sábado, 30 de abril de 2016

Diário - 300416 (Desabafo)





Acabou o mês de abril de 2016.

Este mês ficará marcado na história de meu país. Quer dizer, pode ser que fique na história ou não, porque "quem controla o presente, controla o passado", como diz George Orwell no totalitário "1984".

Fiquei em casa prostrado neste sábado pelo cansaço do trabalho da semana. Não consegui ler porque cochilava na segunda página. Não consegui fazer exercício físico nenhum também pelo cansaço. Não suportei ver nada na TV porque é quase tudo do Grande Irmão e já mudaram a pauta manipuladora de acordo com a fase do Golpe de Estado aplicado dia 17 de abril numa sessão escatológica do fim da "democracia representativa" no Congresso Nacional. Hoje, nosso país é sinônimo do ridículo perante o mundo. Um sindicato de bandidos está instalado na câmara de representação do povo e os corruptos iniciaram a cassação do mandato da presidenta Dilma Rousseff (PT) sem crime algum.

Minha decepção desde o fatídico dia 17 de abril é tão grande porque tive a expectativa de que o povo reagiria imediatamente e com intensidade daquele momento em diante. Vão me dizer que há movimentos reagindo. Sério mesmo? Talvez tenha lá nas ruas de Honduras e do Paraguai alguns movimentos "reagindo" até hoje... (e o bonde já passou).

Estou de saco cheio de todo mundo saber que é golpe, prêmio Nobel da Paz fulano de tal, liderança internacional ciclano de tal, instituições não sei o quê, o papa argentino bonzinho, os intelectuais, blá blá blá. Todo mundo sabe que é golpe, mas está em andamento...

Enquanto isso, a pauta das teletelas do Grande Irmão Globo/P.I.G. já está em outra onda. As fases dos golpes atuais, midiático-jurídico-parlamentares, têm procedimentos com etapas cartesianas. As operações safadas montadas pelos meios de comunicação com juízes e procuradores mancomunados com o golpe já atuaram parando a economia do país, desacreditando o governo e criando ódio contra ele, e quebrando setores inteiros da indústria brasileira. A discussão da pauta plantada na "normalidade" das teletelas é o governo Temer e Cunha: os ministros, o que privatiza, o que corta de direitos trabalhistas e sociais em nome da volta do crescimento.

E o desemprego que era cerca de 5% em 2014 e eles conseguiram foder o país e a economia e agora é de 10%? Para esses golpistas desgraçados, danem-se os trabalhadores que sofrem na pele com a destruição do país causada só para não deixar a presidenta eleita e o partido dela governarem.

Eu tô de saco cheio desta merda toda!

Todo mundo sabe que o Senado vai votar o afastamento da presidenta sem crime na próxima semana. Aí os derrotados, nós, ficamos inventando alternativas tipo, novas eleições (então o Golpe deu certo!); o Temer não vai ter sossego (então o Golpe deu certo!); vão tentar afastar o ladrão presidente do Congresso porque esse novo vice-presidente é sujinho demais (então o Golpe deu certo!); Dilma e Lula vão fazer um governo paralelo (então o Golpe deu certo!); vão implantar o parlamentarismo no Brasil (então o Golpe deu certo!).

Odeio me sentir um banana e representar pro mundo sermos um povo de bananas.

Eu não vou amanhã nas mobilizações do 1º de maio. Não vou! Não vou porque estou prostrado em minha casa (nem é minha casa, estou de passagem em Brasília dando minha vida em um mandato eletivo de 4 anos).

Completei neste abril 47 anos de idade. Vi e vivi a infância e adolescência no Brasil em estado de exceção, em ditadura civil militar onde os desgraçados da Fiesp, da família Marinho, Frias, Civita, Mesquita e todos os salafrários do mesmo golpe perpetrado por eles mais os militares e o governo americano, tudo junto e misturado em 1964, esses mesmos desgraçados daquele golpe que nos fodeu durante todos os anos 60, 70 e 80, pasmem, são os mesmos de hoje que armaram e efetivaram o Golpe deste abril de 2016.

Depois de viver aqueles anos 80 desgraçados como subproletário, subgente sem emprego de carteira assinada, fazendo o que os da elite desse pra gente fazer e pelo que eles quisessem pagar, depois dos 80 vieram os 90. Os fernandos (Collor e Cardoso). Esse FHC filho de uma mãe, que fez dezenas de colegas meus do BB se suicidarem entre os anos de 1995 a 1999. Caralho, o FHC e os tucanos de merda são os mesmos caras que vi foderem o meu país duas décadas atrás! Dá pra acreditar que eles estão de novo por trás da porra toda?

Completei 23 meses de mandato eletivo na empresa de saúde que administro. Minha vida talvez tenha mudado mais (ou sentido mais os efeitos) nesses 23 meses que nos 12 ou 13 anos que passei nas lutas sindicais.

Não vou ao 1º de maio porque estou cansado. Porque os finais de semana não estão sendo suficientes para eu me recuperar integralmente para a batalha de 3 jornadas diárias pela entidade que sou responsável e pela defesa dos direitos dos associados que represento. E olha que tem setores ou algumas pessoas deste mesmo mundo em que atuo que são hipócritas, gente mau caráter, pessoas que não têm o mínimo respeito por um trabalho sério e dedicado, tem alguns seres que dedicam parte de seu tempo a fazerem maledicências e ilações a nosso respeito, dizem que a gente só trabalha 4 dias por mês ou que trabalhamos pouco.

Eu não faço outra coisa da minha vida nestes últimos 23 meses completados neste abril que não seja pensar as melhores estratégias (no plano intelectual) e estar no máximo de lugares possíveis deste país continental levando para milhares de associados e suas representações as informações necessárias sobre o que é, como funciona, quais problemas tem e as possíveis soluções em relação a entidade de saúde de autogestão que administro junto com outros indicados pelo patrão e eleitos como eu mesmo.

Neste mês de abril completei 47 anos de idade e 35 anos de trabalho não comprovados para a Previdência Social porque subproletário trabalha parte da vida sem carteira assinada, e nesta longa jornada a partir da meninez, como mostra minha carteira de trabalho tirada em 1982 com aquela carinha de pirralho de 12 anos, muita coisa já vi nesta vida.

Nunca se imagina na vida que aos 47 anos iríamos vivenciar tudo o que o nosso país está atravessando com a volta ao poder daquele mesmo segmento social das elites brancas corruptas, com nojo de povo, não se prevê facilmente que eles voltariam a dar a linha décadas depois. Apesar de ser sempre a tendência mais lógica no mundo capitalista.

Eu só fico me perguntando, e me revolto por isso, como pode os Irmãos Marinho ainda estarem dando as cartas 50 anos depois do golpe de 64 e mandando no país de 200 milhões de animais mamíferos "com telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor (Ilha das Flores)? Como pode os mesmos Civita, Mesquita (há mais de um século), os empresários da Fiesp, os mesmos banqueiros estarem dando as cartas em 2016 e nenhuma reação popular ou progressista foi capaz de demovê-los? Como pode?

Aos meus 47 anos de idade, tendo 35 anos de trabalho como subproletário e proletário, eu aprendi a ser um sobrevivente, um lutador, ser o mais radical possível numa vida humana em cumprir os compromissos assumidos em sociedade e mantendo minha ética e meu caráter. Eu estive cumprindo, estou e vou cumprir até a última gota de sangue nas veias, meus compromissos com a entidade que me colocaram gestor, com os associados e com os funcionários da entidade.

E peço perdão aos meus entes queridos por todas as mazelas que reverberam neles como consequência do cumprimento de minhas tarefas sociais assumidas.

Na segunda, estarei pronto para as 3 jornadas diárias em defesa de meus compromissos como gestor eleito em entidade de saúde dos trabalhadores. Mas neste domingo 1º de maio, seguirei prostrado em casa.

William

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Diário - 280416


E essas flores? Após ver o programa
que abordou a vida e obra do escritor
Luis Sepúlveda, ficou em mim a questão
do exílio e lembrei dessas flores de
minha Osasco querida!

Estamos em Maceió, Alagoas. Final de noite.

Estou em um quarto de hotel após um dia de trabalho muito positivo em busca do fortalecimento de nossa Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, onde sou gestor eleito pelos bancários. Estivemos minha equipe da Cassi Alagoas e eu em reunião com as lideranças do Banco aqui no Estado e com as lideranças do Sindicato. Fizemos diversos acordos de parcerias para fortalecer o modelo assistencial e a própria Cassi. Fiquei feliz pela reunião.

Quem disse que eu pude descansar ao chegar ao hotel? Minha natureza me impulsionou a sentar no computador e trabalhar. Fiz liberações de documentos, algumas leituras obrigatórias e escrevi, escrevi e escrevi.

Para distrair um pouco, liguei a TV (calma, pessoal, não foi no P.I.G. e lixos golpistas do gênero). Coloquei em um canal de cultura e vi três programas.

Foi encantador ver um programa sobre Mário de Andrade e a maravilhosa obra Macunaíma, obra que sou apaixonado.

Depois vi e me emocionei com um programa falando do escritor Luis Sepúlveda. Minha nossa! Como pode minha ignorância? Eu não o conhecia e fiquei louco para comprar suas obras e ler tanto elas quanto ler a respeito da vida do homem que esteve com Allende até o último instante naquele 11 de setembro fatídico. Ele próprio no programa falou muito sobre o tema Exílio. Lembrei de uma matéria que fiz na USP sobre exílio e literatura.

Mas hoje não posso nada a respeito de leituras e literaturas... sou todo Cassi.

Enfim, vamos dormir. Mas ao menos escrevi muito hoje.

William Mendes

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Diário - 270416


Final de dia de fortes emoções e pressão alta na Cassi.

Medi minha pressão arterial ao chegar em casa agora à noite. O aparelho acusou 141 x 101 mm/Hg. É uma pressão bastante alta. E eu já estou tomando remédio diariamente faz mais de 45 dias. É uma tristeza saber que você virou um hipertenso.

Fui ler novamente a respeito de possíveis causas e as graves consequências da pressão alta. É foda! Eu não sou gordo, aliás, emagreci quase 4 kg nos últimos meses. Não exagero no sal. Estou comendo comidas mais apropriadas. E o principal: estou correndo feito um louco para combater o estresse e a hipertensão. Nada está adiantando.

Acredito que a causa da pressão alta seja meu trabalho; é o que faço, como faço e o significado de tudo que insisto em fazer. Ou seja, difícil será alcançar a cura ou a estabilidade para esse mal que me acometeu de certo tempo pra cá. Se parar para pensar nos meus rins, cérebro, visão, coração e artérias, vou deprimir.

Saí para correr imediatamente na noite candanga fria (17º) e corri 5k em 31'. Não adianta aumentar o percurso e o esforço porque já estou correndo umas dez vezes por mês, estou batendo no limite do meu sistema muscular atual. Mas se não corresse poderia ser bem pior.


Reflexões nesta corrida e durante a tarde de hoje na Cassi

Não consegui parar de pensar nos acontecimentos do dia nem durante a corrida noturna. Acontecimentos atuais, conjunturais, dos meus espaços sociais e do meu mundo.

O que me move é minha ética, meus compromissos, meus valores. Eu cago pra dinheiro. Eu cago pra poder. Cago pra bem material. Não ligo pra carro, roupa, aparência de moda. Fiz ao longo da vida algumas vítimas por isso, porque as pessoas de nossa vivência não são obrigadas a pensar como nós e nem sofrer as consequências de nossa forma de viver.

Mesmo sem me oferecer, me peguei sendo pessoa pública e já sou há um bom tempo representante de pessoas. Por meus princípios, acabei definindo um estilo de representação por entender ser o correto: ser transparente, estar sempre na base que represento e pensar os projetos coletivos em que estou inserido ao invés de pensar em mim mesmo.

A mesma ética que tive nos movimentos estudantis que participei e liderei, trouxe para o movimento sindical quando cheguei eleito em 2002 no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. Eu tinha acabado de participar e ser um dos organizadores da maior greve que a FFLCH/USP tinha vivido (2002): foram 104 dias de greve com a conquista de 99 professores novos para os onze cursos. Eu era da Faculdade de Letras.

Quando cheguei ao movimento sindical bancário, entrei num mundo gigante, importante, com tudo que há de bom e ruim nos seres humanos. Um movimento que enfrenta os patrões, no nosso caso, os banqueiros, os poderosos banqueiros. Um movimento que contrata direitos e interfere na vida real de milhares de trabalhadores.

Eu tenho uma característica que algumas pessoas próximas sempre me disseram. Eu sou oito ou oitenta. Quando entro em alguma coisa, uma tarefa, uma missão, entre de cabeça. Foi assim no movimento dos bancários. Com poucos meses de liberado do Banco do Brasil para a atividade sindical (05/08/2002), eu já passava o dia todo em função dos bancários e do Sindicato. Faço com paixão o que tenho que fazer.

Uma coisa que defini para mim logo que comecei como sindicalista, ao ver os grandes oradores das correntes políticas, foi que eu queria ser um bom orador. Mas defini outra coisa naquele momento de início de movimento sindical. Vi bons oradores que me encantaram e vi bons oradores que me enojaram.

Passei a estudar na Letras ao mesmo tempo que virei sindicalista e fui entender as várias técnicas do discurso, da oratória, da retórica, fui ler os sofistas etc. Eu via companheiros novos de movimento que "pagavam pau" para oradores de outras correntes além da qual participávamos. Mas esses oradores mentiam para os bancários. Omitiam informações totais e usavam fragmentos para inflamar a massa. Manipulavam meus colegas bancários.

Eu jurei pra mim desde 2002 que jamais seria como aqueles oradores manipuladores. Me esforcei para ser um orador que dialogasse com meus colegas, mas passei uma vida sindical não dizendo só aquilo que os colegas queriam ouvir, as facilidades e modismos ou tendências da época. Os lugares-comuns. Aliás, comprei muita briga interna no movimento bancário e na tendência em que militei porque não fui de falar amém e não pactuei com discursos fáceis ou centralistas.

Eu acho que vou falar e escrever muito neste espaço que criei de blogs nos próximos dois anos. Eu estou vivendo num mundo em crise, sem lideranças com capacidade de construir pontes ou que tenha grande representação. Estamos no momento da super fragmentação. Na incomunicabilidade. As crises trazem isso. Estamos num mundo sem interlocução entre os lados.

Hoje foi o primeiro dia de muitos que virão (provavelmente), em que o lado dos indicados do Banco do Brasil aprovou deliberações em disputa com eleitos por 5 x 3 no órgão máximo de decisão interna da entidade de saúde que participo como um dos gestores eleitos pelos associados. Os próximos dois anos prometem... mas eu vou definir uma forma de atuar em relação a isso. Vou definir a forma de falar aos 31.545 associados que votaram em mim para representá-los na gestão da entidade de saúde deles/nossa.

Eu consegui resistir fisicamente à 12 anos de representação no movimento sindical. Quase todo mundo do movimento sabe o quanto minha dedicação foi grande e de longas jornadas. Mas havia durante os meses os chamados picos e vales, ou seja, alguns dias mais amenos nas tarefas e outros mais estressantes. Na Cassi, desde o dia que cheguei em junho de 2014 não tive picos e vales no mandato, cheguei em meio a crises, estou em meio a crises. Eu juro pros poucos que me leram aqui. E continuo não tendo picos e vales. E sei que não terei picos e vales até o final de minha missão.

Eu sei disso. E tenho que aceitar isso.

Aceito. É minha missão.

Mas eu carrego hoje todos aqueles valores e princípios que citei aqui. Estamos vivendo a época da mentira, da manipulação, do fim da ética e caráter. Eu não vou vergar a favor desse modismo.

William

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Diário - 250416



Entardecer de domingo
em Brasília, 24/4/16.

Refeição Cultural

Vamos iniciar mais uma semana de trabalho intenso e estressante na empresa em que sou gestor de saúde eleito pelos trabalhadores associados.

Mas este instante é de olhar para o fim de semana que tive e que já ficou para trás.

Meu filho que estuda no interior de São Paulo veio nos visitar. Cumpri meu compromisso com ele e terminamos de assistir a trilogia d"O senhor dos anéis". Vimos o terceiro filme. Ao todo, foram quase dez horas os três filmes. Boa estória.

Terminei a releitura do clássico de mundos distópicos "1984" de George Orwell. Consegui ler fazendo postagens e analogias em meu blog. Caso algum de meus preciosos leitores se interesse, é só olhar na lateral direita do blog, nas categorias e clicar.

Neste feriado, consegui correr na quarta à noite (5k), na sexta à noite (6k) e neste domingo no Eixão (7k). Estou fazendo a minha parte em relação à saúde porque quero estar bem para os projetos de vida que ainda tenho, principalmente o relacionado ao meu sonho de estudos e leituras dos clássicos da literatura mundial. Mas minha pressão alta virou um empecilho preocupante ao projeto de vida.

Li dois contos de Machado de Assis no domingo à noite: O anel de Polícrates e O empréstimo, ambos de 1882. 

Vi um programa de leituras que abordou a obra imensa de Balzac, A Comédia Humana. Me emocionei de desejo de poder ler os grandes autores e suas obras como Thomas Mann, Balzac, Marcel Proust, Shakespeare, o que falta de Machado de Assis, os russos, dentre outros grandes nomes da história da literatura. É o que mais dói em mim, quando vejo o rumo que minha vida tomou.

No sábado foi aniversário de minha esposa e aproveitamos o dia em casa na presença do filho. Eu confesso que não foi legal o tempo que gastei no sábado fazendo um texto de análise sobre um processo eleitoral (Cassi) que havia se encerrado na sexta, mas o bicho político tinha que publicar sua opinião a respeito. Perdoe-me Noni.

Não posso deixar de dizer da tristeza que nos traz o cenário político em nosso querido país. Nesta semana começa a etapa seguinte ao Golpe de Estado em marcha no Brasil, o Senado vai avaliar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores. Ela não tem crime de responsabilidade algum, é uma lutadora pelo país e pela democracia brasileira desde a adolescência, sofreu tortura nas mãos dos ditadores no Estado de exceção que vivemos entre os anos 60 e 80. Agora, o mesmo consórcio de ladrões e antinacionalistas da época, repetem como farsa a história.

Me sinto no próprio mundo distópico e totalitário do "1984". Estamos nas mãos do Grande Irmão Globo e canalhas parceiros de suas teletelas.

E pensar que tem gente, muita gente, que é do meu espaço de existência humana e social, que apoia o Golpe de Estado e inclusive participa da virulenta campanha fascista para extirpar da sociedade (vaporizar como no "1984") quem é de esquerda, quem tem origem no sindicalismo cutista, quem é militante ou simpatizante do PT e outras insanidades persecutórias plantadas na atualidade, quem é nordestino, gay, negro e até campanhas contra as lutas femininas. Mulher do mundo da direita fascista deve ser "bela, recatada e do lar" como disse a revista mais escrota do país do mesmo P.I.G. a respeito da senhora esposa do vice-presidente golpista do Brasil.

Vamos em frente, com ética, serenidade e muita energia e saúde, porque não deveríamos quebrar fisicamente para cumprir nossa jornada de lutas em defesa dos trabalhadores e do povo brasileiro que pertence ao meu lado, o lado da classe trabalhadora. Mas tá difícil...

William

O empréstimo - Machado de Assis, 1882







Conto publicado originalmente na Gazeta de Notícias em julho de 1882, depois reunido em "Papéis avulsos", também de 1882.


O empréstimo

Vou divulgar uma anedota, mas uma anedota no genuíno sentido do vocábulo, que o vulgo ampliou às historietas de pura invenção. Esta é verdadeira; podia citar algumas pessoas que a sabem tão bem como eu. Nem ela andou recôndita, senão por falta de um espírito repousado, que lhe achasse a filosofia. Como deveis saber, há em todas as coisas um sentido filosófico. Carlyle descobriu o dos coletes, ou, mais propriamente, o do vestuário; e ninguém ignora que os números, muito antes da loteria do Ipiranga, formavam o sistema de Pitágoras. Pela minha parte creio ter decifrado este caso de empréstimo; ides ver se me engano.

E, para começar, emendemos Sêneca. Cada dia, ao parecer daquele moralista, é, em si mesmo, uma vida singular; por outros termos, uma vida dentro da vida. Não digo que não; mas por que não acrescentou ele que muitas vezes uma só hora é a representação de uma vida inteira? Vede este rapaz: entra no mundo com uma grande ambição, uma pasta de ministro, um Banco, uma coroa de visconde, um báculo pastoral. Aos cinquenta anos, vamos achá-lo simples apontador de alfândega, ou sacristão da roça. Tudo isso que se passou em trinta anos, pode algum Balzac metê-lo em trezentas páginas; por que não há de a vida, que foi a mestra de Balzac, apertá-lo em trinta ou sessenta minutos?

Tinham batido quatro horas no cartório do tabelião Vaz Nunes, à rua do Rosário. Os escreventes deram ainda as últimas penadas: depois limparam as penas de ganso na ponta de seda preta que pendia da gaveta ao lado; fecharam as gavetas, concertaram os papéis, arrumaram os livros, lavaram as mãos; alguns que mudavam de paletó à entrada, despiram o do trabalho e enfiaram o da rua; todos saíram. Vaz Nunes ficou só.

Este honesto tabelião era um dos homens mais perspicazes do século. Está morto: podemos elogiá-lo à vontade. Tinha um olhar de lanceta, cortante e agudo. Ele adivinhava o caráter das pessoas que o buscavam para escriturar os seus acordos e resoluções; conhecia a alma de um testador muito antes de acabar o testamento; farejava as manhas secretas e os pensamentos reservados. Usava óculos, como todos os tabeliães de teatro; mas, não sendo míope, olhava por cima deles, quando queria ver, e através deles, se pretendia não ser visto. Finório como ele só, diziam os escreventes. Em todo o caso, circunspecto. Tinha cinquenta anos, era viúvo, sem filhos, e, para falar como alguns outros serventuários, roía muito caladinho os seus duzentos contos de réis.

- Quem é? perguntou ele de repente olhando para a porta da rua.

Estava à porta, parado na soleira, um homem que ele não conheceu logo, e mal pôde reconhecer daí a pouco. Vaz Nunes pediu-lhe o favor de entrar; ele obedeceu, cumprimentou-o, estendeu-lhe a mão, e sentou-se na cadeira ao pé da mesa. Não trazia o acanho natural a um pedinte; ao contrário, parecia que não vinha ali senão para dar ao tabelião alguma coisa preciosíssima e rara. E, não obstante, Vaz Nunes estremeceu e esperou.

- Não se lembra de mim?

- Não me lembro...

- Estivemos juntos uma noite, há alguns meses, na Tijuca... Não se lembra? Em casa do Teodorico, aquela grande ceia de Natal; por sinal que lhe fiz uma saúde... Veja se se lembra do Custódio.

- Ah!

Custódio endireitou o busto, que até então inclinara um pouco. Era um homem de quarenta anos. Vestia pobremente, mas escovado, apertado, correto. Usava unhas longas, curadas com esmero, e tinha as mãos muito bem talhadas, macias, ao contrário da pele do rosto, que era agreste. Notícias mínimas, e aliás necessárias ao complemento de um certo ar duplo que distinguia este homem, um ar de pedinte e general. Na rua, andando, sem almoço e sem vintém, parecia levar após si um exército. A causa não era outra mais do que o contraste entre a natureza e a situação, entre a alma e a vida. Esse Custódio nascera com a vocação da riqueza, sem a vocação do trabalho. Tinha o instinto das elegâncias, o amor do supérfluo, da boa chira, das belas damas, dos tapetes finos, dos móveis raros, um voluptuoso, e, até certo ponto, um artista, capaz de reger a vila Torloni ou a galeria Hamilton. Mas não tinha dinheiro; nem dinheiro, nem aptidão ou pachorra de o ganhar; por outro lado, precisava viver. Il faut bien que je vive, dizia um pretendente ao ministro Talleyrand. Je n'en vois pas la nécessité, redarguiu friamente o ministro. Ninguém dava essa resposta ao Custódio; davam-lhe dinheiro, um dez, outro cinco, outro vinte mil-réis, e de tais espórtulas é que ele principalmente tirava o albergue e a comida.

Digo que principalmente vivia delas, porque o Custódio não recusava meter-se em alguns negócios, com a condição de os escolher, e escolhia sempre os que não prestavam para nada. Tinha o faro das catástrofes. Entre vinte empresas, adivinhava logo a insensata, e metia ombros a ela, com resolução. O caiporismo, que o perseguia, fazia com que as dezenove prosperassem, e a vigésima lhe estourasse nas mãos. Não importa; aparelhava-se para outra.

Agora, por exemplo, leu um anúncio de alguém que pedia um sócio, com cinco contos de réis, para entrar em certo negócio, que prometia dar, nos primeiros seis meses, oitenta a cem contos de lucro. Custódio foi ter com o anunciante. Era uma grande ideia, uma fábrica de agulhas, indústria nova, de imenso futuro. E os planos, os desenhos da fábrica, os relatórios de Birmingham, os mapas de importação, as respostas dos alfaiates, dos donos de armarinho, etc., todos os documentos de um longo inquérito passavam diante dos olhos de Custódio, estrelados de algarismos, que ele não entendia, e que por isso mesmo lhe pareciam dogmáticos. Vinte e quatro horas; não pedia mais de vinte e quatro horas para trazer os cinco contos. E saiu dali, cortejado, animado pelo anunciante, que, ainda à porta, o afogou numa torrente de saldos. Mas os cinco contos, menos dóceis ou menos vagabundos que os cinco mil-réis, sacudiam incredulamente a cabeça, e deixavam-se estar nas arcas, tolhidos de medo e de sono. Nada. Oito ou dez amigos, a quem falou, disseram-lhe que nem dispunham agora da soma pedida, nem acreditavam na fábrica. Tinha perdido as esperanças, quando aconteceu subir a rua do Rosário e ler no portal de um cartório o nome de Vaz Nunes. Estremeceu de alegria; recordou a Tijuca, as maneiras do tabelião, as frases com que ele lhe respondeu ao brinde, e disse consigo que este era o salvador da situação.

- Venho pedir-lhe uma escritura...

Vaz Nunes, armado para outro começo, não respondeu: espiou para cima dos óculos e esperou.

- Uma escritura de gratidão, explicou o Custódio; venho pedir-lhe um grande favor, um favor indispensável, e conto que o meu amigo...

- Se estiver nas minhas mãos...

- O negócio é excelente, note-se bem; um negócio magnífico. Nem eu me metia a incomodar os outros sem certeza do resultado. A coisa está pronta; foram já encomendas para a Inglaterra; e é provável que dentro de dois meses esteja tudo montado, é uma indústria nova. Somos três sócios, a minha parte são cinco contos. Venho pedir-lhe esta quantia, a seis meses, - ou a três, com juro módico...

- Cinco contos?

- Sim, senhor.

- Mas, Sr. Custódio, não disponho de tão grande quantia. Os negócios andam mal; e ainda que andassem muito bem, não poderia dispor de tanto. Quem é que pode esperar cinco contos de um modesto tabelião de notas?

- Ora, se o senhor quisesse...

- Quero, decerto; digo-lhe que se se tratasse de uma quantia pequena, acomodada aos meus recursos, não teria dúvida em adiantá-la. Mas cinco contos! Creia que é impossível.

A alma do Custódio caiu de bruços. Subira pela escada de Jacó até o céu; mas em vez de descer como os anjos no sonho bíblico, rolou abaixo e caiu de bruços. Era a última esperança; e justamente por ter sido inesperada, é que ele supôs que fosse certa, pois, como todos os corações que se entregam ao regime do eventual, o do Custódio era supersticioso. O pobre-diabo sentiu enterrarem-se-lhe no corpo os milhões de agulhas que a fábrica teria de produzir no primeiro semestre. Calado, com os olhos no chão, esperou que o tabelião continuasse, que se compadecesse, que lhe desse alguma aberta; mas o tabelião, que lia isso mesmo na alma do Custódio, estava também calado, girando entre os dedos a boceta de rapé, respirando grosso, com um certo chiado nasal e implicante. Custódio ensaiou todas as atitudes; ora pedinte, ora general. O tabelião não se mexia. Custódio ergueu-se.

- Bem, disse ele, com uma pontazinha de despeito, há de perdoar o incômodo...

- Não há que perdoar; eu é que lhe peço desculpa de não poder servi-lo, como desejava. Repito: se fosse alguma quantia menos avultada, não teria dúvida; mas...

Estendeu a mão ao Custódio, que com a esquerda pegara maquinalmente no chapéu. O olhar empanado do Custódio exprimia a absorção da alma dele, apenas convalescida da queda que lhe tirara as últimas energias. Nenhuma escada misteriosa, nenhum céu; tudo voara a um piparote do tabelião. Adeus, agulhas! A realidade veio tomá-lo outra vez com as suas unhas de bronze. Tinha de voltar ao precário, ao adventício, às velhas contas, com os grandes zeros arregalados e os cifrões retorcidos à laia de orelhas, que continuariam a fitá-lo e a ouvi-lo, a ouvi-lo e a fitá-lo, alongando para ele os algarismos implacáveis de fome. Que queda! e que abismo! Desenganado, olhou para o tabelião com um gesto de despedida; mas, uma ideia súbita clareou-lhe a noite do cérebro. Se a quantia fosse menor, Vaz Nunes poderia servi-lo, e com prazer; por que não seria uma quantia menor? Já agora abria mão da empresa; mas não podia fazer o mesmo a uns aluguéis atrasados, a dois ou três credores, etc., e uma soma razoável, quinhentos mil-réis, por exemplo, uma vez que o tabelião tinha a boa vontade de emprestar-lhos, vinham a ponto. A alma do Custódio empertigou-se; vivia do presente, nada queria saber do passado, nem saudades, nem temores, nem remorsos. O presente era tudo. O presente eram os quinhentos mil-réis, que ele ia ver surdir da algibeira do tabelião, como um alvará de liberdade.

- Pois bem, disse ele, veja o que me pode dar, e eu irei ter com outros amigos... Quanto?

- Não posso dizer nada a este respeito, porque realmente só uma coisa muito modesta.

- Quinhentos mil-réis?

- Não; não posso.

- Nem quinhentos mil-réis?

- Nem isso, replicou firme o tabelião. De que se admira? Não lhe nego que tenho algumas propriedades; mas, meu amigo, não ando com elas no bolso; e tenho certas obrigações particulares... Diga-me, não está empregado?

- Não, senhor.

- Olhe; dou-lhe coisa melhor do que quinhentos mil-réis; falarei ao ministro da justiça, tenho relações com ele, e...

Custódio interrompeu-o, batendo uma palmada no joelho. Se foi um movimento natural, ou uma diversão astuciosa para não conversar do emprego, é o que totalmente ignoro; nem parece que seja essencial ao caso. O essencial é que ele teimou na súplica. Não podia dar quinhentos mil-réis? Aceitava duzentos; bastavam-lhe duzentos, não para a empresa, pois adotava o conselho dos amigos: ia recusá-la. Os duzentos mil-réis, visto que o tabelião estava disposto a ajudá-lo, eram para uma necessidade urgente, - "tapar um buraco". E então relatou tudo, respondeu à franqueza com franqueza: era a regra da sua vida. Confessou que, ao tratar da grande empresa, tivera em mente acudir também a um credor pertinaz, um diabo, um judeu, que rigorosamente ainda lhe devia, mas tivera a aleivosia de trocar de posição. Eram duzentos e poucos mil-réis; e dez, parece; mas aceitava duzentos...

- Realmente, custa-me repetir-lhe o que disse; mas, enfim, nem os duzentos mil-réis posso dar. Cem mesmo, se o senhor os pedisse, estão acima das minhas forças nesta ocasião. Noutra pode ser, e não tenho dúvida, mas agora...

- Não imagina os apuros em que estou!

- Nem cem, repito. Tenho tido muitas dificuldades nestes últimos tempos. Sociedades, subscrições, maçonaria... Custa-lhe crer, não é? Naturalmente: um proprietário. Mas, meu amigo, é muito bom ter casas: o senhor é que não conta os estragos, os consertos, as penas-d'água, as décimas, o seguro, os calotes, etc. São os buracos do pote, por onde vai a maior parte da água...

- Tivesse eu um pote! suspirou Custódio.

- Não digo que não. O que digo é que não basta ter casas para não ter cuidados, despesas, e até credores... Creia o senhor que também eu tenho credores.

- Nem cem mil-réis!

- Nem cem mil-réis, pesa-me dizê-lo, mas é verdade. Nem cem mil-réis. Que horas são?

Levantou-se, e veio ao meio da sala. Custódio veio também, arrastado, desesperado. Não podia acabar de crer que o tabelião não tivesse ao menos cem mil-réis. Quem é que não tem cem mil-réis consigo? Cogitou uma cena patética, mas o cartório abria para a rua; seria ridículo. Olhou para fora. Na loja fronteira, um sujeito apreçava uma sobrecasaca, à porta, porque entardecia depressa, e o interior era escuro. O caixeiro segurava a obra no ar; o freguês examinava o pano com a vista e com os dedos, depois as costuras, o forro... Este incidente rasgou-lhe um horizonte novo, embora modesto; era tempo de aposentar o paletó que trazia. Mas nem cinquenta mil-réis podia dar-lhe o tabelião. Custódio sorriu; - não de desdém, não de raiva, mas de amargura e dúvida; era impossível que ele não tivesse cinquenta mil-réis. Vinte, ao menos? Nem vinte. Nem vinte! Não; falso tudo, tudo mentira.

Custódio tirou o lenço, alisou o chapéu devagarinho; depois guardou o lenço, concertou a gravata, com um ar misto de esperança e despeito. Viera cerceando as asas à ambição, pluma a pluma; restava ainda uma penugem curta e fina, que lhe metia umas veleidades de voar. Mas o outro, nada. Vaz Nunes cotejava o relógio da parede com o do bolso, chegava este ao ouvido, limpava o mostrador, calado, transpirando por todos os poros impaciência e fastio. Estavam a pingar as cinco, enfim, e o tabelião, que as esperava, desengatilhou a despedida. Era tarde; morava longe. Dizendo isto, despiu o paletó de alpaca, e vestiu o de casimira, mudou de um para outro a boceta de rapé, o lenço, a carteira... Oh! a carteira! Custódio viu esse utensílio problemático, apalpou-o com os olhos; invejou a alpaca, invejou a casimira, quis ser algibeira, quis ser o couro, a matéria mesma do precioso receptáculo. Lá vai ela; mergulhou de todo no bolso do peito esquerdo; o tabelião abotoou-se. Nem vinte mil-réis! Era impossível que não levasse ali vinte mil-réis, pensava ele; não diria duzentos, mas vinte, dez que fossem...

- Pronto! disse-lhe Vaz Nunes, com o chapéu na cabeça.

- Quer ver?

E o tabelião desabotoou o paletó, tirou a carteira, abriu-a, e mostrou-lhe duas notas de cinco mil-réis.

- Não tenho mais, disse ele; o que posso fazer é reparti-los com o senhor; dou-lhe uma de cinco, e fico com a outra; serve-lhe?


Custódio aceitou os cinco mil-réis, não triste, ou de má cara, mas risonho, palpitante, como se viesse de conquistar a Ásia Menor. Era o jantar certo. Estendeu a mão ao outro, agradeceu-lhe o obséquio, despediu-se até breve, - um até breve cheio de afirmações implícitas. Depois saiu; o pedinte esvaiu-se à porta do cartório; o general é que foi por ali abaixo, pisando rijo, encarando fraternalmente os ingleses do comércio que subiam a rua para se transportarem aos arrabaldes. Nunca o céu lhe pareceu tão azul, nem a tarde tão límpida; todos os homens traziam na retina a alma da hospitalidade. Com a mão esquerda no bolso das calças, ele apertava amorosamente os cinco mil-réis, resíduo de uma grande ambição, que ainda há pouco saíra contra o sol, num ímpeto de águia, e ora habita modestamente as asas de frango rasteiro.


FIM


COMENTÁRIO DO BLOG

Conto muito bom!

Leitura pela primeira vez neste domingo, no livro de 50 contos reunidos de Machado, organizado por John Gledson. 

Vejam que belíssima descrição do personagem Vaz Nunes:

"Usava óculos, como todos os tabeliães de teatro; mas, não sendo míope, olhava por cima deles, quando queria ver, e através deles, se pretendia não ser visto".

Marcas do narrador dentro da história:

"Custódio interrompeu-o, batendo uma palmada no joelho. Se foi um movimento natural, ou uma diversão astuciosa para não conversar do emprego, é o que totalmente ignoro; nem parece que seja essencial ao caso".

É isso!

William, 24/4/16, às 22:24h. Brasília (DF)

domingo, 24 de abril de 2016

1984 é agora... O verdadeiro poder é dominar os homens



Será possível resistir ao ódio e ao Grande Irmão?

Refeição Cultural

"O verdadeiro poder, o poder pelo qual temos de lutar dia e noite, não é o poder sobre as coisas, mas sobre os homens. - Fez uma pausa e por um momento tornou a assumir o ar de mestre-escola interrogando o aluno esperto: - Como é que um homem afirma o seu poder sobre outro, Winston?

Winston refletiu:

- Fazendo-o sofrer.

- Exatamente. Fazendo-o sofrer. A obediência não basta. A menos que sofra, como podes ter certeza de que ele obedece tua vontade e não a dele? O poder reside em infligir dor e humilhação. O poder está em se despedaçar os cérebros humanos e tornar a juntá-los da forma que se entender. Começas a distinguir que tipo de mundo estamos criando? É exatamente o contrário das estúpidas utopias hedonísticas que os antigos reformadores imaginavam. Um mundo de medo, traição e tormento, um mundo de pisar ou ser pisado, um mundo que se tornará cada vez mais impiedoso, à medida que se refina..."


REFLEXÕES

Nesta postagem, encerro minha releitura do clássico "1984". Estou com 47 anos e estamos em abril de 2016 num país da América do Sul ("Oceania"?) vivendo mais um Golpe de Estado ao longo da história de sua frágil democracia.

Li a obra pela terceira vez, sendo uma na adolescência, uma em 2005 na idade adulta e agora num contexto político e social em meu país que muito me impulsionou para a releitura, comparando o Grande Irmão do mundo totalitário do IngSoc na versão de Orwell ao mundo totalitário do Grande Irmão Globo e demais meios de comunicação cartelizados e conhecidos no Brasil como P.I.G (Partido da Imprensa Golpista).

Assim como no mundo do Grande Irmão de Orwell, onde uma teletela com o olhar vigilante e manipulador está em qualquer lugar público e privado, a teletela da família Marinho (o Grande Irmão Globo) está em qualquer lugar público e privado em nosso mundo real Brasil.

A qualquer minuto eu ou qualquer desafeto dos irmãos Marinho pode aparecer na teletela como terrorista, corrupto, como o inimigo do partido (P.I.G.) a ser caçado e eliminado. E então, somos Goldstein...

(é impossível não ver semelhanças... "petistas", "petralhas", "sindicalistas", "cutistas", "bolivarianos", "comunistas", "nordestinos", "gays", "nordestinos", "mulheres, que devem ser belas, recatadas e do lar"...)


Vejam mais um trecho e seguimos com as comparações:

"O progresso em nosso mundo será o progresso no sentido de maior dor. As velhas civilizações proclamavam-se fundadas no amor ou na justiça. A nossa funda-se no ódio. Em nosso mundo não haverá outras emoções além do medo, fúria, triunfo e autodegradação. Destruiremos tudo mais - tudo...

(...)

Não haverá lealdade, exceto lealdade ao Partido (P.I.G.). Não haverá amor, exceto amor ao Grande Irmão. Não haverá riso, exceto o riso da vitória sobre o inimigo derrotado (...) Todos os prazeres concorrentes serão destruídos. Mas sempre... não te esqueças, Winston... sempre haverá a embriaguez do poder, constantemente crescendo e constantemente se tornando mais sutil. Sempre, a todo momento, haverá o gozo da vitória, a sensação de pisar um inimigo inerme. Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota pisando um rosto humano - para sempre."


Então, seguimos a comparação do cenário totalitário do "1984" e o cenário totalitário do mundo dos meios de comunicação monopolizados e atuantes enquanto partidos políticos, escolhendo os aliados a fortalecer e a esconder suas fraudes e corrupções e os inimigos a eliminar pelo ódio e pela manipulação através das teletelas e o poder de infiltração do partido do Grande Irmão (P.I.G.) em todos os espaços da esfera pública e privada.

Já vivemos o cenário fascista e totalitário apresentado na obra de Orwell. Nossos parentes e conhecidos já se viram contra nós como os membros da "Polícia do Pensamento" no mundo orwelliano. Crianças, familiares e amigos que delatam comportamentos contrários aos definidos pelo Grande Irmão (Globo) e o partido (P.I.G.).

O domínio dos homens e das instituições pelo medo, pelo terror, pela dor...

Imaginem o que é ter a vida destruída por uma emissora de TV ou por uma revista ou jornalão, sem nenhum processo de apuração baseado em provas, somente em ilações e construções que se auto-alimentam. 

Imaginem um juiz que prende por meses pessoas sem provas sob tortura física e psicológica do cárcere injusto e ilegal, deixando a entender que a tortura só acabará quando houver concordância do preso sem provas em assinar e dizer exatamente o que o juiz e seus carrascos querem.

Imaginem um juiz e um grupo por dentro das instituições de justiça do Estado nacional terem escutas ilegais e o apoio das teletelas (P.I.G.) para ameaçar a tudo e a todos caso não sigam o script traçado do Golpe e decidam se rebelar contra o processo infame de destituição de um governo legítimo e a eliminação de um segmento da sociedade importante (o PT e movimentos sociais próximos).

Há um impeachment em curso contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) por um sindicato de ladrões que já venceu a primeira fase na Câmara dos Deputados em 17/4/16 e não há nenhuma sinalização de reversão no Senado e vergonhosamente no órgão maior da Justiça, o STF.

Mas dizem que há ameaças por parte do P.I.G. e dos setores da justiça e aparelhos de repressão do Grande Irmão (do mundo real) para todos os juízes da Corte máxima e contra os senadores...

Enfim, parece que já estamos vivendo aquela sociedade do Grande Irmão de Orwell.

1984 é agora...

Fico cismando se eu e nós seremos os Winston Smith no dia de amanhã. (é possível resistir a tanta tortura?)

Será que ainda vou amar a Rede Globo, a Folha, o Estadão, a Veja, o PSDB, o Moro, o Temer?

William Mendes

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Mais um golpe: querem cortar nossa Internet!


Comentário do blog

Para quem acompanha a disputa de hegemonia nos meios de comunicação há mais tempo, como acompanhei por anos, sabe o que está em jogo.

Além da questão de aumentar o lucro das empresas, há outra disputa em jogo. Os donos dos meios de comunicação monopolizados, a merda da Globo e outros lixos do gênero, vêm perdendo audiência e PODER para a rede mundial de computadores, e com isso, estão perdendo dinheiro de propaganda.

Ao limitar a internet para nós mortais, que ao menos fazíamos o contraponto com uma rede de sites progressistas, haverá uma possibilidade de voltar o poder aos pré-históricos e seculares donos de toda a mídia velha de TV, rádios (ambas concessões públicas NUNCA revistas) e dos donos dos velhos e podres jornalões - TUDO DO P.I.G. QUE CONSEGUIU APLICAR O GOLPE NO BRASIL...

William


(Reprodução de matéria da Revista Fórum)

21/4/2016



A ideia de que o usuário deve pagar pelo que consome na rede esconde um problema de longa data no Brasil. As empresas de telecomunicação investem pouco na infraestrutura e obtém lucros vultuosos. Hoje é um dos setores que mais lucra no país, ficando atrás apenas dos bancos


Por Manuela D´Ávila e Fabricio Solagna*


Nas últimas semanas as operadoras de telecomunicação anunciaram uma mudança na forma de cobrar pelo uso de Internet banda larga fixa, essa que utilizamos em nossas casas, empresas e escolas. Além da velocidade de navegação, teremos que optar também pelo limite de dados das franquias, como já ocorre no celular, e quando atingirmos o limite previsto, a Internet será cortada. Para continuar navegando teremos que desembolsar mais e comprar um pacote adicional.

Essa medida não atingirá apenas aquelas que passam muitas horas utilizando a Internet. Pelo contrário, dados do Comitê Gestor da Internet revelam que o principal uso que as pessoas fazem da rede, em todas as classes sociais, é navegar nas redes sociais e ver vídeos, justamente o que consome muitos dados. Mas o principal fator para pensarmos é que, se houver limite de franquias, certamente haverá menos locais com Internet sem fio livre. Haverá ainda menos locais públicos com acesso à rede, pois o custo envolvido em deixar uma conexão aberta para uso geral será muito mais alto. Certamente, as escolas e universidades limitarão o uso da rede para seus alunos, por exemplo.

O que veremos será uma Internet de segunda classe, onde os mais pobres terão acesso limitado a rede, talvez apenas para a troca de mensagens de texto. Fazer aquele curso a distância em vídeo, por exemplo, será um privilégio de quem pode pagar muito pela conexão.

A ideia de que o usuário deve pagar pelo que consome na rede esconde um problema de longa data no Brasil. As empresas de telecomunicação investem pouco na infraestrutura e obtém lucros vultuosos. Hoje é um dos setores que mais lucra no país, ficando atrás apenas dos bancos.

Se você mora no interior do Rio Grande do Sul, numa cidade pequena, ou na zona rural, você entende muito bem isso. Em grande parte do Estado, a Internet ainda é discada. Em alguns lugares a conexão só é possível por pequenos provedores que oferecem o serviço através de antenas de rádio.

Até o momento, as empresas não apresentaram uma justificativa técnica para a mudança nos contratos. Justificam que é preciso prevenir o “congestionamento” mas nenhum estudo que comprove isso foi apresentado. Este tipo de cobrança por franquia na conexão de banda larga fixa já é praticado em outros países como Canadá e Irlanda e dados da iniciativa stopthecap.com mostram que o motivo não é congestionamento, e sim aumento de lucros.

As empresas de telecomunicações vem argumentando que, assim como a conta de energia elétrica e a conta de água, as pessoas devem pagar pelo consumo. O presidente da ANATEL, órgão responsável por regular o setor, inclusive concordou com isso. No entanto, este argumento é um golpe e tenta convencer a população de uma falácia técnica.

Dizer que as pessoas devem pagar pelo seu consumo é um golpe porque as operadoras estão vendendo algo que não produzem. Diferentemente da água e da energia elétrica, onde há um bem que é gerado de um lado e consumido de outro, na Internet as operadoras não precisam “produzir” um volume de dados para o usuário consumir. Nós gastamos dados na rede assistindo filmes, nos comunicando com outras pessoas, enviando fotos, etc. Na maioria das vezes, é o próprio usuário quem produz os dados que circulam na rede.

Até o momento, a Internet fixa era cobrada apenas pela sua velocidade, isso porque as operadoras de telecomunicações são responsáveis pela infraestrutura que leva a conexão até o usuário final. Ou seja, o preço cobrado corresponde ao investimento utilizado para que o cabo da rede chegue até a nossa casa. O provedor não tem nada a ver com o conteúdo que circula na rede.

Além do mais, o serviço de Internet no Brasil não é nem considerado um serviço de telecomunicação. Desde 1995, a Internet é considera um “serviço de valor adicionado”, ou seja, é um serviço que se utiliza das redes físicas de telecomunicação. É por isso que desde então existe o Comitê Gestor da Internet, um órgão multissetorial com participação de diversos segmentos da sociedade, que é responsável por produzir diretrizes e recomendações sobre a rede. Para regular as telecomunicações existe a ANATEL.

Desde então a Internet é explorada em regime privado, de maneira concorrencial, diferente da telefonia. Ou seja, as operadoras não têm obrigações legais ou metas a cumprir para a expansão e inclusão da Internet. A rede chega apenas onde dá lucro.

Outro argumento utilizado pelas empresas seria que algumas pessoas utilizam a rede de forma intensa, para ver filmes, vídeos ou para jogos online. Este é outro golpe. As empresas de conteúdo geralmente colocam seus servidores dentro dos chamados datacenters das empresas de telecomunicação. Isso também é vantagem para os dois lados. Primeiro porque o conteúdo chega mais rápido para o usuário e segundo, porque a operadora de telecomunicação não precisa usar toda sua infraestrutura para entregar o filme que você quer assistir. Geralmente, quando você clica em play na sua série favorita, aqueles dados percorreram o caminho da sua casa até as instalações da empresa de telecomunicações contratada.

É preciso lembrar que, no Brasil, aprovamos o Marco Civil da Internet que estabelece a Internet como um direito fundamental do cidadão e não apenas uma mercadoria. Precisamos de fato discutir a inclusão de milhares de pessoas que não tem qualquer acesso a rede. Para isso, a melhor forma é tratarmos a Internet como uma concessão em regime público, assim como a telefonia, estabelecendo metas e contrapartidas para o setor.

Limitar o uso da Internet através da quantidade de dados é um golpe na liberdade de expressão, num país que ainda tem dificuldades em assegurar a democracia.

*Manuela D´Ávila é deputada estadual (PCdoB-RS) e Fabricio Solagna é doutorando em Sociologia pela UFRGS

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A difícil e necessária arte intelectual de evitar o revide à provocação e ao ódio gratuito


A natureza a ser observada, de maneira a que
 amansemos as raivas. Paineira Rosa em Brasília.

Refeição Cultural

"Do que de uma feita, por me valer, eu entendi o casco de uma coisa. Que, quando eu estava assim, cada de-manhã, com raiva de uma pessoa, bastava eu mudar querendo pensar em outra, para passar a ter raiva dessa outra, também, igualzinho, soflagrante. E todas as pessoas, seguidas, que meu pensamento ia pegando, eu ia sentindo ódio delas, uma por uma, do mesmo jeito, ainda que fossem muito mais minhas amigas e eu em outras horas delas nunca tivesse tido quizília nem queixa. Mas o sarro do pensamento alterava as lembranças, e eu ficava achando que, o que um dia tivessem falado, seria por me ofender, e punha significado de culpa em todas as conversas e ações. O senhor me crê? E foi então que eu acertei com a verdade fiel: que aquela raiva estava em mim, produzida, era minha sem outro dono, como coisa solta e cega. As pessoas não tinham culpa de naquela hora eu estar passeando pensar nelas. Hoje, que enfim eu medito mais nessa agenciação encoberta da vida, fico me indagando: será que é a mesma coisa com a bebedice de amor? Toleima. O senhor ainda me releve. Mas, na ocasião, me lembrei dum conselho que Zé Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é. Zé Bebelo falava sempre com a máquina de acerto - inteligência só. Entendi. Cumpri. Digo: reniti, fazendo finca-pé, em força para não esparramar raivas...

(Riobaldo Tatarana, em Grande Sertão: Veredas. Guimarães Rosa, 1956. Editora Nova Fronteira, edição


Roteiro de uma vida proletária aprendendo a lidar com a raiva e o ódio contra as iniquidades

Saí para correr na noite fresca de Brasília. Corri 5 km em 31' com 21º e fiquei o tempo todo tentando esquecer os aborrecimentos oriundos das provocações que sofremos e do ódio e intolerância que nos miram por sermos o que somos: militantes de esquerda e representantes de um setor da sociedade - a classe trabalhadora.

Lembrei da passagem acima do "Grande Sertão: Veredas" a respeito dos sentimentos de raiva e ódio e o quanto eles podem aprisionar a nossa mente e o nosso ser.

Acredito que uma das artes intelectuais mais difíceis de desenvolver na natureza humana, animal que somos, é a arte de evitar o revide instantâneo e às vezes de consequências drásticas e irremediáveis às provocações e ao ódio e agressão gratuitos.

Há anos lido comigo mesmo para desenvolver essa habilidade humana: ser mais inteligente que o provocador ou agressor e não revidar de forma imediata à agressão, seja ela física ou moral. Alguns momentos em minha vida marcam passagens evolutivas nesta habilidade.

Infância e adolescência

Pela miséria que enfrentei após os dez anos de idade, cresci sentindo muito ódio do mundo e de tudo, principalmente da exploração por parte da elite e dos abastados e da injustiça contra nós todos que sofríamos na miséria.

Depois de sofrer ameaças no mundo infanto juvenil, aprendi a revidar e a me estabelecer no espaço em que vivia. Depois que frequentei ao longo da adolescência os ensinamentos da arte marcial Kung Fu, aprendi a não brigar mais porque era a lição número um do mestre e da academia. Melhorei como pessoa que iniciava para a vida adulta.

Anos noventa, o ser bancário do BB no governo do PSDB/FHC

Vieram os anos noventa e eu passei a trabalhar no Banco do Brasil após os 22 anos de idade. Logo depois que cheguei ao banco, vi o que o PSDB, DEM, PMDB, já a Rede Globo e demais asseclas fizeram aos trabalhadores em geral e aos meus colegas do BB. Vi o assédio e o expurgo de 50 mil colegas de forma humilhante e assassina. Eu vi e vivi os suicídios no massacre tucano aos colegas do banco.

Vocês não têm noção do ódio que senti aos vinte e poucos anos daquela injustiça social que vivemos.

Início da função de dirigente sindical eleito e representante dos trabalhadores

Se eu havia lidado comigo mesmo e com a raiva que sentia das injustiças do mundo na adolescência e depois que vi o que sofreram meus colegas e o povo brasileiro nas mãos de um governo tucano vira-latas, compromissado com os grandes imperialistas a soldo pago a ralés do terceiro mundo, faltava ainda a experiência de representar os trabalhadores como eleito.

A experiência no início da vida sindical que marcou minha vida foi logo nas primeiras semanas como diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, liberado para as atividades sindicais e de representação de meus colegas a partir de agosto de 2002.

Um dia, numa panfletagem na porta do Complexo do BB na São João, dialogando com os colegas sobre as eleições presidenciais naquele ano, um bancário invocou comigo e começou a gritar e me ofender, a por o dedo em meu nariz, falar quase cuspindo em meu rosto, enfim, vociferando comigo. Eu que não era muito tolerante e tinha meus limites, precisei me reinventar naquele instante para não revidar e até sairmos na mão. Consegui! Ali eu marquei um ponto a favor de não revidar às agressões de pessoas intolerantes.

Passei meus quase 14 anos de representação sindical sendo conhecido como um dirigente que sabia ouvir os colegas, debater, construir consensos e aceitar dissensos.

A madurez dos quarenta e poucos anos, sendo dirigente de entidade de saúde dos trabalhadores e num mundo envenenado pelo ódio plantado por golpistas

Chegamos ao meu mundo de representação atual e ao Brasil de 2016 no auge do ódio semeado pelos meios de comunicação dos empresários golpistas - famílias Marinho, Civita, Frias, Mesquita et caterva -, juntamente com os partidos derrotados nas eleições de 2014 e liderados pelos mesmos tucanos que já conhecemos dos anos noventa.

Neste momento, finalizo meu texto de reflexão com os raros leitores que chegaram até aqui para dizer do esforço que fiz hoje para não agir compulsivamente e revidar aos dois cidadãos que me incomodaram os pensamentos neste dia: um que me provocou na rede social facebook e o outro que teve a pachorra de ir ao andar da Diretoria na Cassi que administro para passar alguns recados e fazer provocações (esses covardes só vão na hora em que não estamos).

O familiar que me provocou: é um sujeito cujos traços no sangue nos colocam como primos, e com o qual já não tenho contato há muito tempo. Eu nunca tive problema pessoal com ele, mas ele pegou a seguir a Globo, a Veja e passou a me odiar por entender que eu sou "aquele petista filho da puta". Ele veio da merda como eu e toda a nossa família. Ninguém de minha família sanguínea faz parte daqueles 5% donos de tudo no Brasil, ex-colônia. O sujeito que foi subproletário e agora se acha "classe média" melhorou de vida como milhões de brasileiros durante os governos do PT. Mas se convenceu que tem carro e profissão liberal por mérito próprio. É o cara!

Não é que o cara ainda dedica um espaço no cérebro dele para mim depois de tanto tempo sem nenhuma relação comigo? O sujeito, ao invés de levar a bela vida dele ocupando o cérebro como já faz com álcool, carros e mulheres, entre São Paulo e Goiás, no domingo 17/4, dia do Golpe Parlamentar, aquele dia macabro quando a nação conheceu o grau de qualidade dos congressistas, o sujeito escreveu no seu perfil que gostaria de ver e saber da expressão de minha pessoa com todo aquele horror do impeachment...

Eu digo aqui que fiquei muito triste, senti uma tristeza que ainda não me abandonou. Não vai passar, porque o golpe foi consumado e o povo brasileiro não reagiu. Agora virão as consequências para a classe trabalhadora que represento.

Fiquei umas duas horas pensando se escrevia alguma resposta para o cidadão lá onde estão as merdas provocativas a mim e decidi que não vale a pena. Não vou me igualar a ele. Desejo saúde ao cidadão e que ele aprenda algum dia a respeitar as pessoas.

O sujeito que foi hoje à Cassi, depois que saí para o almoço, fazer provocações e dar indiretas que pode voltar após os resultados das eleições: outra coisa que me encheu o saco hoje, foi o fato de mais um sujeito(a) ir ao andar em que está a Diretoria que sou responsável falar umas indiretas e fazer umas provocações, insinuou que pode ser que ele volte conforme os resultados das eleições da entidade.

E olha que de manhã fizemos uma excelente reunião com os trabalhadores para tranquilizá-los sobre o dia a dia da nossa Caixa de Assistência. Fiquei pê da vida no fim da tarde ao saber e quase liguei para o cidadão.

Mas vamos combinar o seguinte: se o cidadão voltar após as eleições, estaremos lá para seguir defendendo os interesses dos associados e os projetos que representamos. O nosso trabalho em defesa da Cassi vai continuar da mesma forma que estamos fazendo.

Uma flor ao chão ainda é melhor
de se ver do que o ódio e provocações
de alguns animais humanos.

Bom, escrevi aqui e já passou. Não perco mais um minuto com esses sujeitos incomodando meus pensamentos. Seguimos perseguindo a arte de não deixar que os meios dos provocadores nos rebaixem ao nível deles.

William Mendes

terça-feira, 19 de abril de 2016

Diário - 190416 (ainda indignado pelo domingo 17)



Apesar das dezenas de milhares de pessoas nas ruas em defesa
da democracia, os canalhas corruptos no Congresso praticaram a
infâmia de abrir impeachment contra a presidenta sem crime.

Brasília, terça-feira, depois das 23 horas.

Era pra eu sair agora de noite e correr, era. Sem condições! Estou destruído de cansaço.

Cheguei da Cassi por volta das nove horas da noite. Trabalhei umas doze horas hoje, e ontem, cerca de vinte horas, com direito a umas dez horas em aeroportos e quatro voos.

Fiquei prostrado hoje, mas isso não pode prevalecer sempre. Tenho que correr para me manter. Mas hoje não deu.

Dá pra imaginar a tristeza de um militante de esquerda como eu, que passou a maior parte da vida lutando contra a miséria, contra a injustiça social e contra o que é errado, enfim, dá pra imaginar a tristeza, a dor no coração, ao estar vivendo o que nós estamos vivendo em nosso querido Brasil?

Eu vi agora há pouco, no Canal NBR, a presidenta Dilma Rousseff dando entrevista aos jornalistas estrangeiros sobre o golpe que ela e nós povo brasileiro estamos sofrendo, um golpe de impeachment liderado por um consórcio de canalhas, corruptos e corruptores, liderado pelo que há de mais podre e nocivo ao povo brasileiro, povo que amo e que luto por ele há décadas.

Há uma total inversão da ordem, dos valores de nosso mundo civilizado. Uma presidenta honesta, lutadora, que enfrentou a ditadura civil-militar que o Brasil sofreu por mais de duas décadas entre os anos 60 e 80, um período sem democracia cujo golpe também foi organizado pelo mesmo consórcio de canalhas corruptos que está à frente do Golpe de Estado contra Dilma, contra o Partido dos Trabalhadores e contra os democratas brasileiros.

Fiquei triste e chorei ao ver a serenidade da presidenta Dilma Rousseff conversando com os jornalistas. Como ela consegue se manter serena com tantos ataques covardes? A mulher, a mãe, a avó, a guerreira, a torturada, a idosa Dilma vem sofrendo os ataques mais fascistas e preconceituosos que um ser humano poderia sofrer.

Os canalhas fascistas das famílias midiáticas a chamam de "autista" (e ela falou sobre isso com todo respeito aos autistas e PCDs, pois afirmou ter um autista na família), a ofendem das piores coisas possíveis utilizando das ferramentas tradicionais do preconceito de gênero e da misoginia. O fascista Bolsonaro homenageou no domingo, no voto pelo impeachment da presidenta sem crime, o assassino de presos políticos e torturador da própria Dilma, uma jovem que combatia a ditadura e lutava pela democracia brasileira.

É muito triste! É muito triste saber que perdi a relação com diversos familiares que tive amor e carinho por décadas porque eles estão ao lado dos fascistas, dos golpistas, eles me consideram como os fascistas consideram seus inimigos. Se a Globo e a Veja disser que sou corrupto, então serei corrupto. 

Tive primo que se referiu a mim como "aquele parente petista filho da puta". Tivemos familiares que ofenderam minha esposa de maneira humilhante, cobrando lado na política por tê-la ajudado quando ela precisou; agora é "crime" por parte dela compartilhar de visão de mundo mais humanista e solidária (e de esquerda). Ela foi descartada da família, excomungada. Dias atrás, mais um familiar começou a me provocar politicamente com ironias, perguntando sobre minhas cotas de pão com mortadela e usando como referência aquele santo juiz da república do Paraná. Bastou eu pedir para ele não fazer isso, e ele me excluiu da sua lista de amigos na rede social Facebook (aquela empresa que já bloqueou a conta da Letícia Sabatella, do Fernando Morais, mas não bloqueia de quem prega a morte, o ódio, o preconceito etc).

Nós que somos de esquerda, militantes sociais, sindicalistas que enfrentam patrão e a polícia do patrão, patrões corruptos que sonegam impostos, que assediam e humilham os trabalhadores, hoje, para o lado da sociedade que aderiu ao fora esquerda, fora Dilma, fora Lula, fora PT, fora sindicalistas, fora cutistas, fora negros, fora nordestinos fora tudo e "tchau querida"... nós não somos gente, fomos coisificados como foram os judeus pelos nazistas e fascistas. 

Na Alemanha nazista a coisa "judeu" era algo como ratos, seres inumanos. Nós que somos de esquerda, simpatizantes de partidos de esquerda, sindicalistas, somos "petralhas", somos "bolivarianos", somos "corruptos". Não somos gente.

Presidenta Dilma, estou muito envergonhado de ver o que estão fazendo com a senhora. Posso não concordar com diversas questões de seu governo, mas é inadmissível o que virou essa guerra pelo poder baseada no golpismo, fascismo e estímulo ao ódio por parte do PSDB, da Rede Globo, da Fiesp; é inadmissível o silêncio autorizador do STF e demais órgãos de justiça, vendo corruptos no legislativo e no judiciário agirem ilegalmente impunemente; é inadmissível todo o ódio e intolerância criado e alimentado pelos donos dos meios de comunicação para destruir o país e o povo brasileiro por não aceitarem a escolha política desse mesmo povo.

William Mendes
Cidadão brasileiro e com ideais de esquerda