Este blog é para reflexões literárias, filosóficas e do mundo do saber. É também para postar minhas aulas da USP. Quero partilhar tudo que aprendi com os mestres de meu curso de letras.
domingo, 5 de maio de 2019
O Capital - O processo de troca (Karl Marx)
Refeição Cultural
"O dinheiro é um cristal gerado necessariamente pelo processo de troca, e que serve, de fato, para equiparar os diferentes produtos do trabalho e, portanto, para convertê-los em mercadorias. O desenvolvimento histórico da troca desdobra a oposição, latente na natureza das mercadorias, entre valor de uso e valor..." (P. 111, O Capital)
Retomando a leitura de Marx, agora do capítulo dois de O Capital, que trata na primeira parte da mercadoria e dinheiro, vamos nos acostumando com o estilo do filósofo, que por vezes é bastante irônico ao descrever fatos e apresentar ideias. Ele chega a dar vida e voz às mercadorias em seus textos como se fossem personagens de um romance.
"Não é com seus pés que as mercadorias vão ao mercado, nem se trocam por decisão própria. Temos, portanto, que procurar seus responsáveis, seus donos..."
Marx nos lembra que as mercadorias são coisas; coisas com valores de uso e valores. Como mercadorias serão trocadas, alienadas mediante consentimento e vontade de seus proprietários, gerando relações econômicas e jurídicas.
"Os papéis econômicos desempenhados pelas pessoas constituem apenas personificação das relações econômicas que elas representam, ao se confrontarem."
Para o proprietário, sua mercadoria não tem valor de uso direto; ele a leva ao mercado e lá ela é valor de uso para o comprador. O valor de uso para o proprietário é o fato de sua mercadoria ser depositária de valor, meio de troca.
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"Todas as mercadorias são não valores de uso para os proprietários, e valores de uso, para os não proprietários."
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Mas como as mercadorias têm de mudar de mãos, elas têm de realizar-se como valores, antes de poderem realizar-se como valores de uso.
E também tem a questão do trabalho humano inserido no valor das mercadorias:
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"Só através da troca se pode provar que o trabalho é útil aos outros, que seu produto satisfaz necessidades alheias."
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Em relação à questão que já lemos no capítulo anterior, sobre valor relativo e valor equivalente, temos que:
"Todo possuidor de mercadoria considera cada mercadoria alheia equivalente particular da sua, e sua mercadoria, portanto, equivalente geral de todas as outras mercadorias."
Mas todos pensam assim, aí está o problema. Depois nos é explicado que "apenas a ação social pode fazer de determinada mercadoria equivalente geral".
ANTROPOMORFISMO - Marx brinca com características e aspectos humanos nas descrições sobre a mercadoria.
"Igualitária e cínica de nascença, está sempre pronta a trocar corpo e alma com qualquer outra mercadoria, mesmo que esta seja mais repulsiva do que Maritornes."
E aqui vemos quão culto era Karl Marx, ao citar cientistas, filósofos, economistas, escritores e personagens de obras clássicas. Ele cita uma personagem de Cervantes, do Dom Quixote de La Mancha.
Segundo a Wikipedia, Maritornes é uma personagem da obra que era "...ancha de cara, llana de cogote, de nariz roma, del un ojo tuerta y del otro no muy sana. Verdad es que la gallardía del cuerpo suplía las demás faltas: no tenía siete palmos de los pies a la cabeza, y las espaldas, que algún tanto le cargaban, la hacían mirar al suelo más de lo que ella quisiera."
Por fim, ao explicar a questão da equivalência, Marx explica o papel do dinheiro que citamos no epigrama que começa a postagem. Ele diz que os produtos do trabalho se convertem em mercadorias no mesmo ritmo em que determinada mercadoria se transforma em dinheiro.
Paro a postagem por aqui e retomamos depois. Para ler as anteriores, clique AQUI.
Abraços,
William
Um leitor
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