segunda-feira, 31 de março de 2008

As pedras do Caminho


Caminhos tortuosos como os galhos dessa árvore.
Foto de William Mendes.

Meu objetivo em fazer o Caminho de Santiago de Compostela tem feito com que eu reflita sobre os caminhos da vida. A relação é muito semelhante.

Por esses dias, os caminhos têm sido tortuosos e pedregosos.

Entretanto, é assim mesmo que chegamos a quase tudo na vida. Vou dando passos por aí onde não há caminhos, como já dizia o poeta espanhol Antonio Machado. Aliás, segue aqui algumas estrofes de seu poema mais conhecido, e que é bastante atemporal:


Proverbios y cantares de "Campos de Castilla"

I

Nunca perseguí la gloria
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse.

II

¿Para qué llamar caminos
a los surcos del azar?...
Todo el que camina anda,
como Jesús, sobre el mar.

IV

Nuestras horas son minutos
cuando esperamos saber,
y siglos cuando sabemos
lo que se puede aprender.

VIII

En preguntar lo que sabes
el tiempo no has de perder.
Y a preguntas sin respuesta
¿quién te podrá responder?

XXIX

Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.


Antonio Machado

quinta-feira, 27 de março de 2008

Sintaxe do Português - Aula de 26.3.08



"Todos os fenômenos da língua são instáveis"

Roteiro de estudo de caso:

*Item: palavra ou estrutura.

*Mudança: homonímia ou polissemia?

*Velocidade: gradual ou abrupta?

*Quem muda a sintaxe da linguagem?

*Como verificar? Por tendência ou recontato?

*Direções da mudança.


Item (estrutura) a ser estudado por mim: "com certeza"

Nossas aulas são de Sintaxe Funcionalista.

Buscar a origem dos usos da palavra ou expressão. Qual a história da origem? A partir daí, ver se há homonímia ou polissemia. São filhas da mesma mãe, quer dizer, têm a mesma raiz?

No meu caso, de onde vem "certeza" e depois "com certeza"?

Como percebe-se a mudança?

Pesquisar dados sincrônicos e diacrônicos. Ver possibilidade de "pancronia", ou seja, mesclar os dois.

Sugestões de dicionários etimológicos (prof. Cunha)

(Na sala, criticaram a gramática de Luft, dizendo ser ela uma "gerativa")

SINCRONIA = recorte de um momento qualquer no tempo: corpus de hoje, do século XVIII etc.

DIACRONIA = pular tempos para buscar mudanças.

PANCRONIA = (termo polêmico entre linguistas) mesclar os dois sistemas. Alguns linguistas diriam que deveria haver um corpus que desse conta de toda a história do termo estudado.

Uma forma de pesquisar seria utilizando dicionários sincrônicos editados em várias épocas diferentes. Ex: um Houaiss de hoje e um da década passada, um Aurélio de hoje e outro de duas décadas atrás (com isso, pode-se ir vendo as novas acepções para a palavra)

Pesquisar professora Elizabeth Traugott.

Qual a velocidade com que as mudanças ocorrem?

Antes os estudos eram históricos, diacrônicos (eram em jatos, abruptos). Via-se como um termo era usado no século XX, achava em documentos o uso no século XIX, no XVIII etc. Com isso, a impressão de "jatos de mudança".

Depois vieram leituras sincrônicas, com conclusões de que as mudanças são sistêmicas (Saussure). A língua é dinâmica (mudanças graduais).

Chomsky - formalista

Labov - é o sistema social

Depois veio uma mescla das teses. Antes a criança já nascia com a linguagem genética; depois a linguagem vem com o contexto e convívio social; mais adiante são os jovens e não as crianças que operam mudanças na língua (idade de contestação); mais recentemente pergunta-se se os adultos não operam mudanças na língua também.

Esta é uma das áreas de pesquisa: como verificar tendências de mudança e recontato? quem opera mudanças na sintaxe?

Muitas pesquisas têm indicado o fator CONTATO SOCIAL como grande responsável por mudanças entre faixas etárias distintas.

Trabalharemos com um corpus de português culto (gravações de conversas com professores universitários)

Como ver tendências? comparando, por exemplo, corpus de faixas etárias distintas ou de mesmas faixas mas de períodos distintos (gravações atuais x projeto NURC da década de 70)

DIREÇÃO DAS MUDANÇAS

Estão ocorrendo deslizamentos, gramaticalização, lexicalização etc? (movimentações de sentidos das palavras para mais/menos concreto e mais/menos abstrato)

Temos 10 classes de palavras:

Substantivos, adjetivos, artigos, preposições, conjunções, advérbios, interjeições, verbos, pronomes e numerais.

Desses, os mais abstratos são as preposições (ligam palavras) e as conjunções (ligam orações).

Talvez ache em minha pesquisa com a estrutura "com certeza" o fenômeno da "DISCURSIVIZAÇÃO" (usos a cargo de discursos)

Pesquisar o que é GRAMATICALIZAÇÃO.

Sugestões: livro Introdução à gramaticalização; também há uma tese disponível da professora Maria Célia.


William

quarta-feira, 26 de março de 2008

A caminhada do Caminho anda lenta...



A caminhada do Caminho de Santiago de Compostela anda lenta por estes dias.

Estou com a atenção absorvida pelos problemas de meu trabalho e da faculdade.

De meus objetivos, tenho focado fazer esta viagem e terminar minha graduação em Letras, apesar que não quero me formar por me formar, pois canudo de nível superior eu já tenho.

Quero ser professor. Aliás, almejo desde adolescente ser um intelectual e sei o quanto isso é difícil quando as origens não favorecem o caminho. 


Para complicar minha meta, entrei na faculdade em 2001 e depois virei dirigente sindical, o que me fez deixar em segundo plano as Letras nos últimos 6 anos. 

Agora, ainda preciso terminar a graduação, chacoalhar e fixar minimamente algum conhecimento de proveito, fazer Licenciatura e depois Mestrado... põe tempo nisso, heim!

Bom, tenho uma palestra daqui a poucos dias sobre o Caminho de Santiago. Também tenho agendamento para o fim de abril da confecção de meu passaporte de viagem.

Mas as coisas andam lentas (e talvez seja o que busco mesmo).

segunda-feira, 24 de março de 2008

Comparações de análise sintática: Bechara x Hildebrando



Comparações de análise sintática:

Prof. Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, 37ª edição 1999, 16ª reimpressão de 2006)

X
Prof. Hildebrando A. de André (Gramática Ilustrada, 3ª edição de 1982)

COMPLEMENTO NOMINAL

Hildebrando:

Complemento nominal é o termo da oração que completa a significação transitiva de um nome. Vem sempre ligado por preposição.

Na explicação do complemento, Hildebrando faz uma comparação com os complementos verbais – objeto direto e indireto.

- “matar os mosquitos” – ação transitiva “matar” com o objeto direto “os mosquitos”.

- “matança dos mosquitos" – ação transitiva “matança” com o complemento nominal “dos mosquitos”.

Outros exemplos: “confiar em Deus” – “confiança em Deus”; “gostar do vinho” – “gosto pelo vinho”; “assaltar o banco” – “assalto ao banco”.

Diz ser comum os nomes que pedem complementos nominais serem da mesma raiz de verbos transitivos.

Exemplos que não têm relação com raízes verbais: “ávido por dinheiro”; “caridoso com os pobres”; “eficácia contra a doença”.

As palavras que pedem complementos nominais são substantivos, adjetivos e, mais raramente, advérbios:

Ex.: “leitura do livro” (substantivo); “prejudicial à lavoura” (adjetivo); “favoravelmente aos jovens” (advérbio).

Bechara:

O gramático utiliza subdivisões para classificar as “expansões de substantivos”, de acordo com a realidade comunicada e de certas relações gramaticais dela.

Na comparação com Hildebrando, este diz serem os complementos nominais semelhantes aos complementos verbais – objeto direto e indireto, enquanto Bechara apresenta diversas categorias de complementos:

- “a resolução do diretor” – CN subjetivo (o diretor resolveu).

- “a prisão do criminoso pela polícia” – CN subjetivo passivo (o criminoso foi preso).

- “a remessa dos livros” – CN objetivo (alguém remeteu os livros).

- “a resposta ao crítico” – CN objetivo indireto (alguém respondeu ao crítico).

- “o assalto pelo batalhão” – Complemento de agente ou de causa eficiente.

- “a ida a Petrópolis” – CN circunstancial.

De modo geral, a gramática tradicional tem apontado complementos nominais restritos a processos de nominalizações que envolvem substantivos, a adjetivos ou a advérbios. Mas há outros que devem sua presença a traços semânticos do núcleo nominal, independentes de nominalizações. (Bechara p.454)

-Substantivos relacionais – relações entre indivíduos: o pai de Eduardo; a tia do Daniel; a colega de Georgete. Também referidos a partes constitutivas de uma entidade: os braços da dançarina; o galho da árvore.

-Substantivos icônicos – designam representação, tais como retrato, quadro, fotografia, filme, película etc quando referidos a entidades retratadas, pintadas etc.

Note-se a diferença entre:

(1) O retrato de Machado de Assis (termo argumental).

(2) O retrato da galeria (adjunto adnominal).


(3) O quadro do Grito do Ipiranga de Vítor Meirelles do Museu de Belas Artes.

- do Grito do Ipiranga (termo argumental);

- de Vítor Meirelles (termo argumental);

- do Museu de Belas Artes (adjunto adnominal).

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domingo, 23 de março de 2008

Crash - No Limite, de Paul Haggis (2004)


Poster do filme. Fonte: Wikipedia

(atualizado em 02/11/19)

Refeição Cultural - Crash - No Limite


Direção: Paul Haggis - 2004

Com Matt Dillon, Sandra Bullock e outros.

Assisti por esses dias a um filme que entra para minha galeria de preferidos. “Crash - No Limite”. Eu o coloco na mesma prateleira de “Um Dia De Fúria”, “Beleza Americana” e “Pão e Rosas”.

A palavra-chave para o filme é: uma sociedade doente.

Infelizmente, retrata-se ali a cidade de Los Angeles, que por sinal é um espelho da sociedade americana. Na verdade, penso que a sociedade mundial está doente, com raríssimas exceções.

Temos ali um retrato das sociedades capitalistas modernas. E que se dizem democráticas.

Cenas cotidianas

- Uma asiática que ofende a uma suposta latina em uma batida de trânsito; garota que está no carro com um negro que é policial; negro que é irmão de outro negro, ladrão de carros; ladrão que anda com outro negro que diz que tudo é preconceito contra sua raça, até o jeito de olhar da garçonete no fast food ou da branca que vem pela calçada com seu marido; casal que finge não ser preconceituoso quando vê os dois negros se aproximando; negros que, por acaso, assaltam esses brancos e levam o seu carro e atropelam um asiático...

- enquanto isso, na casa das vítimas brancas ocorre uma rusga, pois a mulher branca acha seu marido condescendente com gente como o chaveiro que trocou a fechadura de sua casa, e que ela pensa ser bandido por ter aparência de latino com tatuagens; 

- em outro canto da cidade, um árabe é maltratado em uma loja de armas por seu dono branco que o ofende chamando-lhe de Bin Laden; 

- enquanto isso, ainda, um casal de negros endinheirado é parado na rua por um policial branco racista que quer descontar a raiva em alguém por seu pai estar doente e então humilha o casal alisando a mulher na vistoria, observado pelo outro policial loiro - que depois troca de parceiro por se achar certinho e incorruptível...

A partir daí desenrola-se a trama toda.

Durante os 100 minutos de filme, tudo o que se vê é a explicitação da falsa democracia americana, da falsa liberdade americana, da falsa terra de oportunidades americana, da falsa competência americana, em resumo, da falsidade norte-americana.

O que temos ali é preconceito, medo, falta de liberdade, falta de ética, falta de direitos (humanos e sociais). Será que é aquilo que o mundo precisa? Aquela é a sociedade ideal na qual se inspiram os liberais? Seria aquela a tal democracia racial? Ou étnica?

Um outro mundo é possível.

E o final do filme nos mostra que não é dali que vamos tirar a referência de outra sociedade necessária ao mundo.

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Post Scriptum em 2012

O SUL É A NOVIDADE DO SÉCULO XXI

Que tal mudarmos o nosso olhar mais para baixo no Atlas Geográfico?

Ali pelo lado do México, onde a população fez grande resistência à suposta fraude eleitoral arquitetada pela elite burguesa, na eleição mais conturbada das últimas décadas, quando Obrador foi roubado, pois ganhou a eleição mas não levou (2004).

Ou então, podemos olhar para Cuba, que resiste há décadas ao embargo imperialista americano. Se, por um lado, a falta de liberdade não é ideal e falta, inclusive, o direito a mais partidos políticos; por outro lado, é o lugar do mundo onde mais se investe em educação e saúde pública para todos.

Continuando a ir para o sul, podemos dar uma parada ali na Venezuela, onde a Revolução Bolivariana de Hugo Chávez provoca arrepios aos imperialistas.

Descemos mais até passar pela potência Brasil, que em detrimento de erros cometidos aqui e acolá, mudou a vida de quase 80 milhões de pessoas que viviam à margem da própria vida e que agora parecem querer que as mudanças continuem com o governo democrático-popular de Dilma Rousseff, que sucede ao melhor governo da história do país, sob a batuta de Lula da Silva.

Ainda podemos passar pela Bolívia, Uruguai, Chile (apesar de retroceder à direita com Piñera), Equador e Argentina.

É um filme interessante.

Quando assisti aos outros três que citei, também quedei-me pensando nesta questão da sociedade “moderna” doentia em que vivemos.

Apesar de difícil (por nadar contra a corrente) muitos querem um outro mundo. E é por isso que nós socialistas, progressistas, esquerdistas, sindicalistas, saímos todos os dias de casa a buscar.

Um outro mundo é possível.

William Mendes

(Por um mundo mais solidário, com mais oportunidades e menor acumulação por poucos)

(comentado em 2006 e revisto em 2012)

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Post Scriptum (02/11/19)

Quinze anos se passaram desde que o filme foi lançado. Quanta coisa aconteceu de lá pra cá. Quanta coisa! Os Estados Unidos são governados pelo empresário troglodita Donald Trump. O Brasil sofreu um golpe de Estado em 2016, derrubaram a Dilma Rousseff, sem crime de responsabilidade, sequestraram o ex-presidente Lula, que se candidatou para suceder o golpista Temer em 2018, e segundo as pesquisas seria eleito em primeiro turno... inventaram uma tal Lava Jato, uma organização criminosa dentro da estrutura estatal, e até hoje Lula segue preso, mesmo após toda a operação Lava Jato e os bandidos que a comandam serem desmascarados pelo site The Intercept Brasil, provando que armaram um conluio para destruir as cadeias produtivas do Brasil, roubarem o pré-sal, destruírem os direitos do povo brasileiro e doar o patrimônio público aos gringos. Todo mundo da elite está envolvido nesse projeto de destruição do país: o golpe foi "com o Supremo, com tudo" como demonstraram as gravações vazadas dos golpistas. Que canseira de descrever isso. CRASH... é bem isso... ah, já ia me esquecendo. As milícias e máfias ascenderam ao poder e estão nas instituições estatais do Brasil. O cara que ocupa a cadeira presidencial por golpe em 2018 e fraude nas eleições é o fascista troglodita Jair Bolsonaro. Todos os seus filhos têm mandatos e a famiglia toda manda no país. Elegeram fascistas no RJ, em SP e diversos Estados brasileiros. CRASH... 

Dois filhos de Francisco, de Breno Silveira (2005)


Poster do filme, 2005.

(atualizado em 02/11/19)

Refeição Cultural

Direção: Breno Silveira - 2005
Com Ângelo Antônio, Márcio Kieling, Thiago Mendonça.

Confesso que sou mesmo “nacionalista da gema” parafraseando a máxima carioca.

Cada vez que assisto a um novo filme brasileiro, mais me orgulho do quanto evoluímos na sétima arte.

Alguns filmes mexem conosco por tocar lá no nosso passado, na nossa história, por nos levar às nossas origens. Este então, transportou-me para a região de minha família.

O filme, que conta a história dos filhos de Francisco, na verdade, conta também a história de um montão de brasileiros como meu pai, meus tios e dezenas de primos. 

Tem um colorido de Brasil, tem cheiro e gosto de um Brasil que talvez pensem que está no passado, mas que basta pegar um ônibus e ir até alguns rincões do país para ver que vivemos no século XXI nas grandes capitais e nos séculos XX, XIX... quando nos afastamos delas.

Por que acho que o filme é bom?

É bom porque consegue ser um filme que não idolatra a figura dos cantores retratados na história. É bom porque não é um filme-comercial de música sertaneja.

É bom porque é um filme dos franciscos, dos joões, das marias. (apesar dos Mirosmar, Wesley, Mival etc - tão nosso, tão brasileiro!! - lembra-me até meus primos Miguel, Maurílio, Marciléu, Marli, Marceli...)

É bom porque assistimos com aquele saudosismo sempre inexplicável de dizer que antes as coisas eram melhores, mesmo sem serem de forma objetiva (ou serem opiniões forçosamente pessoais) – coisa talvez de quem já passou dos trinta!

O filme é bom para aqueles que já viveram por aquelas terras de Minas e Goiás e a cada instante vai identificando a cor, a textura, o contexto daquelas regiões que, apesar de serem ricas para uns, são paupérrimas para vários.

Já havia assistido ao filme no ano passado, porém, ao vê-lo novamente, me emocionei ao lembrar do principal objetivo de Lula quando chegou ao poder: melhorar a condição de vida de milhões de miseráveis nesta terra de riqueza mal distribuída.

Dos nove filhos de minha avó paterna mais os cinco de minha avó materna praticamente todos passaram necessidades como esta família-francisco retratada.

Se é verdade que falta muito ainda para não vermos mais famílias naquelas condições de subsistência, é verdadeiro também o fato de que a possibilidade é muito maior quando temos alguém no comando do país com vontade política de priorizar a atenção aos milhões de excluídos.

É um filme com as nossas cores.

(comentei em 27.11.06)

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Post Scriptum (02/11/19):

Pois é, quanta coisa não resiste ao tempo! 

A estória do filme é boa (enredo): dois garotos pobres, do interior de um país, conseguem vencer na vida como cantores de música sertaneja. O rapaz fica com a moça no final. E viveram felizes para sempre. 

Agora, se for para falar dos sujeitos que inspiraram os personagens do enredo do filme, lascou! O cantor trocou a mocinha - depois que ela ficou mais velha - por uma moça da metade da idade dela. Dizem as notícias de famosos que ele escondeu o patrimônio para não dividi-lo com a ex-esposa. 

Os sertanejos, que foram até um certo momento da vida do país próximos a partidos e líderes populares, depois de fortuna formada, viraram a casaca e agora estão do lado dos endinheirados, que organizaram um golpe de Estado no país. É isso! E a vida real segue...

Podem assistir ao filme como ele é e deve ser: uma estória de ficção, com final feliz.

A Paixão de Cristo - Mel Gibson (2004)


Foto divulgação

(Atualizado em 20/12/19, às 9h20)

Refeição Cultural

Direção: Mel Gibson - 2004

Impressões...

Após assistir ao filme A Paixão de Cristo, dirigido por Mel Gibson, vi-me impelido a fazer alguns comentários sobre ele.

Vê-se claramente que o filme quer atingir o seu público pela catarse imagética. Os diálogos que existem são tão poucos e tão inexpressivos que quase não se fazem necessários.

Em primeiro lugar, quero deixar já a minha opinião sobre o que achei da obra: grotesca!

Como humanista, saí do cinema com um grande aperto no coração. Doía mesmo! De tanta repulsa que senti ao ver tanto sangue. Já vi filmes que me chocaram bastante pela tortura a seres humanos. Mas como esse, ainda não consegui me lembrar de nenhum.

Gostaria de saber, de fato, qual a intenção do diretor, em escolher um banho de sangue e sangue e sangue para fazer um filme retratando um homem que viveu acerca de dois mil anos e que pregou a paz, a não violência, o amor para com todos, a esperança em um reino metafísico e na existência de um ser superior e que segundo Suas palavras, criou a tudo e a todos.

Confesso que não percebi nada da tal polêmica de que o filme pregaria o ódio aos judeus. Também achei infantis aquelas bestas “óliudianas” que apareciam para Judas e Jesus.

É interessante observar que o diretor conseguiu fazer um filme que não passa nenhuma mensagem pregada pela personagem retratada: Jesus Cristo. Perdeu a oportunidade de colocar diálogos importantes entre Este e os apóstolos, entre Ele e seu Pai, só para ficar nas passagens mais conhecidas dos evangelhos.

Muitos filmes sobre Cristo já foram feitos, daqueles antigos “café com leite” e foram muito melhores do que este.

E, para não falar que a questão de considerar o filme tão ruim é de ordem dogmática, vale salientar que se o objetivo do diretor era questionar a tradição cristã retratando Jesus de forma diferente daquela pregada pela igreja e por seus seguidores, muitos diretores já fizeram obras melhores que chocaram também o público, principalmente os cristãos, mas com qualidade superior no roteiro e na linha ideológica contrastante como, por exemplo, “A última tentação de Cristo” (1988), de Martin Scorsese, que, por sinal, também não gostei.

A única coisa que penso que se possa aproveitar da catarse sanguinolenta proporcionada pelo filme é a oportunidade de chamar a atenção para o cuidado que se deve ter ao lidar com massas e multidões. Lidar tanto com grupos excluídos, necessitados e subjugados, quanto com grupos de dominadores, vencedores e mais organizados socialmente requer clareza do que se busca e onde se quer chegar.

É importante conhecer sempre a tênue linha que separa a fraternidade da barbárie. Assim como os homens do Sinédrio levaram uma massa a pedir a troca e crucificação de um bandido condenado por um inocente, pode-se ver atualmente populações festejarem americanos queimados e pendurados no Iraque, bandidos em um presídio felizes a jogarem pedaços de presos pelo telhado, soldados nazistas exterminando milhares de judeus em fornos, crianças e adolescentes arrebentando uns aos outros com camisas de clubes rivais e daí por diante.

Sempre penso que devemos ter muita atenção ao que dizemos e em nossos atos, seja para com nossos filhos, amigos ou para com nossos adversários, por mais que, muitas vezes, estejamos “putos da vida” com eles.

É possível mudarmos sempre, tanto para melhor, quanto para pior (socialmente falando). Depende muito do contexto em que estamos. É pena não poder hoje desejar que o humano seja mais Humano, porque nestes dias que correm, as pessoas valem pelo que compram e têm, e não pelo que são...

Mas muitos de nós trabalhamos para mudar isso, é ou não é?


(Escrevi estas impressões em 2004, após o lançamento)

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Post Scriptum (31/3/18):

Assisti novamente ao filme. Já se passaram quatorze anos desde que vi o filme pela primeira vez. Tanta coisa mudou: eu, meu mundo, o mundo. Sigo achando a violência extremada, um exagero. Mas ela é bem o retrato da maldade humana. É muito real. Somos maus mesmo! 

Uma coisa eu mudei de opinião em relação ao texto original que escrevi: entendo que o filme incita, no mínimo, muita raiva em relação ao povo judeu, pela forma como ele foi mau com o cidadão Jesus Cristo. É isso!

Post Scriptum (20/12/19):

Revi o filme e se já havia mudanças importantes em março em 2018 como disse acima, o que poderia dizer agora, após o primeiro ano do Brasil governado pela milícia, pelo fascismo? Os fariseus do Sinédrio chegaram ao poder central, as leis são usadas para caçar e aniquilar qualquer pessoa que pense diferente deles. Assassinatos, chacinas, tiros na "cabecinha" ordenados por governantes. O símbolo dos governantes no poder são armas, cartuchos de balas, dedo indicador e polegar modelo "arminha". O ódio venceu. Jesus perdeu. E a destruição de tudo segue acelerada em Seu nome.

Edison - Poder e Corrupção (2005)


Poster do filme de 2005.
Edison

Direção: David Burke - 2005

Com Kevin Space, Morgan Freeman, Justin Timberlake.


O que separaria no jornalismo de hoje um verdadeiro repórter que investiga e busca matérias de um repórter que só faz matéria que o seu chefe ou editor manda?

Qual a diferença entre os principiantes que publicam tirinhas nas colunas sociais e escrevem em espelho o que o chefe manda, de jornalistas e repórteres que vão atrás da notícia e que veem detalhes em fatos que podem revelar o impensável?

Perspicácia...

Curiosidade...

Tino investigativo...

Desejo de ser premiado...

Vontade de aparecer para agradar à namorada...


O simples “- obrigado” de um réu para um tira (testemunha) em um julgamento leva um jornalista em início de carreira (Justin Timberlake) a fazer o que o seu editor-chefe (Morgan Freeman) não pediu: uma matéria cheia de conjecturas e suspeições sem prova alguma, ao invés do fato – a sentença do julgamento que ele foi cobrir.

Daí adiante, a trama segue com tiras e tiros, drogas e muito dinheiro sujo nos pilares de sustentação de uma sociedade podre.

Além da trilha sonora muito boa nas horas em que Freeman aparece em sua casa, chama a atenção os ensinamentos do velho editor sobre o que é usar de forma correta o chamado 4º poder, e que, muitas vezes, as decisões que um jornalista deve tomar quando descobre uma verdade podem lhe custar muito caro, incluindo a perda de vidas.

A cena que mais curti foi ver o velho Morgan Freeman dançando sozinho em seu apartamento.

Gostei do filme e recomendo para quem gosta do tema jornalismo e reportagem.

Ver aqui detalhes do filme na Wikipedia.

(comentei em 10.2.07)

Rocky Balboa - Stallone (2006)



(atualizado em 17/12/19, às 21h33)

Refeição Cultural

Rocky Balboa - Direção: Sylvester Stallone - 2006

Com Sylvester Stallone, Burt Young, Milo Ventimiglia, Antonio Tarver (ler aqui sobre o filme).

Assisti “Rocky - um lutador" (ler aqui) quando tinha uns 14 anos. É evidente que eu não tinha ideologia alguma. O que eu tinha era ódio, raiva e rancor da vida e da sociedade em que vivia.

É interessante a capacidade que alguns personagens têm de cativar as pessoas. E não podemos confundir isso com o ator que os interpreta, mesmo quando afirmam haver semelhanças entre eles.

Simpatizo com o personagem Rocky e sua história de luta, assim como tenho ojeriza a tudo que Sylvester Stallone e o Tio Sam representam para o mundo.

A catarse da sétima arte, assim como na música, literatura, pintura, dentre outras artes, tem muita relação com o momento em que a pessoa entra em contato com ela e por isso sempre afirmo ser contrário a estereótipos que, em geral, bloqueiam a visão profunda e completa do ser.

Nunca esquecerei, por exemplo, a sensação vivida no dia em que fiquei diante do quadro “O grito” de Edvard Munch, ou de quando li a saga do velho Santiago em “O velho e o mar" de Hemingway (ler aqui). Na oportunidade, tive grande identificação visual com um, e de vida com o outro.

Hoje, tenho uma visão socialista e da busca coletiva do bem comum. Não foi esse o caso para mim quando garoto, na década de 80. Pobre e cheio de frustrações, a ideia de um ferrado na vida que luta, luta e luta e supera tudo para vencer era e é cativante. Ou não foi assim que alguns de nós saímos do serviço braçal, passamos em concursos públicos e, uns poucos, passaram nos famigerados vestibulares das grandes universidades públicas?

Era real a vida daquele garoto magricela, que havia mudado de São Paulo com 10 anos de idade e chegado a um lugar estranho e hostil. E num curto espaço de tempo passou a ter raiva e ódio de tudo e todos. (mas aquela adolescência é outra história...)

Assistir a Rocky Balboa trouxe-me um aperto no coração. O filme lida com sentimentos e sensações sempre difíceis: o envelhecimento; a perda da pessoa querida; conviver com a solidão; viver entre os comuns após a fama; e a sempre possível relação difícil entre pais e filhos.

De fato, a garotada que assistir ao filme pode não entender o que Balboa quer dizer com “ainda tenho coisas guardadas aqui dentro, no porão...”. Mas acho que muitos daquela geração sabem o que é isso.

- Um lutador tem que escolher suas lutas...

- Um lutador tem que lutar...

- Não é só uma questão de bater mais forte... é uma questão de saber suportar a dor... de persistência...

O filme satisfez a minha expectativa.

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Post Scriptum (17/12/19):

Revi o filme e o contexto atual fez com que me emocionasse novamente com a estória da personagem e com os fatos que relatei na postagem acima.

Nosferatu, o vampiro da noite - Herzog (1979)


Klaus Kinski em interpretação brilhante!

(atualizado 17/12/19, às 9h50)

Refeição Cultural

Nosferatu, the vampyre

Direção: Werner Herzog - 1979, com Klaus Kinski, Bruno Ganz e Isabelle Adjani. Ver comentário da Wikipedia aqui.

- Que delícia assistir a filmes clássicos!

Este filme é simplesmente deslumbrante. Herzog acertou em cheio nesta refilmagem. Inclusive ele produziu parte do filme no mesmo cenário em que Murnau gravou Nosferatu em 1922, a pequena cidade de Wismar, no norte da Alemanha, segundo a Wikipedia (aqui).

O desempenho de Klaus Kinski, a fotografia e a trilha sonora são pontos altos do filme.

Eu já havia assistido ao filme Nosferatu de Murnau (aqui) e esta refilmagem ficou muito boa.

As cenas de Jonathan Harker nas montanhas da Transilvânia são demais: as corredeiras, o anoitecer, o lusco-fusco da transição do dia para a noite.

É muito legal a chegada do Conde Drácula à pacata cidade portuária de Wismar, na Alemanha. E com o navio, os ratos, e com os ratos, a peste.

A peste e a morte... e a loucura. A cena da última ceia em praça pública em meio a centenas de ratos é impactante.

Impressionam os milhares de ratos pela cidade e por todos os lados (na época não havia efeitos de computador, eram milhares de ratos mesmo).

No entanto, o melhor mesmo é cada minuto em que aparece Nosferatu. E a maquiagem na bela Isabelle Adjani realçando a brancura cadavérica da personagem é muito bem feita.

- Que expressão de cansaço!

- Que diacho de vida eterna pesada!

O conde Drácula não reclama sangue. Reclama amor. 
E o final nos mostra isto.

Filme belíssimo! Recomendo aos amantes do cinema.

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Post Scriptum (17/12/19):

Revi o filme e continuo achando a produção impactante. Vivendo em uma época em que todos os efeitos de filmes são feitos numa tela de computador, a gente fica impressionado ao ver uma produção conseguir quase dois mil ratos para gravar um filme. Pensem nos deslocamentos e cenários reais para gravar filmes décadas atrás... é fantástico!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Sintaxe do Português: termos da oração


Cerejeiras na USP.

SINTAXE DO PORTUGUÊS

Aula de 27.2.08

Comentário do blog: a postagem e as interpretações das aulas que tive são de minha responsabilidade. Este blog é para compartilhar conhecimento, opiniões e informações de forma gratuita. Qualquer dúvida que o(a) leitor(a) tenha em relação ao conteúdo é interessante que se busque outras fontes para comparar e avaliar qual entenda ser a fonte mais adequada.

Estudo dos chamados ‘termos da oração’.

Estamos estudando um texto de Maria Eugênica L. Duarte – autora gerativista.

Nosso curso com a professora Maria Célia Lima-Hernandes tem por objetivo o foco funcionalista.

Por que o sujeito é um argumento externo?

Existem estruturas com 3, 2, 1 ou nenhum argumento:

3- Ele deu o dinheiro aos pobres.

2- Isso interessa aos alunos.

1- Chegou uma encomenda.

0- Choveu.

O sujeito é chamado argumento externo porque sua relação é com o mundo real (caso nominativo). Já os argumentos internos são dos casos acusativo e dativo – objeto direto e indireto. Eles dependem sintaticamente do verbo.

Nas aulas tradicionais de Sintaxe, os professores tendem a pedir para os alunos encontrarem primeiro o sujeito de uma oração/sentença. Outros pedem para identificar o verbo (menos ruim).

- João comeu abacaxi.

A autora Maria Eugênia apresenta a ideia de ‘predicador’. No caso acima é o verbo comeu.

O verbo comer pede dois argumentos: alguém/algo come alguém/algo.

A Sintaxe busca olhar a função de uma palavra ou termo dentro de um todo. Ela precisa da Semântica.

Para a Gramática Funcional, não existem fronteiras entre as partes da Gramática Tradicional (GT): Fonética, Semântica, Morfologia etc.

A Sintaxe Funcional trabalha com gradação, categorização etc. Uma palavra pode ter uma função sintática mais pra ‘x’ que ‘y’ função.

O sujeito estabelece relação e posição. Exige concordância (Bechara).


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(texto atualizado em 16/12/19, às 17h56)

Caminho de Santiago: decisões a tomar





Estive ontem na Associação de Confrades e Amigos do Caminho de Santiago de Compostela (link aqui) em São Paulo para pegar informações.

Tenho decisões a tomar quanto ao planejamento de meu Caminho. O principal é decidir quando irei.

Pelas explicações que recebi, percebi que fazer o caminho em julho deve ser o caos, por ser mês de férias e estar tudo lotado, tanto o caminho quanto os abrigos de peregrinos. Sem contar os preços mais altos para tudo, a começar pelas passagens.

O maior problema são minhas aulas da faculdade. Já comecei e larguei a matéria de Sintaxe duas vezes. Não posso mais ser reprovado nela. Como são cerca de 35 dias, eu faltaria umas 10 aulas.

Ir em junho pode ser menos ruim em termos de lotação do caminho, mas não resolve muito em relação à faculdade. Poderia ir em agosto e perder o primeiro mês de aula.

Quanto à decisão de onde sair, por onde ir e como se locomover, estou chegando a conclusões: começarei em Saint-Jean-Pied-de-Port; penso que farei o voo SP-Madri-SP, sendo que estou com vontade de ir de trem entre Madri e Pamplona - deve ser muito bonito.

Segundo a Associação, devo fazer o seguro saúde e usar um cartão pré-pago internacional com um crédito determinado.

Ou seja, finalizo a semana definindo algumas coisas, mas faltando decidir a principal: que dia sair do Brasil.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Caminhando rumo a Santiago


Os pés que nos conduzem pelos caminhos.

Tenho que focar algum progresso para esta semana no que diz respeito à preparação para o meu Caminho de Santiago.

Visitarei a Associação em São Paulo responsável pela emissão do "Pasaporte del peregrino", localizada na Vila Mariana. 


Já sei que o passaporte só é emitido após a compra das passagens para a viagem, porém preciso definir também se irei para a França ou para a Espanha.

Estou me decidindo por sair de Saint-Jean-Pied-de-port, na França.

A data para a viagem também está se definindo, porque meu semestre na faculdade vai até o final de junho. É provável que eu saia do Brasil no início de julho.

Também preciso ver a aquisição de materiais necessários como mochila, tênis (para amaciá-lo por 90 dias), saco de dormir, uma pequena câmera fotográfica etc.

Até sexta, terei cumprido algumas dessas obrigações.


sábado, 15 de março de 2008

What's this life for - Creed




Hurray for a child
that makes it through.
If there's any way
because the answer lies in you.
They're laid to rest
before they've known just what to do.
Their souls are lost
because they could never find.

What's this life for?

I see your soul, it's kind of gray.
you see my heart, you look away.
You see my wrist, i know your pain.
I know your purpose on your plane.
Don't say a last prayer
because you could never find.

What's this life for?

But they ain't here anymore.
Don't have to settle the score
'cause we all live
under the reign of one King.
They ain't here anymore.
Don't have to settle the goddamn score
cause we all live
under the reign of one King...

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COMENTÁRIO:

Feeling: as a matter of fact, in spite of I don't believe in God (perhaps believe in nature, in all kind of life), some kind of songs like this one makes many people thinking about the existence.


Música que gosto muito, pois além de ser um tremendo som, tem uma letra filosófica.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Uma história real - filme de David Lynch, 1999


Richard Farnsworth em papel magistral.

Refeição Cultural - Uma história real

É engraçado!

Poucos filmes ou lembranças umedecem-me com relativa eficiência os sofridos olhos secos e ardidos. (é sempre bom qualquer vestígio de lágrima para aqueles que têm o problema de vista seca e ardor 24 horas por dia e noite)

Algo no filme me toca profundamente.

Não usaria o verbo "saber" para dizer o que é. O melhor é usar o verbo "sentir" para falar a respeito: sentir arrepios, sentir os olhos marejarem, sentir o coração apertado, sentir uma simpatia enorme por Alvin...

*Carregar uma amargura, um erro, por toda a vida, simplesmente porque não há nada a se fazer, a não ser conviver com aquilo;

*Lutar e vencer um dos sentimentos mais duros e mesquinhos que compõem a natureza humana: algo que poderíamos chamar rancor, orgulho; não-dar-o-braço-a-torcer, fazer-se-de-durão-a-qualquer-custo, falta colossal de humildade;

*A capacidade infinita e surpreendente de superação e inventividade do ser humano quando se deseja do fundo do coração atingir um objetivo;

*Aquela lentidão em que se passa o filme, a história, as paisagens, o cortador de gramas, a fala daquele velhinho tão único, mas ao mesmo tempo tão comum. Como precisaríamos de um pouco mais de lentidão nos dias de hoje!

Posso dizer que o filme me faz um bem danado. E é um paradoxo, pois aperta o peito e dá um nó geral na garganta. Mas também é esse um dos segredos da sétima arte.

Post Scriptum em 2012:


Cena do filme com Sissy Spacek.
Sissy Spacek

Assistindo ao filme Carrie com a jovem Sissy Spacek em 1976 e a vendo no filme em 1999 em uma interpretação brilhante e difícil como a filha do personagem principal, vemos o quanto a atriz é merecedora de nossa admiração.

Palmas para Sissy Spacek...


Post Scriptum em julho de 2014:

Ao reler a postagem, acabei por assistir novamente ao filme. Cada vez que revejo a história de Alvin Straight, mais reflito sobre a vida.

No início de 2014 tive muitas decepções em relação a pessoas que considerava muito, algumas delas tinha afinidade como irmãos têm.

Alvin (73 anos) nos dá um exemplo de perseverança e de grandeza ao passar por cima do orgulho e ir ao encontro de seu irmão Lyle (que sofreu um derrame), atravessando 240 milhas (390 km) entre Iowa e Wisconsin para por fim a um rompimento que durou anos e que ocorreu num momento de bebedeira.

O que vivi no início deste ano me endureceu muito. Tive que superar rapidamente uma grande decepção e seguir. Estou agora muito focado em superar tudo isso, inclusive buscando a reconciliação e a unidade em nome de algo maior - o projeto da classe trabalhadora que representamos.

Nisso o filme é uma grande lição, superar rompimentos e ter força e determinação nesta tarefa que tenho pela frente.


Enredo (Wikipedia)


Alvin Straight has not shown up to his regular bar meeting with his friends. He is eventually found lying on his floor at home, although he insists that he "just needs a bit of help getting up". His daughter Rose takes her reluctant father to see a doctor, who sternly admonishes Alvin to give up tobacco. He also tells Alvin that he should start using a walker. Alvin refuses. Alvin then learns that his brother Lyle has suffered a stroke. Longing to visit him, but unable to drive, Alvin gradually develops a plan to travel to Mount Zion on his riding lawn-mower and towing a small homemade travel-trailer, to the consternation of his family and friends.

Alvin's first attempt fails: after experiencing difficulty starting the old mower's motor, he doesn't get far before the machine breaks down. Alvin arranges for his mower to be transported back home on a flatbed truck, where he takes out his frustrations on the mower with a shotgun blast. At the John Deere dealer, he purchases a newer lawn tractor from a salesman who is generous but describes Alvin as being a smart man, "until now".

Alvin continues on his quest. He passes a young female hitchhiker who later approaches his campfire and says that she could not get a ride. In conversation, Alvin deduces that she is pregnant (although this is not physically obvious) and has run away from home. Alvin tells her about the importance of family by describing a bundle of sticks that is hard to break. The next day Alvin emerges from the trailer to find that she has left him a bundle of sticks tied together.

Later, a huge group of RAGBRAI cyclists race past him. He later arrives at the cyclists' camp and he is greeted with applause. He speaks with them about growing old. When he is asked about the worst part of being old, he replies, "remembering when you was young".

The next day, Alvin is troubled by the massive trucks passing him. He then interacts with a distraught woman who has hit a deer, and is being driven to distraction by the fact that she continually hits deer while commuting, no matter how hard she tries to avoid them. She drives away in a tearful huff, and Alvin, who had started to run short of food, cooks and eats the deer, then mounts the antlers above the rear doorway of his trailer as a tribute to the deer and the sustenance it had provided.

Alvin's brakes fail as he travels down a steep hill; he struggles to maintain control of the speeding tractor and finally manages to bring the vehicle to a complete stop. Some people help get Alvin's mower and trailer off the road. They later discover that the mower also has transmission problems.

Now beginning to run low on cash, Alvin borrows a cordless phone from a homeowner – gently refusing an invitation to come indoors – and calls Rose to ask her to send him his Social Security check. He then leaves money on the doorstep to pay for his telephone call. A local motorist offers Alvin a ride the rest of the way to Lyle's, but Alvin declines, stating that he prefers to travel his own way. An elderly war veteran takes him into town for a drink, and Alvin tells a story about how he is haunted by a memory of accidentally shooting one of his military comrades.

Alvin's tractor is fixed and he is presented with an exorbitant bill by the mechanics, who are twins and are constantly bickering. Alvin successfully negotiates the price down, and explains his mission, which he calls "a hard swallow to [my] pride," but "a brother is a brother." The mechanic twins seem to relate to this.

Later, Alvin camps in a cemetery and chats with a priest who recognizes Lyle's name and is aware of his stroke. The priest says that Lyle did not mention he had a brother. Alvin replies that "neither one of us has had a brother for quite some time." Alvin wants to make peace with Lyle and is emphatic that what happened ten years ago does not matter. "I say, 'Amen' to that, brother," the priest replies.

The next obstacle Alvin must overcome is apparent engine trouble, just a few miles from Lyle's house. Alvin stops in the middle of the road, unsure of how to proceed. A large farm tractor driving by then stops to help, but this time the problem was evidently just a few drops of bad gas, because the lawn-tractor's engine sputters to life again after sitting for a few minutes. The gracious farmer then leads the way on his own tractor, to make sure Alvin gets there okay.

Lyle's house is dilapidated. Using two canes, Alvin makes his way to the door. He calls for his brother. Lyle invites Alvin to sit down. Lyle looks at Alvin's mower-tractor contraption and asks if Alvin had ridden that thing just to see him. Alvin responds simply, "I did, Lyle." The two men sit together silently and look up at the stars.


quinta-feira, 13 de março de 2008

Sintaxe do Português: sintaxe funcional


Flores uspianas.

SINTAXE DO PORTUGUÊS

Aula de 25.2.08

Comentário do blog: a postagem e as interpretações das aulas que tive são de minha responsabilidade. Este blog é para compartilhar conhecimento, opiniões e informações de forma gratuita. Qualquer dúvida que o(a) leitor(a) tenha em relação ao conteúdo é interessante que se busque outras fontes para comparar e avaliar qual entenda ser a fonte mais adequada.

Sintaxe Funcional

Antes a divisão era entre Normativa x Descritiva.

Normativa = modelo do ensino básico: regras para bom uso da língua.

A Gramática era modular = ideia de gramática internalizada. A maioria dos pesquisadores focou a Sintaxe.

Dentro dos formalistas havia o Gerativismo (modelo do Chomsky).

Gerativismo = tem uma concepção de que o cérebro não é modular, é sistêmico. As mudanças alteram tudo.


AS MUDANÇAS

As gerações mudam a linguagem e seu uso. Via de regra, essas mudanças são de responsabilidade dos adolescentes, pelo seu desejo de mudar e inovar.

Funcionalistas = não aceitam as regras das gramáticas normativas (GT) por elas acharem que nada muda.

É importante lançar mão de outros módulos da Linguística: Fonética, Pragmática etc para se estudar a gramática da língua.

É preciso entender algo inovador na língua. Vejamos alguns casos:

- Eu vou à padaria comprar pão (verbo + verbo).

- Eu vou ao açougue comprar carne (verbo + verbo).

Com o tempo o verbo ir, que significava deslocamento mudou e passou a ser auxiliar de futuro.

- Eu vou (à padaria) comprar pão. = Eu vou comprar pão.

- Eu vou (ao açougue) comprar carne. = Eu vou comprar carne.

O verbo ir (vou) deixou de ser verbo pleno e passou a informação inferior.

Hoje, temos até expressões como vou ir/vou vir.

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Atualmente, o verbo IR não tem só o sentido de deslocamento espacial e sim de auxiliar de futuro.
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Existem muitas expressões hoje em dia com sentidos semânticos e formações sintáticas inovadoras:

- “Si pá...”;

- “Tipo assim...”; 


- “tipo...” etc.

"Tipo" vem do grego (pancada/marca); depois do latim (pessoa, que deixa marcas); português (tipo de tipografia e depois pessoa).

Hoje, virou um CLASSIFICADOR.

- “chutar o balde”.

O objeto direto (o balde) foi engolido, incorporado na expressão. A expressão é intransitiva.

- “Aí ele pegou e disse...” (a pessoa não pegou nada fisicamente).

O verbo pegar não é auxiliar. Aqui seria algo como VERBOS SERIAIS.

Outro exemplo dessa categoria: 


- “Chegou chegando...”.

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(texto atualizado em 16/12/19, às 15h35)

quarta-feira, 12 de março de 2008

As reflexões pelo Caminho já iniciado




Olha!!

Hoje, refletindo um pouco dentro de um ônibus lotadíssimo, por quase 2 horas, no trânsito caótico dessa porcaria de cidade em que trabalho (Grande São Paulo), que emplaca 800 carros novos por dia, indo para a faculdade, cheguei à conclusão de que não quero mais isso para a minha vida. Sinceramente, estou saturado dessa metrópole e de seu estilo de não-vida.

Estou saturado do ar podre e poluído e de não conseguir me locomover em menos de 3 horas por dia.

Ninguém merece isso!!

O fato é que, assim como preciso de um tempo só para mim, como faço nos momentos em que estou só e com os meus livros, ou quando faço uma vez por ano a minha caminhada em Minas Gerais, tenho que decidir muita coisa para o viver de amanhã.

Nessa nossa vida é preciso fazer valer a pena.


Por outro lado, lendo um pouco nas últimas manhãs, percebi que isso sim é fazer valer a pena. Como amo a literatura!

Romaria 2006 - Um teste de perseverança, resistência e humildade


Com a família querida.

Refeição Cultural

Tem um saber popular que diz que todo mundo precisa, às vezes, de um recolhimento ou isolamento para reflexão e busca pessoal.

Encontro esse meu momento todas as vezes que vou a Minas Gerais para fazer a caminhada entre as cidades de Uberlândia e Romaria, um percurso que varia de 73 a 90 quilômetros, dependendo de onde se sai.

Passeio ao Sol

Neste ano (2006) saí do trevo da cidade (trevo para Araxá), às 11 horas da manhã de sexta-feira, Sol a pino, e procurei levar pouco peso na mochila.

Apesar do caminho estar lá como sempre, este que vai por ele é outro a cada ano, inclusive com a quilometragem da vida maior.

De posse de um panfletinho com as distâncias entre cada um dos pontos de referência para o romeiro, iniciei os primeiros 6,7 km do trevo de saída para Araxá até os Olhos D’água.

Tinha como meta não perder muito o ritmo de fazer cada quilômetro andado na faixa dos 10’ (minutos), pois sempre começo andando bem e vou terminar me arrastando a mais de 20’ o km.

Em 2005, fiz o percurso em 23 horas.

Cheguei às 12:10h. Descansei 15’ e saí para 8,1 km até a ponte do Rio das Velhas. Percebi que estava adiantado no tempo em relação à multidão de gente que sai para a Romaria no entardecer de sexta-feira, ou seja, pegaria estrada com bem poucos romeiros.

Depois de uma boa descida, cheguei à ponte às 14h. O ritmo estava bom. Eu estava bem. Nem gosto de lembrar que no ano anterior cheguei ali com os pés arrebentados, o que viria a me trazer muito sofrimento até o fim.

Descansei 15’ e saí para uma senhora subida de uns 4 km até o trevo de Miranda. Apesar do Sol escaldante, cheguei às 14:50h. Minha estratégia desta vez de ir trocando as meias a cada parada para não andar com elas úmidas foi positiva. Enquanto usava um par, o outro secava pendurado na mochila.

Saí para andar 7,8 km até o Posto Triângulo. 100 minutos depois, cheguei. Ainda estava bem – pés e corpo.

Descansei 15’ e saí às 16:45h pensando em andar ao menos mais 6 km antes de anoitecer.

Passei pelo trevo de Araguari às 17:30h e vi, às 18 horas, um Pôr-do-Sol maravilhoso, acentuando aquela paisagem ressequida tão comum na região no mês de agosto.

Parei no Posto N. Sra. Da Guia às 18:50h para comer meu lanche (pão com mortadela). Já havia andado 36 km e estava relativamente bem, mas já percebia a prenhez de meus pés: creio que esperava 3 bolhas.

Então, fez-se noite (total)

Saí às 19:10h para uma esticada de 11 km até a Antena.

A estrada estava bem deserta. Breu total. Um céu com estrelas de pegar com a mão (infelizmente não temos esta visão na Grande São Paulo).

Normalmente esta ida até a Antena é muito sofrida, pois é muito longe e quando os romeiros veem a luz vermelha e acham que chegaram ainda faltam uns 5 km.

Nasce a Lua: a noite vira dia

Assim como vi o Sol se pôr em minhas costas, vi nascer à minha frente uma Lua Cheia esplendorosa em seu segundo dia. É interessante não se sentir só quando você está acompanhado por nosso astro maior ou nosso satélite. Já estando somente com aqueles milhões de estrelas, a sensação é outra.

Cheguei à barraca de ajuda aos romeiros da Antena às 22h. Estava cansado. Tomei a famosa sopa de legumes reconfortante.

Conversei um pouco com os conhecidos que fui fazendo ao longo do caminho. Descansei 40’. Já estava com 2 bolhas.

Saí para outra esticada maior ainda. Agora teria que andar 12,5 km até o Posto Santa Fé.

Por incrível que pareça (quando lembro anos anteriores!) cheguei ao posto à 1h da manhã, ou seja, fiz em 140’. Caminhava para fazer o meu melhor tempo.

Já estava com 3 bolhas.

A barraca de ajuda é a do Exército Brasileiro. Tapei minhas bolhas com esparadrapo, comi um belo pão com manteiga e café e parti. Agora só faltavam 3 pontos ou 14 km.

Saí à 1:30h para andar 6km até o Atalho. Dores nas bolhas e pelo corpo. Mas eu estava muito concentrado. Cheguei às 3h.

Desde que saí da Antena andei praticamente 5 horas pela madrugada sem encontrar ninguém na estrada. Era eu, a Lua e meu walkman - que os mais novos nem devem saber o que é: um aparelho portátil de tocar fita-cassete, antecessor pré-histórico do iPod.

Este é meu velho toca fita. Acreditem!
Ele tem mais de 20 anos. Funciona normalmente.
A troca de fita desperta o sono na madrugada.

Não parei para descanso, pois corre-se o risco de travar geral. Agora faltavam 8 km até a Igreja da cidade.

Este percurso final é pelo mato, por estradas de terra e cascalho, com aquela terra vermelha. Tem uma descida absurda, difícil de se controlar o corpo extenuado e, após atravessar um riozinho, tem uma subida de mais de 1 km de terra que arrebenta qualquer um.

Existe uma mescla de dor e esperança, quando você está chegando, indescritível. Andei a última hora ouvindo dezenas de galos anunciando o amanhecer na cidade.

Cheguei à Igreja de N. Sra. Da Abadia às 5 horas da manhã (desta vez fiz em 18 horas). Não é preciso ter religião alguma para sentir tamanha emoção e alívio.

Impressões marcantes

Sempre tento descobrir o que me faz todo ano aguardar ansiosamente o dia de pôr os pés na estrada para mais uma caminhada. Esta foi minha 7ª vez.

Tenho algumas respostas, não todas.

Se eu fizer um 'brain storm' ou 'toró de parpite' virão facilmente algumas coisas.

O Pôr-do-Sol fantástico;
O céu de pegar estrelas com a mão;
Aquela Lua maravilhosa;
Saber suportar a dor, as dores;
Aquele povo tão brasileiro na estrada!;
Aqueles ipês amarelos na paisagem;
A vontade supera tudo;
As pessoas se ajudando;
Apesar de mais velho, fiz meu melhor tempo (18 horas);
O velhinho ao meu lado no ônibus da volta fez em 13 horas (sejamos humildes!);
É um bom período para se pensar a vida;
Sinceramente, as bolhas não são nada!

Voltei reconfortado.

Ainda posso muita coisa. Isso é bom!

William Mendes
(Apenas um entre tantos)
13 de agosto de 2006