Este blog é para reflexões literárias, filosóficas e do mundo do saber. É também para postar minhas aulas da USP. Quero partilhar tudo que aprendi com os mestres de meu curso de letras.
domingo, 27 de março de 2016
1984 pode ser agora... P.I.G. quer golpe pra parar história?
"Winston e Júlia sabiam - de modo que nunca baniam do espírito - que não podia durar muito o que estava acontecendo. Havia ocasiões em que a morte vindoura parecia tão palpável quanto a cama que ocupavam, e então se agarravam com uma espécie de desesperada sensualidade, como uma alma danada se agarra ao último bocado de prazer quando faltam apenas cinco minutos para soar a hora. Mas havia também ocasiões em que tinham a ilusão não apenas de segurança como de permanência. Tinham a impressão de que, enquanto estivessem naquele quarto, nenhum mal lhes poderia advir. Chegar até lá era difícil e perigoso, mas o quarto era um santuário. Era como se Winston olhasse dentro do peso de papel, com sensação de ser possível penetrar aquele mundo de vidro, e que, uma vez dentro dele, o tempo se imobilizaria. Com frequência se entregavam a sonhos escapistas conscientes. A sorte haveria de ajudá-los, indefinidamente, e continuariam a aventura até o fim da vida natural (...) Na verdade, não havia fuga. Não tinham intenção de executar nem o único plano praticável: o suicídio. Viver dia a dia, semana a semana, esticando um presente que não tinha futuro, parecia um instinto irresistível, como os nossos pulmões sempre procuram inspirar, enquanto existe ar"
VIVER NA INSTITUCIONALIDADE, GOZAR DE PAZ SOCIAL E REGRAS DEMOCRÁTICAS É A MELHOR COISA DO MUNDO
A descrição que temos da história dos povos durante os regimes de exceção são dessa natureza descrita pelos personagens acima, dessa sensação lúgubre de falta de liberdade para as coisas mais simples como viver da forma que deseja, amar quem quiser amar, expressar o que bem entender.
O direito às pessoas falarem, escreverem e se manifestarem até de forma questionável hoje só foi conquistado no Brasil após mais de duas décadas de luta unitária da sociedade civil para por fim ao regime de exceção dos militares entre os anos de 1964 e 1985, pode-se estender até 1988 porque foi quando conseguimos aprovar a Constituição Federal com direitos e garantias fundamentais para os cidadãos.
A Constituição anterior datava da época da ditadura militar, era restritiva de direitos civis, sociais e políticos, e a causa foi o apoio dos mesmos grupos civis que estão liderando agora nova tentativa de quebra da institucionalidade democrática: donos dos meios de comunicação, banqueiros, empresários, partidos políticos que perderam as eleições e querem interromper o governo eleito pelo voto popular e acabar com seus programas sociais com mais avanços históricos que todos os anteriores juntos.
NO CENÁRIO DA OCEANIA, A HISTÓRIA PAROU... É ISSO QUE QUEREMOS APÓS O GOLPE À DEMOCRACIA?
"- Que importa? - indagou, impaciente. - É sempre uma horrível guerra depois da outra, e a gente sabe que o noticiário é todo falso mesmo.
(...)
Então por que te preocupas? Não vivem matando gente, o tempo todo?
(...)
Todos os registros foram destruídos ou falsificados, todo livro reescrito, todo quadro repintado, toda estátua, rua e edifício rebatizados, toda data alterada. E o processo continua, dia a dia, minuto a minuto. A história parou. Nada existe, exceto um presente sem-fim no qual o Partido (P.I.G. e golpistas) tem sempre razão..."
P.I.G. E GOLPISTAS IMPONDO UMA "ORTODOXIA" NA MASSA MANIPULADA (NÃO PENSAR...)
"Winston percebeu como era fácil aparentar ortodoxia, sem ter a menor noção do que fosse ortodoxia. De certo modo, o ponto de vista do Partido (P.I.G.) se impunha com mais êxito às pessoas incapazes de compreendê-lo. Aceitavam as mais flagrantes violações da realidade porque jamais percebiam inteiramente a enormidade do que se lhes exigia, e não estavam suficientemente interessadas para observar o que acontecia..."
COMENTÁRIO FINAL
1984 é agora...
William
Cidadão e defensor da democracia
Contrário ao totalitarismo dos meios de comunicação
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