quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Se ateu, por que fazer romarias?


Igreja de N. Sra. da Abadia, Água Suja (MG).

Estou em Uberlândia para fazer minha romaria deste ano. Pego a estrada nesta sexta-feira 12 e pretendo chegar em meu objetivo cerca de 21 horas depois. Pretendo fazer um percurso de uns 75 km.

O que os amigos e conhecidos mais perguntam é por que faço romarias se sou ateu. É interessante poder explicar que se caminha por vários motivos. Vários.

Já me acostumei a ter certa ansiedade quando vai chegando a época de vir a Minas Gerais e pegar a estrada. É um momento de introspecção muito grande. É um momento de humildade, de perseverança e de restabelecimento de forças e energias internas.

Para mim não é esporte. Não é pagamento de promessa. Não é fé em nenhum deus. Para a grande maioria dos romeiros é tudo isso - promessa, fé, religiosidade.

É um momento de fé na capacidade de superação do ser humano, de fé em minha mente, em meu corpo, em meus objetivos.

A caminhada é muito difícil. É dolorosa, sofrida, em alguns anos mais que outros. Não tenho a mínima ideia de como será neste ano. Só sei que é muito difícil. Mas acredito que chegarei lá.


PAI E MÃE - REFERÊNCIAS DE VIDA

Hoje, saí com meu velho e querido pai de 68 anos (e pouca saúde) para acompanhá-lo em alguns dos locais onde ele busca por seus direitos - juizados gratuitos, defensoria pública etc - pois ele não desiste de lutar pelo que acha correto e justo. Meu pai tem a terceira série primária, mas é um homem que nunca deixou de buscar os seus direitos quando entende que os tem. Obrigado pai, por você ser assim.

Minha mãezinha é outra pessoa simples e forte. Sofre suas dores, cuida da mãe sem ter condições físicas, mas cuida, com tanto amor que nos deixa meio envergonhados, por sermos mais jovens e mais moles. Meus pais não conseguem sequer serem atendidos em nosso SUS com a decência que todo brasileiro mereceria.

Talvez eu caminhe para tentar buscar anualmente a força de vontade e perseverança em viver e lutar pelas coisas que amo e que acho correto. Eu sou um filho que sei que meus pais se esforçam em estar vivos porque sabem o quanto isso é importante para mim. Eles são meu vínculo mais forte com a vida.

Talvez eu caminhe para relembrar durante um dia inteiro, sozinho na estrada, vários momentos de minha longa vida já vivida em um curto espaço de tempo. Minhas alegrias passadas, minhas perdas passadas, minhas oportunidades e escolhas nas veredas da vida. Há vidas bem mais longas e bem mais curtas. A minha é a minha.

Talvez eu caminhe para me testar, física e psicologicamente, se ainda posso alguma coisa. Se ainda me aguento. Se meu corpo aguenta meus excessos. Se eu aguento sacrifícios e dificuldades. Se eu não estou lasso. Às vezes, tenho a impressão que as gerações depois da minha estão meio lassas.

"Caminante, no hay camino. Se hace camino al andar" (António Machado)

Seguimos caminhando...

William Mendes


Post Scriptum (9/08/15):

Neste dia dos pais, estou em Uberlândia com meus queridos pais. Não escrevi texto novo sobre o tema, somente disse de meu amor pessoalmente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário