domingo, 24 de abril de 2016

1984 é agora... O verdadeiro poder é dominar os homens



Será possível resistir ao ódio e ao Grande Irmão?

Refeição Cultural

"O verdadeiro poder, o poder pelo qual temos de lutar dia e noite, não é o poder sobre as coisas, mas sobre os homens. - Fez uma pausa e por um momento tornou a assumir o ar de mestre-escola interrogando o aluno esperto: - Como é que um homem afirma o seu poder sobre outro, Winston?

Winston refletiu:

- Fazendo-o sofrer.

- Exatamente. Fazendo-o sofrer. A obediência não basta. A menos que sofra, como podes ter certeza de que ele obedece tua vontade e não a dele? O poder reside em infligir dor e humilhação. O poder está em se despedaçar os cérebros humanos e tornar a juntá-los da forma que se entender. Começas a distinguir que tipo de mundo estamos criando? É exatamente o contrário das estúpidas utopias hedonísticas que os antigos reformadores imaginavam. Um mundo de medo, traição e tormento, um mundo de pisar ou ser pisado, um mundo que se tornará cada vez mais impiedoso, à medida que se refina..."


REFLEXÕES

Nesta postagem, encerro minha releitura do clássico "1984". Estou com 47 anos e estamos em abril de 2016 num país da América do Sul ("Oceania"?) vivendo mais um Golpe de Estado ao longo da história de sua frágil democracia.

Li a obra pela terceira vez, sendo uma na adolescência, uma em 2005 na idade adulta e agora num contexto político e social em meu país que muito me impulsionou para a releitura, comparando o Grande Irmão do mundo totalitário do IngSoc na versão de Orwell ao mundo totalitário do Grande Irmão Globo e demais meios de comunicação cartelizados e conhecidos no Brasil como P.I.G (Partido da Imprensa Golpista).

Assim como no mundo do Grande Irmão de Orwell, onde uma teletela com o olhar vigilante e manipulador está em qualquer lugar público e privado, a teletela da família Marinho (o Grande Irmão Globo) está em qualquer lugar público e privado em nosso mundo real Brasil.

A qualquer minuto eu ou qualquer desafeto dos irmãos Marinho pode aparecer na teletela como terrorista, corrupto, como o inimigo do partido (P.I.G.) a ser caçado e eliminado. E então, somos Goldstein...

(é impossível não ver semelhanças... "petistas", "petralhas", "sindicalistas", "cutistas", "bolivarianos", "comunistas", "nordestinos", "gays", "nordestinos", "mulheres, que devem ser belas, recatadas e do lar"...)


Vejam mais um trecho e seguimos com as comparações:

"O progresso em nosso mundo será o progresso no sentido de maior dor. As velhas civilizações proclamavam-se fundadas no amor ou na justiça. A nossa funda-se no ódio. Em nosso mundo não haverá outras emoções além do medo, fúria, triunfo e autodegradação. Destruiremos tudo mais - tudo...

(...)

Não haverá lealdade, exceto lealdade ao Partido (P.I.G.). Não haverá amor, exceto amor ao Grande Irmão. Não haverá riso, exceto o riso da vitória sobre o inimigo derrotado (...) Todos os prazeres concorrentes serão destruídos. Mas sempre... não te esqueças, Winston... sempre haverá a embriaguez do poder, constantemente crescendo e constantemente se tornando mais sutil. Sempre, a todo momento, haverá o gozo da vitória, a sensação de pisar um inimigo inerme. Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota pisando um rosto humano - para sempre."


Então, seguimos a comparação do cenário totalitário do "1984" e o cenário totalitário do mundo dos meios de comunicação monopolizados e atuantes enquanto partidos políticos, escolhendo os aliados a fortalecer e a esconder suas fraudes e corrupções e os inimigos a eliminar pelo ódio e pela manipulação através das teletelas e o poder de infiltração do partido do Grande Irmão (P.I.G.) em todos os espaços da esfera pública e privada.

Já vivemos o cenário fascista e totalitário apresentado na obra de Orwell. Nossos parentes e conhecidos já se viram contra nós como os membros da "Polícia do Pensamento" no mundo orwelliano. Crianças, familiares e amigos que delatam comportamentos contrários aos definidos pelo Grande Irmão (Globo) e o partido (P.I.G.).

O domínio dos homens e das instituições pelo medo, pelo terror, pela dor...

Imaginem o que é ter a vida destruída por uma emissora de TV ou por uma revista ou jornalão, sem nenhum processo de apuração baseado em provas, somente em ilações e construções que se auto-alimentam. 

Imaginem um juiz que prende por meses pessoas sem provas sob tortura física e psicológica do cárcere injusto e ilegal, deixando a entender que a tortura só acabará quando houver concordância do preso sem provas em assinar e dizer exatamente o que o juiz e seus carrascos querem.

Imaginem um juiz e um grupo por dentro das instituições de justiça do Estado nacional terem escutas ilegais e o apoio das teletelas (P.I.G.) para ameaçar a tudo e a todos caso não sigam o script traçado do Golpe e decidam se rebelar contra o processo infame de destituição de um governo legítimo e a eliminação de um segmento da sociedade importante (o PT e movimentos sociais próximos).

Há um impeachment em curso contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) por um sindicato de ladrões que já venceu a primeira fase na Câmara dos Deputados em 17/4/16 e não há nenhuma sinalização de reversão no Senado e vergonhosamente no órgão maior da Justiça, o STF.

Mas dizem que há ameaças por parte do P.I.G. e dos setores da justiça e aparelhos de repressão do Grande Irmão (do mundo real) para todos os juízes da Corte máxima e contra os senadores...

Enfim, parece que já estamos vivendo aquela sociedade do Grande Irmão de Orwell.

1984 é agora...

Fico cismando se eu e nós seremos os Winston Smith no dia de amanhã. (é possível resistir a tanta tortura?)

Será que ainda vou amar a Rede Globo, a Folha, o Estadão, a Veja, o PSDB, o Moro, o Temer?

William Mendes

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