sexta-feira, 15 de julho de 2016

Diário - 150716





Estou em Osasco, São Paulo. Hoje é sexta-feira.

Estive no Uruguai, viajando a passeio com a esposa por alguns dias. Também estive lendo a obra imprescindível do grande escritor uruguaio Eduardo Galeano, As veias abertas da América Latina. Já li a metade do livro escrito e publicano no início dos anos setenta. Gostaria que meu filho e todos os jovens do mundo o lessem, os jovens dos países imperialistas e os jovens dos países vítimas do imperialismo. Gostaria que os adultos e os apoiadores do golpe fascista no Brasil o lessem.

É muito nojento o papel histórico das burguesias latino-americanas vira-latas em intermediar a exploração de nossas gentes a troco de uns vinténs por parte dos imperialistas. Quando vejo em andamento a pauta dos golpistas e lembro o quanto isso é antigo, dá uma revolta, um nojo, que é difícil não ter náuseas. É difícil não ficar triste e revoltado.

Estou reflexivo, cismando com tudo que vivencio e que terei pela frente a partir de segunda-feira, quando voltar para o campo de batalha em que se situa a existência minha e de todos nós da classe trabalhadora mundial, num mundo voltando aos períodos de maiores barbaridades sociais.

Eu me solidarizo com todas as vítimas e entes queridos envolvidos no massacre ocorrido ontem em Nice, na França, quando uma pessoa assassinou dezenas de pessoas com um caminhão. Me solidarizo com gente, com pessoas, mas estou amargo mesmo é com tudo que está acontecendo embaixo de nossos narizes aqui no Brasil e por aí no mundo capitalista "civilizado". 

Como suportar a barbaridade diária de viver sob um Golpe de Estado onde até o mundo mineral sabe a intenção dos desgraçados, da parcialidade contra nós povo trabalhador e movimentos sociais e a favor da cleptocracia secular? Como fazer cara de paisagem para aqueles ao meu redor que compartilham dessa merda toda? Inclusive os pobres, os trabalhadores e os remediados manipulados pela máquina totalitária dos meios de comunicação dos golpistas?

Ao ler a história de nossos países da América Latina, eu fui revendo coisas que já conheço e fui agregando novos conhecimentos sobre a nossa história de explorados, de povos assassinados barbaramente, ao mesmo tempo que também assassinados lentamente pela fome, pela miséria e pela dor invisível de milhões de pessoas, gente insignificante para os meios de comunicação manipuladores de massas, todos todos dos donos do poder capitalista, parceiros dos imperialistas e latifundiários que tudo podem.

A gente carrega tanta responsabilidade nos ombros pelos papéis sociais que exercemos e, ao mesmo tempo, sabemos que podemos fazer tão pouco frente ao massacre das máquinas burocráticas dos endinheirados e seus asseclas e lacaios, colocados nas posições adequadas nas máquinas que tentamos disputar e gerir em nome dos trabalhadores, que vamos sendo consumidos física e psicologicamente quando não aceitamos nos dobrar ao "modus operandi" do patrimonialismo secular que pouco liga e se importa com gente, com trabalhadores, com humildes.

Ainda para piorar, tudo que vemos no campo em que atuamos, o campo popular, dos trabalhadores, da esquerda e dos movimentos sociais, tudo o que vemos é cisão, personalismos, comportamentos não adequados à gravidade que a classe trabalhadora vive, precisando desesperadamente de unidade contra os ataques mais agressivos que já vivemos nas últimas décadas, tanto no Brasil, como nas Américas e também no mundo, ao pensarmos nós povo todo fora do circuito dos 2 a 5% que tudo detém na aldeia global.

Até que ponto podemos lutar contra o sistema hegemônico desses 2 a 5% detentores de tudo, e em pleno movimento de ataque no tabuleiro nacional e mundial, sem remorso algum pelas iniquidades públicas e veladas praticadas, quando o nosso lado está todo esfacelado e desunido?

Este ator social que vos fala, por mais que sinta certa solidão pelas fraturas de meu campo social, vai seguir trabalhando diuturnamente pela Cassi, pelos associados que representa, pelo modelo de saúde que acredita e entende ser o melhor para todo o sistema e, de antemão, peço perdão à minha família pela ausência e falta de tempo que seguirei tendo com eles por causa de meu compromisso com o mandato que exerço. Apenas me dedico do jeito que deveria ser feito por qualquer um em papel de representação semelhante.

William

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