sábado, 17 de dezembro de 2011

Vidas Secas em versos...

Ilustração de Vidas Secas - Aldemir Martins

VIDAS SECAS – GRACILIANO RAMOS
Releituras
Vidas secas em versos

FUGA
A vida na fazenda se tornara difícil.
Sinhá Vitória se benzia tremendo,
manejava o rosário,
mexia os beiços rezando rezas desesperadas.

Encolhido no banco do copiar,
Fabiano espiava a catinga amarela,
onde as folhas secas se pulverizavam,
trituradas pelos redemoinhos,
e os garranchos se torciam,
negros,
torrados.

No céu azul as últimas arribações tinham
        [desaparecido.
Pouco a pouco os bichos se finavam,
devorados pelo carrapato.

E Fabiano resistia,
pedindo a Deus um milagre.

COMENTÁRIO:

Vejam o que é um ritmo estabelecido em uma linguagem. Este é o início do último capítulo do livro Vidas Secas de Graciliano Ramos, de 1938.

A poesia é, sobretudo, ritmo. Ela não precisa, necessariamente, estar ordenada em estruturas poéticas tradicionais ou rígidas.

É por isso que autores como Graciliano Ramos, Machado de Assis e Guimarães Rosa são revolucionários da literatura brasileira e universal. São autores que demarcam o tempo com seus estilos e abrangência na poética literária.

Bibliografia:
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 80ª edição. Editora Record. 2000.

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