sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Na Natureza Selvagem - Pais, Filhos e a Felicidade Compartilhada


Refeição Cultural

"Happiness only real when shared" (Chris McCandless)

"A verdadeira felicidade é aquela compartilhada"

Pais e filhos em 2005.
Hoje, um está com 70; 
outro, com a barba branca; 
outro é um jovem.

Neste dia 30 de agosto de 2012 meu querido pai completou 70 anos de vida. Apesar de nossas vidas distantes e complicadas, consegui vê-lo, abraçá-lo e beijá-lo. A interrupção da agenda de negociações com os bancos e a vinda forçada de meu pai a São Paulo por problemas de saúde me permitiram levá-lo ao aeroporto e estar com ele por quase duas horas.

Anteontem, ao pegar o filme Na Natureza Selvagem para meu filho levar para um professor dele, revi quase uma hora de filme e, como sempre, pensei muito na vida (e chorei também).

O jovem Chris McCandless faz (fez) toda uma crítica à sociedade de consumo, dos bens materiais serem mais importantes que tudo, dos pais que brigam e que não são o que aparentam ser. Fiquei o tempo todo vendo o meu passado, o passado do meu pai, o passado do meu filho (apesar de tão jovem).

Meu pai saiu cedo de casa e da família porque queria algo diferente pra ele que não fosse aquela roça onde moravam. Saí da casa de meus pais ainda adolescente talvez porque quisesse fugir daquela miséria também.

Mas saí de casa porque briguei com meu pai, meus pais. E eu era um problema. Fiz meus pais sofrerem muito. Felizmente, ele está vivo hoje e posso beijá-lo. Ele e minha mãe sabem o quanto eu os amo e o quanto são importantes pra mim.

Meu filho está naquela idade pela qual nós já passamos, meu pai e eu. Faz tão pouco tempo e eu já tenho saudade de quando aquele garotinho era próximo a mim. De quando brincávamos de carrinho de ferro no chão. Hoje, praticamente não nos falamos e isso não é incomum nas vidas de todos por aí.

Tive a chance de poder corrigir o que fiz com meu pai e dizer neste dia que ele completou 70 anos: PAI, EU TE AMO!

Eu desejo que meu filho tenha essa chance no futuro.

Desejo que eu tenha essa chance no futuro.


Chris McCandless na busca de sua felicidade. 
Fonte: site sobre ele.

"Happiness only real when shared" - Chris McCandless - (Alexander Supertramp) andou por mais de dois anos pelos Estados Unidos e quando descobriu essa verdade que ele nos deixou, tentou voltar e não deu certo - por uma fatalidade.

Naquela época (1990-92), enquanto McCandless perambulava pelos EUA buscando encontrar a sua verdade e a felicidade, eu também tinha uns 22 anos e já fazia uns cinco anos que havia saído da casa de meus pais. Tivemos muita sorte, meus pais e eu, de estarmos vivos hoje para entender sobre a verdadeira felicidade ser aquela compartilhada.

Se tudo der certo, pois cada dia é um dia na sobrevida atual de minha mãe e de meu pai com tantos problemas de saúde, mamãe completará dia 4 de setembro 66 anos e no dia seguinte eles completarão 48 anos de casados.

Se um dia meu filho ler estas coisas que escrevo aqui, quero que saiba que desejo a ele que tenha a sorte que tive com meus pais. Os pais de McCandless não tiveram a mesma sorte que meus pais. A vida é assim!

William Mendes

sábado, 25 de agosto de 2012

Ulisses – James Joyce


Minhas edições de Joyce.

ULISSES – JAMES JOYCE

CLÁSSICO IRLANDÊS de 1922

Li esta obra única em estilo e novidade literária faz dez anos. Foi uma leitura difícil e ela exigiu engajamento do leitor.

Cheguei a começar e parar várias vezes e cheguei a ler até lá pela página trezentos e depois voltei para entrar no ritmo adequado da leitura e seguir até o fim.

Já fiz isso com outras obras de leitura exigente como Os lusíadas e Dom Quixote de la Mancha.

A versão que li e tenho é aquela traduzida décadas atrás pelo filólogo Antônio Houaiss. Confesso que fiquei muito curioso para ler as duas versões novas que existem, feitas por literatos.

ESTILO – ATENÇÃO A QUEM FALA OU PENSA

Dias atrás reli o primeiro capítulo e hoje reli o segundo. A leitura exige muita atenção porque ela reveza discurso direto com discurso indireto livre o tempo todo. Quando não há diálogos, há fluxo de pensamento, ora de um dos personagens, ora do autor demiurgo. Você leitor tem que saber quem está falando ou pensando.

QUADRO ESQUEMÁTICO DA OBRA

Joyce, e a tradução de Houaiss, divide a obra em três partes:

I – Telemaquia
II – Odisseia
III – Nostos

Além da divisão em partes, há um quadro com divisões em:

Episódios (18), Cenas, Horas, Órgão, Arte, Cor, Símbolo, Técnica e o número da Página.

EPISÓDIO I

“Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan vinha do alto da escada, com um vaso de barbear, sobre o qual se cruzavam um espelho e uma navalha. Seu roupão amarelo, desatado, se enfunava por trás à doce brisa da manhã. Elevou o vaso e entoou:

- Introito ad altare Dei.

Parando, perscrutou a escura escada espiral e chamou àsperamente:

- Suba, Kinch. Suba, jesuíta execrável.

Prosseguiu solenemente e galgou a plataforma de tiro. Encarando-os, abençoou grave três vezes a torre, o campo circunjacente e as montanhas no despertar. Então, percebendo Stephen Dedalus, inclinou-se para ele, traçando no ar rápidas cruzes, com grugulhos guturais e meneios de cabeça. Stephen Dedalus, enfarado e sonolento, apoiava os braços sobre o topo do corrimão e olhava friamente a meneante cara grugulhante que o bendizia, equina de comprimento, e a cabeleira clara não tosada, estriada e matizada como carvalho pálido.

(...)” (JOYCE, 1983, p. 9)

Aqui já percebemos o espaço inicial da obra. A torre, a visão da baía lá embaixo e os campos ao redor.

Pela hora do dia temos por volta de 8 horas da manhã.

“Subiu ao parapeito de novo e mirou para a baía de Dublin, os louros cabelos carvalho-pálido agitando-se de leve.

(...)

Stephen subiu e aproximou-se do parapeito. Apoiando-se neste olhava para as águas e para o barco-correio surgindo na boca da angra de Kingstown.

(...)” (p. 12)

Neste primeiro episódio, descobrimos que Stephen carrega lembranças da morte da mãe, que penou em um leito de morte, e cujo pedido final não foi atendido pelo filho (rezar por ela):

“- Você podia ter-se ajoelhado, que diabo, Kinch, quando sua mãe lhe pediu isso moribunda – Buck Mulligan dizia. – Sou tão hiberbóreo quanto você. Mas imaginar sua mãe suplicando-lhe no seu último alento que você se ajoelhasse e rezasse por ela. E você recusar. Há alguma coisa de sinistro em você...” (p. 12)

CRÍTICAS EXPRESSAS NA OBRA

Aos irlandeses (Buck Mulligan, ao provar leite puro servido por uma anciã):

“- Se ao menos pudéssemos viver de bom alimento como este – dizia-lhe ele, algo gritado – não estaríamos com o país cheio de dentes cariados e de intestinos podres. Vivendo num pântano de lama, comendo alimentos ordinários e com as ruas cobertas de poeira, de bosta de cavalo e escarros de étegos.” (p. 22)

Aos judeus:

“- Sou um britânico, é verdade – dizia a voz de Haines – e isso me sinto. Nem quero ver minha terra tombar nas mãos dos judeus alemães tampouco. E neste momento, creio, esse é o nosso problema nacional.” (p. 30)

O Episódio Primeiro ou Cena Um termina com Stephen Dedalus deixando-os (Buck Mulligan e Haines) na praia e indo para a escola.

PESQUISEI HISTÓRIA DOS JUDEUS

Ao reler o segundo episódio hoje, vi novamente forte crítica aos judeus e acabei me dedicando um pouco à questão judaica. Assisti ao documentário da Coleção Grandes Dias do Século XX – "Êxodo, nascimento de Israel".

Eu não havia assistido ainda ao vídeo e fiquei impressionado com a qualidade e as informações contidas ali. Além de ser quase uma hora com imagens originais em preto e branco dos anos quarenta, há informações que vão desde o fim da 2ª Guerra Mundial até a criação do Estado de Israel em 1948.

Cara, fiquei novamente pensando porque será que atualmente os judeus massacram os palestinos, já que eles deveriam pensar no que fizeram com eles no passado...

É isso, por enquanto.

Clique aqui para ler a parte dois de meus comentários sobre a obra Ulisses.


Bibliografia:

JOYCE, James. Ulisses. Tradução de Antônio Houaiss. São Paulo, Editora Abril, 1983.

domingo, 19 de agosto de 2012

Reflexões sobre James Joyce e a Irlanda


Foto de William Mendes.

REFLEXÕES SOBRE JAMES JOYCE E A IRLANDA

E sobre as leituras que não fiz... não farei...


Desde adolescente, tenho certa fascinação pela Irlanda e por questões inerentes ao país.

Sou um felizardo por já ter lido Ulisses e Dublinenses de James Joyce. Sempre gostei das músicas da banda U2 (até aí, todo mundo gosta) e também curto The Cranberries.

Mas se fosse para escolher uma música tema para minha existência seria:

I still haven’t found what i’m looking for... U2

Após assistir ao filme Inimigo Íntimo de 1997, dirigido por Alan Pakula (um filme sobre o IRA – Exército Republicano Irlandês) e reler um pouco dos livros do Joyce hoje pela manhã, fui para a rede mundial pesquisar um pouco mais sobre o país na Wikipedia.

Fiz um comentário específico sobre o filme e a questão do terrorismo.


LACUNA CULTURAL

Cara, descobri que não sei nada sobre a Irlanda e os irlandeses.

Só para ficar na literatura, o país tem quatro ganhadores do prêmio Nobel e eu nunca me dei conta disso e, pior, nunca li nenhum deles:  George Bernard Shaw, W. B. Yeats, Samuel Beckett e Seamus Heaney.

Não é só essa a minha lacuna cultural em literatura irlandesa. Tenho a tristeza de informar que não li uma das obras mais famosas de um irlandês: Jonathan Swift e As Viagens de Gulliver.

Para concluir a lacuna literária, não li nada também de Oscar Wilde.

Para não ficar na pequeneza e enfiar a cabeça no chão, li as duas importantes obras de Joyce.


CONFISSÕES DOS DESEJOS NÃO-REALIZADOS

Pois é, entrei na segunda metade matemática de minha existência. Ela pode se interromper a qualquer instante, mas pelas tabelas de mortalidade brasileira, eu teria umas décadas pela frente ainda.

Pela vida que levo hoje, morrerei sem ler as grandes obras literárias que desejo ler faz muito tempo.

Não me venham falar que eu poderia ler trabalhando braçal desde a adolescência, trabalhando e estudando à noite na vida adulta ou depois que fiz duas faculdades trabalhando também. Uma faculdade, aliás, de Letras.

O rumo que minha vida tomou não me permite ler por prazer horas por dia e sobreviver dessa atividade.

E aí, que fazer da segunda metade da minha existência? Morrer por aí sem realizar nada que queria? Sem ter lido as obras de Marcel Proust, as de Balzac, as obras filosóficas completas da idade média pra cá, as obras completas de grandes autores brasileiros e portugueses, russos, latino-americanos, americanos...

Toda vez que me lembro que não tenho tempo para ler com calma e reflexão, com planejamento no semestre para devorar obras, me dá um vazio na perspectiva de sobrevida...


Chega! Vou preparar-me agora para fazer uma excelente mesa de negociação amanhã com o Banco do Brasil e estudar e pesquisar referências e argumentos.


Post Scriptum:

Em relação a fazer o mínimo do que se gosta, ao menos corri hoje. A caminhada e corrida de final de semana foram as primeiras atividades após a recuperação dos meus pés arrebentados da Romaria de 85 km da semana anterior.

Filme: INIMIGO ÍNTIMO - O IRA e a questão do terrorismo

Poster do filme de 1997.

COMENTÁRIO BREVÍSSIMO SOBRE O FILME

Após assistir ao filme Inimigo Íntimo de 1997, dirigido por Alan Pakula (um filme sobre o IRA – Exército Republicano Irlandês) e reler um pouco dos livros do Joyce hoje pela manhã, fui para a rede mundial pesquisar um pouco mais sobre o país na Wikipedia.

A história se passa entre 1992 e 93.

Só para termos algumas referências:

- O Brasil vivia sob Itamar Franco, após o impedimento do presidente Fernando Collor de Mello.

- Os EUA haviam feito a “Tempestade no Deserto” no Iraque e haviam acabado com o Museu de Bagdá, ou seja, com os artefatos mais antigos da humanidade.

- O jovem Chris McCandless havia morrido em sua aventura “Na Natureza Selvagem” (no Alaska).

- Eu havia passado no concurso do BB e tomado posse em setembro de 1992. Antes, havia pensado em ir trabalhar no Japão como dekassegui (comigo não deu certo, mas meu primo acabou indo), tentei ir trabalhar no Iraque pela Mendes Junior (mas não tinha carteira de motorista de caminhão), fiz um monte de serviços fodidos por toda a adolescência.


VOLTANDO AO FILME

Uma coisa que me sensibiliza em um filme que aborda causas como aquelas dos grupos que lutam por independência, liberdade, contra opressão etc é a explicação daqueles que entram para o movimento e que explicam o terrorismo. Irlandeses e o IRA, os palestinos, a resistência vietnamita, o ETA basco etc.

Eu não defendo o terrorismo, mas em muitos casos eu compreendo porque ele existe como instrumento de minorias vitimadas por status quo estabelecidos.

Os judeus podem matar milhares de palestinos oficialmente em Israel, mas quando um palestino que sobreviveu e perdeu toda a sua família joga uma bomba em área de israelenses é só ele que é bárbaro, né!

O mesmo se deu com o Exército Republicano Irlandês em sua luta contra o regime da monarquia britânica. A fala de Frankie McGuire (Brad Pitt) explica isso ao longo do filme.

Volto a esclarecer: compreender não é concordar, mas compreendo algumas situações de terrorismo ou de morrer lutando e levar o máximo de inimigos possível.

GOSTEI DO FILME!

domingo, 12 de agosto de 2012

Romaria 2012: se ateu, por que caminho?


A família. 

ROMARIA 2012: SE ATEU, POR QUE CAMINHO?

É um tempo tirado para introspecção e oportunidade para testar o quanto ainda carrego de minha gana e persistência


Cheguei da minha caminhada anual bastante estragado neste ano. Meus pés vão dar trabalho por alguns dias. Percorri 85 km em 24 horas. Não fui feliz com a escolha do tênis e me lasquei. Andei uns 30 km pisando bolhas enormes.

Refleti bastante durante a primeira metade da caminhada. A segunda metade é basicamente uma luta consigo mesmo para superar cansaço e dor e chegar onde se tem que chegar.

A pergunta mais comum de conhecidos (e foi minha dúvida por muitos anos também) é por qual motivo faço a romaria se sou ateu e não pratico religião alguma.

Neste ano, a resposta que costumo dar encaixou-se como uma luva em minha caminhada: é um tempo tirado para introspecção e oportunidade para testar o quanto ainda carrego de minha gana e persistência.


PRIMEIRA PARTE DA CAMINHADA

Saí da casa de meus pais meio-dia e meia de sexta-feira 10/08. Como vinha saindo do trevo da cidade de Uberlândia em outros anos, isso alongou o percurso para uns 85 km.

Nesta época do ano o clima de deserto arrebenta a gente. Peguei um sol fortíssimo durante a tarde e tive que trocar um par de meias antes de chegar ao trevo da cidade. À noite, fez um frio tremendo.


"SOL DE RACHAR BOBINA"

A primeira terça parte da caminhada é até o Rio Araguari - são 27 km. Como era grande a quantidade de romeiros na estrada, coloquei meu toca-fitas Aiwa em ação logo cedo. Minha vida mudou tanto como dirigente sindical que praticamente não ouço mais música.

Toca-fitas dos anos 80. Faz parte do meu kit de romeiro.

Aí está uma oportunidade. Ouvi muita música nestas 24 horas. Não é qualquer tipo de música. São as músicas de rock que eu gravei em rádio lá nos anos 90 e que ainda são aquelas que gosto.

Por que não enfiar milhares de músicas num ipod ou celular? Porque isso também faz com que todos sejam autômatos. Vocês não têm ideia do quanto é importante nas minhas caminhadas o movimento de parar e virar as fitas a cada 30 minutos. Ali eu saio do marasmo do cansaço, do sono, volto ao estado de alerta.

Cheguei à ponte do Rio Araguari às 18h e o entardecer foi fantástico. Não fiz fotos. Neste ano cheguei mais revoltado que o normal e não quis levar máquina fotográfica.


CÉU ESTRELADO E DE LUA MINGUANTE

O segundo terço da caminhada é até a Antena - são mais 32 km. Fiz o percurso das 18h até 3 horas da manhã.

Naquela caminhada no breu sob o céu que nos protege (ou ameaça) com zilhões de estrelas e um som maravilhoso rolando, só refletindo muito mesmo!

Não é fácil aos romeiros decidirem o que é pior. A subida após o rio, pois é dureza subir subir e a subida parecer interminável ou ficar vendo a luzinha vermelha da Antena na madrugada, andar andar e andar e a porcaria da Antena não chegar (onde está a principal barraca de ajuda aos romeiros).


REFLEXÕES E CISMAS SOBRE A VIDA ATUAL

Cismei muito sobre a péssima qualidade de vida que tenho levado. Apesar de dizer para as pessoas não serem e agirem como "manada" e como "autômatos", que vida é essa que estou levando que não posso mais ler, praticar esporte, ouvir música, gozar momentos de ócio para que sua mente possa produzir ideias e conhecimento?

Também pensei muito sobre este semestre terrível que minha família viveu. A morte da minha avozinha querida, o enfarte de meu pai e o agravamento de seus problemas de saúde, a minha mãe acamada por meses por estar com a coluna fraturada, minha relação com meu filho e outras coisas mais... A vida é dura!


PARTE FINAL - TESTAR LIMITES E BUSCAR SUPERAÇÕES

Na barraca de ajuda aos romeiros da Antena, onde cheguei muito cansado, deitei sobre a palha e fiquei ali por mais de uma hora. Foi difícil achar um espaço entre as dezenas de romeiros espalhados pela palha.

Cara, que frio! Como meus pés já estavam doendo e minhas costas estavam pedradas, isso deve ter ajudado na sensação de mal estar geral que eu sentia.

Tomei uma sopa e comi um pãozinho antes de começar a terceira e última parte da caminhada.

Para vocês terem uma ideia de como a gente vai sentindo a quilometragem durante a caminhada, quando estou no início da romaria (até lá pelo quilômetro 50), faço o quilômetro em 10 minutos, ou seja, uma fita de música dos dois lados = 6 km.

Quando o corpo já está quebrado e ainda faltam dezenas de quilômetros, os passos começam a ficar menores (ou então, já estamos pisando bolhas). Da meia-noite em diante, eu já estava andando na casa dos 15 minutos o quilômetro.

Eram 6 viradas de fitas (3 horas) para os mesmos 12 km percorridos durante o dia.

Este é o atalho. Daí à cidade são mais 8 km. 
Foto que fiz em 2011.

A DUREZA DOS ÚLTIMOS 14 KM

Do posto Santa Fé (desativado, mas as pessoas usam como parada) até a cidade de Água Suja, passando pelo atalho dos eucaliptos, são mais 14 km.

Neste ano, as dores nos pés me fizeram gastar nesta etapa mais de 20 minutos o quilômetro andado. Minha concentração era toda na forma de pisar e sentir menos dor e evitar estourar as bolhas que tinha nos calcanhares.

Cheguei à cidade de Água Suja ao meio-dia de sábado 11. Acabei tomando todo o sol escaldante da manhã também.

Resumindo, foram us 30 graus de sol na tarde de sexta, uns 10 graus na madrugada da estrada e mais uns 30 graus de sol na manhã de sábado. Afora isso, os últimos 14 km são brindados com aquele terrão vermelho que te cimenta por dentro. Aquela sequidão brava de agosto. Até agora estou mal do nariz.



AINDA AS REFLEXÕES DA CAMINHADA

Eu sou um soldado quando se fala em relação à militância sindical. Já dediquei 10 anos de minha vida à causa da CUT, dos bancários e da Articulação Sindical.

Eu passei a minha vida enfrentando dificuldades. Está no contexto da nossa existência familiar superar problemas.

Nesta década de movimento sindical me esforcei e transpirei muito para ser daqueles imprescindíveis ou, ao menos, necessário (como diz o famoso poema).

A cada ano, me pergunto se vale a pena dedicar minha vida à causa. Se o que conseguimos de bom para o movimento dos trabalhadores vale a pena e se é maior que as tristezas que passamos e geramos na luta por aquilo que acreditamos.

Sei que não podemos avaliar o resultado da luta coletiva por reflexos nas pessoalidades. O país avançou nesta década, mas minha família passa horrores com falta de respeito e de atendimento médico público. Mas os números mostram que a vida melhorou.

Neste domingo dos pais em que publico esta postagem de minha caminhada, tenho minha mãe no corredor do SUS na esperança de ser atendida, pois estava acamada e passou mal hoje de manhã. Já são umas oito horas de espera e não sabemos se e quando vai ser atendida por um médico. Como tem sido hábito, viajo de madrugada para Brasília e deixo minha família nesta situação.

Aí quando me pego dentro do movimento, onde dedico minha vida, preciso desperdiçar parte importante do meu tempo e energia para me proteger dos ataques e puxadas de tapete dentro do próprio movimento (não estou falando de outras correntes de pensamento!). Com a metade do tempo que sobra, a gente organiza a luta contra banqueiros e o capital.

É isso! A reflexão não termina aqui. Até quando valerá a pena dedicar minha vida ao movimento? Até quando o resultado obtido para os trabalhadores será positivo?

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Montevidéu, Uruguai - Ponto de vista (II)


Aqui estão mais algumas fotos com o meu ponto de vista dos instantes que passei em Montevidéu, a trabalho, entre os dias 23 e 26 de julho de 2012.

Para começar, uma bela obra em homenagem à associação dos bancários do Uruguai. A entidade já fez setenta anos de luta e os trabalhadores uruguaios estão de parabéns pela história de luta.

A.E.B.U. - PIT/CNT.

A foto do Teatro Solís mostra momentos cotidianos semelhantes aos que vemos em nosso Teatro Municipal de São Paulo: pessoas vivendo seu espaço público externo. Não posso deixar de comentar que estava fazendo uns 5º de frio no dia da foto e o pessoal é animado pra ficar congelando naquelas escadarias.

O Teatro Solís foi inaugurado em 1856, depois ampliado com 
as laterais e a última reforma é dos anos 90 do século XX.

A foto abaixo é do Portal da cidadela velha. Ele hoje é reforçado com uma obra anexa para conservá-lo. Busquei um olhar que permitisse ser visto o conjunto arquitetônico que envolve o Portal, a Praça da Independência, o Mausoléu de Artigas, o hotel Palacio Salvo e a Avenida 18 de Julho.

Portal da cidadela velha, Mausoléu de Artigas apontando 
para a Av. 18 de julho e o magnífico Palacio Salvo
O conjunto está na Praça da Independência.
Montevidéu, Uruguai. Foto: William Mendes.

Abaixo, temos uma das composições fotográficas que gosto de fazer. O relógio com o Hotel Palacio Salvo em uma fria tarde de julho em Montevidéu.

Composição: El Reloj y Palacio Salvo en una tarde gris.
Foto de William Mendes.

Vejam que foto legal da Catedral Metropolitana de Montevidéu. Nada melhor que mostrar o entorno (Praça da Constituição) em um dia cinzento e frio. A primeira igreja matriz foi construída ainda nos anos de 1720 e a construção atual já tem seus duzentos anos.

Catedral Metropolitana de Montevidéu. Obra com
séculos de 
existência. Foto de William Mendes.

O chafariz está na Praça da Constituição, da Catedral Metropolitana.

Chafariz gris en una tarde gris. Foto: William Mendes.

As duas fotos seguintes são do interior da Catedral Metropolitana de Montevidéu. A primeira é a nave principal e a segunda mostra a bela cúpula da construção.

Nave central da Catedral Metropolitana de
Montevidéu. Foto de William Mendes.

A visão da cúpula da catedral é belíssima!

Cúpula da Catedral Metropolitana de Montevidéu. 
Foto de William Mendes.

Estamos terminando os olhares de Montevidéu. Agora, temos uma composição de uma palmeira, um poste de iluminação (adoro fotografar luminárias com algo ao fundo) e o belo Palacio Salvo (inaugurado em 1928).

Composição: Palmeira, poste de iluminação e Palacio Salvo.
Montevidéu. Foto de William Mendes.

E para finalizar, aquelas fotos tipo "eu estive lá".

Palacio Salvo e William Mendes. Montevidéu - Uruguai. 
Julho 2012.

E aí, alguém viu alguma foto que fugisse das tonalidades de bege e cinza? Foram as cores da estação, da Montevidéu e da minha estação.

Fim.

William

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Guerra Civil Espanhola - Lições à posteridade


El Alcázar em Toledo - Espanha (2009). A fortaleza foi reconstruída
 após a Guerra Civil Espanhola. Foto de William Mendes.

GUERRA CIVIL ESPANHOLA

Devemos estudar a lição deixada por esta guerra.

Li um capítulo do livro de Paul Preston - La guerra civil española. Após a leitura assisti novamente ao DVD da Coleção História Viva – Grandes dias do século XX.

Retirei essa imagem do vídeo em que
El Alcázar é bombardeado nos anos 30.

O documentário "Guerra Civil Espanhola, prelúdio da tragédia" é muito bem feito e impactante. Primeiro, porque nos traz imagens da época e do conflito. Depois, porque estive em Madri e em Toledo em 2009 e pensar em ver Franco e os nazistas jogando 50 toneladas de bombas na capital espanhola é nojento e nos alerta para o que é uma guerra. E se lembrarmos da cidade de Guernica?

Na visita à cidade de Toledo, uma das construções que mais chamam a atenção é a fortaleza El Alcázar e no vídeo a vemos ser semidestruída pelos republicanos em uma batalha contra os nacionalistas.

El Alcázar antes do bombardeio durante
a Guerra Civil Espanhola.

UMA SOCIEDADE DIVIDIDA: ESPANHA ANTES DE 1930

O começo deste capítulo nos dá uma boa ideia do que foi o conflito. Parte da sociedade espanhola viveu a guerra civil como se fosse mais uma cruzada contra os infiéis árabes. Estou falando do grupamento igreja, militares, latifundiários, nobreza e parte dos empresários.

Os infiéis eram os republicanos, comunistas, socialistas e os trabalhadores e miseráveis em geral.

El Alcázar em Toledo - Espanha. Foto de William Mendes (2009).

A história sempre se repete (como farsa). A esquerda ganha a eleição, a direita não aceita, dá um golpe de estado e segue a luta para ver quem fica no poder. Foi assim na Espanha em 1936, na Guatemala nos anos 50, no Brasil nos anos 60, no Chile nos anos 70, atualmente em Honduras e no Paraguai e La nave va...


“Los orígenes de la Guerra Civil española se remontan siglos atrás en la historia del país. La idea de que los problemas políticos podían solucionarse de manera más natural por la violencia que por el debate estaba firmemente arraigada en un país en el que, durante mil años, la guerra civil había sido, si no exactamente la norma, ciertamente no una excepción. La guerra de 1936-39 era el cuarto conflicto de estas características desde 1830. La propaganda de ‘cruzada’ religiosa de los nacionalistas la vinculaba con la Reconquista cristiana de España contra los árabes. En ambos bandos, el heroísmo y la nobleza convivían con una crueldad primitiva que no habría desentonado en la épica medieval. Sin embargo, en última instancia, la Guerra Civil fue una guerra que se asentó con fuerza en nuestra época. Las intervenciones de Hitler, Mussolini y Stalin hicieron que se convirtiera en un momento crucial de la historia del siglo XX. Pero, dejando aparte su dimensión internacional y la miríada de conflictos que estallaron en 1936 – regionalistas contra centralistas, anticlericales contra católicos, trabajadores sin tierra contra latifundistas, obreros contra industriales – tienen en común el ser las luchas de una sociedad en vías de modernización.”

El Alcázar em Toledo Espanha. Esta é uma das fotos em
Estilo William Mendes (2009).

COMENTÁRIOS

O conflito que estourou em 1936 foi fruto de pelo menos um século de lutas entre aqueles que queriam reformas com distribuição de terras e riquezas e outros que não queriam nenhuma mudança nos estamentos daquela sociedade.

Fico vendo as mudanças ocorridas nas sociedades sul-americanas dos últimos anos com a eleição de governos mais progressistas e com projetos alternativos ao neoliberalismo. Eu os acho tão vulneráveis em sofrerem golpes apoiados por quem realmente detém o poder econômico e dos meios de comunicação, que até corro o risco de ser tido como um imprecador.

Acompanha a postagem algumas fotos que fiz da fortaleza El Alcázar, tiradas em 2009 por mim.


Bibliografia:

PRESTON, Paul. La Guerra Civil Española. Traducción de María Borrás. Edición Debolsillo. España.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Filme: O exército do crime (L'armeé du crime)

Cartaz do filme. Fonte: Wikipedia

REFEIÇÃO CULTURAL - EU ESTARIA COM A RESISTÊNCIA

Foi muito bom para mim chegar tarde do meu trabalho sindical e assistir há pouco a um filme que me fez refletir.

O filme L'armée du crime, do diretor Robert Guédiguian, lançado em 2009, é baseado em fatos reais e retrata a resistência francesa e dos comunistas e internacionalistas estrangeiros no ano de 1944, quando eles enfrentaram os nazistas e os colaboracionistas na França ocupada durante a 2ª Guerra Mundial.

O filme me fez pensar em muita coisa ao mesmo tempo. Mas muita coisa mesmo!


NA LUTA SOCIAL, NÃO EXISTE NEUTRALIDADE!

A primeira delas é poder ter a certeza de que EU TENHO LADO e sei para que luto, quem eu represento e quem é o inimigo da classe trabalhadora e das pessoas humildes e simples de coração. Sei também que em uma guerra se deve ser duro e fazer escolhas.


BOA PARTE DA BURGUESIA BRASILEIRA É COMO OS COLABORACIONISTAS FRANCESES

Pensando nos colaboracionistas franceses, fiquei lembrando o nojo que é parte da burguesia brasileira, cachorra vira-latas que é subserviente aos grandes capitalistas e imperialistas. Vendem tudo que for possível de nossa pátria por um punhado de dólares para eles e a família deles estarem melhor que os milhões de brasileiros vilipendiados em sua própria terra por uma elite tacanha e burra.


PIG - Partido da Imprensa Golpista

Hoje, essa elite reacionária e ignorante é representada pelo PSDB e partidos da mesma laia e a voz dessa gente é a imprensa golpista, capitaneada no Brasil pela Folha, Estadão, organizações Globo e Abril.

Cartaz nazista original, chamando
 a resistência de exército do crime.

PELO QUE VALE A PENA VIVER? PELO QUE VALE A PENA MORRER?

Estas perguntas me acompanham faz muitos anos. Praticamente por toda a minha vida tenho elas martelando minha cabeça.

Não quis fazer fortuna. Não quis obter poder pelo fato de ostentar poder. Nunca quis nada disso.

Na minha adolescência lutei para sobreviver. Ter casa, comida, condições de sustento. Hoje, no Brasil pós era Lula Da Silva, parte importante dos jovens têm essas necessidades básicas.

Ainda luto porque vale a pena lutar para libertar a cabeça desse povo que é manipulado e mantido alienado pela mesma porcaria de elite que detém o poder de comunicação de massa e de propriedade. Eles detém o capital e com isso compram todos os espaços de poder.

TEMOS QUE AVANÇAR MUITO PARA LIBERTAR AS PESSOAS DA ALIENAÇÃO E PARA EFETIVAR A DEMOCRACIA REPRESENTATIVA E PARTICIPATIVA. 

TAMBÉM TEMOS MUITO QUE AVANÇAR NA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA PRODUZIDA PELA CLASSE TRABALHADORA.


O filme é uma aula e uma memória do que é uma população de uma nação dividida entre aqueles que fazem de conta que não é com eles e aqueles que não aceitam as merdas do jeito que estão e vão à luta até com risco de suas próprias vidas.