terça-feira, 17 de setembro de 2019

170919 - Diário e reflexões



Ipês amarelos: Faculdade de Letras/USP.

Refeição Cultural

Definir novos objetivos de vida aos cinquenta anos de idade não é um processo simples. Não é. Ainda mais quando se está vivendo num país sem democracia, sob regime de exceção. O contexto político, econômico e social influencia bastante o lado psicológico das pessoas com formação e consciência política. Os tempos são de tristeza, desesperança e depressão.

Nesta fase da vida, a busca de novos sentidos para o existir é mais difícil porque a incerteza do amanhã passa a ser uma companheira indesejável com o passar do tempo. Todos podemos deixar de existir a qualquer momento, por acidente, por violência, por doença. Mas os riscos de se chegar ao fim por alguma falência do corpo vão aumentando e isso é assim mesmo. Nunca tive problema com essa certeza.

Meio que por acaso voltei a estudar. Não queria pegar um diploma de graduação em Letras só com uma parte do que estudei anos atrás. Acabei voltando para a graduação com uma quantidade enorme de créditos a cumprir pela nova grade curricular. São muitas disciplinas a fazer num prazo de dois anos. Já fiz duas no primeiro semestre e agora estou fazendo mais quatro. Males que vêm pra bem. Estou lendo pacas!

A minha condição de saúde mudou bastante num curto espaço de tempo. Dizem que o corpo sente a mudança brusca de rotina de vida. Passei quase duas décadas com a adrenalina a mil lutando pelas causas da classe trabalhadora. O último mandato eletivo que fiz abalou drasticamente minha saúde. Foram quatro anos trabalhando em ritmo de luta, em três jornadas diárias. Não dormir por tanto tempo pesou em minha saúde atual.

Tive que deixar de ficar o dia todo acompanhando as desgraças em nosso país e com o nosso povo em consequência do golpe de Estado e da tomada do poder estatal por fraudes eleitorais e processos corruptos que contaram com canalhas instalados em setores de todos os poderes institucionais e dos empresários da comunicação no país. Estava adoecendo mais rápido por ver toda a destruição sem reação adequada da oposição e do povo. Não me alieno, mas estou me policiando em ver as merdas por menos tempo.

Enfim, fica sempre a mesma pergunta a mim mesmo: por que escrever? por que ler? e rapidamente preciso responder a mim mesmo que é necessário registrar toda essa desgraça que se passa em nosso país, em nossa vida. E se estamos vivos, temos que ler, estudar, ser menos ignorantes, mesmo sabendo que a vida é um instante e que a incerteza do amanhã é um fato inexorável.

Eu gostaria de estar vivo para ver cair esse regime fascista de destruição do Brasil e dos direitos e esperanças do povo brasileiro. Gostaria de ver diminuir a imbecilização de parte considerável dos seres humanos. Sendo assim, preciso encontrar equilíbrio interior e seguir sendo uma pessoa que de alguma forma contribua para a sociedade humana, nem que seja compartilhando com alguns internautas as aulas e leituras que tivemos a oportunidade de fazer.

William

#LulaLivre (até quando vão manter essa injustiça e até quando o povo vai deixar essa injustiça prevalecer?)

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