sábado, 19 de março de 2011

Drummond estupefato com o que dizem de um poema seu


"Julho, 25 - Aturdido, leio no jornal o artigo em que se analisa um de meus poemas à luz das novas teorias lítero-estruturalistas. Travo conhecimento com expressões deste gênero: "dinamismo dos eixos paradigmáticos", "núcleo sêmico", "invariante semântica horizontal", "forma de referência parcializante e indireta", "matriz barthesiana"... O poeminha, que me parecia simples, tornou-se sombriamente complicado, e me achei um monstro de trevas e confusão."

(Carlos Drummond de Andrade)


COMENTÁRIO:

Quando li esse trecho do diário de Drummond, que está na contracapa do livro "O observador no escritório" da Editora Record, me peguei rindo sozinho.

Ele disse tudo!

Muitas vezes, ao longo de minha vida, me senti um lixo por não entrar em minha mente aqueles nomes horríveis que os "especialistas" inventam para as coisas da gramática.

Cada vez que alguém diz que escrevo bem, fico me perguntando como poderia ser se eu jamais soube aqueles nomes feios de construção sintática ou figuras de linguagem que as gramáticas e gramáticos insistem em dizer que são importantes para alguém que, em tese, lidaria com a confecção dos textos em nossa língua.

Eu escrevo, mas se sei escrever eu não sei. Mas também não tem importância alguma, para mim, o que os "especialistas" pensam das construções gramaticais de meus textos. Se as pessoas gostarem do que leram, já está de bom tamanho.


William

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