domingo, 15 de novembro de 2015

Viver segue sendo muito perigoso...


Brasília com suas cores. Estamos em novembro,
mês dos Flamboyants vermelhos e laranjas.

Refeição Cultural - Diário 151115


Domingo em Brasília. Já estou há uma hora ouvindo a sinfonia de pássaros através da janela da sala de casa.

O mundo globalizado viu na última sexta-feira 13 os atentados terroristas em Paris. Quase duzentas pessoas perderam a vida ou estão na iminência de perdê-la. Os atentados foram assumidos pelo Estado Islâmico, um subproduto da destruição entre os anos noventa e dois mil dos países árabes e do Oriente Médio, destruição cuja responsabilidade tem forte relação com os países imperialistas do ocidente, capitaneados pelos Estados Unidos.

Como eu disse num texto anos atrás, o mundo segue hostil. O pior é que as perspectivas não são animadoras. Podemos ter um aumento da barbárie em escala mundial para as próximas décadas. Com o medo e o uso do medo, ampliam-se as intolerâncias, os preconceitos, xenofobias e tudo quanto é mazela do gênero. 

Analistas e estudiosos de história e de guerras afirmam que uma eventual 3ª Guerra Mundial seria muito diferente das duas primeiras registradas no século XX. Estas foram de países de um lado e outro, mas agora o mundo é dominado por corporações, que põem governos de joelhos, e por grupos de afinidades como religião, ideologias e outros liames.

A existência é um "Grande Sertão: veredas", para citar o grande Guimarães Rosa. Ou seja, além da afirmação clássica de que o sertão é em todo lugar, temos a questão das veredas e encruzilhadas da vida para cada ser vivo. Todos os dias, a todo instante, escolhemos fazer isso ou aquilo, decidimos optar por determinado caminho.


As veredas

As veredas... o tempo inteiro em nossa vida nos pegamos escolhidos para trilhar determinado caminho, para realizar determinada tarefa. Riobaldo Tatarana nunca quis ser o que foi, nem coragem ele tinha em ser jagunço, mas lá estava ele, no meio das maiores guerras dos sertões.

Se passa o mesmo com cada um de nós. Aqui no meu mundo, na minha vida. Na sua vida. Ali em Mariana, Minas Gerais, onde uma tragédia anunciada e prevista destruiu centenas de quilômetros de meio ambiente e vida (capitalismo). Lá em Paris, na França, com os atentados terroristas desta última sexta-feira 13. Por mais que planejemos algo, as adaptações extrapolam - e muito - o que estava desenhado.

Me peguei sindicalista. Agora me peguei gestor em saúde. Estava no lugar que procuraram e estava realizando minhas lutas quando me peguei com novas tarefas. Todos escolhemos e somos escolhidos o tempo todo. Já pensaram nisso?

Para voltar nas veredas, no sertão mundo. As pessoas estavam lá em Mariana, Mariana estava lá no meio das perspectivas de exploração e destruição de tudo que significa o modelo de produção capitalista, e a hora do desastre chegou. Porque é claro que o desastre sempre vem. É claro que vamos inviabilizar a existência no mundo. Os desgraçados donos do sistema capitalista e seus lacaios e ideólogos sabem que vão destruir o planeta, mas fazem o cálculo de que não será na vez da vida deles, e então atuam na base do foda-se a geração seguinte.

As veredas... a questão das veredas e do sertão mundo serve para refletirmos sobre qualquer coisa. Dezenas de pessoas foram mortas em Paris na última sexta-feira. As informações dão conta de que era uma linda noite de sexta. E então começaram os ataques e assassinatos de civis.


Viver é perigoso...

Com os novos conhecimentos em saúde que adquiri ao ser gestor de entidade de saúde, eleito por trabalhadores, convivo com nova dor de conhecimento - desde muito novo, partilho do conceito que o conhecimento às vezes nos traz dor e sofrimento, porque não conseguimos mudar as coisas -, enfim, nos dói saber o quanto é benéfico e poderíamos melhorar a vida de toda a população se pudéssemos cuidar da saúde dela desde cedo, atuando na educação em saúde e na atenção primária. 

Mais de setenta por cento das demandas de saúde quando o caso é grave, tem origem na falta de cuidado e acompanhamento de doenças crônicas. Quando a vítima chega à rede hospitalar, se houver rede hospitalar nos locais, ela tem uma chance menor de sobreviver e ficar sem sequelas e o custo para tratar sua demanda de saúde agudizada é exponencialmente mais caro. Grande parte das doenças graves são oriundas do não cuidado de questões básicas como controlar o colesterol, a diabetes e a hipertensão. De se controlar o estresse e a alimentação. De fazer exames periódicos para casos de histórico familiar.

É engraçado e trágico ao mesmo tempo. O ser humano passou a viver mais que três décadas com o passar de alguns milhares de anos porque melhorou a tecnologia das coisas cotidianas. Criamos os condimentos, sal, açúcar, fumo, álcool, gorduras saturadas, alteramos geneticamente os alimentos. Antes, a existência nos demandava esforço físico e aquilo que chamamos de atividades aeróbicas. Hoje, o humano é sedentário.

Na atualidade, os humanos vivem várias décadas a mais, porém morremos basicamente porque nossas veias e artérias entopem e explodem por falta de controle e acompanhamento do consumo de condimentos, sal, açúcar, fumo, álcool, gorduras saturadas, desequilíbrio no que se come. E tem também o estresse do mundo inseguro, caótico e da exploração humana pelo capitalismo. Explodimos também por isso.

Enfim, o mundo segue sendo o que é: um campo de batalha e em disputa por todos os seres vivos que nele habitam. 

Viver segue sendo muito perigoso.

William Mendes

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