domingo, 8 de setembro de 2019

Leitura: Espectros (1919) - Cecília Meireles





Refeição Cultural

Ecce homo!

Cingem-lhe a fronte pálida e serena
Espinhos. Tem na face o laivo imundo
De escarros de judeus. No olhar profundo
Bailam trêmulas lágrimas de pena

E dó, pelas misérias deste mundo.
Pilatos, vendo-O assim, à turba acena:
- Ecce homo! - lhe diz. Mas a atra cena
ao povo não comove, furibundo.

Do sangue de Jesus em voraz sede,
Tem-lhe da carne fome, a plebe ignara!
E sobre o homem se lança, - como cães, -

Que de peixes a Pedro enchera a rede,
Nas bodas a água em vinho transformara,
Multiplicara, no deserto, os pães!...


O primeiro livro da poetisa Cecília Meireles é composto por dezessete sonetos. A primeira edição de 1919 contém ainda um prefácio de Alfredo Gomes, texto de linguagem um pouco rebuscada para nossos tempos, mas texto de apresentação muito interessante.

Estou cursando uma disciplina na graduação da Letras na USP - Teoria Literária II - cujo programa do semestre é "Leitura Analítica, Leitura da Lírica", aulas com o professor Ariovaldo Vidal. O curso tem por objetivo central o exercício da leitura detalhada do poema, compreendendo o rigor da forma literária em alguns nomes da poesia brasileira moderna.

Vamos ler poemas de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Cecília Meireles. Já tivemos aulas com o professor analisando conosco o poema "Encomenda" do livro Vaga Música (1942) de Cecília Meireles. As aulas foram muito esclarecedoras e após cada aula lemos poesia com outros olhos.

Minha companheira me deu de presente uma edição das poesias completas de Cecília Meireles, da Editora Global, 2017, com apresentação de Alberto da Costa e Silva e coordenação editorial de André Seffrin. Pretendo degustar desse presente lendo todos os livros da poetisa.

Como um adulto de cinquenta anos que não gostava de poesia até quase os trinta, por pura ignorância e falta de oportunidade e referências, garanto a vocês que ler poesia é algo maravilhoso, é uma experiência modificadora para aquel@ que lê e pode nos tornar pessoas melhores e mais preparadas para a dura existência humana. O que nos diferencia dos demais animais é a arte, a linguagem.

Leiam poesia!

William

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