quarta-feira, 22 de julho de 2015

"Vida devia de ser como na sala do teatro..." (Riobaldo Tatarana)





"- 'Você tem saudade de seu tempo de menino, Riobaldo?" - ele me perguntou, quando eu estava explicando o que era o meu sentir. Nem não. Tinha saudade nenhuma. O que eu queria era ser menino, mas agora, naquela hora, se eu pudesse possível. Por certo que eu já estava crespo da confusão de todos. Em desde aquele tempo, eu já achava que a vida da gente vai em êrros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como na sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho. Era o que eu acho, é o que eu achava". (pág. 260/261)

(Riobaldo Tatarana, in: Grande Sertão: Veredas. Guimarães Rosa. Editora Nova Fronteira, 19ª edição)


Refeição Cultural

Reflexão profunda do personagem Riobaldo Tatarana, jagunço aposentado, em confissão ao visitante que lhe ouve.

"Vida devia de ser como na sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho".

Fico pensando minha vida, hoje. Eu inteiro, com forte gosto, fazendo meu papel, cumprindo meu desempenho na Cassi.

Comecei a trabalhar nesta semana no domingo às 19 horas: leitura da pauta semanal para a reunião da Diretoria Executiva da Caixa de Assistência em que sou gestor eleito pelo corpo social. De domingo à noite até a terça-feira 22 horas, investi umas 30 horas na gestão da entidade. Meu papel no teatro mundo, papel que exerço no inteiro, com forte gosto e senso de responsabilidade.

Quando miro e vejo meu viver, pensando em meu eu menino, naquele tempo, que foi depois dos dez anos, de quando não fui mais feliz, "Nem não. Tinha saudade nenhuma. O que eu queria era ser menino, mas agora, naquela hora, se eu pudesse possível".

Viver é muito perigoso...

Meus dias têm me testado de forma impressionante. Como suportar alguma gente em papeis no teatro em que estamos, gente fanfarrona!? Gente que acho que nem num se estressa, porque tá fazendo papel de faz-de-conta de ser gente de desempenho... bizarrice, como diz na literatura em questão.

Enfim, encontrar a serenidade no papel da gente, nesse teatro, é necessário. E, nesta semana, ainda vou até sábado, numa jornada que terá voos longos, três madrugadas seguidas acordado. Vou lá na ponta de nosso país mundo. Vou no Norte: Roraima e Amazonas.

Tentar fazer meu papel com desempenho.

Seguimos. Se a vida é um teatro ou não, nós temos papel a desempenhar. O meu, não quero falhar.

William Mendes

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