domingo, 13 de janeiro de 2013

O Grande Mentecapto - Fernando Sabino (1979)



Capa de uma edição do 
livro de Fernando Sabino.

CLÁSSICOS DE LITERATURA BRASILEIRA


Introdução

Gastei trinta anos para ler este livro desde o momento em que ele me foi apresentado. É verdade!

Eu tinha entre doze e treze anos quando o Rener, irmão do Fernando, chorando de rir, tentava ler em voz alta para mim o episódio do cuspe no sapato. O moleque tentava ler e começava a rir sem parar. Nós estávamos no quintal da casa dele, que ficava na rua ao lado de onde eu morava, um barracão de placas de muro no terreno da minha avozinha Cornélia, falecida em 2012.

Eu nunca me esqueci daquela cena sobre O Grande Mentecapto.

Algumas pessoas dizem que não somos nós que escolhemos os livros, e sim o contrário, os livros que nos escolhem. Não sei dessas coisas, não.

Mas fato é fato. Eu estava saindo para descer para a Praia Grande - SP, onde estamos passando alguns dias, e já havia decidido quais livros levaria: Grande Sertão: Veredas (que estou relendo) e Os cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Ítalo Moriconi. Já com a porta aberta e colocando as mochilas no hall, voltei para a estante, olhei para ela e o livro de Fernando Sabino quase pulou na minha mão. Peguei ele e saí.

Li o livro com voracidade em “três sentadas” aqui na colônia de férias do Sinpro - SP, onde me encontro.

Acho que não chorava tanto de rir desde quando li, faz uns quatro anos, os livros Dom Quixote de La Mancha e outro de Fernando Sabino, O menino no espelho.


AVENTURAS E DESVENTURAS DOS MENTECAPTOS DO MUNDO

Talvez o gostoso desta obra seja o jeito mineiro de Fernando Sabino contar os causos que nos faz rir à larga.

Fui buscar no blog os comentários que eu havia feito quando li, também por acaso, o outro livro dele – O menino no espelho. Eu havia comprado o livro para meu filho, a pedido da escola dele. Acabei pegando a obra e lendo antes do garoto.

No meu comentário sobre a outra obra dele está a observação que o livro me havia feito chorar de rir. Isto é muito raro em se tratando da pessoa que sou. Ou seja, esse autor tem o dom de me fazer rir.

O livro conta a vida do personagem Geraldo Viramundo. O estilo é semelhante aos livros que narram vidas de personagens “especiais” enquanto representações da espécie humana como, por exemplo, Lazarillo de Tormes, Dom Quixote, Macunaíma, o sargento de milícias, dentre outros. Ah, eu não poderia deixar de incluir aqui o personagem Forrest Gump.


EPISÓDIOS DE UMA VIDA VIRAMUNDO

Eu não vou colocar aqui as passagens que me fizeram chorar de rir, porque elas têm um contexto com toda a história de Viramundo. Aos amantes da literatura, recomendo pegar o livro e ler em um fim de semana.

Além dos episódios hilariantes, nós também alternamos momentos em que ficamos muito sensibilizados com os martírios sofridos por Geraldo Viramundo.

Das cenas engraçadas, eu posso dizer que são inesquecíveis:

- a do cuspe no sapato;

- a interpretação de Viramundo na encenação da Inconfidência Mineira (essa eu passei mal);

- a do debate público entre Viramundo e o professor Praxedes Borba Gato na disputa pela prefeitura de Barbacena;

- a cena da merda no ventilador na festa de recepção ao senhor Governador.

Podemos dizer que em cada um dos oito capítulos, há uma alternância de aventuras e desventuras do grande mentecapto Viramundo.


NA LITERATURA ESTÁ O MELHOR DO MUNDO

Tenho escolhido os períodos de final de ano e férias para saciar o desejo de degustar grandes clássicos da literatura mundial.

Foi assim nos últimos anos que consegui ler A montanha mágica de Mann, Dom Quixote de La Mancha, Ulisses de Joyce, e clássicos às vezes não tão volumosos quanto esses, mas que sempre estiveram guardados na estante a minha espera.

Hoje, me realizei lendo O Grande Mentecapto. Foi muito prazeroso. Até ri...

Faltam tantos livros em minha estante à espera para serem lidos. Tantos! E o tempo é tão escasso.

Eu deveria ter escolhido uma vida onde pudesse me sustentar e pagar as contas da existência fazendo o que mais tenho desejo: lendo e estudando.

Minha vida proletária não caminhou assim. E a culpa não é de ninguém.

Lembrando a minha vida, posso afirmar que na literatura está uma das melhores coisas do mundo. Nela está o entendimento e a busca de compreensão do mundo.

Aos que puderem e tiverem oportunidade, leiam os clássicos da literatura mundial. Neles estão os segredos, as descrições, as elucubrações, os sonhos e pesadelos mais reais e irreais da longa caminhada do ser humano por este planeta tão antigo e tão novo em se tratando da existência de nossa espécie.

É isso! Mais um clássico desvendado! (fui feliz)

3 comentários:

Anônimo disse...

O que mais valeu nessa leitura para mim foi ver o quanto vc riu e se envolveu com a leitura nos dias que estávamos curtindo nossas férias na colônia de férias do Sinpro. Vc precisa ler mais obras que te descontraía mais, foi muito bom. Bjinhos/Noni.ng

Rener disse...

Grande William, parabéns pelo blog, um grande e fraterno abraço !
Cara, ainda estou na escola, fiz eletronica no SENAI-SP, depois fiz tecnologia em telecomunicações e agora depois de velho, estou fazendo física na ufu. As vezes a memoria falha, mas nunca esqueço os amigos de infancia, as peripecias, as festas, enfim ... O Fernando mora em Peruibe, eu por enquanto, voltei para Uberlandia, mas assim que terminar o curso, volto pra SP novamente, gosto muito daí.

Rener

André Gomes Quirino disse...

Em “O Grande Mentecapto”, Fernando Sabino narra um encontro imaginário entre Geraldo Viramundo e o escritor francês Georges Bernanos. O autor que tanto interessou Sabino foi um dos maiores romancistas em língua francesa do século XX e morou no Brasil entre 1938 e 1945. Sua obra tem sido publicada no Brasil pela É Realizações Editora, e agora sua passagem pelo país é narrada ao público local. O estudo de Sébastien Lapaque “Sob o Sol do Exílio: Georges Bernanos no Brasil (1938-1945)” acaba de ser publicado, trazendo à luz a visita de Bernanos a várias cidade do Rio de Janeiro e Minas Gerais, sua estadia no sítio Cruz das Almas, sua revolta contra a mediocridade dos intelectuais e a ascensão do totalitarismo, sua amizade com pensadores brasileiros e a visita que Stefan Zweig lhe fez à véspera de se suicidar.

Matérias na Folha de S. Paulo a propósito do lançamento do livro: http://goo.gl/O8iFve e http://goo.gl/ymS4lL
Para ler algumas páginas de “Sob o Sol do Exílio”: http://goo.gl/6hAEOM

Confira também:
Diálogos das Carmelitas: http://goo.gl/Yy3ir3
Joana, Relapsa e Santa: http://goo.gl/CAzTTk
Um Sonho Ruim: http://goo.gl/Kd091z
Diário de um Pároco de Aldeia: http://goo.gl/ISErLc
Sob o Sol de Satã: http://goo.gl/qo18Uu
Nova História de Mouchette: http://goo.gl/BjXsgm


ANDRÉ GOMES QUIRINO
mkt1@erealizacoes.com.br