quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Minha dor ao ver o avanço da iniquidade


Desenho (William Mendes).

Iniquidade é um substantivo feminino da língua portuguesa e define algo ou alguém que tem um comportamento contrário à moral, à religião, à justiça, à igualdade etc. A iniquidade é praticada por iníquos, ou seja, aqueles que se opõem à equidade.

A iniquidade está associada ao ato de ser mau, injusto e perverso. Uma pessoa iníqua transgride às leis e normais morais e éticas sem qualquer tipo de ressentimento ou escrúpulos. A iniquidade está, normalmente, relacionada com o cinismo e a falta de caráter.

A criminalidade, pecado ou injustiça são algumas das ações de quem pratica a iniquidade.



Iniquidade social

A iniquidade social acontece quando as normas e leis destinadas à sociedade, de um modo geral, não estão sendo cumpridas igualitariamente, seguindo os princípios dos Direitos Humanos, da moral e da ética.

No Brasil, por exemplo, existem vários casos de iniquidades sociais, praticados por instituições públicas e privadas, seja na área da educação escolar, sistema de saúde ou segurança pública. 


(e eu acrescento nos exemplos: meios de comunicação e instituições da justiça)

(Fonte: significados.com.br)


Minha tristeza ao ver o avanço da iniquidade

Cheguei há pouco do meu trabalho. Sou representante eleito pelos trabalhadores para atuar em uma entidade de saúde. Pelo papel social que exerço, ou seja, um papel político, sinto uma dor profunda ao ver o avanço da iniquidade na sociedade brasileira.

Quando vejo a perseguição focada a certos setores, segmentos e grupos sociais; o tratamento desigual, perverso, cínico e mau caráter por parte de setores que detêm o poder secular (status quo) excessivo e de forma desigual em relação aos atacados, vejo que o povo brasileiro e a sociedade estão regredindo rapidamente, influenciados por mais de uma década de ataques ininterruptos a Lula, ao Partido dos Trabalhadores e às mudanças sociais que vieram com a ascensão do PT ao Governo Federal, ataques da mídia privada, golpista e canalha - Organizações Globo et caterva.

O que os meios de comunicação privados estão fazendo com as lideranças populares do PT, aliados e simpatizantes da esquerda de uma forma geral (e seus familiares) é desumano, imoral, é nojento, é injusto.

O Brasil é um país continental, com 200 milhões de pessoas, e toda a comunicação e os meios de comunicação, em um mundo que hoje é baseado na comunicação e redes sociais, todos nós 200 milhões, estamos à mercê da manipulação e nas mãos de alguns (ALGUNS) empresários que concentram toda a formação da PAUTA que se ENFIA OUVIDOS, OLHOS E GOELA ADENTRO de cada um de nós AD NAUSEAM (repetidamente, insistentemente) em qualquer lugar onde respiramos. Não é possível resistir! Nossos amigos, familiares e conhecidos não têm como não serem envenenados! Impossível!

Não existe mais nada no mundo a não ser o foco dos empresários donos desses jornais, TVs e rádios (tudo de algumas famílias) que não seja atacar o governo de Dilma, o Lula (maior líder popular do planeta), o partido (PT) que mudou a vida do povo brasileiro e ascendeu dezenas de milhões de pessoas à condições melhores de vida. Atacar AD NAUSEAM...

O 3º Reich da Alemanha nazista de Hitler fez isso com judeus e adversários. Outros totalitarismos fizeram isso com adversários. Totalitarismos com alcunhas de direita e esquerda. E as sociedades onde isso aconteceu foram sociedades iníquas. A estratégia do ataque é tirar dos atacados a condição de humanos. Não são humanos, pares, iguais: são coisas, são petistas, são bolivarianos, são comunistas, são judeus... são negros, são homossexuais, são pobres e vagabundos...

As pessoas comuns estão sendo, já foram, envenenadas pelos meios de comunicação dos empresários, que se tornaram o partido político (PIG) mais perverso, canalha e destruidor do Brasil deste início de século XXI.

Vou parar de escrever. Não sou e não tenho os meios de comunicação. Falo para dois ou três. As famílias de empresários da Globo, Folha, Estadão, Grupo Abril, Record, Bandeirantes... e mais algumas famílias (ALGUMAS) vão enfiar na sua cabeça via TV, sites que alimentam as redes sociais, "provedores de informação/manipulação", rádios, tudo, o que e quem você deve considerar bom, honesto, corrupto, do bem, do mal... quem deve governar (não se fale mal de) quem não deve governar (fala AD NAUSEAM mal de).

Pra quem nunca entendeu porque no filme "Matrix" qualquer um, em qualquer lugar, a qualquer minuto, se transformava nos agentes da Matrix (lembra do Smith?) é porque neste sistema você é uma bateria, você vai defender os interesses da Matrix, dos empresários que manipulam a todos nós.

E aí, acabou? Acabamos? Dá pra lutar contra a Matrix? Você, meu par, meu amigo, conhecido, familiar, vai ser o Smith a qualquer segundo?


William Mendes

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Parabéns, Presidente Lula! Você é uma referência para mim



Lula em encontro de educação no Piauí, em out/2015.
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

"Eu acho que cada um de nós representa alguma coisa. Eu tenho consciência do que eu represento. eu tenho consciência de para quem que eu devo fazer o governo. Eu tenho consciência de qual é o setor que eu quero privilegiar." (Lula, o filho do Brasil)


Companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, meus parabéns pelo seu aniversário, muita saúde e que você continue muito tempo conosco na luta pelo Brasil, pelo povo brasileiro e por um mundo melhor.

Você é uma referência para mim desde que virei representante eleito pelos trabalhadores. 

Nós vamos vencer todo o ódio, a discriminação e a intolerância crescentes no Brasil, alimentados pela direita brasileira, cheia de fascistas e de gente que não aceita o processo democrático que você liderou e ajudou a construir em nosso país, que sofreu golpe civil-militar em 1964 e no qual o povo brasileiro lutou arduamente para reconquistar a democracia e os direitos do povo dos anos oitenta até os dias atuais.  

Obrigado por tudo que já fez pelo povo e pelo nosso querido Brasil.

Vida longa, Presidente Lula!

William Mendes

domingo, 25 de outubro de 2015

Uma história da leitura - Excertos e reflexões



Este livro vale a pena.

Refeição Cultural

Domingo. Estou em Brasília (DF) para recuperar o fôlego da longa semana de trabalho, que só terminou quando cheguei ao final do sábado em casa, vindo de outros estados.

Além de querer silêncio, isolamento e nenhum contato com gente, folheei dois livros: Uma história da leitura (1996) de Alberto Manguel e Don Quijote de La Mancha (1605/1615) de Miguel de Cervantes.

A vida é lutar diariamente pela própria sobrevivência e por algo que valha a pena, porque a vida é dura. Soube do resultado final no sábado das negociações salariais entre bancários do Banco do Brasil e a direção do Banco e fiquei com grande tristeza por não ver nela proposta de aportes para a nossa Caixa de Assistência, que administro como diretor eleito. Que dizer? Vida que segue na segunda-feira. Para mim, não muda nada a minha gana em realizar os projetos que defendemos que focam o modelo assistencial e a promoção de saúde. 

Evidente que não vindo aportes por parte do Banco como resultado da luta e mobilização na campanha salarial, todas as partes envolvidas terão que achar solução para o déficit do Plano de Associados, no instante seguinte a uma provável aprovação das propostas negociadas entre bancários e seus sindicatos e o patrão Banco do Brasil.

Enfim, somente nos livros e nas caminhadas e corridas é que encontro algum respiro para o viver.

Seguem alguns excertos muito legais do capítulo "Primórdios", que está na parte três do livro e que conta um pouco da origem da escrita e do ato de ler. Eu digo mais, que conta a história da comunicação humana, a qual eu não tenho dúvida que tem papel fundamental em qualquer sociedade humana, na disputa de como ela se organiza e na forma como grupos se estabelecem na disputa de hegemonia nos espaços sociais e nas estruturas de poder constituídas.

Eu recomendo a compra do livro e o deleite em sua leitura.

PRIMÓRDIOS

"No verão de 1989, dois anos antes da guerra do Golfo, fui ao Iraque para ver as ruínas da Babilônia e da Torre de Babel. Era uma viagem que eu ansiara muito fazer. Reconstruída entre 1899 e 1917 pelo arqueólogo alemão Robert Koldewey, Babilônia fica a cerca de 65 quilômetros de Bagdá - um enorme labirinto de paredes cor de manteiga que foi outrora a cidade mais poderosa da Terra, perto de um monte de argila que os guias turísticos dizem ser tudo o que resta da torre que Deus amaldiçoou com o multiculturalismo..."

(...)

"Ali (ou pelo menos não muito longe dali), têm afirmado os arqueólogos, começou a pré-história do livro. Em meados do quarto milênio a.C., quando o clima do Oriente Médio tornou-se mais fresco e o ar mais seco, as comunidades agrícolas do Sul da Mesopotâmia abandonaram suas aldeias dispersas e reagruparam-se em torno de centros urbanos maiores que logo se tornaram cidades-estados..."

INVENÇÃO DA ESCRITA: PROVÁVEL MOTIVO COMERCIAL

"Com toda a probabilidade, a escrita foi inventada por motivos comerciais, para lembrar que um certo número de cabeças de gado pertencia a determinada família ou estava sendo transportado para determinado lugar. Um sinal escrito servia de dispositivo mnemônico: a figura de um boi significava um boi, para lembrar ao leitor que a transação era em bois, quantos bois estavam em jogo e, talvez, os nomes do comprador e do vendedor. A memória, nessa forma, é também um documento, o registro de tal transação."

TABULETAS ESCRITAS

"O inventor das primeiras tabuletas escritas deve ter percebido as vantagens que essas peças de argila ofereciam sobre manter a memória no cérebro: primeiro, a quantidade de informação armazenável nas tabuletas era infinita (...); segundo, para recuperar a informação as tabuletas não exigiam a presença de quem guardava a lembrança."

E aqui Manguel nos revela O NASCER DA ESCRITA

"De repente, algo intangível - um número, uma notícia, um pensamento, uma ordem - podia ser obtido sem a presença física do mensageiro, magicamente, podia ser imaginado, anotado e passado adiante através do espaço e do tempo."

CONSEQUÊNCIAS DA INVENÇÃO DA ESCRITA

"Desde os primeiros vestígios da civilização pré-histórica, a sociedade humana tinha tentado superar os obstáculos da geografia, o caráter final da morte, a erosão do esquecimento. Com um único ato - a incisão de uma figura sobre uma tabuleta de argila -, o primeiro escritor anônimo conseguiu de repente ter sucesso em todas essas façanhas aparentemente impossíveis."

NASCE O LEITOR

"Mas escrever não é o único invento que nasceu no instante daquela primeira incisão: uma outra criação aconteceu no mesmo momento. Uma vez que o objetivo do ato de escrever era que o texto fosse resgatado - isto é, lido -, a incisão criou simultaneamente o leitor..."

(...)

"O escritor era um fazedor de mensagens, criador de signos, mas esses signos e mensagens precisavam de um mago que os decifrasse, que reconhecesse seu significado, que lhes desse voz. Escrever exigia um leitor..."

(...)

"Somente quando o escritor abandona o texto é que este ganha existência."

(...)

"Toda escrita depende da generosidade do leitor."

Manguel termina essa parte da invenção da escrita e do nascer do leitor com uma frase muito legal:

"Desde os primórdios, a leitura é a apoteose da escrita."

COMENTÁRIO DO BLOG

Este livro, que conheci quando entrei na Faculdade de Letras na USP em 2001, virou um livro de cabeceira, para ser um dos que eu levaria para uma ilha ou para o isolamento - daquelas famosas perguntas "quais livros você levaria se tivesse que ir para uma ilha...".

É isso!

William Mendes
Um leitor

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Diário - 191015



Vamos para mais uma semana sob o Sol e calor de Brasília.
Quando olho o céu daqui, lembro do "Céu que nos protege".

Refeição Cultural

Adentramos nos primeiros minutos da segunda-feira, 19 de outubro. Passamos o final de semana morgando em casa. Um calor danado em Brasília.

LEITURAS

Li uma matéria da nova edição da revista Contra Relógio que confirmou o que eu estava planejando em relação às corridas. Depois de alcançar um objetivo ou participar de uma prova longa que te exigiu tempo, dedicação e planilha de treinamento, é necessário dar algumas semanas de descanso ao corpo. Domingo passado, participei pela primeira vez e completei uma meia maratona (21K). Durante a semana, apenas andei para não perder completamente o condicionamento físico e para dar um tempo ao corpo em relação às dores de treinos puxados. Minha próxima corrida será a São Silvestre (15K) no dia 31 de dezembro.

Li dois capítulos de um livro que sou apaixonado por ele: Uma história da leitura, de Alberto Manguel. Tive conhecimento da existência do livro nos meus primeiros meses de Faculdade de Letras na USP. Um dos professores de literatura nos pediu para lermos o capítulo "Ordenadores do Universo". Eu fiquei deslumbrado com a leitura e procurei o livro para comprar. A leitura deste livro é emocionante porque é um livro de todos nós leitores, é a nossa história ao longo da história humana após a invenção da escrita e, consequentemente, dos leitores.

FILMES E SÉRIES

Assisti a um filme cuja escolha foi aleatória. Passei os canais e escolhi aquele em que estava começando um filme. A Colônia.

Sinopse (Wikipedia): 


"The Colony é um filme de ficção científica de terror canadense, escrito e dirigido por Jeff Renfroe, lançado em 2013.

No futuro, uma nova Era do Gelo afeta a Terra, destruindo quase toda a população do planeta. Os raros sobreviventes encontram abrigos subterrâneos, onde a vida é precária. Mas logo um pequeno grupo de resistentes descobre uma ameaça ainda mais perigosa do que o clima hostil"



Um filme apocalíptico, estilo distópico. Violência e barbárie é o que a história de ficção prevê para nós no futuro. Um futuro com a terra vivendo outra era glacial com falta de Sol, comida etc. 

Na condição de confinamento e de escassez geral de tudo e com poucas oportunidades de sobrevivência, a ideia transmitida pelo filme é que nós rasgamos todos os pactos sociais que construímos para o convívio em sociedade.

O interessante e triste ao mesmo tempo é que, nos dias atuais parte de nós cidadãos do mundo, aqui e acolá, principalmente os grupos de direita e fascistas, testamos o tempo inteiro a quebra das regras do convívio em sociedade, coletivo e colaborativo, por outras formas mais "naturais", ou seja, no estado de natureza, onde impera a lei do mais forte, mais adaptado e com sorte de ir vivendo pelas casualidades. Se queremos mudar as regras de civilidade atuais, depois não adiantará chorar o leite derramado.

Filme violento, mas bem real quando se trata de abrir a Caixa de Pandora e se libertar todas as maldades no mundo. Caso queiram mesmo seguir com a "Banalização do mal", tese acertadamente desenvolvida por Hannah Arendt após o evento do nazismo, será difícil a recuperação no curto prazo dos limites atuais de civilidade, construídos após séculos de tentativas e erros na melhoria do convívio social e da solução pacífica e política para as controvérsias entre povos e grupos com pensamentos distintos.

ARQUIVO X - 2X13

Também vi um episódio de Arquivo X, do segundo ano, que, da mesma forma do filme A Colônia, aborda a questão da maldade e da violência humana. 

O episódio "Irresistível" aborda o caso de um usurpador de cadáveres e assassino, colecionador de cabelos, unhas e dedos de suas vítimas. Episódio muito forte.

MAIS UMA SEMANA DE TRABALHO PELA FRENTE

Pois é, a semana que inicia ao amanhecer desta segunda-feira 19/10 será de muito trabalho, como usam ser todas as semanas. É minha tarefa vivê-la com toda a energia possível. Só de segunda para terça, tenho uma pauta de reunião de diretoria gigante. Gigante! São 42 súmulas para ler, analisar e definir meus votos e manifestações. Se for ler tudo, incluindo anexos, não se faz isso em menos de um dia todo, coisa de muitas e muitas horas. A coisa boa é que no calendário da semana estão incluídas agendas de idas às bases sociais da Cassi em dois estados brasileiros.

Vamos à luta porque a vida é viver por algo que vale a pena.

William

domingo, 18 de outubro de 2015

Diário - 181015 (O Blog Refeitório Cultural)



Um Por do Sol visto da janela de casa em Brasília.

Refeição Cultural


"Toda escrita depende da generosidade do leitor" (Manguel)

Este Blog Refeitório Cultural tem um histórico e uma funcionalidade que foram variando ao longo do tempo. Já são quase oito anos no ar.

Eu o criei porque queria escrever sobre cultura, porque queria digitar e postar minhas aulas do curso de Letras, feito na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Pensei desde o início em escrever sínteses, comentários e exegeses dos livros que sempre sonhei em ler.

Ao longo do tempo, os temas foram mudando e as funcionalidades também. O Blog assumiu um papel não muito ideal de ser personalista, abrigar mais questões pessoais do que do mundo da cultura. Mas não tenho como interromper este processo. Minha vida hoje é praticamente dedicada ao trabalho e às tarefas inerentes a ele. Não me sobra tempo para ler e fazer meus comentários sobre o que li. Muito menos para refletir sobre grandes temas da dimensão humana e escrever com a técnica adequada.

No entanto, as coisas são interessantes. Meu pai tem 73 anos e, apesar de suas dificuldades e muitos problemas de saúde, ele, com seu jeito todo esforçado de sentar em frente ao computador e se manter ativo, aprendeu a entrar em meu Blog e ler o que eu escrevo. Nós temos pouco tempo para nos falarmos e moramos a centenas de quilômetros de distância. Mas com essa nova funcionalidade de meu Blog, não quero demorar muito a escrever aqui, porque pelo menos meu pai vai ler.

É maluco tudo isso. Um blog pode ter várias funcionalidades. Este era para compartilhar conhecimento, opiniões e coisas da cultura. Acabou que, além disso, ele tem as pessoalidades normais e expositoras do autor, que não foge ao estilo comum da sociedade moderna do selfie e da disputa de espaço por atenção na rede mundial.

Como o Blog acaba sendo um pouco um diário, um monólogo de mim para comigo mesmo, é muito interessante quando leio o que o autor (eu) escreveu para o leitor do amanhã e esse leitor no amanhã sou eu mesmo.

Eu reaprendo quando releio. Eu corrijo até erros de digitação e de gramática. Eu mudo o tipo da fonte da letra utilizada. Coloco uma imagem quando estava sem nenhuma. Faço comentários no tempo presente no próprio texto feito no passado. E, o mais importante, categorizo melhor a postagem - muito ao estilo dos "Ordenadores do Universo" do Manguel. Isso facilitará a procura no meu próprio Blog, que tem quase mil e trezentas postagens.

Eu li um pouco hoje do livro de Alberto Manguel, Uma história da leitura. Li dois capítulos: o capítulo "Ordenadores do Universo" e outro capítulo que aborda a pré-história do escrever, registrar a escrita, com os antigos escribas da região da Mesopotâmia e, consequentemente, da criação do ato de ler, porque passou a ter escritos para serem lidos.

Fiquei pensando muito nisso. E lembrei que eu mesmo tenho muitos escritos para serem lidos. Escritos ao longo de décadas de vida, para serem lidos por mim mesmo, que já não sou aquele que escreveu, sou outro. No próprio Blog, ler o que registrei há quase uma década é uma experiência de conhecimento pessoal diferente.

É isso. Não vou tuitar, nem por no face essa postagem. Talvez alguém leia, além de meu pai. Provavelmente eu leia daqui a cinco anos.

William

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A despeito da Ilha Desconhecida de cada um




Refeição Cultural - Diário 121015

Estou em Florianópolis, Santa Catarina. Uma ilha.

Hoje é feriado de 12 de outubro. Uma segunda-feira. 

Eu sou um amante da leitura. Fiz Faculdade de Letras e sonhei ser professor de literatura e dedicar minha vida a ler e a ensinar e a ter contato com as pessoas para ler, conversar, estudar, debater e compreender o mundo, e compreendendo-o, quem sabe mudá-lo para melhor.

As veredas por onde minha vida adentrou, levaram-me a outro destino. Aos quarenta e seis anos, quase não posso mais ler literatura. Não dá mais.

Aí, neste feriado aqui na ilha, após a aventura que vivi ontem (Meia Maratona), acabei comprando um pequeno livro de José Saramago, do tamanho máximo do que posso ler numa sentada, e embarquei na viagem. Li O Conto da Ilha Desconhecida, de 1997. Fiquei pensativo por horas após a leitura. Ainda estou.


Sinopse do livro

O conto narra o caso de um homem que pede ao rei um barco para sair em busca de uma ilha desconhecida. O pedido não é levado a sério por afirmarem que já não existem mais ilhas desconhecidas. O homem é insistente. Sua insistência constrange o rei, que acaba por ceder. O homem consegue o barco. A mulher da limpeza do palácio do rei, decide acompanhar o homem do barco por admirar sua tenacidade e a história se desenvolve a partir daí.



Ponte Hercílio Luz, em reforma. Uma atração turística da
cidade. Passei correndo por baixo dela na meia maratona.

Reflexões

Vivi nesta ilha uma aventura no dia anterior, um domingo, em busca de meus limites desconhecidos. Corri ontem minha primeira prova de meia maratona.

Apesar do planejamento que fiz para o condicionamento físico (ler aqui) e, posteriormente, da conclusão que tomei (ler aqui) de abortar os treinamentos na fase final pelas dificuldades que enfrentei ao longo do caminho, cá cheguei nesta ilha e, apesar dos prognósticos, embarquei na aventura e descobri novos limites.

Meu corpo está todo pedrado ainda, mas após embarcar rumo ao novo, sempre se sai diferente.

Interessante ter vindo parar em minhas mãos o livro de Saramago ao flanarmos por uma livraria. Minha esposa o pegou, me mostrou. Acabamos por levá-lo. Eu o li hoje. A busca por uma ilha desconhecida...

Comecei a ver coincidências. Eu vim a esta ilha de Florianópolis em janeiro deste mesmo ano correr uma prova de 10 km na areia (ler aqui) e foi a experiência mais diferente em corrida que havia experimentado até a meia maratona de ontem. Correr em areia é muito difícil.

As metáforas e simbolismos do pequeno conto de Saramago podem parecer simplórios, mas são instigantes.

Nos instigam e nos põem a pensar em utopias, na superação dos impossíveis já tão comuns e determinísticos que ouvimos em nosso meio social. Ai ai ai, se eu fosse viver de desânimos e pusilanimidades por me dizerem que as coisas são impossíveis... não teria ocorrido quase nada em minha vida.

Estou muito necessitado de um barco para encontrar a minha Ilha Desconhecida.

Aliás, mais um barco, porque as veredas de minha vida me colocaram em barcos com destinos quase impossíveis, ou difíceis de alcançar. E a gente ao menos está navegando com diligência. E com muito esforço e transpiração.

A metáfora do conto de Saramago valeu demais para mim.

Não é hora de parar de navegar. Ao contrário, estamos em um barco rumo a novas descobertas.

William Mendes

domingo, 11 de outubro de 2015

Sonho realizado! Corri e completei minha 1ª Meia Maratona (21K)



A maior superação esportiva de minha vida.
Realizei os 21k em 150'.

Refeição Cultural

Ainda estou em estado catártico. Sinto os efeitos da endorfina que irrigou meu corpo ao realizar um sonho esta manhã e completar minha 1ª Meia Maratona aqui em Florianópolis (SC). 

Estou também com adrenalina no corpo, porque cheguei aqui tenso, já sem expectativa de completar a prova e quase conformado pela decisão que havia tomado dia 29/09/15 (leia aqui), após tantas dores no meu Tendão de Aquiles do pé direito, dores adquiridas durante os treinamentos que montei em agosto para a prova.

Eu fiz o que escrevi naquele dia 29. Quase parei de correr e optei por caminhar para manter um pouco a condição física e ver se o tendão melhorava. Cheguei a fazer uns trotes leves, mas foi mais para acompanhar meu filho, quando ele me convidou para correr.

Foi assim que chegamos a Floripa neste fim de semana com tudo programado. Inscrição feita, hotel reservado. Fomos buscar o kit e fiquei até à meia-noite e meia de sábado para este domingo pensando o que faria: correr uns 10k? Correr enquanto der? Não ir para a prova?

Mas ao mesmo tempo, minha mente, minha essência, mandou que eu mentalizasse a corrida, o que planejei lá em janeiro para minha vida, que pensasse que essa era a corrida de minha vida. Foi assim que acordei às 5h da manhã neste domingo e saí para a rua...

Dia 5/01/15 (leia aqui) havia feito uma postagem dizendo de minhas metas esportivas para o ano de 2015. Para salvar minha vida e manter minha saúde, havia decidido que correria o ano todo, que correria uma vez por mês em Estados diferentes para conjugar corridas com meu desejo de fazer bases sociais da Cassi, que correria minha 1ª Meia Maratona (21k) e a São Silvestre (15k) em dezembro.

Foi dessa forma que decidi em agosto me inscrever para a 11ª Meia Maratona Internacional Caixa de Florianópolis. Fiz uma postagem montando uma planilha do possível em 16/08/15 (leia aqui) e fui cumprindo os treinamentos conforme as possibilidades, menos a parte do descanso.

Fui me esforçando e superando limites. Mas o trabalho foi intensificando o estresse, as longas jornadas diárias e as viagens. Além disso, a carga emocional que estamos vivendo, tanto internamente, quanto em nosso querido país, com uma grave crise política, acabou pesando muito para mim. Afinal de contas, eu sou um ser da política, represento a classe trabalhadora e meus sentimentos são afetados pelos riscos que os trabalhadores sofrem com os ataques que a direita fascista vem programando no Brasil.

Mesmo assim, ao longo do ano, cheguei a correr em provas e fiz treinos em Florianópolis, Recife, Uberlândia, Osasco, São Paulo e Brasília.

Busquei melhorar minha alimentação e meu peso diminuiu de 75 kg para 71 kg, mas não consegui dormir melhor e descansar por causa do trabalho: ocorreu foi o inverso, pouco descanso e muito estresse.


Foi muito duro o caminho para poder retirar
essa medalha de 'finisher' da prova.

A decisão de ir para a corrida de minha vida

Foi com este histórico acima, que decidi acordar às 5h e sair para a corrida, decidido a participar com empenho e concentrar em meu corpo para realizar um trote com ritmo, focar na resistência e na economia de energia e mentalizar cada fase que viesse.

A altimetria da prova ajudou muito, quase toda plana. A temperatura com garoa foi fantástica, 19º.

Venci bem os 5 km. Depois os 8km. Nos 10 km mentalizei que meu corpo já conhece o caminho dos 15 km por causa das corridas de São Silvestre. O tendão se comportou bem. Cheguei nos 15 km com 103'. Já fiquei feliz.

Só andei 3 minutos na prova, enquanto comia uma barrinha de cereal que levei. O primeiro arrepio forte e emocionante foi ao ver a placa dos 18 km. Dali adiante, sinto muito... Só quem corre consegue entender o que é o sentimento pessoal de realização, de saber que você pode quando deseja, tem gana e transpira para realizar seus objetivos.

19 km, não estava sentindo nada. 20 km, só endorfina no corpo. Alegria! Entrar nos últimos metros da linha de chegada, correndo meu trotinho depois de 21 km percorridos, foi só dar um grito de chegada!

- Consegui! Cheguei!

Estou muito emocionado! Cumpri minha meta pessoal contra todos os prognósticos das últimas semanas. Acho que o que nos conduz é um misto de coração, mente, corpo e todas as energias e pensamentos que nos fazem humanos!

Vamos descansar um pouco!

VALEU MUITO!


William Mendes
Apenas mais um na multidão correndo,
mas com seus sonhos únicos e pessoais,
como cada um na prova também.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

8 de outubro - Los Tres (Eduardo Galeano)


Para pensarmos, deixo esses acontecimentos do dia 8 de outubro, relembrados por Eduardo Galeano em "Los hijos de los días".




Los Tres

En 1967, mil setecientos soldados acorralaron al Che Guevara y a sus poquitos guerrilleros en Bolivia, en la Quebrada del Yuro. El Che, prisionero, fue asesinado al día siguiente.


En 1919, Emiliano Zapata había sido acribillado en México.


En 1934, mataron a Augusto César Sandino en Nicaragua.


Los tres tenían la misma edad, estaban por cumplir cuarenta años.


Los tres cayeron a balazos, a traición, en emboscada.


Los tres, latinoamericanos del siglo veinte, compartieron el mapa y el tiempo.


Y los tres fueron castigados por negarse a repetir la historia.



Eduardo Galeano (1940-2015)

domingo, 4 de outubro de 2015

Hannah Arendt - Reflexões necessárias e atuais





Refeição Cultural

O momento político por que passa nosso querido país, Brasil, após as eleições presidenciais de 2014, com o recrudescimento e ascensão dos ideais de direita e do fascismo, é muito propício para estudos e reflexões sobre a história humana como fato consumado e realidade a se observar do passado para que não se repita no presente.

As reflexões e conclusões a que chegou a filosofa Hannah Arendt após acompanhar o julgamento do nazista Adolf Eichmann sobre a banalização do mal durante a ascensão do nazismo e o advento do 3º Reich é muito acertada em minha opinião.

Seguem abaixo a sinopse do filme, uma parte em inglês que pode ser pulada e momentos marcantes do filme que anotei para postar aqui e deixar como reflexão.



SINOPSE (Wikipedia - com revelações sobre o filme)

Para Hannah Arendt (Barbara Sukowa) os Estados Unidos dos nos 50 é um sonho realizado, depois de chegar lá com seu marido Heinrich (Axel Milberg) como refugiados de um campo de concentração nazista na França. 

Nos EUA, surge a oportunidade dela cobrir o julgamento do nazista Adolf Eichmann para a The New Yorker. Ela escreve sua avaliação sobre o caso e outros fatos desconhecidos, e a revista separa tudo em 5 artigos. Porém, começa ali o drama de sua vida, pois nos artigos mostra que nem todos que participaram dos crimes de guerra eram verdadeiros monstros, segundo ela, judeus também estavam envolvidos e ajudaram na matança dos seus iguais. 

A sociedade se volta contra ela e a New Yorker, e as críticas são tão fortes que até mesmo seus amigos mais próximos se assustam.


INFORMAÇÕES ADICIONAIS (Wikipedia em inglês)

As the film opens Eichmann has been captured in South America. It is revealed that he escaped there via the "rat line" and with forged papers. Arendt, now a professor in New York, volunteers to write about the trial for The New Yorker and is given the assignment. Observing the trial, she is impressed by how ordinary and mediocre Eichmann appears. She had expected someone scary, a monster, and he does not seem to be that. In a cafe conversation in which the Faust story is raised it is mentioned that Eichmann is not in any way a Mephisto (the devil). Returning to New York, Arendt has massive piles of transcripts to go through. Her husband has a brain aneurysm, almost dying, and causing her further delay. She continues to struggle with how Eichmann rationalized his behavior through platitudes about bureaucratic loyalty, and that he was just doing his job. When her material is finally published, it immediately creates enormous controversy, resulting in angry phone calls and a falling out from her old friend Hans Jonas.

In a night out on the town with her friend, novelist Mary McCarthy, she insists that she is being misunderstood, and her critics who accuse her of "defending" Eichmann have not read her work. McCarthy broaches the subject of Arendt's love relationship many years ago with philosopher Martin Heidegger, who had collaborated with the Nazis. Arendt finds herself shunned by many colleagues and former friends. The film closes with a final speech she gives before a group of students, in which she says this trial was about a new type of crime which did not previously exist. A court had to define Eichmann as a man on trial for his deeds. It was not a system or an ideology that was on trial, only a man. But Eichmann was a man who renounced all qualities of personhood, thus showing that great evil is committed by "nobodies" without motives or intentions. This is what she calls "the banality of evil".

The film, which captures Arendt at one of the most pivotal moments of her life and career, also features portrayals of other prominent intellectuals, including philosopher Martin Heidegger, novelist Mary McCarthy, and New Yorker editor William Shawn.


Momentos marcantes do filme que nos levam a reflexões

O Mossad captura o nazista Adolf Eichmann e o leva a Jerusalém para ser julgado por seus crimes.

Hannah se candidata a ir para Jerusalém cobrir o julgamento para uma revista americana. Seu marido lhe avisa de antemão o que será o julgamento e que ela pode se decepcionar pelo que vai ver. O julgamento daquele homem será sobre o regime nazista e não sobre algum crime que ele pessoalmente tenha cometido contra alguém, os judeus, por exemplo. Mas ela decide ir assim mesmo, principalmente porque ficou retida em campos de recolhimento de judeus na França e não em campos de concentração. Ela nunca tinha visto um "monstro" nazista.

As primeiras cenas em preto e branco do julgamento de Eichmann no filme me causaram grande comoção. Fiquei pensando no que foi o nazismo e na semente do fascismo no Brasil, plantada pela imprensa golpista e pelos partidos de oposição ao governo do PT, e também no mundo, após a atual crise mundial do capitalismo (após crise do subprime em 2008), afetando os países centrais europeus.

Um personagem muito próximo a Hannah, em Jerusalém, relembra a Hannah que jovens judeus naquela época (anos 50) se envergonhavam de seus pais por eles não terem se defendido dos nazistas. Segundo esses jovens judeus da época, o sentimento de vergonha deles chegava ao ponto de uns afirmarem que só teriam sobrevivido ao holocausto "criminosos" e "prostitutas".


DEPOIMENTO DE EICHMANN SOBRE O QUE FAZIA NO SISTEMA NAZISTA

" - eu só recebia ordens... se as pessoas nos vagões iam ser mortas ou não, as ordens tinham que ser executadas".

Hannah observa atentamente a fala de Eichmann. Cada um no sistema nazista era responsável somente por etapas de processos racionais na burocracia do Estado Alemão.


O JULGAMENTO ERA DO FATO HISTÓRICO E NÃO DE AÇÕES DE UMA PESSOA

Ao falar com seu marido nos Estados Unidos por telefone, Hannah reclama do que tem observado no julgamento, no que as testemunhas de acusação e Eichmann declaram.

Seu marido relembra o que disse a ela antes de aceitar reportar o julgamento de Eichmann: o julgamento em Jerusalém seria sobre o Fato Histórico e não sobre as ações de um homem - o alemão Adolf Eichmann.


DEPOIMENTO DE EICHMANN SOBRE CONFLITOS DE CONSCIÊNCIA

Perguntado se não havia conflito de consciência, Eichmann disse que eles estavam em guerra, que havia uma hierarquia a obedecer, que era uma questão cívica, foi sim uma questão de comportamento humano.

Eichmann continua: diz que havia muita agitação, não adiantava resistir às ordens. Ele supõe que o que ocorreu tenha sido resultado da época em que todos viviam, era resultado da educação que as crianças recebiam, da ideologia que se inseminava, do serviço militar, esse tipo de coisa.


HANNAH TEM DISCUSSÃO ACALORADA COM SEUS PARES

Ela analisa que as afirmações de Eichmann têm sentido. Ele declarou no julgamento não ter nada contra judeus e que só cumpria ordens no serviço em colocar as pessoas nos trens, verificar quantidades por vagões e liberar os trens. Quando os trens partiam, sua tarefa estava terminada e realizada. Hannah diz que Eichmann era um burocrata do Estado Alemão.


PENSAR É UM ATO SOLITÁRIO

Num certo momento das reminiscências de Hannah sobre sua relação com o filósofo Heidegger, ele diz a ela quando jovem que pensar é um ato solitário.

Em aula, já nos Estados Unidos, Hannah diz que a tradição ocidental parte do pressuposto de que os piores atos que o homem pode cometer resultam do seu egocentrismo.

Hannah contesta a partir das conclusões que passou a ter após refletir sobre suas observações do julgamento de Adolf Eichmann e os crimes cometidos pelo nazismo.

Ela diz "agora sabemos que o pior mal, o mal radical, nada tem que ver com motivos humanamente compreensíveis e imorais como o egocentrismo. Ao contrário, está ligado ao fenômeno de tornar o homem supérfluo. O sistema reinante nos campos de concentração visava a convencer os prisioneiros de que eles eram supérfluos antes de serem mortos".

Hannah conclui que o alemão burocrata Eichmann era simplesmente incapaz de pensar. O povo alemão de certa forma fora levado a ser um povo autômato dentro do sistema e da ideologia nazista.


SOBRE O PAPEL DE CERTOS LÍDERES JUDEUS

Hannah observa em seus relatos que onde quer que os judeus morassem, havia sempre líderes judeus reconhecidos. E esses líderes, quase sem exceção, cooperavam de uma maneira ou outra, e por diversas razões, com os nazistas.

Ela afirma que se o povo judeu estivesse realmente desorganizado e sem qualquer liderança, teria havido caos e muita miséria, mas o número de vítimas não teria se situado entre 4,5 e 6 milhões.

O questionamento que ela faz é sobre as opções dúbias de certos chefes e líderes e não sobre culpar as vítimas. Hannah não foi compreendida assim pelos leitores de sua comunidade.


A BANALIDADE DO MAL

A principal conclusão a que chegou Hannah Arendt após muita reflexão sobre o julgamento de Adolf Eichmann e os feitos do povo alemão durante o regime nazista é que o maior mal cometido no mundo é o mal cometido por "ninguém": A BANALIDADE DO MAL NÃO PERSONIFICADO EM UMA PESSOA.

Aqui me lembrei das palavras do historiador Eric Hobsbawn na introdução da obra "Era dos Extremos", quando ele afirma que "tentar entender o regime nazista não é o mesmo que perdoar".

Ao se negar a pensar, agir como ser humano, Eichmann abdicou de ser uma pessoa, abdicou totalmente da característica que mais define o ser humano como tal: a de ser capaz de pensar.

Consequentemente, ele se tornou incapaz de fazer juízos morais. Essa incapacidade de pensar permitiu que muitos cidadãos comuns cometessem atos cruéis numa escala monumental jamais vista.

Hannah diz que, na verdade, tratou dessas questões de forma filosófica. A manifestação do ato de pensar não é o conhecimento, mas a habilidade de distinguir o bem do mal, o belo do feio, e que ela tinha esperança de que o pensar deveria dar força às pessoas para evitar a catástrofe nos momentos difíceis, na hora da verdade.

"O mal como aprendemos é algo demoníaco, uma encarnação de satã. Mesmo com toda a boa vontade do mundo, não se percebe em Eichmann nenhuma índole diabólica ou demoníaca. Ele era incapaz de pensar", afirma Arendt.

Diz ainda: "De uma vida medíocre, desprovida de qualquer sentido ou importância, os ventos sopraram Adolf Eichmann para a história".

E conclui: "Foi por absoluta falta de reflexão, o que não tem a ver com ignorância, que o predispôs a tornar-se um dos maiores criminosos do século XX. Ele era simplesmente incapaz de pensar".


FINALIZO POSTAGEM MUITO REFLEXIVO E APREENSIVO

Eu finalizo muito reflexivo e apreensivo após revisitar e estudar os motivos e os fatos que levaram aos acontecimentos na Europa e no mundo entre os anos 20 e 40 com a ascensão do nazifascismo. 

Fico mais apreensivo ainda quando vejo os ventos reacionários e de direita que sopram no mundo pós crise de 2008, nos países periféricos e em desenvolvimento e no Brasil, com a notória construção de Golpe de Estado em andamento (Coup d'État), com a abertura da Caixa de Pandora e o aumento das intolerâncias desde as eleições presidenciais de 2010 e, principalmente, após as eleições presidenciais de 2014, que reelegeram a presidenta Dilma Rousseff (PT).

Os países árabes que sofreram interferências em suas soberanias, com influência e apoio de americanos e países europeus, afundaram no caos. 

É evidente que os países centrais e suas corporações e multinacionais estão atuando também para a instabilidade de países sul-americanos com governos eleitos mais à esquerda e contrários a entregarem às ex-metrópoles e imperialistas, o resto do patrimônio e soberania que sobrou do caos neoliberal dos anos noventa nas Américas, com a doação das empresas nacionais via privatizações. 

O petróleo é um dos motivos dos ataques ao governo brasileiro e venezuelano. A distribuição de renda para os trabalhadores e maior soberania nacional são outras opções dos governos nacionalistas da América do Sul que incomodaram os países centrais na última década.

Gostaria que meus pares da classe trabalhadora refletissem sobre aquelas reflexões a que chegou Hannah Arendt sobre os atos cruéis praticados pelos cidadãos comuns alemães contra o povo judeu durante todos aqueles anos de 3º Reich, entre 1933 e 1945. 

Isso é muito sério! Quando se perceber, pode ser tarde demais.

William Mendes

No Brasil, o ódio vai vencendo, envenenando...


(Postagem atualizada às 00:50h de 5/10/15)

Cartaz nazista de 1939 sugerindo judeus
como ratos, passando a ideia de praga ou
peste na sociedade alemã.


Cartaz nazista de 1943 sugerindo que os
judeus eram corruptos e responsáveis pela
crise econômica da Alemanha (a Europa
vivia grave crise econômica na época).

Refeição Cultural


E ENTÃO, O ÓDIO VAI VENCENDO A CIVILIDADE E CAMINHAMOS PARA A BARBÁRIE...

Estou com 46 anos. Passei boa parte da minha vida lidando com meu ódio contra a injustiça social, a burguesia, banqueiros, essa gente (uns 5%) que governa o mundo há séculos e explora gente como eu, da classe trabalhadora (os 95% restantes).

Passei a dominar meu ódio após entrar para o movimento sindical e converti isso em energia para representar a classe trabalhadora em espaços institucionais, através do processo democrático das eleições. Acho que isso foi muito bom para mim e para o meio social em que convivo.

Acontece que o período de aceitação da democracia (da democracia burguesa, com regras da própria burguesia) está chegando ao fim, desde as eleições de 2010 e, principalmente, a partir da 4ª derrota da direitona brasileira em 2014 para os projetos do PT, quando parte da "elite herdeira do Brasil colonial" e os seus partidos de oposição ao PT e aos projetos sociais de distribuição de renda dos governos do PT deixaram de aceitar conviver em certa pax social e avisaram que não aceitariam mais as regras e que iriam impedir o andamento do mandato da presidenta Dilma do PT.

A imprensa das famílias que chafurdaram na lama da corrupção por décadas no Brasil e participaram ativamente dos golpes institucionais ao longo do século XX conseguiu quebrar no povo os limites da civilidade. Agora se uma pessoa morre de câncer, a torcida adversária fala, escreve, grita que tomara que dê câncer em mais não sei quantos do lado adversário. A Caixa de Pandora foi aberta... agora pode tudo!

Fico vendo o que essas famílias donas da grande imprensa fizeram no Brasil alimentando e criando um clima de ódio fascista absurdo contra o PT e seus líderes e contra os milhões de cidadãos como o casal da matéria abaixo, que defendem os projetos de país e para o povo que o PT sempre teve como foco: inclusão, distribuição de renda, oportunidades às minorias com programas sociais de fato, defesa da autoestima e soberania nacional, defesa das empresas nacionais, da coisa pública nacional, dos empregos no Brasil e para os brasileiros e não tudo para os países lá fora e nada para nós.

Essa oposição criminosa, fascista, parcial, dessas famílias que dominam os meios de comunicação de massa, faz hoje com que a justiça seja INJUSTA, LESIVA, que deixe de lado crimes graves cometidos por todos para focar de forma seletiva em achar ou inventar crimes que tenham qualquer possibilidade de vinculá-los ao partido e aos líderes do PT.

E o ódio na sociedade vai crescendo. As pessoas estão envenenadas. É exatamente o clima e a história construída na Alemanha nazista pelo 3º Reich contra os judeus e os povos "inferiores" da Europa. Quando Hannah Arendt (ler AQUI) compreende nos depoimentos do julgamento do alemão Adolf Eichmann que o que os nazistas fizeram aos judeus era algo normal porque era o clima e a cultura daquela época, fica claro do que estamos falando aqui. O que a direita brasileira e a oposição ao PT estão fazendo é exatamente o que o 3º Reich fez com o povo judeu.

E eu me pergunto: aos 46 anos, tenho que voltar a ter ódio e todos os seus apetrechos contra a burguesia, a direita, contra as pessoas simples mas manipuladas que me tratarem com o mesmo ódio só porque sou contra as teses da direita, contra a corrupção da direita (essa pode porque a mídia é deles), contra a intolerância desses fascistas alimentados pela oposição... enfim, que tristeza! Será que terei que recuperar meu ódio?

Não sei se tenho energia para voltar a sentir isso. Hoje defendo a civilidade, o diálogo, a política e as eleições ao invés da violência, da guerra contra o outro até o extermínio.

E agora, José?


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Fonte dos cartazes: http://www.frispit.com.br/site/o-lado-sombrio-da-propaganda/



(matéria da Folha, Mônica Bergamo, 4/10/15)


Vizinhos brigam por causa do PT e vão parar na delegacia em São Paulo

Walquíria Leão Rego tem 70 anos e mora há três décadas no mesmo edifício, numa rua pacata do bairro de Perdizes. A socióloga, que dá aulas de teoria da cidadania na Unicamp, vive no 4º andar e sempre se deu bem com seus vizinhos de baixo: o engenheiro agrônomo José Luiz Garcia, 67, a mulher dele, Marília, e a filha do casal, Ana Luisa. A jovem já deu aulas de inglês para Walquíria. A professora recebeu Marília para comer bolo e tomar chá.
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Walquíria já foi filiada ao PT. Hoje é "o que se pode chamar de eleitora fiel". O vizinho nunca gostou da legenda. Mas a diferença não era um problema. "Jamais nos desrespeitaram", diz ela.
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O clima de boa vizinhança começou a mudar há cerca de um ano, na época das eleições. Walquíria e o marido, Rubem Leão do Rego, colocaram um adesivo de Dilma no carro, um New Fiesta vermelho. Garcia, que guarda o automóvel na garagem justamente ao lado, colocou o seu: "Fora, Dilma. E leva o PT junto". "Esse adesivo já é um sinal de selvageria. Achei sintomático", diz ela.

Dilma foi reeleita e o ambiente no prédio de Perdizes azedou de vez. O engenheiro, inconformado com o resultado das eleições, que acredita terem sido fraudadas, começou a escrever dizeres contra o PT em cartazes do elevador. Um deles, da Sabesp, alertava sobre a falta de água: "A seca resiste". Garcia escreveu: "O PT também". No dia seguinte, o troco de um morador: "Desinformado".
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"Então escrevi: 'Lava Jato', diz o engenheiro. "Aí eles ficaram loucos", segue, referindo-se ao casal petista. Repreendido pela síndica, Garcia desistiu do elevador. "Criei um jornalzinho. Todos os dias eu escrevia notícias numa folha de papel: 'José Dirceu, herói do PT, preso pela segunda vez', 'Lula, lobista dos empreiteiros'. Eles [os vizinhos] tinham que ler. Foram ficando tiriricas. Mas não podiam dizer nada porque o papel estava colado dentro do meu carro."
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A tensão foi aumentando. Em 8 de março, dia do primeiro panelaço contra Dilma, o engenheiro "não se contentou em bater panelas", diz Walquíria. "Ele passou minutos gritando, num grau de agressividade, de ódio: 'Petistas filhos da puta, ladrões, corruptos'", conta Walquíria. "O que eu fiz foi gritar como todo mundo", diz Garcia.
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Em 16 de agosto, o engenheiro estava com febre e não foi à passeata contra o governo na avenida Paulista. Viu tudo pela TV e só saiu de casa para comprar remédio. Voltou da farmácia "com aquela adrenalina", diz. "E entrei no prédio gritando: 'Fora PT! Fora PT!'." O elevador abriu e dele saiu Rubem, que disse: "O senhor me respeite". Garcia diz que respondeu: "Respeito é para quem merece. O PT não merece".
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Walquíria diz que ele, na verdade, gritava: "Eu não respeito petista ladrão, corrupto, filho da puta". "Meu marido ficou lívido", afirma.
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Há duas semanas, a filha dela, Daniela, foi visitar os pais e se encontrou com Garcia na garagem do prédio. "Ela tem muito medo dele. E ficou olhando na tentativa de prever algum gesto. Ele vira e diz: 'O que está olhando, sua filha da puta?'. E mostra o dedo [médio] para ela. A Daniela pega o celular, anda na direção dele e diz: 'Faz de novo que eu quero te fotografar!'. Ele dá ré com o carro, ela tem que recuar."
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A briga foi parar na delegacia. Daniela prestou queixa dizendo que teve que "se deslocar para uma pilastra para evitar que José Luiz a atropelasse". No fim do depoimento, um investigador, Arnaldo, se aproximou. Armado, disse: "Vocês vão me desculpar. Mas o PT é mesmo o partido mais corrupto da República". Walquíria reagiu: "O senhor é um agente do Estado". E ele: "E qual é o problema de eu achar que a Dilma é uma filha da puta?".
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Garcia também foi ao 23º DP, no mesmo dia que Daniela, para dar a sua versão dos fatos. E diz que o casal agora vai ter que provar as acusações que fez. "Disseram até que eu quis matar a filha deles. Pegam um 'negocinho' e transformam num 'negocião'. É o modus operandi do PT." Ele mostra à coluna um vídeo com imagens da garagem e afirma que não colocou a vida de Daniela em risco.
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Relatado em blogs, o desentendimento despertou solidariedade de professores e até do Ministério do Desenvolvimento Social ao casal –Walquíria é autora de um livro sobre o impacto do Bolsa Família na vida das mulheres que recebem o benefício.
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"Ele não sabe nada de nossas vidas. Nunca se preocupou em saber por que votamos no PT, por que 54 milhões de pessoas votam no partido", diz Walquíria, que afirma se identificar com o projeto social da legenda, de redução das desigualdades. "Na cabeça dele, as pessoas são ignorantes ou ladras e por isso votam no PT."
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"Quando um vizinho defende um governo cleptocrata e fobiocrata, ou ele faz parte da cleptocracia ou ele é um idiota total", diz Garcia. "Não tem acordo. Eu vou passar por ele todos os dias e dizer: 'Bom dia, seu petista'?. Acabou o diálogo. Não temos outra opção, não temos como reagir. A maioria silenciosa não aguenta mais. Só que agora não é mais silenciosa."
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Ele acredita que a Operação Lava Jato deveria convencer qualquer eleitor a não votar mais no PT. "Eu digo, poxa, será que isso não é suficiente? São evidências, gente. Não são invencionices do [juiz Sergio] Moro. Se o cara não se convenceu até agora, fica difícil. Aí eu já questiono o discernimento dele."
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O engenheiro diz que leu na internet a repercussão da briga que protagoniza. "Dizem que é preciso dar um basta [no ódio político]. Eu concordo. Agora, para que seja dado um basta, eles precisam parar de roubar, né?"
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Ele se formou em agronomia pela UFRRJ (Universidade Federal Rural do RJ) e depois estudou nos EUA. Hoje, dá consultorias e cuida de terras que tem em Minas Gerais. Defende a agricultura orgânica. Diz que foi de esquerda na juventude.
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"Se depois da queda do Muro de Berlim o cara não se dá conta de que o esquerdismo é uma coisa furada, é burrice. Usar camiseta do Che Guevara, você vai me desculpar! Com todos os livros mostrando que ele era um assassino sanguinário?"
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Acredita, no entanto, que a esquerda está mais forte do que nunca. "Falam de recrudescimento da direita. Mas o que está havendo é um recrudescimento do socialismo, com a China rivalizando, a Rússia. E na América Latina tem esse pessoalzinho da Bolívia, da Venezuela."
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Para ele, o Brasil não teve uma ditadura entre 1964 e 1985, e sim um "governo militar". "Nós aqui tivemos uma ditadura tropical. Tinha até Congresso e partido político. A ditadura brasileira avacalhou." Não defende, no entanto, a volta dos militares. "Mesmo porque eles acabaram. Agora são um bando comandado por um devasso, o Jaques Wagner [ministro da Defesa, de saída do cargo]. Na internet tem até fotografia dele em baile de Carnaval com duas mulheres se beijando. Isso pra mim é devassidão."
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Ele viu a imagem de Wagner na internet. "Ela [a web] possibilitou que as pessoas se informassem. Hoje você tem 'zilhões' de informações para processar. Você vê as coisas acontecendo na televisão, na internet. É evidente que isso aí gera reação."
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"Essa raiva... Raiva, não, indignação.... Como é que você separa indignação de raiva? Aí vamos entrar numa questão de semântica", diz ele para explicar o que sente.
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A "raiva" surgiu com o mensalão. "Ali foi o começo." Antes disso, já era um crítico do programa Bolsa Família. "Você já viajou pelo Brasil? Você não arruma ninguém mais para trabalhar. Ninguém quer pegar no pesado. Essa não é a receita para um país que quer se desenvolver -criar essa legião de pessoas que têm aversão ao trabalho. O Brasil está ingovernável, numa situação pré-falimentar", diz ele, encerrando a entrevista e pedindo para não ser fotografado.
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Entusiasta do Bolsa Família, a professora Walquíria credita à imprensa o fenômeno do que chama de "ódio político". "Este foi o clima que a mídia criou no país."
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Ela diz que, por isso, agora vive com medo do vizinho. "Eu não sei o que uma pessoa com esse grau de ódio político é capaz de fazer", afirma.
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Há dez dias, a professora voltou ao 23º DP com o advogado Marco Aurélio de Carvalho e o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) para pedir investigação criminal. O policial que xingou Dilma Rousseff foi chamado por seus chefes e obrigado a se desculpar.
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Já o engenheiro Garcia permanece convicto de que suas atitudes foram corretas. "Se eles querem que eu peça desculpas, eles não vão conseguir. Eu não sou culpado. Eu jamais vou pedir desculpas, entendeu? Jamais."