quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Reflexões a partir da história de Kimani Maruge



Filme "O aluno" retrata a vida do queniano Kimani Maruge.

Refeição Cultural

Assisti ao filme "O aluno" (2010) a convite de minha esposa. Havia chegado da Cassi depois das dez e meia da noite, após mais um dia com jornada de cerca de doze horas de trabalho.

O filme aborda a história real de Kimani Maruge, um notável cidadão queniano que lutou persistentemente pelo direito a se alfabetizar e estudar aos 84 anos de idade. Ele faz parte da história de luta de seu povo para libertar seu país do jugo dos colonizadores britânicos. Foi um dos combatentes revolucionários do movimento Kikuiu ou Mau Mau e nunca traiu seus juramentos patrióticos. Foi preso, torturado e viu sua família ser assassinada a sangue frio pelos britânicos (bárbaros!). Aos 84 anos, mantinha intacto seus princípios, juramentos e sonhos de uma nação queniana para seu povo. Também tinha claro que a educação é a chave para a libertação e por uma sociedade melhor e mais justa e igualitária. E lutou por isso até o fim de sua vida.

O filme já vale a pena só pelo fato de nos lembrarmos que no mundo existem pessoas como Kimani Maruge. Apesar da guinada à direita pela qual estamos passando; apesar da tristeza adoecedora que sentimos ao ver os golpistas destruírem o País que ajudamos a construir como militante de esquerda e sindicalista; apesar de ver a tendência de voltarmos a ser meros colonizados após tanto esforço do Governo Lula em sermos respeitados no mundo todo; e apesar da dor profunda de ver meus pares - os trabalhadores brasileiros e povo simples - serem tão facilmente manipulados por ferramentas ideológicas dos bilionários que ascenderam ao poder primeiro pelo golpe de estado no Brasil e agora pelo voto dos povos simples e despolitizados que escolheram a direita fascista e cruel para governá-los... apesar de tudo isso, tenho uma chama dentro de mim que queima por justiça, liberdade, igualdade, solidariedade e melhor condição de vida para o conjunto do povo e não somente para a parcela minoritária e secular que explora a massa humana de pessoas, cada uma delas, um ser humano com direitos universais.


Conhecer a história, o nosso passado e educar os trabalhadores é a chave para a libertação dos povos explorados por alguns humanos

Eu sou grato ao acesso que tive à educação pública, por mais depauperada que ela sempre tenha sido em nossa ex-colônia Brasil, porque através da alfabetização, da leitura, dos estudos, eu pude moldar meu caráter, minha ética, meus princípios. A educação obtida através de meus pais, somada à educação formal obtida na escola, me permitiu trilhar os caminhos que percorri em minha vida de trabalhador.

Também sou grato por ter tido a oportunidade de estar no seio do movimento organizado dos trabalhadores, o movimento sindical. Nenhuma escola, faculdade, mestrado, doutorado, "emebiei" e outros canudos do tipo ensinam tão bem o conteúdo de relacionamento humano em lidar com pessoas, organizá-las, ouvi-las e construir unidade e mobilização para atingimento de determinados objetivos coletivos. Essa matéria só se aprende no meio dessas bases sociais. Eu me formei efetivamente como cidadão politizado e com consciência de classe a partir do convívio com o movimento sindical. E nunca trairei os princípios que aprendi nesta vida de luta.

Eu acredito na formação e educação política através de um trabalho permanente, persistente e sistematizado de contato com as bases sociais que pretendemos organizar e representar para as lutas e conquistas daquele segmento social.

Desde que virei representante eleito por trabalhadores bancários, procurei executar com disciplina espartana meu trabalho de falar com a base, estar com ela no dia a dia, levar informações e, ao mesmo tempo, estudar muito a nossa história de lutas e conquistas e transmitir aos meus pares. Fiz isso durante meus quatro mandatos como diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região; fiz isso durante meus três mandatos na Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro; e agora, estou fazendo exatamente o mesmo durante o mandato que me deram na Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil.

Eu escrevo diligentemente em meu Blog de prestação de contas (leia AQUI) sobre a Cassi, sobre o mandato e sobre as questões afetas ao setor de saúde em que atuo com militância desde o primeiro dia de gestão. Cada vez que falo ou escrevo, procuro transmitir noções, história e conhecimentos afetos à esse eixo de direitos dos trabalhadores da comunidade Banco do Brasil: nossa autogestão em saúde.

Como boa parte dos escritores e escrevinhadores, sempre temos o desejo de melhorar nossas produções textuais, corrigir, agregar, diagramar melhor, fazer a "versão final" do texto. Estou relendo e fazendo versões finais de meus blogs sempre que posso. Mesmo estando num momento em que meu lado da classe está sendo derrotado, quero deixar meus registros como um cidadão proletário do mundo. As versões oficiais estão com os vencedores nas histórias das sociedades. As versões oficiais estão na Globo, Folha, Estadão, Editora Abril e lixos assemelhados que patrocinaram o golpe e a volta ao poder dos oligarcas e bilionários.

Reli o primeiro mês de postagens em meu Blog de trabalho, o Categoria Bancária, e recuperei imagens perdidas, links desatualizados, padronizei diagramação etc. Ao ler o mês de junho de 2014, fiquei satisfeito e com a consciência leve ao ver que mais de dois anos depois estamos fazendo exatamente o que nos comprometemos com os associados que nos elegeram. Com poucos dias de mandato, lá estava eu participando de reuniões de Conselhos de Usuários da Cassi, lá estava eu trabalhando mais de dez horas por dia em defesa da nossa entidade, dos nossos projetos e dos direitos dos associados.

Ao mesmo tempo, quando leio o que escrevi no passado, vejo o mundo em acontecimentos, vejo as leituras de contexto e conjuntura que já fazia lá atrás e que se realizaram, infelizmente. No mês de junho de 2014, vi alertas do que poderia acontecer caso a direita brasileira chegasse ao poder, e chegou por golpe e agora as previsões estão se realizando. Neste momento, a cada semana, os poderes institucionais dos legislativos, executivos e até do judiciário estão destruindo o passado de conquistas trabalhistas e sociais recentes, destruindo o presente e o futuro de nossas gerações de trabalhadores. É uma tragédia. É um tsunami conservador varrendo a história de conquistas e com máquinas totalitárias de comunicação manipulando as massas alienadas e não politizadas.

Eu acredito na reação e reconquista de espaços se o nosso lado da classe, a classe trabalhadora, derrotada neste momento de nossa história por uma direita fascista, que ocupou os aparelhos estatais de forma geral e atua com rapidez em extinguir nossos direitos e conquistas e talvez qualquer capacidade nossa de resistência, atacando partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais de jovens e despossuídos de terra e moradia, enfim, acredito na reação e para isso basta cada um de nós, com espíritos semelhantes aos de Kimani Maruge, de Lula e tantos outros como nós mesmos, sentarmos, nos unirmos por uma causa maior, deixar as vaidades de lado, e sair num trabalho organizado e disciplinado de reorganização de nossa classe trabalhadora para derrotarmos os golpistas, bilionários e traidores lesas-pátrias, mantidos a soldo por imperialistas que voltaram a tomar o poder e recolonizar nosso querido Brasil.

William


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