(publiquei o texto em 24.10.06)
Comentário sobre a carta do tal trabalhador ao presidente
Eu já conhecia o texto (logo abaixo) do tal trabalhador que propõe ficar com 27,5% do salário dele e o governo ficar com os 72,5% restante, que confesso ser interessante, mas queria fazer alguns comentários.
Um dos maiores problemas tributários do país tem que ver com o tipo de tributação que predomina em nossa legislação.
Do total da arrecadação tributária brasileira, ou seja, 37,37% do PIB em 2005 (PIB é toda a riqueza produzida pelo país), cerca de 60% correspondem a impostos indiretos, que incidem sobre o comércio de bens e serviços e que, portanto, quem paga a conta é o consumidor, pobre ou rico.
O governo Lula bem que tentou no início do mandato fazer uma reforma tributária, porém, com o congresso que tivemos (e que teremos novamente) é muito difícil, pois nenhum Estado ou grupamento ali representado quer ceder suas receitas e nem ser tributado.
Vale lembrar que quando nós sugerimos para as pessoas votarem em candidatos de esquerda ou partidos de esquerda para os parlamentos federal, estadual e municipal é para que haja correlação de forças nas votações dos projetos que beneficiam o povo versus os projetos que beneficiam os ricos, os empresários etc. Em 2007 teremos novamente uma câmara e um senado onde a grande maioria dos eleitos representam a elite.
O governo Lula tentou votar o imposto sobre grandes fortunas (citado na constituição desde 1988) e não foi possível.
Agora convenhamos: o tal cidadão que ganha acima de R$ 2512,08 (faixa de tributação da tabela do IR para 27,5% com redutor de R$ 502,58) está fazendo um belo exercício de retórica.
Pergunte se ele topa inverter a tributação brasileira? Pergunte se aceita diminuir a tributação sobre o consumo e aumentar a tributação sobre a renda e os bens de capital? Porque do jeito que está o Brasil hoje, cidadãos que ganham na faixa acima de 10 salários mínimos, normalmente, têm plano de saúde pago pela empresa (ou subsidiado por ela), seus filhos estão nas poucas vagas das universidades públicas e ainda conseguem fazer um belo malabarismo na declaração anual do IR onde fazem a mágica de pagar alguns reais, mesmo tendo vários imóveis, carros importados, aplicações financeiras etc.
Aqui é importante lembrar que a imensa maioria do povo brasileiro – cerca de 80% - tem renda inferior aos R$ 2512,08 tributado a 27,5% pelo imposto de renda.
Para finalizar o comentário, penso ser importante lembrar que o aumento da carga tributária brasileira tem o seguinte histórico recente:
2 governos FHC: aumentou de cerca de 23% para 35,5%
1 governo LULA: aumentou de 35,5 para 37,37%
Ou seja: a carga tributária subiu 54,3% no (des)governo do PSDB/PFL, enquanto no governo LULA (PT/PCdoB) aumentou 5,26%.
A grande diferença entre os governos foi com relação ao bom uso da arrecadação pública, pois no governo atual a pobreza caiu em quase 20%, as empresas públicas que sobraram do desmonte do Estado feito pela tucanagem são rentáveis e o lucro é reinvestido no Brasil e mesmo priorizando as políticas sociais, as empresas brasileiras públicas e privadas tiveram os melhores resultados dos últimos 20 anos, ou seja, o governo LULA foi bom tanto para o povo, quanto para a chamada classe média alta (apesar do preconceito da mesma para com o metalúrgico-presidente).
É isto,
Abraços a todo(a)s,
William Mendes (bancário, aluno de letras da Usp, sindicalista)
ANEXO:
CARTA AO PRESIDENTE
O negócio é repassar esse e-mail a 110.000.000 de eleitores. Duvido que a coisa não mude!!!!
Caro Sr. Presidente da República Federativa do Brasil.
Venho por meio desta comunicação manifestar meu total apoio ao seu esforço de modernização do nosso país. Como cidadão comum, não tenho muito mais a oferecer além do meu trabalho, mas já que o tema da moda é Reforma Tributária, percebi que posso definitivamente contribuir mais.
Vou explicar: Na atual legislação, pago na fonte 27,5% do meu salário. Como pode ver, sou um brasileiro afortunado. Sou obrigado a concordar que é pouco dinheiro para o governo fazer tudo aquilo que promete ao cidadão em tempo de campanha eleitoral. Mesmo juntando ao valor pago por dezenas de milhões de assalariados! Minha sugestão é invertermos os percentuais. A partir do próximo mês autorizo o Governo a ficar com 72,5% do meu salário. Portanto, eu receberia mensalmente apenas 27,5% do resultado do meu Trabalho mensal.
Funcionaria assim: Eu fico com 27,5% limpinhos, sem qualquer ônus. O Governo fica com 72,5% e leva as contas de:
-Escola,
-Convênio médico,
-Despesas com dentista,
-Remédios,
-Materiais escolares,
-Condomínio,
-Água,
-Luz,
-Telefone,
-Energia,
-Supermercado,
-Gasolina,
-Vestuário,
-Lazer,
-Pedágios,
-Cultura,
-CPMF,
-IPVA,
-IPTU,
-ISS,
-ICMS,
-IPI,
-PIS,
-COFINS,
-Segurança,
-Previdência privada e qualquer taxa extra que por ventura seja repentinamente criada por qualquer dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Um abraço Sr. Presidente e muito boa sorte, do fundo do meu coração!
Ass: Um trabalhador que já não mais sabe o que fazer para conseguir sobreviver com dignidade.
PS: Podemos até negociar o percentual!!!
Agora vejam só a farra do Congresso Nacional:
Salário.......................................R$ 12 mil;
Auxílio-moradia................................R$ 3 mil;
Verba para despesas comprovadas.....R$ 7 mil;
Verba para assessores.......................R$ 3,8 mil;
Para 'trabalharem' no recesso...........R$ 25,4 mil;
Verba de gabinete mensal..................R$ 35 mil;
Transporte: Passagens aéreas de ida e volta a Brasília/mês;
Direito a "contratar" 20 servidores para seu gabinete;
13º e 14º salários, no fim e no início de cada ano legislativo e;
90 dias de férias anuais e folga remunerada de 30 dias.
ISSO PARA CADA UM DOS 513 DEPUTADOS !!!! Esse dinheiro sai dos cofres públicos, ou seja, do nosso bolso!!!
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