segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ulisses - James Joyce (III)


James Joyce. Imagem de sites sobre ele.

ULISSES – JAMES JOYCE

CLÁSSICO IRLANDÊS de 1922

Parte I – Telemaquia

Episódio 3 – Proteu

Cena – A praia

Hora – 11

Arte – Filologia

Cor – Verde

Símbolo – Maré

Técnica – Monólogo (masculino)

“INELUCTÁVEL modalidade do visível: pelo menos isso se não mais, pensando através dos meus olhos. Assinaturas de todas as coisas estou aqui para ler, marissêmen e maribodelha, a maré montante, estas botinas carcomidas. Verdemuco, azulargênteo, carcoma: signos coloridos. Limites do diáfano. Mas ele acrescenta: nos corpos. Então ele se compenetrava deles corpos antes deles coloridos. Como? Batendo com sua cachola contra eles, com os diabos. Devagar. Calvo ele era e milionário, maestro di color che sanno. Limite do diáfano em. Por quê em? Diáfano, adiáfano. Se se pode pôr os cinco dedos através, é porque é uma grade, se não uma porta. Fecha os olhos e vê.


Stephen fechou os olhos para ouvir as botinas triturar bodelha e conchas tagarelas. Estás andando por sobre isso algoqualcerto. Estou, uma pernada por vez. Um muito curto espaço de tempo através de muito curtos tempos de espaço. Cinco, seis: o nacheinander. Exatamente: e isso é a ineluctável modalidade do invisível. Abre os olhos. Não. Jesus! Se eu cair de uma escarpa que se salta das suas bases, caio através do nebeneinander ineluctavelmente. Até que estou deslocando-me bem neste escuro. Minha espada de freixo pende a meu lado. Tateia com ela: é assim que se faz. Meus dois pés nas botinas dele estão no final de suas pernas dele, nebeneinander. Soa maciço: feito pelo malho de Los Demiurgos. Estou eu andando para a eternidade ao longo do areal de Sandymount? Tritura, tagarela, trila, trila. Dinheiro do mar selvagem. Domine Deasy sabe tudinho.


Não virás a Sandymount,
Madeline égua?”



O ACOPULADOR UNIUNIU OS SEXOS


Este é o começo do episódio com Stephen Dedalus andando na praia. Ele fecha os olhos e segue andando e começa seu fluxo de pensamento.


Veja abaixo as palavras criadas em uma sequência desse fluxo de pensamento: O ATO SEXUAL E A CONCEPÇÃO:




“Matrizado em pecadora escuridade eu fui também, feito que não gerado. Por eles, o homem com minha voz e meus olhos e a mulherfantasma com cinzas em seu hálito. Eles se uniuniram e se dividiram, fizeram o querer do acopulador. De antes dos tempos. Ele me quis e possa não querer-me longe agora ou jamais. Uma lex eterna paira junto a ele. É isso então a divina substância na qual Pai e Filho são consubstanciais? Onde está o caro pobre Ário para tirar conclusões? Guerreando a vida inteira quanto à contransmagnificandjudeibumbatancialidade. Heresiarca malzodiacado. Num lavatório grego deu o último suspiro: eutanásia. Com mitra de gemas e com báculo, refestelado no seu trono, viúvo de uma sé viúva, com omofórion empertigado, com traseiros coagulados.”




BELAS IMAGENS NAS PALAVRAS


E aí, gostaram? O livro inteiro é assim...


Vejam que legal a imagem abaixo das “camisas crucificadas” no varal e das “Conchas humanas”, ou seja, os barracões de pescadores:




“... Insalubres fofos de areia tocaiavam para sugar-lhe as solas caminhantes, exalando hálito de cloaca. Costeou-os andando cautelosamente. Uma garrafa de cerveja se alçava, enterrada até a cintura, na pastosa massa arenosa. Uma sentinela: ilha de sede terrível. Arcos partidos a beira-mar; em terra uma confusão de escuras redes astutas; mais além portas de fundos garatujadas a giz e no alto da praia uma corda de secar com duas camisas crucificadas. Ringsend: barracões de pilotos requeimados e mestres-marinheiros. Conchas humanas.”



MORTE DA MÃE DE JOYCE E DE DEDALUS


Dedalus como alter-ego de James Joyce. Veja abaixo o personagem em Paris recebendo telegrama avisando sobre a eminência da morte da mãe. Joyce também havia saído de Dublin em 1902 após conquistar diploma de letras e precisou retornar em 1903 com a morte de sua mãe.




“Ias realizar maravilhas, né? Missionário à Europa após o fogoso Columbano. Nos seus escabelos perros, Fiacre e Scotus entornados nos céus de seus canecos quartilhos, garlatingalhando: Euge! Euge! Fingindo falar inglês macarrônico no que arrastavas tua maleta, carregador três pences, ao longo do píer visguento em Newhaven (...) um telegrama francês azul-banzo, curiosidade para exibir:


- Mãe morrendo volta pai.”



LINGUAGEM LIVRE DE CENSURA


Quando a obra foi lançada em 1921 teve centenas de volumes queimados nos Estados Unidos e na Europa. Só começou a circular normalmente lá pelo ano de 1933.


Querem saber um dos motivos? A vanguarda na linguagem e a não-censura em dizer aquilo que se quer dizer.




“... Por sobre a cara dela desfeita pelo vento lhe caíam os cabelos. Atrás de seu dono a comparsa, indo, para a cidade grande. Quando a noite esconde as máculas do corpo dela chamando debaixo do xaile pardo sob uma arcada que cães tinham chafurdado. O homem-leno dela está engabelando dois soldados do Royal Dublins no O’Loughlin de Blackpitts. Beijoca-a, fode com sabida lenga de esbórnia, oh minha putinha fodedora. Uma brancura endemoninhada sob seus andrajos rançosos. O beco de Fumbally aquela noite: os cheiros do curtume.


Brancas mãos, rubra tua boca
E teu corpo é gostosura
Bebe comigo na cama
Beija, toma, é noite escura.


Morosa deleitação, chama-lhe o ventrudo Aquino, frate porcospino. Antes da queda Adão trepava mas não gozava. Deixá-lo chamar: teu corpo é gostosura. Linguagem nem um tiquinho pior do que a dele. Palavras de monge, contas de rosário parlapateiam em suas panças: palavras de esbórnia, duras pepitas tamborilam em seus bolsos.”



ORFÃO DEDALUS


Stephen segue em seus fluxos de pensamento voltando para a torre do farol.



“Cinco braças por aquela banda. Sob braças inteiras, cinco, teu pai jaz. À uma disse ele. Encontrado afogado. Maré alta na barra de Dublin. Vindo na frente um arrastre de entulho à deriva, vária malta de peixes, conchas cômicas. Um cadáver salbranqueado emergindo da baixa-toa, ziguezagueando rumo à terra, um tantinho um tantinho uma toninha. Aí está ele. Engancha-o rápido. Mesmo que imerso das águas sob os cendais. Temo-lo. Devagar agora.”



COMENTÁRIO FINAL


É interessante!


Eu estava há pouco, olhando textos na rede mundial e fui ler um blogue de um leitor confessando sua frustração por nunca ter conseguido ler Ulisses. Quando o li, logo compreendi o que ele sentia.


Por acaso, venci o desafio e li a principal obra de James Joyce. Por sinal, com a leitura de hoje, acabo de reler lentamente e com direito a fazer os comentários no blog a respeito do gostei ou do que é diferente e pouco comum.


Acabou meu fim de semana! Já adentrei a segunda-feira. Vamos dormir.




Bibliografia:
JOYCE, James. Ulisses. Tradução de Antônio Houaiss. Editora Abril, 1983.

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