domingo, 23 de outubro de 2016

Diário e reflexões - 231016



Amanhecer às 5h da manhã de 22/10 em Jaboatão dos Guararapes PE.
Por minhas agendas de trabalho, só pude ver essa paisagem
pela fresta de 15 cm da janela do hotel. Mas é bonita!
Anoitecer às 19h de 22/10 em Brasília DF. Nossos olhos cansados
tentam ao menos observar esse mundo bonito que há lá fora.


Refeição Cultural

Domingo em Brasília. Pássaros cantam lá fora. Neste mundo brasiliense, a fauna e flora amenizam os dramas humanos. É só olhar e ver a beleza da natureza, é só ouvir e prestar atenção.

Cheguei a Brasília no fim do sábado, vindo de Pernambuco, onde trabalhei por cinco dias em duas agendas diferentes - uma de gestão e contatos com a comunidade BB e Cassi e outra participando de um congresso de autogestões em saúde.


Urutaus camuflados - foto de Caio H. Franco (Wikipedia).

Na noite do sábado, ao ouvir um canto de pássaro noturno muito peculiar, pesquisamos em casa e descobrimos se tratar do urutau, ave fascinante também conhecida como emenda-toco ou mãe-da-lua. Costuma ficar camuflada junto a troncos e tocos de árvores. É possível encontrar essa ave em quase todo o território nacional. Ela passou a noite cantando perto de nossa casa.


Minha vida pessoal praticamente não tem prioridade alguma em nossa agenda de trabalho e militância social na área da saúde. Vivo enfiado em salas fechadas quando estou na burocracia da entidade de saúde que administro e a outra metade do tempo estou nas bases sociais lutando por dar conhecimento e pertencimento a uma comunidade de quase duzentos mil donos de uma autogestão em saúde. 

Em geral, os associados não fazem ideia do que seja a Cassi e muito menos da riqueza que é pertencer a uma estrutura de saúde privada baseada no modelo de Atenção Primária à Saúde. A Caixa de Assistência é vanguarda há duas décadas e mesmo assim sua comunidade assistida não a conhece minimamente.


Lá embaixo, esse nosso mundão
bonito. Ver o mundo sem lembrar
do que os humanos fazem com ele
é bom.

Estou em frangalhos fisicamente. Quebrado. Hoje não posso sair para correr porque meu corpo me avisa que não dá. Isso é preocupante porque daqui a algumas horas, segunda às 8:30h, eu já vou entrar de novo em uma semana extremamente difícil de trabalho com decisões e embates políticos e técnicos que nos consomem ao limite da resistência física e mental. Até nos destrói.

Terei duas reuniões de Diretoria Executiva, sendo a primeira para decidir sobre os rumos da Cassi para os próximos anos, após um Memorando de Entendimento assinado entre o Banco patrocinador do nosso plano de saúde dos trabalhadores e as entidades representativas dos associados.

Esse documento que vamos analisar no âmbito da Cassi nesta segunda 24 finalizou quase dois anos de processo negocial iniciado após 17 de dezembro de 2014, quando nos reunimos com a Comissão de Empresa dos funcionários do BB e pedimos apoio e calendário de lutas das entidades sindicais para defender a Cassi e os associados e seus direitos em saúde. 

(A vida tem dessas coisas... nesta sexta-feira 22, ao final do processo que ajudei a construir, a Contraf-CUT e demais entidades assinaram o acordo final sem sequer eu ser consultado a respeito do documento...)


Além da semana começar com esse tema de relevância para o futuro de nossa Caixa de Assistência, teremos outra reunião de Diretoria Executiva na terça 25 e as reuniões dos Conselhos Deliberativo e Fiscal da Cassi. E ainda estarei lá em Alagoas na sexta 28 para participar de mais uma Conferência de Saúde no Estado.


Um gestor em saúde e militante social de esquerda num instante
de reflexão em voo de volta para casa. Livro de Hobsbawn na mão.

Pergunto a mim mesmo: onde arrumo tempo para tentar reverter o processo de perda de saúde e condições físicas com uma agenda dessas? Onde consigo tempo para alimentar minha dimensão humana da inteligência e intelectualidade? Quando sobra tempo para o convívio familiar? Quase não vejo mais a própria esposa e filho, os pais, sobrinhos. Nem os amigos.

Mas o mundo que defendemos, menos bárbaro do que aquele que está no horizonte próximo, precisa que cada militante social de esquerda ache energia diária para fazer a sua parte neste mundo de merda e caos que esta fase do capitalismo implanta neste momento em nosso planeta.


"Life's a journey not a destination
And i just can't tell just what tomorrow brings..." (Amazing, Aerosmith)

Sabe o que mais me aflige? Eu não acredito que a vida é determinista, que há um destino para cada um de nós. Como o verso da música, entendo que a vida é uma jornada... e de lutas. E não sabemos o que o amanhã nos trará...

Eu sinto que ao final dessa nossa jornada, quase todo o nosso esforço terá sido em vão. Tenho leitura de cenário bem clara sobre isso na atual quadra da história, mas a gente faz o que tem que ser feito assim mesmo. É como se fosse, ao final, uma destinação da gente (um contra-senso).

William


Post Scriptum:

Então, num repente de esforço sobre-humano, fui para o Eixão após esta postagem, por volta das 15h e com temperatura de 30º, andei 4 km e dei uma leve corrida de 2 km, preocupado com os músculos sensíveis da perna. Valeu.

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