e os doudos".

Por falar no mundo das ideias:

Neste livro aparece a filosofia Humanitismo (de Quincas Borba), que seria a profunda crítica irônica de Machado aos conceitos vigentes à época como Democracia, Liberdade, Liberalismo, Patrimonialismo, Patriarcalismo e Fraternidade, além de teorias como o Evolucionismo e o Positivismo.

LEI DA CONSERVAÇÃO (OU DO EGOÍSMO)

Eis o primeiro exemplo, falado aqui na boca de Pandora ou Natureza - a mãe e inimiga:

"- porque já não preciso de ti. Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem. O minuto que vem é forte, jucundo, supõe trazer em si a eternidade, e traz a morte, e perece como o outro, mas o tempo subsiste. Egoísmo, dizes tu? Sim, egoísmo, não tenho outra lei. Egoísmo, conservação. A onça mata o novilho porque o raciocínio da onça é que ela deve viver, e se o novilho é tenro tanto melhor: eis o estatuto universal".

FALSA NOBREZA

Foi costume por longo tempo estender-se os nomes das crias (filhos) para mostrar a junção das famílias. Na verdade, se trata de um sinal evidente de falsa fidalguia.

> "- Meu padrinho? é o Excelentíssimo Senhor Coronel Paulo Vaz Lobo César de Andrade e Sousa Rodrigues de Matos".

O PESO DA EDUCAÇÃO DE HOJE PARA O AMANHÃ

> "O menino é pai do homem" - profundo conceito sobre a educação dada aos filhos e que nos cobrará amanhã o que eles forem.

SOMOS HOJE O FRUTO DO QUE FOMOS ONTEM

Eis um resumo do meio doméstico em que vingou nosso defunto autor:

"O que importa é a expressão geral do meio doméstico, e essa aí fica indicada, - vulgaridade de caracteres, amor das aparências rutilantes, do arruído, frouxidão da vontade, domínio do capricho, e o mais. Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor"

As mulheres na vida de Brás Cubas

MARCELA

E para falar dos amores desse defunto autor, nada como começar citando a doce Marcela: "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos".

VIRGÍLIA

Virgília? "Era bonita, fresca... e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, - devoção, ou talvez medo; creio que medo".

EUGÊNIA

A flor da moita 

("- Não, senhor, sou coxa de nascença")

Machado não poupou nenhuma crítica àquela sociedade. Brás Cubas exala naturalmente todas as canalhices do homem que representa. Veja aqui suas observações sobre a jovem Eugênia, fruto de um beijo adúltero de 1814 em casa do menino Brás:

> "O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu ia fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma..."

> "ao pé da minha Vênus Manca".

REFLEXÕES

  Verdades duras e cruéis ditas muitas vezes por Machado ou seus personagens:

> "A infeliz (mãe dele) padecia de um modo cru, porque o cancro é indiferente às virtudes do sujeito; quando rói, rói; roer é o seu ofício".

> "Olha que os homens valem por diferentes modos, e que o mais seguro de todos é valer pela opinião dos outros homens" (apesar do século que carrega, poderia ser dito o mesmo hoje, não?).

> "Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes".

> "Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência...".

VOCABULÁRIO:

Conúbio: 1. casamento, matrimônio. 2. relação íntima; ligação, união.

Ex: "Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio" (Ao leitor).

Tanoeiro: aquele que fabrica tonéis, pipas, barris.

Ex: "O fundador da minha família foi um certo Damião Cubas... Era tanoeiro de ofício".

Sestro: trejeito, gesto habitual; vício, hábito, mania (dentre outros significados).

Ex: "Mas é sestro antigo da Sandice criar amor às casas alheias".

Almocreve: condutor de bestas de carga; arrocheiro, recoveiro.

Ex: "O almocreve salvara-me talvez a vida" (em suas reflexões sobre dar ou não 3 moedas de ouro, dando uma pratinha e se arrependendo, pois deveria ter dado uns cobres).

De outiva: de oitiva - de ouvir dizer.

Ex: "Conhecia a morte de outiva".

BIBLIOGRAFIA:

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Editora Klick da coleção de O Estado de São Paulo. Julho de 1997.