domingo, 21 de agosto de 2016

O prazer em ler José J. Veiga



Me sinto em casa lendo José J. Veiga.

Neste domingo pela manhã, li O professor burrim e as quatro calamidades (1978), do escritor goiano José J. Veiga (1915-1999). Ontem, terminei a leitura do romance Sombras de reis barbudos (1972).

Estou encantado com a obra de Veiga. Nos conhecemos neste ano, após eu ler seu primeiro livro em janeiro - Os cavalinhos de Platiplanto (1959) -, um livro de contos. Veiga será o primeiro escritor que vou ler a obra inteira. Desde a leitura de seu segundo livro - A hora dos ruminantes (1966) -, saí procurando e comprando suas obras. Agora faltam poucas.


O professor burrim e as quatro calamidades

Ao ler pela manhã a estória do professor Burini e contextualizar a obra lá nos anos setenta, eu me emocionei.

A estória aborda a desvalorização histórica da profissão de professor, as maldades que os alunos fazem com os professores, e tem uma mensagem sobre o quanto a pobreza é responsável por grande parte dos males dos seres humanos e de suas famílias.

"Muitas vezes, quando chegava em casa tarde, com fome e cansado, ele encontrava a família em crise, os meninos chorando ou resmungando, a mulher ralhando e ameaçando, uma atmosfera pesada que ele precisava acalmar com paciência e jeito. Ele não culpava nem a mulher nem os filhos, sabia que todos eram vítimas. A culpa era da pobreza."

É verdade! Eu era criança nos anos setenta e oitenta. Vi o quadro da miséria junto com todos os meus familiares e conhecidos.

A mensagem é a da desvalorização da profissão dos professores, tão antiga em nosso país, área do saber que começava a ganhar esperanças e perspectivas durante os governos do Partido dos Trabalhadores, com a criação de programas voltados para a educação em todos os níveis. A promessa do Pré-Sal era o salto para o futuro na educação, até que um Golpe de Estado organizado pelos tucanos derrotados nas eleições de 2014 começa a destruir nosso futuro e retroceder o país em mais de um século.


"O pai sorriu. Podia ser 'legal' mesmo. Ele cercado de crianças na porta de uma escola ou numa esquina de bairro. Por menos que um vendedor de picolé ganhasse, não devia ganhar menos do que um professor. Podia até ganhar mais."


Vender picolé ou ficar numa profissão "nobre" e de "representação"?

"O gerente aconselhou-o a desistir. Como podia alguém trocar uma profissão nobre como a de professor por uma atividade sem nenhuma representação?

- Toda profissão é nobre, e representação não sustenta família. Me dê o emprego e o senhor vai ter um bom vendedor - disse o professor com tanta firmeza que o gerente cedeu..."

Pois é! O final da estória ainda emociona por sabermos como andam os garotos que foram responsáveis pelo professor desistir da profissão e ir vender picolé.


Coleção José J. Veiga.

Comentário final

Ao ler os romances e contos de José J. Veiga, estou vendo minha vida infanto-juvenil. A linguagem que ele usa, as questões tão comuns abordadas em suas estórias, fazem com que nos sintamos em casa ao viajar pela sua obra.

Na minha infância dura, semelhante a de quase todos de minha idade, filhos da classe proletária e povos simples nos anos setenta e oitenta, fui obrigado a trabalhar de muitas coisas desde os onze ou doze anos. Uma das experiências mais curtas que tive foi a de vender picolés.

Consegui uma vaga em uma sorveteria e saí com o carrinho pela manhã. A experiência foi difícil e eu não passei do primeiro dia. Onde nós morávamos era uma região dura. Mas apesar das ameaças dos caras maiores, não diria que foi por isso que não quis continuar não. É que no dia que saí eu não vendi quase nada.

Se compararmos o que foram os anos de governos do PT e o que nos espera com os golpistas que tomaram o país de assalto e já estão praticando seus crimes de lesa-pátria e estão revertendo todas as conquistas do povo trabalhador brasileiro obtidas durante os governos Lula e Dilma, veremos a interrupção das oportunidades criadas com o PT.

Meus sobrinhos receberam Bolsa Família durante suas infâncias. Só estudaram. Pelas oportunidades geradas pelos governos do PT, ambos entraram em Universidade Federal. contrariando as estatísticas anteriores a Lula e Dilma, porque são jovens humildes e negros.

O que será de nosso futuro com os desgraçados que assaltaram o poder e estão assaltando os nossos direitos e nosso patrimônio nacional, em vias de ser transferido para os imperialistas novamente?


William
Leitor brasileiro

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