Neste domingo dia 9 completo vinte anos como funcionário do Banco do Brasil.
Destes vinte anos, dez deles trabalhei nas agências Rua Clélia, Barra Funda e Vila Iara. Outros dez, passei como representante eleito pelos bancários de São Paulo, Osasco e região em mandatos sindicais. Neste mesmo período, também tive várias representações sindicais a partir do Sindicato: atualmente, estou secretário de formação da Contraf-CUT e estou coordenando a Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil.
Nesta década de militância sindical, participei ativamente de toda a construção da campanha unificada de 2003 a 2012 e participei da metade da história dos 20 anos de Convenção Coletiva de Trabalho dos bancários. Sem nenhuma prepotência, posso dizer que também fui um tijolinho da construção da história recente da categoria.
PODERIA SER E NÃO FUI...
Eu poderia ter sido contabilista e talvez ter meu próprio negócio. Quando terminei minha faculdade de Ciências Contábeis em 1994, já estava no BB há uns dois anos. Seu Luiz, um cliente da agência Rua Clélia, me convidou para trabalhar com ele e ser seu sócio no escritório de contabilidade. Fiquei tentado, mas acabei não indo. Acho que foi pela minha característica mais para funcionário público concursado do que para micro empresário e empreendedor de negócios.
Eu poderia ter sido um profissional das Letras. Em 2001, busquei novamente uma forma de sair do BB e fazer outra coisa da vida. Estudei alguns meses para a Fuvest e entrei no curso de Letras da USP. Logo percebi que o curso exigiria muito de mim, pois a carga de leitura era absurda para quem trabalha e estuda. Mas eu não teria que desistir por falta de dinheiro para pagar mensalidades. E não é que um ano depois de entrar na USP me convidaram para uma chapa do Sindicato e minha vida mudou radicalmente! Acabei as matérias obrigatórias do bacharelado faz pouco tempo, mas não teria hoje competência alguma para ser um profissional das letras. Virei sindicalista.
ACABEI SENDO...
Entre uma faculdade e outra, virei pai. Acabei mudando radicalmente como pessoa, por ter virado pai e depois por ter virado sindicalista. A mudança mais radical nestas duas situações foi desligar o botão do "foda-se!".
Passei a pensar um pouco mais nas consequências das coisas e dos atos.
HÁ TEMPO PRA RECOMEÇAR?
Tenho me perguntado isso várias vezes ultimamente. Minha vida está ruim. Está ruim!
Durante toda a minha vida busquei encontrar um sentido para viver. É engraçada minha situação atual, pois sei que meu papel social é importante. Sei que sou muito sério em minha militância e representação sindical e acho que até meus adversários devem perceber isso. Mesmo assim, não sei se tem valido a pena a minha doação total para a militância. Quanto mais você se dedica, mais aparece gente tentando puxar o tapete e focada somente na disputa de máquina sindical, ao invés de lutar contra os patrões e o capital. Isso sempre foi uma merda!
A mesma dúvida tenho em relação à família. Eu acho que fiz muito me adaptando para criar um filho e levar uma vida em função da família. Mas hoje não tenho o respeito de meu filho e vai saber se ele tem razão ou não. Esse negócio de relação familiar sempre foi uma merda! Todo mundo acha que tem razão e que é incompreendido.
E agora, José?
O que poderia fazer para me sustentar por mais alguns anos até morrer? Se eu ligasse novamente o botão do "foda-se!" teria que entender que meus dependentes iriam se foder mesmo.
Como faço para poder encontrar um pouco de paz para ler e buscar saciar minha sede de conhecimento? Onde arrumar tempo para praticar esporte, pois gostaria de correr inclusive uma maratona ainda?
O que sei é que minha natureza não me permite não ser bom naquilo em que me comprometo a fazer. Pelo menos tento ser bom. Me dedico. É o que faço tentando ser um bom sindicalista. Eu me esforço diariamente.
Mas depois de ser sindicalista, que vou fazer para ter um pouco de prazer na existência pessoal?
Tô cismando muito nisso...
PS: neste sábado, fomos ver a exposição do Caravaggio no MASP. Gostei! Foi emocionante ver o quadro "Medusa Murtola" de 1597.
Corajoso, companheiro William.
ResponderExcluirOuvir a voz do coração.
Um bom começo é perguntar-se a si mesmo.
Ouvir a voz do coração!!
Grande abraço!
Um abraço fraterno, amigo e companheiro Cláudio!
ResponderExcluirQuanto ao botão do "foda-se", esqueça ou vá para "Natureza Selvagem". Mas as vezes você deve utilizar a frase do filme "3 Idiotas" e que eu não consigo reproduzir aqui, mas que você sabe qual é.
ResponderExcluirPutz Jorge, de certa forma você tem razão! Aos 43 anos é complicado ligar a chave do 'foda-se', mas mesmo pensando como o pequeno gênio indiano do filme, a vida real com agregados, dependentes e tudo mais é diferente.
ResponderExcluirAbraços, William
William,
ResponderExcluirCamarada. Não tenho resposta para sua pergunta. Acho que sua crônica é mais um ato de autoreflexão do que a busca de uma resposta que não seja... a sua mesmo. Então, vai tocando na manha do gato, feito malandro, que não para, mas dá um tempo, ou feito Sócrates para quem tudo merecia ser analisado, ir ao fundo do problema e tomar uma decisão. Ou não tomar decisão nenhuma. Oras, é seu direito. A vida é dura, como você sempre soube, mas conhecendo você, tenho certeza que tira de letra.
Fala camarada Ernesto!
ResponderExcluirMinha avó Deolinda dizia que a vida é dura pra quem é mole. Eu acho que ela exagerava na afirmação.
A vida é dura mesmo! Mas a gente vive e enfrenta a dureza dela...
A questão fundamental pra enfrentar as coisas da vida é refletir se vale a pena - mesmo para aqueles que não tem alma pequena ou grande.
Abraços,