(Atualizado 11h42)
Rio Araguari, sob a ponte da BR 365, MG. Foto tirada durante a romaria deste ano. |
Refeição Cultural
Domingo de sol em Osasco. Semana de lua cheia no céu. Mas os tempos são de penumbra. A sociedade brasileira e as pessoas conscientes e politizadas vivem tempos nebulosos. O lusco-fusco do fim de tarde (e de uma época) e as sombras embaçam nossa visão da estrada e do caminho a percorrer para se chegar à luz da paz, do amor, da igualdade e da solidariedade que aquecem e acolhem os seres vivos.
Minhas reflexões têm sido pautadas, por um lado, pela observação de nossa realidade de perdas coletivas causadas pelo golpe de Estado que impôs ao Brasil um novo regime de submissão ao império americano e às quadrilhas tupiniquins, e o contato com essa realidade tem trazido enorme sofrimento, justamente por sermos conscientes e politizados. Os crimes dos agentes do Estado são normalizados diariamente e a miséria crescente é invisibilizada por ferramentas de manipulação de massas.
Por outro lado, tenho refletido sobre as coisas ainda possíveis de se realizarem tanto coletivamente quanto individualmente, como membros da espécie humana que ainda estão por aqui, estamos aqui, neste mundo que é feito de instantes e mudanças que melhoram e pioram a vida dos seres que nele habitam. Mas o sentimento de solidão é grande ao vermos o nosso lado do front todo perdido, dividido; soldados enraivecidos e cegos - ou pusilânimes -, destreinados e sem formação básica, sem direção.
Em relação ao mundo que nos cerca, a sociedade brasileira em si - miserável e desigual -, não seria possível ver tanto absurdo sem reação da população, se esta fosse melhor ética e culturalmente, mas ela não é. O povo que temos é esse que está aí. Povo Macunaíma. E vejo que temos um sério problema de liderança. Em décadas de lutas, não forjamos uma geração nova que lidere com capacidade de alterar situações dadas. Um povo precisa de lideranças: não acredito em "movimento espontâneo" de miseráveis ou remediados. Enjaularam como animal a única figura que lidera e altera situações. Não temos outras.
Em relação ao que seria possível de ser feito ainda pelo indivíduo, se vivo está e com as condições mínimas de execução de projetos, as possibilidades seriam praticamente infinitas. Mas se é assim, por que o indivíduo não persegue e realiza seus objetivos mais comezinhos? Não sei! Este que reflete aqui não consegue sequer ler literatura sem o peso na consciência ao ver o mundo se acabando lá fora (sem reação!).
Se fosse possível um ser politizado e consciente, que reúne condições estáveis de sobrevivência, abstrair de toda injustiça e miséria que há em seu entorno social, era só sair para o abraço à felicidade e ir curtir a vida como se sonha por aí. Não se importar com nada é uma forma de escolha política egoísta bastante comum entre nós, animais humanos.
Aos cinquenta anos, vejo que nunca senti um aperto tão grande no coração ao ver toda a destruição de nosso mundo como agora, após o golpe de Estado organizado para interromper a trajetória do Brasil e do povo brasileiro rumo à independência econômica e rumo a um posto de potência mundial num mundo multipolar como se desenhava no início do século XXI.
O povo brasileiro estava ganhando e avançando como nunca com os governos progressistas e democrático-populares do Partido dos Trabalhadores, liderados pelo homem do povo Lula da Silva. Estava ganhando, mas por ser o povo o que é, se deixou enganar e se encantou pelo mal de uma forma que nos paralisa. De tão chocados, nós do campo da militância social, "idiotamente moralistas", como disse numa entrevista Jessé Souza, não estamos reagindo e provavelmente não reagiremos. Nunca mais seremos o que poderíamos ser.
E tendo consciência disso, nunca estive tão infeliz como agora, que ultrapassei o ponto em que a vida era um cotidiano de tentar a sobrevivência básica. Isso tudo é muito triste. Acho que daria a minha vida por algo que valesse a pena para inverter a tendência de destruição até o fim do que poderia ser o nosso país e o nosso mundo. Mas nem projetos de resistência existem, que dirá de reversão da tendência de dominação do mal que nos aprisionou.
Nós idiotamente moralistas não aceitamos falar em guerras civis, sequer pensar, mas já há uma contra nós e ninguém diz. Só estão morrendo pobres, pretos, índios, mulatos, brancos e pardos que se acham ricos, gente de origem na senzala ancestral. Seguimos bovinamente dóceis, esperando o fim.
Difícil realizar projetos pessoais assim. Difícil ser feliz assim.
William
Incômodo mental final: talvez dessa vez consigam extinguir a Petrobras, a Caixa, o BB, a Cassi, a Previ... quem liga? Alguns conscientes por aqui e por ali, e só. Depois passa. Já extinguiram tanta coisa e não teve convulsão social alguma. Diziam: se derrubarem a Dilma a gente... Se prenderem o Lula a gente... alguns dizem que se o Lula morrer... (é provável que seja mais do mesmo dos absurdos normalizados. O nazismo foi exatamente assim, após a ascensão de Hitler, e deu no que deu: gente nos fornos)
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