domingo, 3 de julho de 2016

As veias abertas da América Latina sangram...




Refeição Cultural

"Incorporadas desde siempre a la constelación del poder imperialista, nuestras clases dominantes no tienen el menor interés en averiguar si el patriotismo podría resultar más rentable que la traición o si la mendicidad es la única forma posible de la política internacional..." (Eduardo Galeano)


Está acabando o final de semana. É tão curto que mal dá pra gente descansar um pouco.

Além de ficar quietinho em casa em Brasília com a esposa, e correr um pouco no sábado e pedalar neste domingo (ver AQUI), o que fiz de mais interessante foi pegar o livro de Eduardo Galeano e ler umas sessenta páginas.

A obra fantástica "Las venas abiertas de América Latina" foi publicada em 1971 e sua atualidade nos assusta, nos intimida, nos humilha por saber que, se por um lado, iniciamos um período de enfrentamento soberano ao modo aniquilador de exploração dos imperialismos europeus e americano com governos mais populares da metade dos anos noventa até bem pouco tempo, por outro lado, agora estamos de novo sofrendo uma reviravolta com golpes de estado como em Honduras, Paraguai e Brasil, além da eleição da direita na Argentina e no Peru.

É de dar nojo o que os espanhóis e portugueses fizeram com os povos que aqui estavam e suas nações constituídas há centenas de anos. O massacre e o volume de pessoas exterminadas covardemente, com armas desproporcionais é semelhante ao número de mortos nas guerras mundiais do século XX. Foram exterminados dezenas de milhões de seres humanos. Mas aqui nas Américas não foi guerra de exército contra exército, foi extermínio puro e simples.

Começou aqui faz séculos, nossa história colonial de exploração para acumulação de capitais para europeus e americanos. Passados séculos, havíamos iniciado aqui nas Américas do Sul e Central governos mais progressistas, populares, oriundos do próprio povo trabalhador ou originário da terra, soberanos e focados nos próprios povos, mas durou pouco. Já neste momento os imperialistas retomam suas colônias de exploração através de golpes e intervenções canalhas para derrubar os governos populares.

Quando vejo figuras como essas que estão à frente do Golpe de Estado no Brasil, figuras que já têm em seu currículo crimes de entrega de nosso patrimônio aos estrangeiros a preço de nada, ou corrupção da grossa mesmo, encoberta porque eram eles e eles sempre puderam, com os imperialistas estrangeiros só pagando a eles umas gorjetas, umas propinas como aconteceu nos anos noventa, eu sinto ao mesmo tempo um ódio mortal por esses lesa-pátrias e assassinos de nosso povo, assassinos pelas mortes diárias através da miséria que eles querem ver de volta. Mas sinto também um desprezo tão grande por todos os alienados que de qualquer forma apoiaram o Golpe que aí está...

Pensem vocês que esses desgraçados, passados séculos, estão para destruir os poucos direitos trabalhistas que conquistamos com sangue, suor e lágrimas. Querem foder nossos direitos em aposentadoria, e eles praticamente vivem de nos explorar, sem trabalhar. Querem entregar nossas riquezas de novo para alguns capitalistas estrangeiros. Cortar todas as políticas afirmativas e sociais. Tirar o país do povo novamente.

E por que o povo não se revolta? Porque há um sistema midiático de pão e circo. E esse sistema com meia dúzia de dominadores há décadas segue intocável. Por que aceitamos? Por que milhões deixam que uns poucos nos manipulem, nos coloquem na condição de nada (nihil) contra o sistema hegemônico?

Vou parar por aqui. Estou muito revoltado em ver que não há reação do povo à altura do ataque desferido ao Brasil e ao próprio povo, que segue curtindo o futebol, a Globo, lendo os jornais e revistas dos desgraçados e, se mandarem nos pegar (aqueles que se revoltam ou reagem), é comum que o próprio povo explorado avise aos buldogues da polícia deles onde estamos.

Será que o povo dessas veias abertas da América Latina merece o que os seculares exploradores fazem conosco?

Será que nossa negritude, nossa mestiçagem, nossa origem nestas terras, sem nome difícil de falar, sem termos olhos claros, a pele branquinha com cabelos escorridos loiros, nossa mescla índio negro cafuzo cabelos não lisos sangue e pobreza de origem nos faz piores que esses exploradores europeus e americanos seculares?

William

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