Programa do 2o semestre de 2010 - prof. Helder Garmes
O ROMANCE E OS SENTIDOS DO IMPÉRIO PORTUGUÊS NO SÉCULO XX
O curso pretende estudar quatro romances tendo no horizonte o imaginário acerca do colonialismo português, partindo do livro de poemas Mensagem (1934), de Fernando Pessoa.
Os romances estudados são:
-Uma abelha na chuva (1953) de Carlos Oliveira,
-Os cus de Judas (1979) de Antonio Lobo Antunes,
-Jangada de pedra (1986) de José Saramago e
-Peregrinação de Barnabé das Índias (1998) de Mário Cláudio.
Privilegiando a relação entre literatura e história cultural de Portugal, realiza-se um percurso que parte da utopia de base sebastianista presente no livro de poemas de Pessoa (referência paradigmática desse projeto), segue pelo período da ditadura de Salazar e chega até as ressignificações do império no período pós-colonial.
Nesse percurso, será privilegiada a análise do foco narrativo, ainda que outros aspectos formais do romance sejam também contemplados.
PEREGRINAÇÃO DE BARNABÉ DAS ÍNDIAS - MÁRIO CLÁUDIO
AULAS:
-Maria Alzira Seixo, Literatura e história: poética da descoincidência em As peregrinações de Barnabé das Índias, de Mário Cláudio, p.231-241
-Foco narrativo em As peregrinações de Barnabé das Índias, Mário Cláudio
Biografia do autor:
Mário Cláudio, pseudónimo de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, nasceu no Porto em 1941. Frequentou o curso de Direito em Lisboa, tendo-o terminado na Universidade de Coimbra. Frequentou a Universidade de Londres, graduando-se como Master of Arts. De regresso a Portugal, tem exercido funções como técnico do Museu Nacional de Literatura e como professor universitário. Ganhou o prémio APE de Romance e Novela em 1984 com a obra Amadeo. É considerado um dos mais importantes autores portugueses das últimas duas décadas. Embora se tenha dedicado à poesia, ao teatro e ao ensaio, é no romance que Mário Cláudio mais se tem destacado. Em 2004 foi agraciado com o Prémio Fernando Pessoa.
Fonte: http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=73#ixzz14PVQCznZ
Resenha do romance:
Mário Cláudio
È um romance que tem por base as viagens realizadas por Vasco da Gama que está encerrado nas quase 300 páginas deste livro. Descritivo, minucioso e, acima de tudo, realista, Mário Cláudio apresenta uma obra de extrema importância no que respeita à história de Portugal.
Um trabalho que começou por ser esboçado no livro Itinerários, onde o escritor nortenho cria o Barnabé. Personagem central deste livro. Barnabé aparece agora na Peregrinação como mestre cozinheiro de uma nau que parte rumo ao Brasil. Nascido no concelho de Lamego, judeu de raiz e cristão forçado, este marinheiro acaba por ser um retracto das personagens que povoavam aqueles barcos que tinham um destino incerto. Mário Claúdio acaba por cruzar os destinos de Barnabé com os de Vasco da Gama e reúne neste livro “uma oculta viagem que deve ser relatada aos que possuírem ouvidos para ouvir”.
Nesta viagem alucinante, por mares repletos de perigos e incertezas, tão depressa as personagens revelam o que lhes vai na alma, como se fecham e debatem entre si e com o mar, o enorme mar que parece nunca ter fim. Mário Cláudio reúne nesta obra diversas interpretações de diferentes textos históricos sem conferir as precisões factuais a que estes estão obrigados, dando assim uma visão diferente dos feitos portugueses.
Fonte: http://www.urbi.ubi.pt/060523/edicao/_slivro.html
PEREGRINAÇÃO DE BARNABÉ DAS ÍNDIAS – MÁRIO CLÁUDIO (1998)
LEITURA DO TEXTO DE MARIA ALZIRA SEIXO (comentário: o texto é bastante complexo!)
Poética da descoincidência em Peregrinação de Barnabé das Índias, de Mário Cláudio. (In: Literatura e História)
O TEXTO ABAIXO É COMPOSTO DE CITAÇÕES DO TEXTO ORIGINAL. É UM RESUMO PARA MEUS ESTUDOS
Relações tecidas entre Literatura e História e perspectivas de trabalho:
1. através da História Literária – ao modo dos formalistas russos: captação do sentido evolutivo dos modos de escrever, ler, ensinar e difundir a literatura; ideia de determinação de uma qualidade estética, perspectiva encontrada no “romance histórico” (no sentido de Lukács).
2. através da interdisciplinaridade – aqui entendendo os Estudos Literários. Um estudo deste tipo é o que mais diretamente pede um livro como Guerra e Paz, de articulação efabulativa a convocar o conhecimento da história europeia e dos estudos sobre a guerra.
3. através do estudo da História entendida em sentido corrente, isto é, como memória de um passado humano coletivo, que é passível de ser reconstituído através de várias formulações verbais (ficcional, memorialística, científica, etc), e desse modo pode ser encarada nos Estudos Literários enquanto tema, assunto ou motivo de textualização.
4. através da acepção de história como movimento accional de um texto, como intricado de problemas e atuações, como “plot”, intriga, fabula, e consequente efabulação, como quando se diz que um romance, ou um poema, “contam uma história”.
Contar uma história é remeter para situações idênticas, porque se reportam a um mundo “real” (circunstancial) ou imaginário ou da memória, e muitas vezes da memória comum, por onde vamos ter à História outra vez, e nomeadamente à História Literária.
Estudar, desta perspectiva, Os Lusíadas e a reescrita da História de Portugal, e dos documentos escritos que lhe dão azo, pode ser um modo privilegiado de continuar a entender estas relações.
ARTICULAÇÃO DA VISÃO DO COTIDIANO E DOS SEUS EVENTOS COM O PROCESSO TEMPORAL
Poderemos encarar ainda um tipo de reflexão muito fecundo, neste campo, para a literatura contemporânea, muito embora tenha as suas raízes no período seiscentista europeu e conheça o seu aperfeiçoamento com o romance realista-naturalista, que é o que articula a visão do quotidiano e dos seus eventos com o processo temporal que lhes dá corpo, determinado por uma subjetivação experienciada e questionadora. O discurso do texto que organiza os romances de José Saramago, de Mário Cláudio e de Antônio Lobo Antunes é um dos que mais proveito poderemos para tal utilizar.
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