domingo, 31 de dezembro de 2017

Retrospectiva do Refeitório Cultural - Muita aprendizagem e pronto para as lutas em 2018



Cantinho da leitura e dos trabalhos intelectuais.

Refeição Cultural

Esta postagem fecha o ano neste nosso espaço de reflexões e cultura. Que ano complexo estamos terminando! Foram 114 textos escritos para dividir com leitores que nos acompanham o que aprendemos com leituras novas, o que pensamos a respeito de questões diversas de política, filosofia, sociedade e cultura em geral.

Entre janeiro e agosto, consegui imprimir uma sequência de leituras que marcaram bastante o meu ano como um ser humano sedento por novos conhecimentos. A partir de setembro passei a focar a revisão e organização do blog nas horas vagas. Estou encadernando os textos dos últimos 4 anos.

Terminei diversos livros que fui lendo vagarosamente ao longo do tempo. Conheci autores novos. Reli livros que me marcaram em épocas diversas da existência. Aprofundei o conhecimento em autores clássicos. Li muitos livros de poesia (fez falta ficar tanto tempo sem o prazer do contato com poemas). Vi vários filmes clássicos que tenho guardado há tempos. Conheci coisas novas como os animes. 

Enfim, nas poucas horas de folga que tenho em meu trabalho como gestor eleito pelos trabalhadores do Banco do Brasil na maior Caixa de Assistência do país (a Cassi), trabalho que representa uma luta diária na defesa dos direitos dos associados e da própria autogestão em saúde, busquei nas leituras subsídios para melhorar como ser humano e cidadão do mundo.

Registro abaixo as leituras e os links quando fiz comentários a respeito delas e deixei sugestão de leitura aos amig@s que nos acompanham:

1. LTI - A linguagem do 3º Reich (1947, ALE), de Victor Klemperer (ler AQUI).

2. Fausto (1770-1831, ALE), de Goethe (ler AQUI).

3. O Rio (1953, BRA), de João Cabral de Melo Neto (ler AQUI).

4. O sol também se levanta (1926, EUA), de Ernest Hemingway (ler AQUI).

5. Mar morto (1936, BRA), de Jorge Amado (ler AQUI).

6. Libertinagem (1930, BRA), de Manuel Bandeira (ler AQUI).

7. Estrela da manhã (1936, BRA), de Manuel Bandeira (ler AQUI).

8. Memorial de Aires (1908, BRA), de Machado de Assis (ler AQUI).

9. Discurso da servidão voluntária (Século XVI), de Etienne de La Boétie (ler AQUI).

10. Paisagens com figuras (1954, BRA), de João Cabral de Melo Neto.

11. Morte e vida severina (1954, BRA), de João Cabral de Melo Neto (ler AQUI).

12. Uma faca só lâmina (1955, BRA), de João Cabral de Melo Neto.


Essas leituras foram feitas em janeiro, estando em férias, o que me permitiu grande fôlego para ler e ler. Quase todas elas foram revisitas de leituras antigas e autores. A exceção foram os autores Victor Klemperer e La Boétie.


13. Manual inútil da televisão (2016, BRA), de Paulo Henrique Amorim (ler AQUI).

14. A corrosão do caráter (1998, EUA), de Richard Sennett (ler AQUI).

15. O perfume (1985, ALE), de Patrick Süskind (ler AQUI).

16. A morte de Ivan Ilitch (1886, RUS), de León Tolstói (ler AQUI).

17. Lula, o filho do Brasil (2002, BRA), de Denise Paraná (ler AQUI).


Leituras de fevereiro. Depois de um bom tempo de leitura, consegui finalizar o livro de Denise Paraná sobre a história de Lula até o momento anterior à sua eleição para presidente em 2002. Fiz a 3ª leitura dessa obra central de Tolstói e além do livro de Süskind, vi o filme baseado na obra.


18. O azarão (1999, AUS), de Markus Zusak (ler AQUI).

19. Comunidades imaginadas (1991, EUA), de Benedict Anderson (ler AQUI).


Em março terminei um livro que gastei anos para concluir, o de Anderson. E conheci um autor novo, o australiano Zusak. No mês seguinte li outro livro dele, pois ambos tratam de mesmos personagens. Terminei a série de anime Death Note (ler AQUI), que assisti com meu filho. Agora estamos vendo (eu, esposa e filho) o anime Naruto. Já passamos de 50 episódios.


20. Adeus às armas (1929, EUA), de Ernest Hemingway (ler AQUI).

21. Estorvo (1991, BRA), de Chico buarque (ler AQUI).

22. Bom de briga (2000, AUS), de Markus Zusak (ler AQUI).

23. Felicidade fechada (2017, BRA), Miruna Genoino (ler AQUI).


Foi emocionante ler o clássico de Hemingway em abril. Conheci Chico como escritor de romances. E foi duro o depoimento da filha de Genoino, descrevendo toda a injustiça que ele sofreu.


24. Distraídos venceremos (1987, BRA), de Paulo Leminski (ler AQUI).

25. Ponciá Vicêncio (2003, BRA), de Conceição Evaristo (ler AQUI).



Em maio, curti Leminski e conheci a autora Conceição Evaristo. Que emocionante e tocante o livro de Evaristo, abordando com primor o universo e a condição das mulheres negras em condições sociais de muita vulnerabilidade.


26. O BB de bombachas (2016, BRA), organizado por Alcy Cheuiche (ler AQUI).

27. La vie en close (1991, BRA), de Paulo Leminski (ler AQUI).

28. Por quem os sinos dobram (1940, EUA), de Ernest Hemingway (ler AQUI).

29. Benjamim (1995, BRA), de Chico Buarque (ler AQUI).

30. O ex-estranho (1996, BRA), de Paulo Leminski.

31. Winterverno (2001, BRA), de Paulo Leminski (ler AQUI).


Em junho deste ano, completei a leitura de um dos livros mais marcantes da carreira de Hemingway. Após ter lido em abril seu livro que se passa durante a 1ª Guerra Mundial, Adeus às armas, conheci Por quem os sinos dobram, cujo cenário é a Guerra Civil Espanhola. Esse livro mexeu muito comigo. Continua mexendo, ao ter a consciência política do que estamos vivendo no Brasil.

Ainda em junho li o segundo romance de Chico Buarque e completei a leitura das poesias de Leminski.


32. A guerra dos mundos (1898, ENG), de H. G. Wells (ler AQUI).

33. O chamado da floresta (1903, EUA), de Jack London - mas li uma adaptação para jovens (ler AQUI).


A leitura de Wells foi fantástica. Eu não tinha a menor noção do quanto é boa a ficção deste clássico autor inglês.


34. Alguma poesia (1930, BRA), de Carlos Drummond de Andrade (ler AQUI).

35. Cataratas do Iguaçu (BRA), de Maurício Bevervanso.

36. Cataratas e a floresta Iguaçu (2008, BRA), de Alex P. Schorsch (ler AQUI).

37. Olhos D'Água (2014, BRA), de Conceição Evaristo (ler AQUI).


Neste ano, tive a oportunidade de visitar as Cataratas do Iguaçu duas vezes. É sempre uma experiência fantástica e eu sugiro que a pessoa que não conheça ainda essa maravilha da natureza, que reserve uns 3 dias e vá até lá. É algo único.


38. A quinta-coluna (1938, EUA), de Ernest Hemingway (ler AQUI).


Terminei as leituras do ano com mais um clássico de Hemingway. Foi uma experiência enriquecedora ler tantos livros deste grande autor da literatura mundial.

Depois de agosto, peguei para ler vários livros, mas estão todos no ritmo de minha pouca disponibilidade de leituras do prazer.



Natal em família. Faltou a maninha querida.

BALANÇO DE 2017

O ano foi muito duro para a ampla maioria dos cidadãos brasileiros. A exceção ficou por conta do pequeno grupo de humanos e corporações que aplicou o golpe de Estado e nos colocou sob estado de exceção e na condição de desfazimento do Brasil, da soberania nacional e dos direitos do povo simples e trabalhador.

Eu fechei mais um ano de lutas ininterruptas pelos direitos dos trabalhadores associados à entidade de saúde em que sou gestor eleito. Na verdade, estamos completando um mandato de quatro anos. E também estou fazendo no blog Categoria Bancária (acessar AQUI) textos de balanço de nosso trabalho à frente de uma das diretorias da entidade, a de Saúde e Rede de Atendimento (própria).

As pessoas não têm muita noção do quanto é sofrida a vida de um representante de trabalhadores quando seus mandatos decidem enfrentar poderes instituídos. Estamos terminando esse longo período de lutas em defesa dos trabalhadores que representamos enfrentando armações feitas para atacar aqueles que atuam com firmeza nos propósitos, comprometimento com as causas coletivas e transparência pouco comuns em mandatos de representação. No meu caso, tudo que fiz em nome de nossos colegas representados na última década publiquei em centenas de postagens e boletins virtuais, e também divulguei presencialmente nas bases sociais do país todo.

Estamos vivendo no Brasil e também no mundo a era da inversão dos valores sociais da ética, da solidariedade, da verdade, da justiça. O que está em vigor, na moda, após o crescimento de ideais fascistas, ultraconservadores, é a iniquidade, a pós-verdade construída pelos poucos donos do poder que têm os instrumentos para estabelecer suas mentiras e versões, suas ilações, como se fossem os fatos.

Começo 2018 cheio de energia, disposição e força para enfrentar tudo e todos que estejam contra a classe trabalhadora a qual pertenço. Fechei o mês de dezembro e o ano com boas condições físicas, porque sou um instrumento de luta de nossa classe e sei que devo me cuidar para as batalhas que participamos por um mundo melhor. Não sabemos do futuro, do acaso. Não sabemos se uma doença nos atingirá, nem se uma fatalidade ocorrerá, um acidente etc. Não sabemos se alguma trama nos impedirá de lutar. Mas sem essas possibilidades, estamos firmes para defender as causas coletivas dos trabalhadores da ativa e aposentados.

ESPORTE E SAÚDE - Apesar de não ter me inscrito na São Silvestre 2017, por opção e decisão consciente, porque a organização está maltratando demais os participantes da prova que participo há quase uma década, corri 12k no Eixão de Brasília neste dia 31 e me senti leve e resistente. 

Por que coloco nas postagens algo tão pessoal como minhas corridas? Porque sou um simples cidadão da classe trabalhadora e, além de atuar na área da saúde, sou um militante social que luta por um mundo melhor e para isso temos que atuar em todas as áreas da dimensão humana. Cultura, conhecimento, saúde e condições físicas são básicos para nós humanos e da classe trabalhadora.

Deixo a tod@s que nos leem um forte abraço e um desejo de bom Ano Novo com o convite para as lutas pelas causas da solidariedade, da igualdade de oportunidades, pelo respeito ao próximo e tolerância ao outro, pela liberdade plena dos seres humanos, pela recuperação de uma justiça que seja para todos e não parcial em favor da casa-grande e contra o povo e suas causas. Pelo desenvolvimento com distribuição de renda a todo o povo.

Seguimos firmes nas lutas e estamos prontos!

William


Post Scriptum: 

Neste mês de dezembro fiz excelente corridas: 4k (dia 2, DF), 4k (dia 6, DF), 3k (dia 7, DF), 9k (dia 10, DF), 1,5k / 2,2k / 3,2k / 4,5k / 2,2k (nas areias de Porto de Galinhas - PE), 3,2K (dia 23, DF), 10k (dia 24, DF), 5k (dia 26, DF) e 12k no Eixão para fechar o ano. Foram 63,8k no mês. Faz tempo que não cumpria uma sequência boa como essa.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Feliz Nascimento a vocês da classe trabalhadora!


(atualizado às 9h52 de 25/12/17)


Refeição Cultural - 25 de dezembro

Que dizer a vocês que nos acompanham através deste Blog nesta data de 25 de dezembro?

Em meu coração se apertam vários sentimentos ao mesmo tempo, emoções difusas e antagônicas que se misturam e marejam os olhos e dão nó na garganta. Data que faz menção ao nascimento do filho de Deus. Estou triste e decepcionado com os seres humanos e ao mesmo tempo estou muito focado e obstinado em não desistir desses mesmos seres humanos, atuando diariamente para mudar as atitudes das pessoas porque assim podemos mudar o mundo para melhor.

Eu tive educação católica. Cresci num mundo duro e convivi com violências e misérias, principalmente após os dez anos de idade. Como diz o personagem do Grande sertão: veredas, Riobaldo Tatarana, corajoso eu não era muito, mas tive que me fazer. As condições duras me fizeram endurecer e enfrentar o mundo.

A referência num Deus onipresente, onipotente e onisciente me freou de fazer muitas merdas na vida ao longo da adolescência. Tenho certeza que me fizeram superar vivo aquela fase da vida. Os dogmas sobre os pecados apontados pelo cristianismo, os mandamentos do próprio Deus, não fazer aos outros o que não se quer para si mesmo etc, tudo isso balizou a formação de meu caráter, a minha ética.

Aí chego ao início dos anos dois mil e vejo mudanças positivas para o povo brasileiro ao qual pertenço, o povo mais simples, o povo da classe trabalhadora. Como militante social, ajudei a construir em quase vinte anos aquele país que vinha melhorando. Aí chego perto dos cinquenta anos de idade e vejo a merda que virou o mundo em pouco mais de dois anos de virada política após novo golpe de Estado contra a democracia em meu país.

A abertura da Caixa de Pandora, por parte dos golpistas bandidos, que libertaram todos os males e maldades para ganharem o mundo, o nosso mundo, vai mostrando a cada semana, a cada mês, que as maldades contra as pessoas simples, contra os trabalhadores, contra o povo ao qual pertenço, não têm fim. A cada dia, maldades inimagináveis são realizadas, em todos os meios públicos e privados. O Estado Nacional ferrando o povo em benefício do pequeno grupo que aplicou o golpe. Desfazimento de nosso país com entrega de nosso patrimônio para outros países imperialistas. Pessoas se sentindo à vontade para exercitar as novas maldades antes refreadas e agora incentivadas. Racismo, violências contra mulheres, minorias, trabalhadores, idosos, pessoas sem posses.

A construção do golpe contra os avanços que vinham ocorrendo para o povo brasileiro começou antes das eleições de 2014. A estratégia da anti-política colocou no Congresso Nacional o pior grupamento de parlamentares da história da República, grupo que executaria toda a desgraça que se desenhava para o caso de um quarto governo do Partido dos Trabalhadores: foi avisado pela elite e pela oposição política que o PT não poderia ganhar, e se ganhasse, não iria governar. A organização do golpe estava bem estruturada desta vez.

Os apoiadores do golpe contra a democracia e o povo brasileiro contaram também com uma organização de fortes interesses corporativos nos órgãos do terceiro poder da República, setores da Justiça. E nada seria possível sem a maior e mais fantástica máquina de manipulação ideológica desde o advento dos meios de comunicação de massa a partir dos anos 30 e 40 do século passado. No mundo do século 21, onde a vida é baseada nas redes sociais e no mundo virtual, ter todas as formas de comunicação dominadas por poucas pessoas (famílias e corporações do PIG) vai nos levar a um mundo totalitário jamais imaginado sequer por Huxley, Orwell e outros autores dos clássicos de ficção de mundos distópicos como "1984".

Ao ver dominados pelos golpistas os poderes da vida social em forma de República - executivo, legislativo, judiciário e mundo empresarial, incluso o da grande imprensa -, e o que esses poderes estão fazendo com a maior liderança do povo brasileiro, o presidente Lula, numa avalanche de parcialidade* estatal para eliminar da vida política aquele no qual o povo deposita esperanças da volta de dias melhores é de uma dor imensa, é de causar uma indignação que nos faz reviver todos os sentimentos negativos que tivemos na adolescência e que gastamos anos para superar: trocar o sentimento pessoal de raiva e ódio contra as injustiças sociais pela fé nas lutas coletivas, pela democracia e pela Política.

Ao se instalar um Estado de exceção, parcial, que favorece uma casta privilegiada e que atua contra todo o restante do povo, seus direitos sociais, suas lideranças e suas instituições, vivemos hoje uma vida cotidiana que incentiva algumas corporações, alguns grupos e algumas pessoas a praticarem o mau, a canalhice, a fraude, a incivilidade, a barbárie e a injustiça contra os mais fracos, contra os que não estão na condição de poder, ou que estão no poder defendendo a classe trabalhadora. Isso não pode seguir assim.

Eu vejo com preocupação todos os casos de injustiças contra instituições, contra cidadãos e contra os direitos coletivos e individuais do povo; vejo com preocupação casos como o deste simples cidadão que vos fala: após quase quatro anos de total e absoluta dedicação à causa que represento, como gestor eleito pelos trabalhadores associados de uma entidade de autogestão em saúde, estou terminando o ano vendo a construção de uma injustiça que ainda não posso divulgar por causa de ritos formais da instituição em que atuo. 

Como manter a fé na humanidade e nas instituições da sociedade perante tudo o que temos visto, vivido e combatido tanto nestes quatro anos de dedicação fiel aos direitos dos associados que represento na Cassi quanto de dedicação às causas dos trabalhadores e do Brasil para todos que ajudamos a construir? Eu respondo: enquanto estivermos vivos e tivermos uma causa a defender, as causas dos trabalhadores e do povo, não haverá desistência de nossa parte. A gente faz o que tem que ser feito. 

NATAL É NASCIMENTO, É ESPERANÇA!

Nas próximas semanas estaremos no ano de 2018, o ano que exigirá mudança de comportamento dos trabalhadores e do povo que está sofrendo as consequências da destruição de nosso país e dos nossos direitos por parte do pequeno grupo que tomou conta dos poderes do Estado Nacional.

Como Natal é Nascimento, é uma data que nos lembra do filho de Deus, que pregou a compaixão, a solidariedade, a divisão das riquezas da sociedade entre todos, o amor ao próximo, o perdão e a tolerância aos diferentes, enfim, que cada um de nós da classe trabalhadora receba o espírito desse Nascimento para lutarmos por um mundo que represente tudo isso que o filho de Deus pregou, independente da fé de cada um em alguma religião.

Eu preciso ter fé na humanidade porque sou ser humano, sou um ser social, preciso dos outros, preciso de um mundo onde possa viver em paz, com justiça, com oportunidades, com liberdade, com tolerância, com segurança, amor e fraternidade.

Feliz Natal a cada um(a) de vocês que nos leem e acompanham!

William Mendes
Cidadão brasileiro


*Post Scriptum:

Ao reler o texto pela manhã, vi que havia escrito a palavra errada. Quis dizer parcialidade e não imparcialidade como estava escrito. Corrijo e aviso em respeito às pessoas que já haviam lido a mensagem de Natal.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Diário e reflexões - 181217 (Vamos de mãos dadas porque as lutas serão duras)




"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo..."


(Início de Tabacaria, poema de Álvaro de Campos, um dos pseudônimos de Fernando Pessoa)

Para onde nós humanos caminhamos? Para onde estamos levando o destino do planeta Terra? Para que tem servido todo o conhecimento acumulado por nós ao longo de milhares de anos de desenvolvimento intelectual?

Quando olho para qualquer área do conhecimento humano e vejo que o que se conhece não tem quase que serventia alguma para as decisões pessoais, corporativas e coletivas, públicas ou privadas, bate uma decepção grande e quase dá um desencanto com o lutar por um mundo melhor, aproveitando-se as possibilidades advindas com as informações disponíveis a tod@s em qualquer canto do planeta.

Porém, apesar da tristeza e até raiva ao ver toda a merda ao nosso redor, sempre digo que desistir de lutar não é uma opção. Não falo isso por romantismo. É porque se ligarmos o botão do dane-se, do vou largar tudo e "pensar só em mim", aí é que lascou-se! Nós humanos não somos NADA sozinhos! Somos seres sociais, nós precisamos de nos relacionarmos com outros humanos.

O mundo tem mais de sete bilhões de humanos. Tem tecnologia para alimentar a todos e prover as mais diversas sociedades com uma vida plena para os cidadãos considerando as necessidades vitais, sociais e culturais. Mas boa parte dos humanos ainda sofre por carência absoluta de itens básicos para a existência e sofre violência de forma que a vida é tão ameaçada cotidianamente como no antigo "estado de natureza", antes de nos tornarmos humanos, quando éramos caça e fazíamos parte da cadeia alimentar de outros seres.

Por que os bilhões de humanos aceitam que alguns detenham todas as riquezas materiais e culturais, os meios de produção, de comunicação, de sobrevivência e que esses poucos detenham o poder político, seja por convencimento (política), seja por força?

Um estudioso e filósofo do século 19, Marx, nos alertava sobre os rumos que o capitalismo tenderia a tomar como algo característico de sua natureza: a concentração. Assim como não deveria ser normal algumas famílias e corporações deterem mais da metade da riqueza do mundo e do Brasil, não deveria ser aceitável a Disney comprar a 21th Century Fox. Não deveria ser normal um país do tamanho do Brasil ter 5 grandes bancos e no momento haver um projeto de eliminar os que são públicos em benefício dos banqueiros privados.

Como aceitar um país como o Brasil ter a Globo? Como aceitar que um juiz de primeira instância destrua um país que vinha se destacando no mundo após a crise internacional do subprime? Como suportar ver dezenas de milhões de humanos sem uma reação à altura dos ataques que eles estão sofrendo em TODOS os seus direitos por uns poucos, talvez milhares de asseclas e apaniguados da mesma estrutura que deu o golpe no país contra os 200 milhões de brasileiros?

Por vários motivos, respondo eu: por medo, por pusilanimidade para a luta, por preguiça, por manipulação e ferramentas ideológicas daqueles poucos que detêm tudo, pois eles pagam e compram os profissionais para dominar e manipular os zilhões de humanos de minha classe, a classe trabalhadora, aquela que não detém os meios e as riquezas e que precisa vender sua força de trabalho, seus corpos e mentes, para sobreviver neste mesmo mundo. Por vários dos humanos ligarem a chavinha do "dane-se" e falarem que não é com eles (sou imparcial, neutro, apolítico blá blá blá).

Que saco saber de tudo isso e se sentir impotente para mudar a realidade porque sozinhos não somos NADA.

É com esse conhecimento de que só a luta coletiva pode senão mudar a realidade perversa contra o meu lado, o da classe trabalhadora, pode ao menos organizar as pessoas para enfrentar melhor a exploração e o massacre contra essa nossa classe, que entrei para o movimento sindical em abril de 2002, na categoria bancária.

Neste final de ano e início de 2018 estou completando 16 anos de vida dedicada às lutas coletivas através de mandatos ou sindicais ou de representação em entidades de trabalhadores como a Cassi. Antes de abril de 2002, quando fui eleito pela primeira vez para representar meus colegas bancários no Sindicato, meu percurso era no movimento estudantil, contribuindo com meus pares para enfrentar os problemas que tínhamos para ter oportunidade de formação e capacitação para poder alcançar uma vida digna nas sociedades em que estamos inseridos.

A vida política é tão difícil quando se busca levar a sério os princípios e premissas da democracia representativa que se não tivermos uma estrutura física e psicológica que suporte pressões, assédios e intensos momentos de estresse, além de formação moral e ética, educação de berço e firmeza de propósito nos valores que pregamos e defendemos, não se aguenta muito ser um representante de pessoas. Eu comparo a intensidade do que vivi nestes mais de 15 anos como frentes de batalha de guerras reais.

Se eu olhar para trás, acho que tive muita resistência neste período de representação. Liderei períodos de longo estresse em que vi vários companheiros precisarem se recolher para se recuperarem do estrago físico e psicológico de nossas batalhas de lutas de classe. Eu me dedico muito ao que faço, ponho minha vida nas lutas e preparo-me fisicamente e mentalmente para defender as causas que represento. E mesmo assim, às vezes, dou algum colapso físico como dias atrás em que fiquei mal 3 dias. Mas deixo claro que devo muito a muita gente pelo apoio que sempre tenho nos momentos difíceis. Devo e agradeço a tod@s que nos dão ombro na hora dos enfrentamentos em nome das causas que defendemos.

Vem muita coisa por aí contra nós, nós brasileiros (o povo), nós classe trabalhadora (ativos e aposentados, que precisam entender que são "trabalhadores"), nós bancários do Banco do Brasil e as diversas entidades representativas e associativas, nós associados da Cassi e Conselhos de Usuários. Vem muita coisa difícil por aí.

Este cidadão que presta contas do que faz em seus mandatos de representação e que publica também suas opiniões e partilha informações em seus blogs de trabalho e cultura afirma:

- Não sou NADA sem o apoio das pessoas para quem atuo;
- Não sou NADA sem o apoio das entidades representativas com as quais nos relacionamos.

E digo o mesmo sobre a nossa Caixa de Assistência (Cassi):
- Não somos NADA sem unidade e disposição de luta coletiva.

Como diria o poeta Drummond, vamos de mãos dadas porque os tempos serão difíceis.

Eu sigo à disposição das lutas, pois sou das lutas; tenho lado, e o meu lado é o da classe trabalhadora.

William

domingo, 10 de dezembro de 2017

Na vida e nas lutas, desistir não é uma opção!



(atualizado em 11/12/17, às 13h)

Naruto Uzumaki, garoto órfão não se deixa abater
pelas adversidades da vida em momento algum.

Refeição Cultural

Está terminando o domingo. Estou em casa com a família, que bom! Momentos juntos não são comuns em minha atual jornada de lutas.

Não estou lendo literatura neste semestre com a frequência que gostaria porque minhas demandas no trabalho tomam conta de minha agenda praticamente em todos os dias do mês. Mas a dedicação é necessária e tudo bem, é por uma boa causa: a Cassi e os associados.

Neste sábado, trabalhei em casa até umas 19 horas. Estudei toda a pauta da reunião de Diretoria Executiva do início da semana. Teremos uma agenda bem cheia na segunda e terça-feira. Inclusive com reunião prévia das entidades representativas e mesa de prestação de contas sobre o Memorando de Entendimentos acordado entre o BB e os associados.


Três coisas que me levaram à reflexão neste fim de semana

Desde o ano passado, tenho visto alguma série ou anime com meu filho. Mesmo estando distantes, temos algo para vermos juntos e comentarmos. Tem sido bem legal isso.

Depois de assistir ao anime Death Note (ler comentários AQUI), começamos a ver agora Naruto. Meu filho conheceu a história do garoto ninja e seus amigos quando ele tinha uns dez ou onze anos. Diferente do Death Note, que contém 37 episódios, esse anime vai demorar muito tempo para vermos tudo, porque são centenas de episódios. Mas eu e minha esposa estamos indo bem, já chegamos ao 40.

Para dizer da impressão ou da mensagem que mais me chamou atenção até agora na história do garoto sem família, e que sofre com a forma como as pessoas de sua aldeia o tratam - com preconceito e discriminação - foi que ele não vive de chororô pelos cantos e não deixa que nada o impeça de olhar para a frente e seguir com determinação seu objetivo de ser o melhor ninja da aldeia. 

Apesar do garoto não ser um destaque na escola e na academia de artes marciais, suas atitudes perante a vida são algo a se pensar.


Um homem em situação de rua
e seus companheiros, seus animais.
Aí, entre o sábado e o domingo, fiquei muito pensativo ao observar uma pessoa em situação de rua, um sem-teto, que estacionou (com sua carroça) em frente do prédio onde moramos em Brasília no final da tarde de sábado e só foi embora no domingo pela manhã.

O homem chegou, arriou o seu cavalo, fixou a carroça na árvore e aos poucos fomos vendo seus amigos e companheiros. A cena chamou a nossa atenção. Além de seu cavalinho simples, ele tinha 3 cachorros, sendo um filhote em fase de adestramento, 3 galinhas e um gatinho filhote. Todos ficaram soltos ao redor dele e de sua carroça, brincando, ciscando, exceto o cachorro filhote, que corria atrás de quem passava perto, latindo e com intenção de brincar. Acho que alguns moradores não gostaram. Seu dono, mancando bastante, ia atrás dele e dizia "- vem com o papai". Mas, em momento algum, ele bateu nos seus animais. Quando anoiteceu, todos se recolheram dentro da carroça e, pela manhã, já haviam partido. 

Imaginem quantas pessoas em nosso mundo estão nessas condições. O que eles comeram? Como se viram diariamente? Quando começou a chover, todos ficaram quietinhos dentro da carroça. Todo ser humano tem direitos. Onde estão os dele?

Eu pensei muito a respeito e não concordo com o rumo que nosso país tomou após o Golpe de Estado, nem concordo com a forma como o mundo está hegemonizado pelo sistema e modelo capitalista. Outro mundo é necessário, com melhores condições de existência para todos e todas.

Em relação ao título desta reflexão, em que afirmo que desistir não é uma opção na vida ou nas lutas, esse homem que vimos por algumas horas está lutando, está sobrevivendo. Aliás, está cuidando de seus companheiros.

Por fim, neste domingo, fiz uma corrida que me deixou satisfeito. Ao longo deste ano que está terminando, tive muita dificuldade de correr com a regularidade que gostaria. Mas corri o possível. 

Agora, terminando o ano, entre novembro e dezembro, já consegui voltar a correr mais de 5k. Corri recentemente 6k, depois 7,5k, depois 8k (dias atrás) e hoje fui para o Eixão quase deserto, por causa das chuvas, e corri 9k. Foi muita concentração e fiquei feliz comigo mesmo. Sei que isso é bom para fortalecer não só minha resistência física e minha saúde, mas minha mente e minhas energias.

Fim do domingo, vamos pras lutas nesta segunda-feira.

William

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Instantes... Sozinho e refletindo em Brasília



A Brasília das flores
(não arranquei nenhuma delas, peguei todas no chão).

Refeição Cultural - Diário 081217

Noite de quinta e início de madrugada de sexta-feira. E então chegamos a dezembro. Estou em Brasília. É o meu quarto dezembro nesta cidade e região do país. Estou sozinho no silêncio de casa. Estou nos últimos meses de meu mandato.

Há quatro anos, naquele dezembro, estava começando meu trabalho aqui. Estava conhecendo Brasília. Agora, desde junho deste ano, olho com muita atenção cada momento da natureza brasiliense. Aqui, cada mês do ano tem suas cores e seus sons - as flores, os frutos, a seca, o verde, os pássaros, os insetos de temporada.

Depois de mais um dia de trabalho na Cassi, vim para casa e apesar do olho pesado e do cansaço, saí para correr um pouco, assim como fiz na quarta-feira à noite. 

Foi no final daquele primeiro ano aqui na capital do país que decidi voltar a correr. Tinha que fazer algo que me mantivesse em condição física e mental para enfrentar o estresse ininterrupto de ser gestor eleito da entidade de saúde dos trabalhadores que represento.

Entrei o mês de dezembro com o coração e mente repletos de sentimentos em relação ao trabalho que exerci nestes anos como gestor da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. Definitivamente, sou uma pessoa muito intensa em meu fazer, em meu viver algo.

Eu não posso dizer que passou rápido esse período de lutas em defesa dos direitos em saúde dos trabalhadores associados da Cassi, em defesa da própria Cassi e de seu modelo assistencial, e por tabela, em defesa do banco público para o qual trabalho. 

A minha dedicação foi tão grande e de maneira tão integral que eu estaria mentindo se dissesse que meu corpo e mente não estão cansados. Mas a disposição de lutar pela Cassi e o que ela significa é muito maior que o cansaço.

Além disso, de estar cansado pela jornada, mas com disposição de luta, posso dizer com franqueza que há um sentimento de amor e pertencimento no que fiz nos últimos anos pela Cassi e pelos trabalhadores que foi diferente de tudo o que fiz em toda a minha vida de lutas, e eu trabalho e luto desde uns 11 ou 12 anos de idade - já são mais de 35 anos vendendo minha força de trabalho para o sistema capitalista, sendo muitos anos sem carteira assinada e em trabalhos braçais.

Foram tão difíceis as batalhas que empreendi, e tantas delas são invisíveis para os associados que representamos, mas estou terminando o ano de 2017 com uma leveza de consciência que me permite ter espaço em meu coração para o sentimento de amor, de carinho, de solidariedade, e de paciência para tentar transmitir o inverso do que está acontecendo nas relações humanas em nosso cotidiano de um mundo em crise - os valores do momento são o ódio, a intolerância, a hipocrisia e o mau-caratismo.

Comecei a diminuir meu ódio do mundo e das coisas injustas do mundo quando entrei para o movimento sindical. Lá eu mudei como pessoa, melhorei. 

Apesar de a todo instante ser tentado a sentir ódio ao ver o que estão fazendo com o povo que represento no Brasil, minha vivência de lutas na Cassi me resgata dos maus sentimentos e me dá uma sensação de esperança nas coisas boas, porque o que fazemos na Cassi é algo do bem para centenas de milhares de participantes. E tem coisas para corrigir e cometemos erros como entidade e como pessoas, mas pertencer ao sistema de saúde Cassi dá sentido ao esforço que fazemos em prol da coletividade.

É isso que estou sentindo neste momento de silêncio aqui em Brasília. Tenho muito amor aos meus entes queridos. Tenho amor ao que faço e ao que significa o nosso trabalho na Caixa de Assistência. Tenho uma gratidão grande a tod@s que se dedicam à Cassi.

William


Post Scriptum - e como não sentir raiva e indignação com o fascismo que toma conta do meu país, do meu mundo? O golpe perpetrado pelos empresários da comunicação monopolizada (PIG) e demais representantes da casa-grande e seus partidos políticos, com apoio estratégico dos Estados Unidos, segue destruindo os direitos sociais, a cidadania, a civilidade e a dignidade do povo brasileiro. Se eu não estivesse com um foco central na minha missão Cassi, eu não sei como estaria lidando com tanta injustiça e maldade contra o meu país e o meu povo. Felizmente tive a Cassi como causa nestes anos de destruição de meu país.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Contos de Machado de Assis - Brasil pós Golpe caminha ao passado?





Refeição Cultural

Neste final de semana tive vontade de ler Machado de Assis. Peguei o livro de coletâneas de contos do autor em seleção organizada por John Gledson.

Foquei em contos publicados pelo Mestre do Cosme Velho em jornais e revistas em 1883, depois reunidos no livro Histórias Sem Data (1884).


A IGREJA DO DIABO

Reli o conto "A igreja do Diabo", que é muito impactante, até por imaginarmos a novidade do tema ao ser publicado na capital do Império naquele ano.

Afirma o Diabo para Deus, ao contar a novidade de criar sua igreja:

"- Só agora concluí uma observação, começada desde alguns séculos, e é que as virtudes, filhas do céu, são em grande número comparáveis a rainhas, cujo manto de veludo rematasse em franjas de algodão. Ora, eu proponho-me a puxá-las por essa franja, e trazê-las todas para minha igreja; atrás delas virão as de seda pura..."

Uma das estratégias do Diabo foi desqualificar as virtudes conhecidas e reabilitar outras como a soberba, a luxúria, a preguiça, a avareza - "mãe da economia" -, gula etc.

"Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento..."

Defendeu a venalidade, porque se podemos vender coisas materiais que são nossas, têm registros e posse, que dirá sobre vender nossa palavra, nossa opinião, nosso caráter... nossa consciência é mais nossa que tudo, então podemos vendê-la.

E a solidariedade, então? Deveria se cortada de todo!

"Para rematar a obra, entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda a solidariedade humana. Com efeito, o amor do próximo era um obstáculo grave à nova instituição..."


COMENTÁRIO POLÍTICO: lembrei-me na hora do debate do governo Temer e seus asseclas nos ministérios e secretarias que pretendem impor mudanças nas estatais federais (minutas CGPAR) sobre os planos de saúde dos seus trabalhadores - as autogestões - onde a proposta é cortar parte da contribuição do governo e estabelecer regras que acabam com a solidariedade dos planos, inclusive onerando os mais idosos, inviabilizando a saúde dos funcionários por não conseguirem pagar. - ESSA PROPOSTA É DO DIABO, HEIM!


CONTOS DE ONTEM QUE PODERÃO RETRATAR NOSSO AMANHÃ PÓS GOLPE NO BRASIL

Outros contos que li neste fim de semana foram "Cantiga de esponsais", "Singular ocorrência", "Último capítulo", "Galeria póstuma" e "Capítulo dos chapéus".

Eu fico lendo o grande observador das personagens humanas no século XIX, nosso Machado de Assis, e pensando sobre nossa sociedade atual.

A destruição que vem ocorrendo em nosso país após o Golpe de Estado vai nos levar a uma sociedade semelhante àquela que Machado descreve no século XIX. Uma sociedade escravocrata, branca, machista, misógina, do preconceito ao diferente, autoritária, um Estado policial contra o povo, uma sociedade feita para os poucos detentores de tudo.

Os povos miseráveis terão que se virar para serem agregados de alguma casa-grande, um senhor da elite, ou fazer qualquer coisa por alguns trocados, num verdadeiro salve-se-quem-puder.

O que é pior, com uma vida cotidiana (ideologia dominante) que "normatiza" e torna "normal" toda a miséria que se vê. Ontem e hoje, temos os meios de comunicação e a estrutura da burocracia do Estado, que colocam ordem nas revoltas - imprensa, polícia, representação "política" censitária, judiciário etc.

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"O dia não acabou pior; e a noite suportou-a ele bem, não assim o preto, que mal pôde dormir duas horas..."

"Em músicas! justamente esta palavra do médico deu ao mestre um pensamento. Logo que ficou só, com o escravo, abriu a gaveta..."

("Cantiga de esponsais")
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As condições normais do século XIX batem às portas do século XXI do Brasil. Quando não são os negros, os pobres e não detentores das posses, são as mulheres que podem regredir séculos de avanços em busca de igualdades de oportunidades e tratamentos.

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"Rufina (permitam-me esta figuração cromática) não tinha a alma negra de lady Macbeth, nem a vermelha de Cleópatra, nem a azul de Julieta, nem a alva de Beatriz, mas a cinzenta e apagada como a multidão dos seres humanos. Era boa por apatia, fiel sem virtude, amiga sem ternura nem eleição. Um anjo a levaria ao céu, um diabo ao inferno, sem esforço com ambos os casos, e sem que, no primeiro, lhe coubesse a ela nenhuma glória, nem o menor desdouro no segundo. Era a passividade do sonâmbulo. Não tinha vaidades. O pai armou-me o casamento para ter um genro doutor; ela, não; aceitou-me como aceitaria um sacristão, um magistrado, um general, um empregado público, um alferes, e não por impaciência de casar, mas por obediência à família, e, até certo ponto, para fazer como as outras. Usavam-se maridos; ela queria usar também o seu. Nada mais antipático à minha própria natureza; mas estava casado."

("Último capítulo")
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Enfim, será que é assim mesmo que as coisas vão ficar no Brasil? 

Um país que após avançar em todos os quesitos sociais por mais de uma década sob governos do Partido dos Trabalhadores, regride no pós Golpe séculos de lutas e conquistas, e regride para o conjunto do povo em benefício de alguns seres humanos, que para serem derrotados (porque são humanos) só é necessário que sejam retirados do poder que tomaram por golpe.

Será que vai ficar assim mesmo como os golpistas estão deixando nosso Brasil? Desfazendo ele todo para nunca mais se recuperar?

Abraços,

William

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Diário e reflexões - 301117 (Alguns números de um mês de lutas)





Refeição Cultural

Novembro - Números da agenda de lutas de um cidadão brasileiro, bancário, gestor eleito de saúde, pai de família, blogueiro, militante social por um mundo mais justo e solidário, sem exploração de alguns humanos sobre todos os outros bilhões de humanos.


Hoje termina o mês de novembro de 2017. Hoje completo 3 anos e meio de mandato como Diretor de Saúde da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, eleito pelos trabalhadores associados. 

Tenho revisado minhas postagens nos blogs e com isso vejo nosso percurso de trabalho desde 2014 - foi o mais intenso de minha vida! Basta olhar os números deste mês e dá para se ter uma ideia do quanto nossa missão foi intensa e focada em nossas tarefas. Mas não podia ser de outro jeito.

Neste mês, meus compromissos de trabalho e representação como gestor da área de saúde da Cassi me levaram a algumas bases sociais. 

Fui a Londrina (PR) e tive reuniões com os funcionários, com os participantes associados e com as lideranças do Sindicato. Fui ao Rio de Janeiro e conversamos com os funcionários da Cassi e os participantes de nossa autogestão. Em São Paulo capital idem, estivemos com centenas de associados da Cassi e almocei com a equipe de gestores da Unidade.

Voltei ao Paraná, desta vez em Curitiba, para dois dias de agenda de gestão e Conferência de Saúde, assim como as Conferências de SP e RJ.

Fui a São Paulo mais duas vezes, para eventos que debateram a nossa Cassi. Na capital, estive na Fetec SP reunido com representantes de sindicados do Estado (a convite das entidades). Fui a Ribeirão Preto para conversar com associados e participantes da Cassi, a convite das entidades de aposentados e associações.

Ontem, me reuni com os conselheiros de usuários da Cassi DF. 

Ou seja, neste mês, tive o privilégio de prestar contas, tirar dúvidas, ouvir lideranças e associados de capitais e interiores de várias Unidades da Federação - SP, RJ, PR, DF.

Teve semana em que dormi menos de 20 horas, entre segunda e sexta. 

Na parte de prestação de contas, informação, formação e comunicação, fizemos 10 matérias no Blog Categoria Bancária (acessar AQUI), o boletim do mês Prestando Contas Cassi (ler AQUI) e estou fechando novembro com 6 textos neste Blog.

Além dessa forma de fazer o mandato de representação, com presença na base social e prestando contas o tempo todo, tenho uma agenda pesada na rotina da governança.

Em novembro, tivemos 4 reuniões de Diretoria Executiva, onde estudamos e apreciamos 101 documentos técnicos com centenas de páginas e anexos. Tivemos oficina de trabalho da direção da Cassi com a consultoria contratada após o Acordo entre BB e entidades representativas do funcionalismo. E estamos com encontros de capacitação de gestores das unidades Cassi dos Estados e DF.

Eu juro pra vocês que essa agenda de novembro representa exatamente o que eu fiz ao longo desses 3 anos e meio. É só ler nas postagens dos dois blogs que mantenho.


E o cidadão?

Bom, como eu havia refletido no início do segundo semestre, não foi possível ler literatura e livros neste período, como havia feito no semestre anterior. Só alguns capítulos de alguns livros. O tempo livre que tinha em finais de semana estou usando para trabalhar nos blogs e reforçar a nossa memória das lutas vividas.

O saldo do afago familiar possível foi ter visto em novembro meus pais e familiares de Uberlândia em um fim de semana. Também só vi meu filho em um fim de semana. Vi minha esposa menos da metade do mês.

Para compensar e manter algo junto com meu filho querido, que estuda em outro Estado (SP), estamos assistindo juntos um anime (Naruto) em algumas noites e dias da semana. Enquanto eu e esposa conhecemos a saga do garoto ninja, meu filho mata saudades da infância. Chegamos a assistir um episódio eu num hotel (PR), ele na cidade que estuda e minha esposa em Brasília. Mas dessa forma (distantes) já vimos 31 episódios. Não basta ser pai, tem que participar...

Por fim, neste mês de novembro completaram 3 anos que voltei a correr com regularidade. Lá em novembro de 2014 vi que se não voltasse para as corridas, eu teria sérias consequências em minha saúde e na minha vida estressada e de lutas (ler postagem AQUI).

Ao correr hoje, completei 50k em 10 corridas no mês. Sei que isso é fundamental para salvar a minha vida e ter energia para suportar tudo que enfrento em um mês de lutas. Me virei pra correr:

6k no Eixão (dia 2), 4k DF (dia 4), 7k no Eixão (5), 7,5k na AABB SP (12), 2k no Pq. Continental SP (13), 2k e pedal no Eixão (15), 4k DF (17), 6k no Eixão (19), 8k no Pq. do Sabiá MG (26) e 4k DF (30).


O mundo está desabando para a classe trabalhadora à qual pertenço e represento após o Golpe de Estado em nosso querido Brasil. Mas desistir não é uma opção, por mais triste que estejamos ao longo de nossa jornada e existência.

Estou firme nas lutas!

William

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Artigo - Desastre anunciado, por Mino Carta


Apresentação do Blog:

Olá prezad@s leitores amigos.

Sou um admirador do jornalista Mino Carta, um dos grandes intelectuais da atualidade. Tenho a mesma leitura que ele em relação ao cenário colocado para nós quando se pensa perspectivas de futuro a partir do momento atual, da tragédia vivida por nós com mais este golpe de Estado no Brasil.

A pergunta que martela em meus miolos é a de sempre: por que o povo não reage, já que são suas vidas mesmas que são atingidas até a morte com as consequências dos abusos da casa-grande, o 1% que fode os 99%, por quê?

Boa leitura, William

Diante desta imagem, o leitor tire suas conclusões.
Foto: Ricardo Stuckert.

O Brasil ficou como a casa-grande o quer e nós, inertes, assistiremos ao golpe dentro do golpe

Com as quadrilhas no poder é impossível negociar, e peço perdão pela obviedade. Outra é a seguinte: não há saída afora um protesto popular maciço e destemido, como, em situações similares, se deu em outros países. Dói-me pronunciar a terceira obviedade: não há como esperar pela revolta do povo espezinhado no país da casa-grande e da senzala.

Creio firmemente que, de volta à Presidência, Lula saberia recolocar o País na rota certa. Está muito além de claro, contudo, que o objetivo principal do golpe de 2016 é alijar o ex-presidente da próxima etapa eleitoral.

A considerar o livre trânsito dos golpistas de exceção em exceção, não consigo imaginar que o tribunal de segunda instância de Porto Alegre deixe de confirmar a condenação da Corte do Santo Ofício de Curitiba.

De todo modo, das duas uma: ou as quadrilhas, nas quais incluo a mídia nativa e seus barões, encontram uma solução “legal” pelo retoque fatal da Constituição, de sorte a permitir a eleição que lhes convém, ou não haverá o pleito de 2018. Em um caso ou no outro, será golpe dentro do golpe. Temo ter deitado no papel a quarta obviedade.

Confesso excluir a possibilidade de que, mesmo neste momento, o povo lesado se disponha a reagir. Às vezes, ocorre-me pensar que o próprio Lula duvida, a despeito da sua extraordinária capacidade de dirigir-se aos desvalidos, à maioria humilhada e ofendida.

Ele sabe, tenho certeza, que uma coisa é convocar a massa para o voto, ou para uma festa sem riscos (e a massa é muito festeira), e outra é chamá-la ao confronto. Três séculos e meio de escravidão pesam na balança, mesmo porque a casa-grande e a senzala continuam de pé.

Os donos da mansão senhorial mudaram com o tempo, dos latifundiários à corporação financeira, a passar sempre pelo estamento burocrático, mas foram constantes e eficazes ao se manterem no poder, graças também à chibata que o povo teme até hoje. Faltou a reação capaz de ameaçá-los e manchar de sangue as calçadas. Ao sinal do mais tênue risco, deu-se o golpe de Estado, pontual e inexorável.

A nossa trajetória histórica explica. Não houve uma guerra de independência salutar, por mais sangrenta, na formação de muitas nações mundo afora. A nossa resultou de uma briga interna na Corte portuguesa e o povo não percebeu ter deixado de habitar uma colônia.

Nossos heróis não se confundem com os pais fundadores dos Estados Unidos, ou com nobres e desassombradas figuras latino-americanas, como San Martín, Bolívar, O’Higgins. Nas nossas praças galopa em bronze o Duque de Caxias, comandante do genocídio paraguaio no século XIX.

Os golpes por aqui acontecem sem conflito. A Argentina condenou torturadores e seus mandantes, nós perdoamos, a ponto de termos viadutos e galerias com o nome de alguns deles, sem contar a patética Comissão da Verdade que, com o beneplácito do STF, aceitou como legítima uma lei da anistia imposta pela ditadura.

Como se vê, somos bastante peculiares, entregues a um desequilíbrio social que nos coloca entre os países mais atrasados do mundo e nos incapacita à prática da democracia para realizar às vezes aquela sem povo, objetivo da casa-grande.

A situação atual, após um golpe perpetrado em admirável sintonia pelos próprios poderes da República, pela mídia e setores da Polícia Federal, exibe o resultado inevitável da história do País. De certa maneira, temos o que merecemos ao viver resignados nesta nossa singular Idade Média.

Se é impossível negociar com as quadrilhas, a vontade da casa-grande será feita e o Brasil terá a face que lhe compete ao sabor de um desastre anunciado. Inertes, em clangoroso silêncio, seremos espectadores do golpe dentro do golpe.

Receio ter pronunciado a sexta obviedade, ululante, como diria Nelson Rodrigues, aquele que me punha a gargalhar ao ler a Última Hora no bonde vazio, de volta para casa depois da aula noturna da Faculdade de Direito, para surpresa do cobrador e do motorneiro.



Fonte: Mino Carta, de CartaCapital.