domingo, 8 de abril de 2018

Longa caminhada até a liberdade, do povo sul-africano e dos brasileiros



Líderes e biografias que nos inspiram a lutar
pela liberdade do povo.

Refeição Cultural

     "Quando recebi meu banimento, a conferência do Transvaal do CNA seria realizada no mês seguinte, e eu já havia terminado o rascunho do meu discurso presidencial. Ele foi lido para os participantes da conferência por Andrew Kunene, membro da executiva. Nesse discurso, que subsequentemente tornou-se conhecido como "A Caminhada Difícil para a Liberdade", uma frase, retirada de Jawaharlal Nehru, dizia que as massas tinham que ficar preparadas para novas formas de luta política. As novas leis e táticas do governo tornaram as antigas formas de protesto de massas - reuniões públicas, declarações à imprensa, ficar em casa - extremamente perigosas e autodestrutivas (...) 'Esses desdobramentos', escrevi, 'exigem o desenvolvimento de uma nova forma de luta política. Os velhos métodos', eu disse, eram agora 'suicidas'.
     'O povo oprimido e os opressores estão em desavença. O dia do ajuste de contas entre as forças da liberdade e as reacionárias não está muito distante. Não tenho a menor dúvida de que quando esse dia chegar a verdade e a justiça prevalecerão... Os sentimentos do povo oprimido nunca foram tão amargos. A situação extremamente difícil do povo o obriga a resistir até a morte contra as políticas nojentas dos gângsteres que dominam o nosso país. A derrubada da opressão tem sido aprovada pela humanidade e é a aspiração mais alta de todos os homens livres" (pág. 201, Longa Caminhada até a Liberdade", Nelson Mandela)


Não estou com muito ânimo para escrever em face dos últimos acontecimentos. No entanto, ter um blog me fez ter uma disciplina intelectual importante na última década. Há que se escrever, que refletir, que estudar, que compartilhar sentimentos e opiniões, porque estamos aqui.

Tenho lido lentamente a história de Nelson Mandela e da luta pela libertação de seu povo na África do Sul do regime racial da minoria branca - o Apartheid. Comecei a ler o livro no início de meu mandato na Cassi, quando ganhei ele de presente de minha companheira, e depois parei a leitura pelo excesso de trabalho. Agora retomei a leitura e ao mesmo tempo que avanço na história cronológica do livro, fico voltando ao início da vida de Mandela, do seu povo e do regime racial por parte dos africânderes.

Durante os últimos anos, registrei neste blog minhas impressões e comentários a respeito da ascensão do ódio e do fascismo no Brasil, processo desenvolvido como estratégia por parte de um segmento da sociedade, o segmento da minoria que domina este país há séculos, uma elite canalha e lesa-pátria que tem ódio do povo e das coisas do Brasil, da brasilidade, de tudo que represente o nacional e a pátria brasileira. Um pequeno segmento que se referencia nos colonizadores e imperialistas estrangeiros. Um segmento que nunca amou o país e seu povo.

Essa minoria oriunda do processo histórico brasileiro, minoria oriunda das casas-grandes, é a responsável por mais um golpe contra o povo brasileiro, um golpe contra a frágil democracia que teve instantes de vida ao longo de mais de um século de regime dito republicano. Essa minoria domina toda a estrutura de poder em nosso país, quando não com seus próprios membros e descendentes, com lacaios que se locupletam das benesses recebidas para ajudar a controlar a exploração e a manipulação do povo brasileiro, a imensa maioria de gente sem posses ou com pequenas posses.

Em dois anos de Golpe de Estado no Brasil, golpe organizado por uma casta privilegiada que inclui membros dos três poderes do Estado e donos de corporações, foram solapados direitos sociais, o patrimônio público e as principais fontes de emprego formal no país. Os empresários golpistas dos meios de comunicação envenenaram o povo brasileiro com o ódio e a intolerância, bases para qualquer regime fascista e totalitário.

Um sistema totalitário e cínico de comunicação empresarial passou a mandar no país. Define quem deve ser livre, quem deve ser preso; quem é bom, quem é ruim; quem é do bem, quem é do mal; qual política deve ser implantada, qual deve ser rejeitada. Vivemos uma ditadura de poucos donos de tudo (o 1%). A qualquer momento, qualquer pessoa e qualquer instituição pode ser a nova escolhida para a execração pública e moral de sua reputação e de sua vida e história. Basta não concordar com os donos do poder ou estar do lado com menos poder de impor a notícia ou as mentiras vendidas como verdade (fake news).

Ao ler a história do povo sul-africano e de Nelson Mandela, na longa caminhada até a liberdade e por um país que fosse para todos - os 3,5 milhões de africânderes e os 7,5 milhões de negros, indianos e mestiços -, ao refletir sobre a história do povo brasileiro e de seus bons momentos (poucos) e maus momentos por séculos, vejo que algo terá que acontecer para alterar esses tempos sombrios que entramos após o golpe de 2016. O Brasil e o povo brasileiro não resistirão por muito tempo se algo não for feito. O país pode não se recuperar jamais, a exemplo do que ocorreu com o México, que praticamente se tornou um país inexpressivo, após sua destruição por parte dos Estados Unidos.

Eu completei quase meio século de existência vivendo a infância na ditadura civil-militar, a adolescência no período neoliberal de destruição de nosso país, uma parte adulta vendo a esperança brilhar para o povo e avanços históricos acontecerem durante três mandatos presidenciais do Partido dos Trabalhadores e cheguei aos 49 anos nesta semana vendo a prisão política de um homem inocente condenado sem crimes, sem provas, para que ele não seja candidato à presidência da república do Brasil, Lula da Silva.

A leitura da história de Mandela e de seu povo, contada por ele mesmo, pode servir de referência para o nosso povo. No que ela tem de bom e de ruim. Não acho razoável que Lula siga preso como aconteceu com Mandela. Termino deixando mais uma reflexão de Nelson Mandela, nos anos 50, quando os nacionalistas africânderes recrudesceram a violência e as injustiças contra a maioria do povo africano.


É O OPRESSOR QUE DEFINE A NATUREZA DA LUTA

"A lição que aprendi com a campanha (contra a remoção do povo negro de Sophiatown em 1955) foi que no final nós não tínhamos alternativa alguma senão resistência armada e violenta. Repetidamente, havíamos utilizado todas as armas de não violência em nosso arsenal - discursos, delegações, ameaças, marchas, greves, ficar em casa, prisões voluntárias - tudo em vão, pois tudo o que fazíamos era respondido com mão de ferro. Um guerreiro pela liberdade aprende da maneira mais difícil que é o opressor quem define a natureza da luta, e ao oprimido frequentemente não se deixa recurso algum senão utilizar métodos que espelham aqueles do opressor. Em certo momento, só é possível lutar contra o fogo usando fogo" (pág. 206. Longa Caminhada até a Liberdade, Nelson Mandela)



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