Dois bons livros do autor australiano Markus Zusak. |
Refeição Cultural
"Do que ele pode ter medo?
- O que eu vou fazer quando tiver uma luta que posso perder?
Então, é isso.
O Rube é um vencedor.
Ele não quer ser.
Ele quer ser, primeiro, um lutador.
Como nós.
Lutar uma luta que pode perder.
Respondo à pergunta para tranquilizá-lo.
- Você vai lutar de qualquer jeito, como nós.
- Você acha?
Mas nenhum de nós sabe, porque uma luta não vale nada se você sabe desde o início que vai ganhar. São as lutas no meio disso que põem você à prova. São as que trazem perguntas com elas.
O Rube ainda não esteve numa luta. Não numa de verdade.
- Quando acontecer, será que eu vou me levantar? - pergunta.
- Não sei - confesso.
Ele preferia ser um lutador mil vezes entre o bando dos Wolfe a ser um vencedor no mundo uma só vez.
- Me diz como fazer isso - pede. - Me diz. - Mas nós dois entendemos que algumas coisas não podem ser ditas nem ensinadas. Um lutador pode ser um vencedor, mas isso não faz de um vencedor um lutador" (Bom de Briga, Markus Zusak)
Assim como fiz a leitura do livro anterior do australiano Markus Zusak, O Azarão (1999), sobre os irmãos Wolfe, sozinho em casa, longe de filho e esposa, em março passado, li neste feriado o outro livro dele, Bom de Briga (2000), dando sequência à estória dos adolescentes Cameron e Rubem Wolfe e sua família proletária cercada dos problemas comuns de nós todos trabalhadores do mundo. Falta de dinheiro para o sustento, pai encanador desempregado, a busca dos jovens para se estabelecerem na vida.
Eu pensei muito na minha infância e adolescência difícil e na vida de meu amado filho quando li no mês passado o livro dos irmãos Wolfe (ver comentário AQUI).
Hoje, li com saudades dele e com preocupações a respeito do presente e futuro, tanto de meu filho quanto dos jovens filhos da classe trabalhadora brasileira. A estória dos jovens Wolfe é muito bem contada, retrata bastante a realidade em nosso mundo e me fez lembrar bastante o meu mundo dos anos oitenta e noventa, um cenário desolador para a classe trabalhadora, cenário que retorna ao Brasil após o Golpe de Estado em 2016.
Me emocionei bastante com a leitura, talvez pelo contexto. Nós temos que ser lutadores, independente de sermos vencedores. Aprendi isso em minha vida desde a infância num local difícil, na adolescência e primeira vida adulta com a miséria que nosso País vivia e com ele toda a classe trabalhadora. O contexto de pobreza, de desemprego, faz os adultos, os pais, se sentirem derrotados pela vida, pelo mundo. E a culpa não é deles, pois um país e seus governos devem estar a serviço de seu povo, dando a ele oportunidades para a vida com dignidade.
Também me tocou relembrar o difícil trilhar de cada jovem no começo de sua vida, seja ela em condição de miséria e também em melhores condições de vida. O buscar estabelecer-se na vida em sociedade, num mundo duro como é o nosso, é sempre um desafio grande para os adolescentes. Independente do contexto social em que se encontram os adolescentes, todos eles vivem seus dramas de relacionamento, para serem aceitos, para lidarem com os assédios que a vida lhes apresenta.
Gostei muito do livro. Eu senti um pouco mais meu filho. Já havia sentido isso na leitura de J. D. Salinger em seu clássico O apanhador no campo de centeio (1951), ler comentário AQUI.
O jovem autor Markus Zusak está de parabéns pelos dois livros retratando a família Wolfe. E olha que o livro mais famoso dele é A menina que roubava livros (2005), que ainda não li.
É uma leitura leve e que mexe com a gente que vive de levantar todos os dias para novas lutas, independente se vencemos ou perdemos a luta anterior (da vida).
William Mendes
Um amante da leitura
Lutar sempre, independente de vitoria, lutar pelo que é certo e justo. Lí A menina que roubava livros, Adorei!
ResponderExcluirOlá Ana, como vai? Espero que esteja bem.
ResponderExcluirNós temos aqui em casa "A menina que roubava livros", mas é um baita livrão... rsrs. Ainda não é agora que posso ler.
Abração!
Sempre nas lutas!
William