terça-feira, 30 de junho de 2009

Corrida - tentando reencontrar a forma física

Hoje pela manhã saí para uma corridinha. Fiz uns 4 km em trote leve.

A questão fundamental é pôr em ordem o sistema cardiorespiratório e muscular.

Os estudos fisiológicos atuais dão conta de que um monte de mitos antigos já não se justificam mais. Por exemplo, fazer alongamentos estáticos antes da corrida e caminhada para prevenir lesões não encontrou resultado prático em recentes pesquisas. Estudos mostram inclusive o contrário, pode tirar resistência e força dos músculos.

Outra coisa que ouvi dos professores quando fazia Educação Física também é contestado hoje: a tese de que as camadas de gordura só eram atingidas após exercícios mais demorados, ou seja, após uns 40' de atividades, pois antes eram consumidos a glicose disponível no sangue, depois o glicogênio e em seguida outras fontes como proteínas e gorduras.

Hoje a fisiologia trata esta questão como regra matemática simples. A pessoa consome X calorias e queima Y calorias. Ganhar ou perder peso equivale à diferença entre ambas.

É isso!

Eu tenho sempre um objetivo claro quando o ano esportivo começa: melhorar o meu tempo na corrida de São Silvestre. Em 2007 fiz os 15 km em 105' e em 2008 fiz em 99'.

Meu objetivo - difícil, eu sei - é fazer o percurso este ano em 95'.

Haja treinamento nos últimos meses do ano e foco no objetivo!!

O objeto da Economia: variações ao longo do tempo (e comentários da economia sob Lula da Silva - PT)


GOVERNO DE LULA DA SILVA E DO PT FOCAM O BINÔMIO DESENVOLVIMENTO-REPARTIÇÃO


Presidente Lula - 2009
Relendo meu velho livro de Introdução à economia, do professor Rossetti, vemos como variou o objeto da economia ao longo do tempo.

Adam Smith focava a natureza e as origens da riqueza.

Depois dele, David Ricardo achou que o mais importante era focar a repartição das riquezas.

Já Keynes adotou um terceiro caminho, procurando mostrar que "o objeto da Economia deveria centralizar-se na pesquisa das forças que governam o volume da produção e do emprego em seu conjunto" p.60

Keynes precisou focar o problema das flutuações da atividade econômica e da Renda Nacional, pois ele buscou soluções econômicas no auge da crise dos anos 30.

Após a 2ª Guerra Mundial, o foco mudaria novamente para a busca do desenvolvimento econômico das nações destruídas.

Em resumo:

"Enquanto os teóricos do século XVIII cuidaram da formação da riqueza e os do XIX da sua repartição, os modernos economistas preferiram dedicar-se a um objeto duplo, resultante, de um lado, do estudo das flutuações da atividade econômica e da promoção do desenvolvimento e, de outro lado, das investigações sobre a repartição da riqueza" p.61

Podemos dizer que o enfoque atual ainda se debruça e tem muito a resolver em relação ao binômio desenvolvimento-repartição.


REFLEXÕES SOBRE O GOVERNO DE LULA E DO PT (2003-2009)

A partir desses conceitos basilares de economia podemos refletir sobre os avanços sociais históricos que o governo do Partido dos Trabalhadores e do presidente Lula da Silva mostram como nenhum outro governo se destacou como este até hoje na história republicana do Brasil.

De 2003 a 2009, o país teve o maior crescimento econômico desde o período do regime militar, com a principal diferença que é ter havido repartição da riqueza nacional com o conjunto dos trabalhadores e povos mais necessitados.

Os números mostram que dezenas de milhões de brasileiros saíram das camadas mais baixas e miseráveis da pirâmide social e ascenderam para as classes C, D e E.

Outro fator fundamental foi a ressurreição da classe média, exterminada pelos oito anos de governo do PSDB, DEM e PMDB.

O governo de Lula da Silva e do PT possibilitou o aumento substancial do consumo interno brasileiro e isso foi fundamental para o Brasil continuar sendo o país que melhor se saiu nos últimos meses frente a atual crise financeira e econômica mundial.

É conscientizar agora a população sobre esses avanços históricos para que mantenhamos o projeto nas eleições presidenciais de 2010.


Post Scriptum (2014)

Na eleição em questão no texto, correu tudo bem e o programa do Partido dos Trabalhadores seguiu sua trajetória.


Presidenta Dilma e candidata
à reeleição em debate no SBT
em 1º/set/2014
Estamos agora às portas das eleições 2014 e eu sigo não tendo nenhuma dúvida de que o melhor programa de governo para os trabalhadores e o povo brasileiro é o do PT porque o Brasil conseguiu com Dilma Rousseff atravessar os 4 anos de mandato em meio à maior crise do capitalismo mundial desde 1929 e seguiu aumentando o nível de emprego e a distribuição de renda a partir do mundo do trabalho e com programas sociais.

Não acredito em bravatas e facilidades alardeadas pelo partido que destruiu os bens públicos e os direitos dos trabalhadores, o PSDB, muito menos candidaturas que se disfarçam como apolíticas como o caso da sra. Marina do PSB (na coligação partidária Fiesp/Itaú).

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Pau Brasil, de Oswald de Andrade, de 1925


Prefácio de Paulo Prado

No prefácio de Paulo Prado, de 1924, a apresentação da Poesia Pau Brasil, com vários excertos do Manifesto da Poesia Pau Brasil, já nos diz e fala da radicalidade da obra.

"Não só mudaram as ideias inspiradoras da poesia, como também os moldes em que ela se encerra. Encaixar na rigidez de um soneto todo o baralhamento da vida moderna é absurdo e ridículo. Descrever com palavras laboriosamente extraídas dos clássicos portugueses e desentranhadas dos velhos dicionários, o pluralismo cinemático de nossa época, é um anacronismo chocante, como se encontrássemos num Ford um tricórnio..." p.58

"Sejamos agora de novo, no cumprimento de uma missão étnica e protetora, jacobinamente brasileiros. Libertemos-nos das influências nefastas das velhas civilizações em decadência. Do novo movimento deve surgir, fixada, a nova língua brasileira, que será como esse 'Amerenglish' que citava o Times referindo-se aos Estados Unidos" p.59

"Nesta época apressada de rápidas realizações a tendência é toda para a expressão rude e nua da sensação e do sentimento, numa sinceridade total e sintética" p.59

"Grande dia esse para as letras brasileiras. Obter, em comprimidos, minutos de poesia (...) A nova poesia não será nem pintura nem escultura nem romance. Simplesmente poesia com P grande, brotando do solo natal, inconsciente. Como uma planta" p.59

Por ocasião da Descoberta do Brasil

ESCAPULÁRIO

No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia


FALAÇÃO
"(...)
A língua sem arcaísmos. Sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros"
(...)
Contra a argúcia naturalista, a síntese. Contra a cópia, a invenção e a surpresa." (BRASILIDADE)

História do Brasil

PAÍS DO OURO
Todos têm remédio de vida
E nenhum pobre anda pelas portas
A mendigar como nestes Reinos


AS AVES
Há águias de sertão
E emas tão grandes como as de África
Umas brancas e outras malhadas de negro
Que com uma asa levantada ao alto
Ao modo de vela latina
Correm com o vento

FREI MANOEL CALADO

CIVILIZAÇÃO PERNAMBUCANA
As mulheres andam tão louçãs
E tão custosas
Que não se contentam com os tafetás
São tantas as jóias com que se adornam
Que parecem chovidas em suas cabeças e gargantas
As pérolas e rubis e diamantes
Tudo são delícias
Não parece esta terra senão um retrato
Do terreal paraíso

J.M.P.S
(da cidade do porto)

VÍCIO NA FALA
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados

(Fabuloso! A poesia está nos fatos. Este é nosso retrato. "povo burro" = povo culto, puro e sábio)

Poemas da colonização

O GRAMÁTICO
Os negros discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou

O CAPOEIRA
-Qué apanhá sordado?
-O quê?
-Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada

RELICÁRIO
No baile da Corte
Foi o Conde d'Eu quem disse
Pra Dona Benvinda
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pitá e caí

São Martinho

O VIOLEIRO
Vi a saída da lua
Tive um gosto singulá
Em frente da casa tua
São vortas que a mundo dá

rp 1

DITIRAMBO
Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade

NOVA IGUAÇU
Confeitaria Três Nações
Importação e Exportação
Açougue Ideal
Leiteria Moderna
Café do Papagaio
Armarinho União
No país sem pecados

(um poema substantivos...)

Postes da Light

ANHANGABAÚ
Sentados num banco da América folhuda
O cow-boy e a menina
Mas um sujeito de meias brancas
Passa depressa
No Viaduto de ferro

MÚSICA DE MANIVELA
Sente-se diante da vitrola
E esqueça-se das vicissitudes da vida
Na dura labuta de todos os dias
Não deve ninguém que se preze
Descuidar dos prazeres da alma

(E eu que deixei de exercer isso, heim!)

PRONOMINAIS
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

(Pau Brasil!!!)

BIBLIOTECA NACIONAL
A Criança Abandonada
O Doutor Coppelius
Vamos com Ele
Senhorita Primavera
Código Civil Brasileiro
A arte de ganhar no bicho
O Orador Popular
O Pólo em Chamas

(De novo, substâncias... Pau Brasil!!! Essas eram as leituras do Brasil de então...)

DIGESTÃO
A couve mineira tem gosto de bife inglês
Depois do café e da pinga
O gozo de acender a palha
Enrolando o fumo
De Barbacena ou de Goiás
Cigarro cavado
Conversa sentada

HÍPICA
Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails

(substâncias... a vida social.
Este poema nos lembra o Rondó dos cavalinhos, de Bandeira. Perfeita crítica social)

Roteiro das Minas

PAISAGEM
Na atmosfera violeta
A madrugada desbota
Uma pirâmide quebra o horizonte
Torres espirram do chão ainda escuro
Pontes trazem nos pulsos rios bramindo
Entre fogos
Tudo novo se desencapotando

(Me lembra Drummond)

LONGO DA LINHA
Coqueiros
Aos dois
Aos três
Aos grupos
Altos
Baixos

Lóide Brasileiro

CANÇÃO DE REGRESSO À PÁTRIA
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para São Paulo
Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo

(Oswald de Andrade também tem o seu poema "Recife"...)

LAUS DEO

O livro é tudo de bom!!

O Modernismo Brasileiro, aulas de 2002

Aulas do professor José Miguel Wisnik

(a responsabilidade pela interpretação do conteúdo é minha)

Podemos dizer que houve um pré-modernismo brasileiro com o Regionalismo.

Por outro lado, não houve propriamente um movimento pós-modernista brasileiro como o Surrealismo, o Dadaísmo e o Futurismo.

Com os modernistas foram criados movimentos próprios, politizados.

Havia dois grupos nas décadas de 20 e 30, que surgiram depois da Semana de Arte Moderna, que representavam, mais ou menos, as ideias da esquerda e as da direita. Grupo da Anta, desta, e Movimento Antropofágico, daquela.

É importante salientar que o Modernismo Brasileiro não se assentou sobre um só tipo de arte. Assim como no Romantismo, houve impacto sobre todas as artes.

Com a exposição de Anita Malfati, em 1917, surge a presença feminina no mundo da arte.

Depois veio a Semana de Arte Moderna, em 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. Foi um movimento que só não deu muito resultado (imediato) no Teatro. Flávio de Carvalho fez duas tentativas mas ambas não surtiram muito efeito. Três décadas depois, viria a encenação de "O rei da vela", de Oswald de Andrade em 1967.

Havia dois tipos de "enredos" para o Brasil. Um, antes do Modernismo, outro, após. O primeiro ainda era o das instituições portuguesas (a continuação da Casa de Bragança), o outro, depois do Modernismo, que era o País das desgraças sociais - País subdesenvolvido. Vemos isso nas obras literárias.

Um bom exemplo disso, que se repete em diversas obras da época sobre o latifúndio e o coronelismo, é o livro "Vidas Secas" de Graciliano Ramos, que personifica em Fabiano e sua família de retirantes as mazelas do sertanejo e demais povos do Brasil.

Após o Modernismo, o Brasil e os brasileiros passam a ter uma visão mais nacionalista e de nação. Começa-se então a haver trocas culturais, justamente pela literatura. Autores regionalistas nos fazem conhecer o Brasil de norte a sul. Criou-se o conceito de Patrimônio Histórico Cultural. Antes, isso era coisa de europeu.

O curso do semestre em questão vai analisar a prosa e a poesia modernista.

Obras:
Macunaíma - Mário de Andrade
Paulicéia Desvairada - Mário de Andrade
Libertinagem - Manuel Bandeira
Alguma Poesia - Carlos Drummond de Andrade
Pau Brasil - Oswald de Andrade

Na medida do possível, haverá intertextualidades com diversos textos e obras.

Origem do nosso "povo melancólico" (conceito que vigorou até o início do século XX):

- O negro = ex-escravo
- O índio = exilado em seu País
- O português = expatriado

Escalar


Quero escalar.
Quero escalar um paredão de rocha.
Escalar um paredão social.
Escalar uma montanha de mel.

Subir. Agarrar.
A queda pode ser fatal.
A fatalidade está na escalada.

Escala-se pedra, rocha, pele, relevos.
Relevos para escalar.

Sonhos que escalam,
escalar os sonhos.
Sonhar em escalar:
pedras, pele, relevos.

Escalar é vencer,
é superar.
Conquistar o relevo que deseja:
a pele, a pedra, a rocha.

Sonho. Escalo.
Aguardo. Escalar é esperar.
Espero. Escalar é conquistar.


Wmofox, 2001

domingo, 28 de junho de 2009

Corrida domingueira

Hoje caminhei e corri um pouco pela manhã. Foram uns 4 km andando e 3 km em 18' em trote leve.

O meu desejo compulsivo por leitura e estudos, ultimamente, tem me levado a optar por deixar meu esporte em segundo plano.

Assisti há pouco ao filme fantástico sobre nosso passado humano: A guerra do fogo, de 1981. O filme dialoga muito com o primeiro capítulo do livro de Domênico De Masi - O ócio criativo.

sábado, 27 de junho de 2009

O Ócio Criativo - Domenico de Masi (Ed. 2000)




Li este livro de De Masi em 2005 e, apesar de lê-lo vacinado pelas referências de que o autor seria de linha mais à direita em termos políticos, gostei do livro e das ideias contidas nele.


Um dos capítulos que já li várias vezes é o primeiro "Como os lírios do campo". Ele descreve e comenta a história do homem desde a sua criação enquanto homem, ou seja, desde 70 milhões de anos atrás até os dias atuais.


Consultei o capítulo novamente após um dos debates deliciosos que fazemos constantemente na Contraf-CUT. Tenho o hábito de fazer pequenas provocações aos meus amigos da imprensa, com os quais trabalhei em meu primeiro mandato nesta secretaria.


O tema era sobre o ser humano ser um bicho que não aprende com o passado e que nós começaríamos sempre do zero. Essa observação me levou ao capítulo em questão, pois ele fala justamente o contrário, quer dizer, o que nos diferencia dos demais animais é justamente o fato de não começarmos do zero a cada geração. Nós somos alimentados desde o nascimento pelo caldo cultural que nos antecedeu.


No fundo, não quer dizer que eu não concorde que a nossa burrice enquanto ser humano está nos levando ao limite da existência, inclusive do próprio planeta. É que não posso confundir meu pessimismo com a natureza destrutiva e imbecil de nós mesmos com conceitos mais antropológicos e sociológicos.


Mas, vamos aos excertos do capítulo e suas ideias:



ATIVIDADES "OCIOSAS" DOS GREGOS

"O ócio é um capítulo importante nisso tudo, mas para nós é um conceito que tem um sentido sobretudo negativo. Em síntese, o ócio pode ser muito bom, mas somente se nos colocamos de acordo com o sentido da palavra. Para os gregos, por exemplo, tinha uma conotação estritamente física: 'trabalho' era tudo aquilo que fazia suar, com exceção do esporte. Quem trabalhava, isto é, suava, ou era um escravo ou era um cidadão de segunda classe. As atividades não-físicas (a política, o estudo, a poesia, a filosofia) eram 'ociosas', ou seja, expressões mentais, dignas somente dos cidadãos de primeira classe" p.17


Lembrei-me, inclusive, do período anterior ao de hoje no Brasil, livre e democrático. Até bem pouco tempo as pessoas poderiam sofrer abusos das "autoridades" e serem presas por "vadiagem". Ou seja, tem carteira assinada? Não? Então, mermão, tá em cana por vadiagem!



ATIVIDADES DA ERA INDUSTRIAL INUTILIZAVAM O CÉREBRO

"A sociedade industrial não só fez com que, para muitos, se tornasse inútil o cérebro como também fez com que somente algumas partes do corpo fossem utilizadas. Isto era diferente da sociedade rural na qual o camponês, para usar a enxada ou a pá, assim como o pescador para pescar, além de utilizar o corpo inteiro, usava talvez um pouco mais o cérebro" p.19



"ESTAMOS NUMA FASE DE TRANSIÇÃO. COMO SEMPRE" (Ennio Flaiano)


Apesar de haver mudanças em todas as épocas, nem todas mudam com a mesma intensidade e com a mesma velocidade.



MUDANÇA DE ÉPOCA x INOVAÇÃO

"Em determinados momentos, temos a sensação de que se trata de uma mudança de época. Porém, não é apenas um fator da História que muda, mas é todo o paradigma - com base no qual os homens vivem - que se altera. Isso, acontece quando três inovações diferentes coincidem: novas fontes energéticas, novas divisões do trabalho e novas divisões do poder. Se somente um desses fatores se alterasse, viveríamos uma inovação, mas, se todos eles mudassem simultaneamente, aconteceria um salto de época. Trata-se do mesmo conceito ao qual se refere Braudel, quando fala das ondas da História, que podem ser curtas, breves, médias ou longas" p.23



1o PERÍODO DA HISTÓRIA HUMANA

"Quais foram, então, os momentos da História nos quais nós, seres humanos, atravessamos encruzilhadas, vimos que o mundo virava de cabeça para baixo, se tornava 'um outro' mundo?


Um primeiro longo período da história humana vai de setenta milhões a setecentos mil anos atrás. Durante este período, quem vivia não percebia nenhuma mudança, se sentia sempre igual. Trata-se da longuíssima fase na qual o homem criou a si mesmo: aprendeu a andar ereto, a falar, a educar a prole" p.24



O ELOGIA DA IMPERFEIÇÃO

"Se refletirmos bem, estas são mudanças extraordinárias, todas elas decorrentes da compensação dos nossos defeitos. Rita Levi Montalcini explicou isso muito bem no seu livro L'elogio dell'imperfezione (O elogio da imperfeição). Tínhamos um olfato fraco, portanto não podíamos perseguir a caça farejando a terra, como fazem os animais, mas tínhamos que avistá-la: para isto devíamos caminhar de pé, já que a caça frequentemente fugia, desaparecendo na vegetação. Isto fez com que se tenham salvado somente aqueles indivíduos da nossa espécie que se tornaram mais aptos para caminhar eretos.


Como caminhar ereto implicava passar a dispor dos dois membros superiores - que já não eram mais usados para caminhar -, nós liberamos e especializamos as mãos, usando-as para compensar um outro ponto fraco: o da nossa mandíbula. Não tínhamos capacidade para agarrar a presa e esquartejá-la com os dentes e, por isso, usamos as mãos para construir utensílios e instrumentos.


Eis a outra grande novidade deste período: o homem descobre que pode fabricar objetos (...) A televisão ou o míssil não são senão o resultado posterior do hábito inovador adquirido naquele período, sem o qual nós teríamos desaparecido, pois não éramos nem os mais rápidos, nem os mais fortes, nem os mais capazes.



NÓS NÃO COMEÇAMOS DO ZERO

(...) Em resumo, naquela época aumentamos e potencializamos o cérebro, aguçamos a vista e liberamos as mãos. E educamos a prole. Aí está um outro fato extraordinário. Basta lembrar os dinossauros, cuja extinção também está associada ao fato de que, quando os ovos se abriam, a prole gerada já era autônoma e, portanto, não era educada pelos genitores. Cada dinossauro recomeçava do zero." p.25

Um filme excelente para ilustrar essa longa trajetória do ser humano é A guerra do fogo, de 1981, dirigido por Jean-Jacques Annaud.


"E somos os únicos animais que não recomeçam sempre do início, mas que, além das características hereditárias e do saber instintivo, recebem dos adultos o saber cultural" p.25


O capítulo segue com idéias fantásticas como o primeiro motor inventado pelo homem: o cachorro (lobos e chacais). Também fala da invenção da arma revolucionária Arco e Flecha; da invenção do ato de enterrar os mortos e da ideia de seguir a vida após a morte. E por aí vai.


É muito interessante para pensarmos um filme de nossa história humana.


Bibliografia:

DE MASI, Domenico. O ócio criativo. Entrevista a Marisa Serena Palieri. Editora Sextante. 4ª edição (2000).

O mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, 1991




Romance da história da filosofia

Li este livro na década de 90 e gostei bastante. Quando o folheio e leio certas partes destacadas por mim, vejo que o livro é uma referência para aqueles que não tinham ideia do que é a filosofia e é também um belo convite ao filosofar.

Assisti agora ao filme baseado na obra. É bem mais sucinto em termos de conteúdo, entretanto ele consegue manter o convite ao filosofar.

Refletindo sobre as características necessárias ao filósofo, percebo que desde muito novo eu as possuía.

“Quem é você?”

“De onde vem o mundo?”

“O que é filosofia?”

O ser humano traz consigo uma necessidade diferente dos demais seres da natureza, que é descobrir-se a si mesmo e também buscar compreender o porquê da existência.

O que se precisa para ser um filósofo?

“A única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas” p.27


FILÓSOFOS E CRIANÇAS


Ambos possuem a característica de estarem receptivos e sensíveis às coisas ao seu redor.


OS MITOS

Um equilíbrio precário entre as forças do bem e do mal... (p.34)

Os mitos têm a finalidade de (tentar) explicar o porquê das coisas serem como são. Os povos acabam criando rituais para isso.


DEUS CRIOU O HOMEM x O HOMEM CRIOU DEUS

Xenófanes, nascido por volta de 570 a.C., ao criticar os mitos disse que o homem teria criado os deuses à sua imagem e semelhança. p.39

O pensar filosófico vai substituindo os mitos: “O objetivo dos primeiros filósofos gregos era o de encontrar explicações naturais para os processos da natureza” p.40


OS FILÓSOFOS DA NATUREZA

Nada pode surgir do nada... (p.41)


ALGO SE TRANSFORMA EM ALGO

“Os primeiros filósofos tinham uma coisa em comum: eles acreditavam que determinada substância básica estava por trás de todas essas transformações” p.44


TRÊS FILÓSOFOS DE MILETO

Tales: a água como origem de todas as coisas.

Anaximandro: as coisas surgem e se dissolvem no infinito.

Anaxímenes: o ar ou o sopro de ar era a substância básica de todas as coisas.


Parmênides (c. 540-480 a.C) era um dos eleatas (da colônia grega de Eleia) que acreditava que tudo o que existe sempre existiu. Mas não achava que uma coisa se transformava em outra, pois isso iria contra a “razão”.

“Esta forte crença na razão humana é chamada de racionalismo. Um racionalista é aquele que tem grande confiança na razão humana enquanto fonte de conhecimento do mundo” p.47


TUDO FLUI

Heráclito de Éfeso (c. 540-480 a.C) dizia “tudo flui”. Por isso “não podemos entrar duas vezes no mesmo rio” p.47

O mundo está impregnado de constantes opostos: a doença nos mostra a saúde; a fome nos dá consciência de saciá-la com o alimento; a guerra nos faz dar valor à paz etc.


RAZÃO UNIVERSAL

Para Heráclito há algo como um Deus ou logos (razão) que está subjacente a tudo no universo.


QUATRO ELEMENTOS BÁSICOS

Empédocles (c. 494-434 a.C.) acreditava que a natureza possuía ao todo quatro elementos básicos, ou raízes: a terra, o ar, o fogo e a água.


UM POUCO DE TUDO EM TUDO

Anaxágoras (c.500-428 a.C.) achava que “a natureza era composta por uma infinidade de partículas minúsculas, invisíveis a olho nu. Tudo pode ser dividido em partes menores, mas mesmo na menor das partes existe um pouco de tudo” p.51


DEMÓCRITO (c.460-370 a.C.)

O brinquedo mais genial do mundo...

“Ele presumiu que todas as coisas eram constituídas por uma infinidade de pedrinhas minúsculas, invisíveis, cada uma delas sendo eterna e imutável. A estas unidades mínimas Demócrito deu o nome de átomos (indivisível)” p.57

Como Demócrito não acreditava em “força” ou “inteligência” para intervir nos processos da natureza, pois para ele as únicas coisas que existem são átomos e vácuo, ele é chamado MATERIALISTA. As questões do “elemento básico” e das “transformações” foram resolvidas pela RAZÃO.


O DESTINO

O adivinho tenta adivinhar algo que na verdade não dá para adivinhar...

Os gregos eram fatalistas e achavam que o destino já vinha traçado pelos deuses. Acreditavam no ORÁCULO DE DELFOS, do deus APOLO e sua sacerdotisa PÍTIA.



Atribui-se a HIPÓCRATES a fundação da ciência médica. “O caminho para a saúde do homem está na moderação, na harmonia e ‘na mente sã e corpo são’ ” p.68

É famoso até hoje o JURAMENTO DE HIPÓCRATES (é uma pena que raros são os médicos que o cumprem)


SÓCRATES

Mais inteligente é aquele que sabe que não sabe...


OS SOFISTAS

“O homem é a medida de todas as coisas”, disse o sofista Protágoras (c.487-420 a.C.)


AGNÓSTICO: é aquele que não é capaz de afirmar categoricamente se existe ou não um Deus.


OS TRÊS MAIORES FILÓSOFOS DA ANTIGUIDADE: SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES

Quem foi SÓCRATES?

“Sócrates (470-399 a.C.) talvez seja a personagem mais enigmática de toda a história da filosofia. Ele não escreveu uma única linha e, não obstante, está entre os que maior influência exerceram sobre o pensamento europeu. Seu fim trágico talvez seja o que o tornou famoso até mesmo entre os que conhecem pouco de filosofia” p.79

A técnica filosófica de Sócrates era o diálogo. Ele não assumia a posição de professor. Ele dialogava, discutia.

IRONIA SOCRÁTICA: Sócrates era capaz de se fingir ignorante, ou de mostrar-se mais tolo do que realmente era.

No ano de 399 a.C. ele foi acusado de “corromper a juventude” e de “não reconhecer a existência dos deuses” p.81

Sócrates não se considerava um sofista, isto é, uma pessoa instruída, sábia. Ele se autodenominava filósofo, no sentido mais verdadeiro da palavra. Um “filo-sofo” é, na verdade, um “amante da sabedoria”, alguém cujo objetivo é chegar à sabedoria. p.82

Um filósofo, portanto, é uma pessoa que reconhece que há muita coisa além do que pode entender e vive atormentado por isto.


UM FILÓSOFO SABE MUITO BEM QUE NO FUNDO SABE MUITO POUCO.

Esta característica lhe causou muitos problemas, pois “Os que questionam são sempre os mais perigosos”.


É um belo livro. Vale a pena a revisita a qualquer instante.

William

A pena de morte: o reparo impossível do equívoco possível




Artigo: William Mendes

(texto publicado originalmente em 6.11.06 no blog A Categoria Bancária)

A condenação do ditador iraquiano Saddan Hussein, esta semana, deixou-me inquieto e com necessidade de dizer alguma coisa a respeito da pena de morte.

Não conheço os detalhes de seu julgamento para fazer juízo de valor sobre a justiça ou imparcialidade do processo.

Porém, nesta segunda fase de minha existência (divido a vida em 2 partes: do início para o meio e do meio para o fim, independentemente das durações dos meios), onde busco aprender e melhorar a cada dia, incansavelmente, como ser humano e ser social, fico cada vez mais convencido que o mundo tem jeito, que as pessoas têm jeito, que as mudanças são possíveis.

Sinto-me à vontade para falar na capacidade de mudança, pois fui mudando sobremaneira ao longo da segunda parte de minha existência. E afirmo a todos: já fui favorável à pena de morte.

Fui favorável à morte e não à vida, na época em que minha visão de mundo era outra. Tive uma adolescência difícil, muitas vezes em ambientes violentos, com poucas oportunidades. Ou seja, nada diferente da realidade de hoje de milhões de jovens por este mundão afora.

Hoje, sou favorável à vida e não à morte. Entre a transição de uma metade para a outra de minha existência, alguns fatores foram fundamentais para a mudança dos extremos.

Na adolescência, fui deixando a malandragem das ruas pela leitura, pelos livros. Fui permitindo, aos poucos, que o diálogo vencesse a intolerância. Os livros foram me mostrando que eu não sabia quase nada perto do tamanho da minha arrogância. Fui trocando os amigos, os empregos foram sendo menos sofridos, o estudo foi permitindo novos sonhos etc.

Eu acredito na revolução pela educação.

Prefiro escolas que presídios;
Prefiro penas alternativas que cadeia a todos;
Prefiro o perdão que o ódio cego;
Prefiro tirar a liberdade que a vida;

E o mais importante, considerando a "imparcialidade" da justiça burguesa:

Prefiro que se indenize um injustiçado, que a família de um morto mal-condenado.

É isto,

William Mendes

PS: um bom filme para se refletir sobre o tema é A vida de David Gale, lançado em 2003.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Michael Jackson morreu!


Cara, é estranho.

Eu já não ouvia Michael Jackson. Sou outro. Minha cabeça mudou nos últimos anos. Minha própria relação com a música mudou muito na última década. Aliás, sinto muito por isso, porque a música me acompanhou e marcou os principais momentos de minha vida: minhas alegrias e minhas dores.

As músicas de Michael Jackson fazem parte da minha geração, da minha adolescência. Assim como Madonna. Assim como o meteoro Nirvana. Cazuza. Legião Urbana. E nem é uma questão de gostar ou não gostar de cada um deles.

Morreu Michael Jackson!

Ainda vivem Roling Stones. Aerosmith. Van Halen. AC/DC. Roberto Carlos morre qualquer dia desses. Vivem ainda Michelle Pfeiffer e Linda Hamilton. (minhas eternas musas do cinema!)

Ainda vivem meus pais e minha avozinha Cornélia. Foi chocante perder tios, minha avozinha Deolinda, primo...

Estamos ficando velhos. Começamos a enterrar a nossa geração.

A vida caminha assim.

Muitas mortes e muitos enterros nos esperam.

A cada dia, mais enterros virão!

Desta vez, morreu Michael Jackson!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A pena de morte




Refeição Cultural

Assisti a outro filme sobre pena de morte que me pôs a pensar: "Os últimos passos de um homem", de 1995, com Sean Penn e Susan Sarandon, com direção de Tim Robbins. No enredo, porém, não nos é apresentado um condenado no corredor da morte que pareça ser inocente. Desde o início, sabemos que ele teve alguma participação no assassinato brutal de um casal de jovens namorados.

O filme é muito bom e mostra o sofrimento de todas as vítimas da violência - a violência humana. Sofrem todos: as vítimas, a família das vítimas, a família do acusado, o acusado...

Como esse tema é difícil!

Ao longo de minha existência, já variei entre ser favorável à pena de morte e ser contrário a ela.

A opinião das pessoas ou dos governos, em geral, é bastante influenciada por eventos pontuais que acabam exponenciando decisões no calor dos acontecimentos.

Uma pessoa humana lesada por outra tem o direito de lhe tirar a vida?

Uma pessoa jurídica como o Estado pode matar alguém para puni-lo por crimes cometidos?

Tempos atrás, escrevi um artigo me posicionando contrário à pena de morte (em 6.11.2006 no blog A Categoria Bancária). Dizia que não achava correto o Estado tirar a vida das pessoas. Mas refletindo um pouco acerca do mérito que pensei para o artigo - o fato da pena capital não ser reversível em caso de erro no julgamento do acusado, pois havia assistido ao excelente filme "A vida de David Gale", lançado em 2003 - acabo concluindo que o fato em si de se matar humanos legalmente não foi por mim repudiado.

Quando me posicionei na época, vi pouco depois uma cena que me deixara chocado: a execução do ditador iraquiano Saddan Hussein, que foi enforcado às pressas em 30.12.2006 por ordem dos EUA de George W. Bush.

A história de David Gale, inclusive, acabou por balizar minha opinião sobre o "reparo impossível do equívoco possível".

Fiquei pensando em outros casos sobre penas de morte oficiais ou não-oficiais. Filmes como "Abril Despedaçado", lançado em 2001 e que trata da tradição local de "olho por olho, dente por dente"; textos maravilhosos como o julgamento de Sócrates, em Platão; julgamentos como o do homem chamado Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus...

Não é fácil decidir sobre o tema, não é fácil.


segunda-feira, 22 de junho de 2009

A importância do ato de ler, de Paulo Freire (1982)




Um livro simples e fundamental para aqueles que buscam na leitura muito mais que ler palavras, buscam ler sentidos.

"A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele".


O livro é constituído de três artigos do educador Paulo Freire. Artigos que elucidam questões como "o mito da neutralidade da educação"; explica sobre a ideia equivocada de acharem que o educando é uma folha em branco, sem conhecimento prévio; e um dos principais focos dos artigos é: estudar não é só um direito, mas um ato revolucionário.


Além da importância do ato de ler, Freire descreve como devemos organizar as bibliotecas para a educação conscientizadora dos povos.


Também dedica uma boa parte do livro a nos mostrar como foi o processo revolucionário de educar o povo de São Tomé e Príncipe - alfabetização e pós-alfabetização, povo recém-liberto do jugo colonialista português e em busca da "criação de uma nova sociedade".


Para nós que buscamos e pensamos um outro mundo possível, mais solidário, paritário e de respeito às diversidades, ficam da leitura ensinamentos básicos:


- a importância na forma correta de ler o texto em relação ao contexto;


- o povo tem o direito (e o dever) de ser sujeito e não objeto na construção da realidade;


- a aprendizagem da leitura e a alfabetização são atos de educação e educação é um ato fundamentalmente político;


- a insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada.


"A memorização mecânica da descrição do objeto não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala" p.17


Paulo Freire nos ensina a importância fundamental de organizarmos a nossa palavra ao contexto de nossos educandos. É a ideia do universo vocabular dos grupos: "palavras do Povo, grávidas do mundo".


A leitura crítica da realidade no processo de educação associada a práticas de mobilização e organização "pode constituir-se num instrumento para o que Gramsci chamaria de ação contra-hegemônica".


O mito da neutralidade da educação leva à negação da natureza política do processo educativo.


Segundo Freire é impossível separar o inseparável: a educação da política.


"Sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo como um ato criador" p.19

"A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral" p.19


Mas, se não é possível pensar a educação sem pensar o poder e sem pensá-la como prática autônoma ou neutra, isto não significa que a educação seja uma pura reprodutora da ideologia dominante.


Como cita o professor "o que temos de fazer então, enquanto educadores ou educadoras, é aclarar, assumindo a nossa opção, que é política, e sermos coerentes com ela, na prática".


Nessa relação dialógica, que nos inclui a todo(a)s como pais e mães, sindicalistas, educadore(a)s, devemos escutar o(a)s outro(a)s pois "cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros".


Toda a questão do conhecimento passa pelos princípios ensinados a nós de que há uma relação dinâmica entre a leitura da palavra e a "leitura" da realidade. Também é necessário que os povos sejam sujeitos.


Terminamos com o ensinamento sobre o ato de estudar:


"Estudar exige disciplina. Estudar não é fácil porque estudar é criar e recriar é não repetir o que os outros dizem. Estudar é um dever revolucionário!".


Leiam esse pequeno livro (87 páginas) com grandes ensinamentos.

William Mendes
(publicado originalmente como artigo meu no Portal da Contraf-CUT em 26.9.08)

O mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, 1991 (livro e filme)




Assisti neste fim de semana ao filme O mundo de Sofia, do ano 2000, baseado na obra homônima de Jostein Gaarder.


Achei o filme uma graça. Leve e convidativo à reflexão sobre o pensar filosófico. Apesar de ter um estilo bem infanto-juvenil, o filme tem imagens belíssimas e cenas bem pensadas com personagens como Leonardo Da Vinci pintando a Monalisa, Michelângelo esculpindo, o papel das mulheres na Revolução Francesa, cenas do julgamento e condenação de Sócrates etc.


É evidente que para uma compreensão bem mais profunda, como sempre!, só lendo o livro, pois os filmes têm o seu papel, mas não substituem os livros que deram origem a eles.


O livro é muito denso em termos de conteúdo, pois nada nada, conta a história de 3 milênios de filosofia. Mesmo assim, a técnica usada por Gaarder de inserir uma história juvenil na narrativa filosófica deixa o grosso volume leve e palatável. Não à toa que ainda vemos as pessoas com o livro nas mãos por aí nos trens e metrôs.


Recomendo tanto a leitura do livro como assistir ao filme para boas reflexões filosóficas a respeito da vida, do ser humano e da sociedade em que vivemos.



Sinopse

A Versátil apresenta a versão integral em DVD duplo de O Mundo de Sofia, minissérie baseada no best-seller internacional de Jostein Gaarder, que vendeu mais de 20 milhões de livros ao redor do mundo e foi traduzido para mais de 40 idiomas.

Às vésperas de completar 15 anos, Sofia Amundsen recebe mensagens anônimas com perguntas intrigantes, como "quem é você?" e "de onde vem o mundo?". A partir dessas mensagens, ela se torna aluna do misterioso Alberto Knox, que a acompanha em uma fascinante jornada pela história da Filosofia, de Sócrates até os dias de hoje, passando pela Idade Média, o Iluminismo, a Revolução Francesa e a Revolução Russa.

Como no livro no qual se baseia, a minissérie O Mundo de Sofia é uma introdução inteligente e divertida à história da Filosofia, recomendada a todos que têm paixão pelo conhecimento.
Informações Técnicas

Título no Brasil: O Mundo de Sofia

Título Original: Sofies verden

País de Origem: Noruega / Suécia

Gênero: Drama

Tempo de Duração: 200 minutos

Ano de Lançamento: 1999

Site Oficial: Estúdio/Distrib.: Versátil

Direção: Erik Gustavson

Fonte: interfilmes.com

domingo, 21 de junho de 2009

Não-corrida de domingo...

Era pra ser um domingo de paz, sol e saúde. Havia planejado acordar cedo e ler umas 100 páginas de "As viagens de Gulliver". Depois eu sairia para minha corrida domingueira e iria ao shopping almoçar com meu filho... (estávamos sós, pois minha esposa estava trabalhando).

Então, logo pela manhã, começou uma DESGRAÇA DE CAMPEONATO DE TUNNING (algo como algumas barracas com carros cheios de retardados com sons mais altos que os dos outros) bem em frente de nossos prédios, no estacionamento da CMTO (Empresa de ônibus de Osasco).

Uma merda de tum tum tum intercalado com frases falando mais merdas com funk e mais som e barulho e tum tum tum.

11h... 12h... resolvo fazer o que é possível e que não precise do cérebro. Resolvo trocar água dos aquários.

13h... 14h... 15h... (a pista arborizada onde corro é bem atrás do local onde estava o redivu - "rend vouz ")

Só saindo de perto daquele inferno! Fomos a pé ao Shopping para almoçar.

Voltamos às 17h... SEGUIA AQUELA DESGRAÇA DO TUM TUM TUM... 18h... parece que está acabando...

Como podem estragar o domingo da gente desse jeito! Fiz minha parte como cidadão morador e escrevi para a Prefeitura de Osasco dizendo que ali naquela zona residencial não é lugar daquilo... DAQUELA ZONA!!

QUE MERDA DE DOMINGO BOICOTADO!

NÃO CORRI. NÃO LI. NÃO FUI FELIZ. Caminhei uns 5 km.

sábado, 20 de junho de 2009

Corrida e mau condicionamento físico

Cara, como eu já previa, estou com péssimo condicionamento físico. Corri 15' e caminhei um pouco mais. Porém, sei que devo retomar minha prática cotidiana de exercícios físicos.

Estou mau tanto no sistema cardiorespiratório quanto no muscular. E a agenda de trabalho não ajuda.

Soma-se à agenda sindical pesada o meu desejo urgente de ler e ler muito tudo que ainda tenho pra ler daqui até o fim. Tenho me pegado escolhendo ler na hora livre ao invés de sair e correr ou caminhar.

E sei que o corpo é o veículo do meu cérebro, ou seja, de mim mesmo enquanto ser e personalidade. É ter mais sabedoria para dividir meu parco tempo entre saúde e busca de conhecimento.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Dimensões universais da linguagem, estudando Evanildo Bechara

Fazem parte das noções preliminares que envolvem a linguagem os termos sistema, signo, símbolo e intercomunicação social.

SISTEMA é um conjunto de unidades organizadas com certa finalidade. SIGNO ou SINAL é uma unidade que leva ao conhecimento de algo diferente dele mesmo. Em linguística os signos devem ser unidades SIMBÓLICAS. Como, por exemplo, o -s final da palavra livros é um sinal de pluralizador.

A OPOSIÇÃO é um princípio fundamental para a determinação da existência dos SIGNOS LINGUÍSTICOS.

Nas palavras, compostas por fonemas e grafemas, a oposição faz toda a diferença semântica, pois são compostas por SIGNOS FONÉTICOS ARTICULADOS:

Ex: Pala, Vala, Mala, Tala, Rala, Fala, Bala, Cala, Gala, etc.

INTERCOMUNICAÇÃO SOCIAL é porque a linguagem é sempre um estar no mundo com os outros, como parte de um todo social.

A linguagem humana apresenta cinco DIMENSÕES:

CRIATIVIDADE: forma de cultura manifestada como atividade livre e criadora.

MATERIALIDADE: é o nível biológico da linguagem, é atividade fisiológica e psicológica.
Envolve os aparelhos vocais e auditivos.

SEMANTICIDADE: porque carrega um conteúdo significativo.

ALTERIDADE: porque o significar é sempre um "ser com outros", próprio da natureza político-social do homem.

HISTORICIDADE: porque é tradição linguística de uma comunidade histórica.

Bechara nos diz que não existe língua desacompanhada de sua referência histórica: só há língua portuguesa, língua francesa, língua inglesa etc.

A dimensão histórica da linguagem coincide com a própria historicidade do homem.

Bibliografia:
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37a. Edição Revista e Ampliada. 16a. Reimpressão. Editora Lucerna, RJ 2006.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Horas de greve - Anistia ou distribuição para todos

Uma proposta classista, justa e baseada no direito coletivo e da igualdade

Após o fechamento da campanha nacional dos bancários, uma das mais vitoriosas dos últimos anos e cuja data-base é setembro, nós, os representantes eleitos pelos trabalhadores, já nos colocamos a estudar formas de organização das lutas para o período que se inicia logo após as conquistas da Convenção Coletiva e aditivos terem sido renovadas.

Uma das questões sempre presentes em nosso estudo e formulação diz respeito a pensar em novas formas de envolvimento dos trabalhadores no movimento, na organização e participação nas greves da categoria e em suas consequências e resultados - positivos e negativos.

O tempo tem mostrado que a greve, o movimento paredista dos trabalhadores, ainda é a melhor forma de arrancar propostas do patronato quando não há ou quando esgotam-se as negociações entre patrões e empregados.

A greve é o principal instrumento de luta dos trabalhadores. Porém, é preciso saber usá-lo e saber o melhor momento tanto para iniciar a greve quanto para sair dela da forma mais satisfatória possível para o conjunto dos trabalhadores.

A grande maioria dos bancários tem mostrado essa sabedoria nos últimos anos, principalmente de 2005 para cá, quando fizemos boas greves e boas negociações entre o Comando Nacional e os banqueiros.

Embora os embates tenham sido muito duros nos últimos anos, os bancários têm conseguido bons resultados nas campanhas unificadas como aumento real em todos os acordos de 2004 para cá, pois tivemos reajuste acima da inflação de 11,52% nos pisos e 5,48% nos demais salários (INPC); melhorias na distribuição da PLR - Participação nos Lucros e Resultados; conquista de novos direitos como a 13ª cesta alimentação; e direitos específicos por bancos como, por exemplo, PCS e isonomia na Caixa Federal, isonomia e reestruturação da Cassi no Banco do Brasil, auxílio educação na maioria dos bancos privados, PCR e PAC no Itaú etc.

É chegada a hora de acabarmos de vez com a inversão de valores que ocorre em nossas campanhas salariais quando, após a luta de alguns - os que fazem a greve - estende-se as conquistas para o conjunto dos trabalhadores que estão sob a regência da Convenção assinada com os novos direitos e ganhos, mas não se estende para todos a compensação das horas de greve que garantiram os direitos. E estende os benefícios mesmo para aqueles que não participaram da luta vitoriosa e que, muitas vezes, fizeram o contrário, assediando os grevistas e tentando destruir o movimento paredista que culminou com a conquista coletiva.

Proponho que usemos para as horas de greve geradas na luta os mesmos princípios do direito que garantem a igualdade, que estabelecem as normas do direito coletivo e a própria legislação trabalhista já em vigor, como a CLT, que garante extensão de direitos a todos sob a tutela de acordos e convenções coletivas.

O princípio que rege o direito coletivo das convenções e acordos estende a todos os trabalhadores os direitos (bônus) conquistados ao final de uma campanha e negociação entre patrão e empregados para renovação de direitos coletivos.

Tomemos, como exemplo, os bancários na renovação de sua convenção 2008/09, que conquistaram aumento na PLR tanto na porcentagem do salário individual distribuído (passou de 80 para 90% do salário), quanto no aumento do teto estabelecido (que passou de 2 para 2,2 salários), o que elevou ganhos tanto na base da pirâmide funcional quanto na parte superior da mesma.

O reajuste salarial acima da inflação também aumentou os vencimentos de todos os trabalhadores pertencentes à folha de pessoal.

É elementar usar o mesmo princípio coletivo que regeu a distribuição dos bônus (auferidos e distribuídos para todos sob a CCT e aditivos) para a distribuição do ônus da luta pela renovação da convenção, ou seja, distribuição equânime das horas de greve a serem compensadas em cada banco para todos os beneficiários das conquistas.

Nesse sentido, é baseado no princípio da igualdade e também do princípio do direito coletivo que defendo que o estoque total das horas de greve geradas na renovação da convenção dos bancários sejam ou abonadas (anistiadas) para todos ou distribuídas igualitariamente para todos, haja vista o princípio da igualdade que estendeu para todos as conquistas auferidas. Afinal, a greve não é de determinado segmento de trabalhadores ou locais da empresa. É de toda a coletividade da categoria.

A proposta para 2009

A solução legal e moral para as próximas campanhas de renovação de acordos e convenções coletivas (data-base) e também para as campanhas específicas e/ou sazonais por tema ou empresa (no caso dos bancários, os bancos) é a seguinte:

1-os bancos devem abonar (anistiar) as horas de greve totais geradas na luta dos direitos coletivos. Em 2008, tivemos bancos que tomaram esta postura, como o HSBC.

2-os bancos que insistirem na compensação das horas de greve geradas na obtenção dos direitos coletivos pegarão o montante de horas a compensar geradas e dividirão pelo número total de funcionários existente em seu quadro de pessoal na data-base (a mesma base da distribuição da PLR, por exemplo), gerando para cada um (grevista ou não) o mesmo número de horas a serem compensadas, de forma que cada trabalhador beneficiário das conquistas também partilhe de (X) horas de seu salário em nome da conquista coletiva.

Por exemplo: o banco A tem 80 mil empregados e teve 120 mil horas de greve. Dessa forma, cada empregado pagará 1,5 horas de seu salário.

Proponho que esse novo paradigma seja apreciado pelos trabalhadores a partir de agora em suas assembléias, congressos e conferências, bem como proponho discussão e deliberação nas respectivas diretorias eleitas nos sindicatos, federações, confederações e centrais.


Publicado originalmente no Portal da Contraf-CUT.

Rotacização do L nos encontros consonantais


Estou relendo o livro de Marcos Bagno - A língua de Eulália, de 1997. A importância dele para mim é muito grande.

Quando entrei na Usp em 2001, foi uma das questões que mais me marcaram o fato dos professores de língua portuguesa insistirem para que os alunos perdessem o preconceito linguístico. É como se dissessem a eles: mudem o programa de seu computador-cérebro.

As pessoas não falam errado, ou "não sabem falar". Elas falam variedades de língua.

A questão da língua única no Brasil também é outra balela, é mito.


ROTACISMO

Marcos Bagno nos explica que existe na língua portuguesa uma tendência natural em transformar em R o L dos encontros consonantais.

Quem diz broco em lugar de bloco não é "burro", não fala "errado" nem é "engraçado", mas está apenas acompanhando a natural inclinação rotacizante da língua.

Vejam abaixo como funciona isso através da etmologia das palavras. O que era L em latim permaneceu L em francês e em espanhol, mas em português se transformou em R.


LATIM..... FRANCÊS...... ESPANHOL.... PORTUGUÊS

ecclesia- ....église .........iglesia ...........igreja
Blasiu- .......Blaise .........Blas ..............Brás
plaga- ........plage ..........playa ............praia
sclavu- ......esclave .......sclavo ...........escravo
fluxu- ........flou .............flojo .............frouxo

O português não-padrão também é coerente às tendências da língua.

"Os falantes do português não-padrão só conhecem encontros consonantais com R. Na variedade deles simplesmente não existem encontros consonantais com L", nos diz Bagno.

Para finalizar o tema, vejamos duas frases com a mesma explicação histórica, onde uma achamos "correta" e a outra "ridícula e engraçada":

- "Cráudia fala ingrês e gosta de chicrete"

- "A igreja de São Brás é perto da praia"


E aí, que tal termos menos preconceito linguístico? Basta entendermos que o objetivo da língua é comunicar e que as pessoas se comunicam de acordo com a variedade vigente no meio onde vivem ou de onde vieram.

William

domingo, 14 de junho de 2009

Corrida

Depois de séculos, corri 30' hoje. Estou fora de forma.

Mas a corrida foi boa.

Neste fim de semana assisti a dois filmes muito bons: O Leitor e A Troca. Ambos concorreram ao oscar e ganharam alguns prêmios.

Deus tempo


O tempo é Deus.
O demiurgo.
O tempo como um ente... mitológico...
Se ente... consciente.
Então... busca-se nas dobras do tempo,
o passado, o futuro. E o presente?
Já virou passado.

Então o Deus, Deus tempo...
A questão é se autor narrador,
ou ator narrador: primeira pessoa.

Pro meu conceito: é autor distante.
Explico: demiurgo em estilo indireto
livre.
Descreve: passado, futuro. O presente...
não existe. Já virou passado.
Tempo. O Deus tempo.

Stream of consciousness: fluxo de pensamento.
O tempo onisciente. Onipresente.
Estilo irônico: distante.
Não é onipotente: narra, descreve.
Não interfere: observa.

Entretanto influencia: esquecimento.
Dizem que cura: deixa sequelas.
Talvez por isso eu não o encontre,
o Deus. Ele é o tempo.
E ninguém tem tempo.

O tempo passa. Mas falta tempo.
Uns dizem:
“Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.”


Digo: o tempo é Deus.
Tudo está nas dobras do tempo.
Talvez até o amanhã. (que pode ter sido o ontem)
Às vezes são tão iguais!


É por isso que não acho Deus.
É o tempo:
Eu nunca acho tempo.
O tempo é meu Deus.
É preciso tempo.
Tempo para depurar. Tempo para amar.
Tempo para buscar o tempo:
passado, futuro.
Tempo pro presente.

Quando o tempo passa, o Deus tempo,
não volta mais: passado...
como agora, que não existe mais.


Wmofox 9.12.03