sábado, 8 de outubro de 2011

"A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito" (Conselheiro Aires, em Esaú e Jacó)


Machado aos 25 anos
É fantástica a frase acima, não é?

Eu estou lendo o livro "A corrosão do caráter" de Richard Sennett. Essa mudança no dito popular que a personagem de Machado de Assis faz lembrou-me o tema que Sennett aborda e é uma frase também para alertar sobre a ética e o caráter das pessoas, ou seja, ao invés de criar um dito popular que diz que todo mundo é, em tese, corruptível, a frase nos traz uma mensagem muito mais profunda sobre o ser humano.

Minha divergência com o Conselheiro Aires é mais no sentido de achar que as pessoas não nascem boas ou más, porém sua formação, suas referências e suas oportunidades é que as fazem serem o que são.


ESAÚ E JACÓ
CAPÍTULO LXXV

PROVÉRBIO ERRADO

Pessoa a quem li confidencialmente o capítulo passado, escreve-me dizendo que a causa de tudo foi a cabocla do Castelo. Sem as suas predições grandiosas, a esmola de Natividade seria mínima ou nenhuma, e o gesto do corredor não se daria por falta de nota. "A ocasião faz o ladrão", conclui o meu correspondente.*

Não conclui mal. Há todavia alguma injustiça ou esquecimento, porque as razões do gesto do corredor foram todas pias. Além disso, o provérbio pode estar errado. Numa das afirmações de Aires, que também gostava de estudar adágios, é que esse não estava certo.

- Não é a ocasião que faz o ladrão, dizia ele a alguém; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: "A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito".


*(aqui se refere ao ato do "irmão das almas" que roubou a esmola que Natividade depositou na bacia das almas - dois mil-réis)


Bibliografia:
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. In: Obras Completas. Editora Globo, 1997.

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