segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Povo sem memória é povo condenado a sofrer


Onde ancorar nossa nau neste mundo da iniquidade?

Terminaram as "eleições" municipais brasileiras neste domingo. Sendo a urna eletrônica um instrumento seguro (seria?), o resultado do escrutínio mostra que o povo desta ex-colônia portuguesa deu permissão para os patrões bilionários e seus representantes levarem adiante a pauta de direita que vai trazer um retrocesso secular para aqueles que dependem da venda da força de trabalho de seus corpos para sobreviver.

Que falta faz ensinar história da luta de classes para os trabalhadores e seus familiares! É tão antigo e tão atual vermos a massa despolitizada sendo guiada para os matadouros através de ferramentas ideológicas bem manuseadas pelos donos de todos os meios de produção, os capitalistas que detêm os capitais, as terras, as armas, os cargos públicos dos poderes executivo, legislativo e judiciário, a "lei", o circo, as migalhas de pão para distribuir, e nossos corpos a soldo barato, pois com os empregos da terceirização total seremos somente coisas, gado, mantidos somente para manutenção da reposição do exército de reserva.

O povo que conheço tem a memória mais curta que a personagem Dory, do desenho "Procurando Nemo". Segundo parte de meus colegas bancários do BB, ativos e aposentados, o "País está quebrado" e então não temos o que fazer a não ser aceitar a PEC 241 e todas as merdas que os golpistas estão fazendo como entregar a nossa Petrobras e o Pré-sal para os articuladores do golpe contra o Brasil. Povo sem memória. Até o início de 2014, antes da Lava Jato fabricada nos EUA começar a foder as empresas e os empregos no País, além do foco central de tirar o PT do poder e todo o significado disso, estávamos resistindo à crise mundial melhor que qualquer outro país do mundo.

Em pouco menos de quarenta anos, vi o mundo dar uma volta quase completa em torno do eixo político e voltar ao mesmo ponto, com os poucos capitalistas dando todas as cartas no "Tabuleiro de war" chamado Terra.

Quando nasci, meus pais viviam sob o Brasil do AI-5. Estados Unidos financiavam golpes e ditaduras em Nuestra América. Ao mesmo tempo, ao menos um povo bravo enfrentava com brio os americanos: os vietnamitas expulsaram o invasor imperialista de sua casa.

Nos anos setenta e oitenta, cresci num mundo sem liberdade, onde o Estado podia sumir conosco, invadir nossa casa, torturar nossa gente em delegacias (nunca mudou), matar os nossos entes queridos e os veículos de comunicação da elite, que financiaram o golpe junto com os americanos, diziam que trabalhador que lutava contra toda aquela miséria era terrorista, comunista, corrupto (somos corruptos... sempre a mesma lorota). 

Mas tudo ficava bem com o circo que havia. Tínhamos Chacrinha, Silvio Santos, futebol na televisão. Novelas... (não mudou nada, só os nomes... Faustão, Luciano Huck... ainda o Silvio Santos).

Veio a Constituição Cidadã de 1988 e nos garantiu diversos direitos civis, sociais, políticos, trabalhistas, humanos... (que estão sendo desfeitos por hora, por semana)

Anos noventa, depois de uma vida de miséria minha e de milhões de gentes como nós, vimos os governos Collor e FHC destruírem a coisa pública, dando e distribuindo a riqueza de nosso país e as empresas públicas do patrimônio nacional para amigos e para os estrangeiros que cobram os butins do apoio aos golpes lesa-pátria contra o povo brasileiro. Uma pequena elite, vagabunda e sem espírito nacionalista, sempre viveu em céu de brigadeiro no brazil-colônia.

Como a elite tupiniquim não é nacionalista como os árabes, nem é preciso financiar golpes com guerras civis como os imperialistas fizeram nos países árabes, para derrubar os governos nacionais e instalar as empresas americanas de petróleo no local (os países não existem mais). Aqui nossos vira-latas vendem tudo por uns trocados porque nunca foram nacionalistas.

Durante os anos dois mil, tivemos uma ascensão nunca vista em nosso país e nos países de Nuestra América com a eleição de governos de esquerda, ou nacionalistas, ou mais progressistas e populares. Diminuiu a miséria nauseabunda de séculos e séculos para os povos de ex-colônias portuguesas, espanholas, depois sob outros donos, ou seja, a tutela de ingleses e norte-americanos.

Com os novos estilos de golpes parlamentares-jurídicos-midiáticos, voltamos neste instante à condição de antes dos anos dois mil. Eu não concordo em ficar apedrejando com blá blá blá que a culpa é do PT e seus líderes, ou do chavismo, porque é simplista e desonesto o nosso lado da classe trabalhadora ficar realimentando o que a direita fez com propriedade ao organizar a retomada do poder secular. Os erros do PT devem ser analisados sob a ótica da característica do povo em nosso país: aqui não é terra de revolucionários e nosso povo não participa dos embates políticos, sequer como os nossos vizinhos latino-americanos. Fizeram repúblicas ao nosso redor quase um século antes de nós.

Estamos na merda e será difícil sair dela. No meu cálculo de cenário, serão anos e anos de sofrimento e miséria. Mas eu não isento o povo em ser manipulado tão facilmente e docilmente pelas ferramentas ideológicas dos donos do poder secular. Se quisessem, poderiam ser mais politizados e entender como as coisas funcionam no mundo.

Nós poderíamos começar a reação hoje, se a esquerda e os progressistas se unissem com um projeto único e não fossem demasiadamente humanos com seus pecados capitais como o principal deles - a vaidade.

Sem chance para nós neste momento. Na medida em que os golpistas foram avançando, nós da esquerda fomos nos dividindo mais ainda. Preciso que me provem que a esquerda consegue se unir novamente.

Gostaria de saber onde está a maior central sindical do país? E as demais centrais? Onde estão os líderes dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais progressistas? Ninguém sabe, ninguém viu. Onde estão as lideranças dos trabalhadores? Estão todos divididos, estão todos disputando as máquinas e tentando eliminar "adversários" internos enquanto o País vira vinagre.

William


Post Scriptum:

Neste segundo turno, foi a primeira vez que votei nulo em minha vida de cidadão brasileiro. Acho isso triste, nunca quis fazer isso, mas já vivemos em estado de exceção, não há mais democracia.

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