sexta-feira, 11 de abril de 2008

La Invención del Quijote - Francisco Ayala


Dom Quixote e Sancho Pança,
ilustração de Gustave Doré.


Li hoje o estudo de Francisco Ayala sobre a invenção do 'Quixote'. É muito esclarecedor e nos situa no contexto histórico.

O texto nos fala um pouco sobre utilizar mitos em produções literárias como, por exemplo, o mito de Dom Juan, Fausto, os heróis de Homero etc e, neste caso de Cervantes, na criação do próprio mito.

Uma das reflexões que mais gostei é sobre a recepção da obra por parte do público em relação ao próprio contexto histórico. Ler Dom Quixote de La Mancha atualmente não é o mesmo que lê-lo quatro séculos atrás. Aliás, é sobre isso que nos alerta Ayala: ocorre na leitura atual o inverso do que ocorria naquela época.

Em 1605, os nossos protagonistas eram o que havia de novo e estranho para os leitores, enquanto os personagens secundários e o pano de fundo eram o cotidiano normal. Hoje, a história apresenta os protagonistas como seres conhecidos e ao menos já identificados, justamente os estranhos personagens Dom Quixote e Sancho Pança. Ao passo que todo o pano de fundo da história nos é totalmente estranho e, muitas vezes, inimaginável.


"Con esto llegó a invertirse la perspectiva del lector: aquello que para el de 1605 era extraño y estrambótico -a saber, don Quijote mismo, con su complemento, Sancho-, le resulta familiar al de hoy; lo que para éste es ya ajeno -el mundo cervantesco-, era para aquél inmediato y cotidiano."


Outra discussão muito interessante é sobre a história de que Cervantes seria um "gênio leigo", alguém que não tivesse consciência da obra que estava fazendo (um dos importantes críticos literários dessa tese é Miguel de Unamuno). Ayala nos diz que isso é outra teoria que não se sustenta.


"...pero es indudable que él tenía plena consciencia del sentido de su obra; consciencia profunda y entrañada, ya que ese sentido, siendo el de la situación cultural de conjunto, el de la conexión histórica, era también el de su propia vida individual."


Finalizando, há uma separação bem clara em relação a receptividade do primeiro volume em 1605 e o segundo em 1615. Aquele traz o espanto e a inovação e cria um mito, já este circula em meio a um público que conhece os personagens e está familiarizado com eles.

Dom Quixote é uma das obras mais conhecidas no mundo e uma das menos lidas. Isso é um pecado.

- Leiam a obra ao invés de ficarem somente ouvindo falar sobre ela.


Fonte bibliográfica do texto de Ayala:

CERVANTES, Miguel de. 
Don Quijote de La Mancha. Edición del IV Centenario, Editora Alfaguara, 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário