sábado, 12 de outubro de 2019

Sobre as vanguardas latino-americanas - Alfredo Bosi



Professor Alfredo Bosi. Foto: ABL.

Refeição Cultural

Este texto do Professor Alfredo Bosi é a "Introdução" ao livro "Vanguardas Latino-Americanas - Polêmicas, Manifestos e Textos Críticos", de Jorge Schwartz, publicado em 1995 pela Edusp. Bosi apresenta de forma clara o quanto foram amplos, diversos e de difícil organização de pontos comuns os movimentos de vanguardas latino-americanas na primeira metade do século XX.

Estou estudando as vanguardas em uma disciplina do curso de graduação em Letras na Universidade de São Paulo e a reprodução de partes do texto do professor Bosi tem o intuito de compartilhar conhecimento e educação de forma gratuita e como referência para outros estudos e novos conhecimentos a partir daí.

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A Parábola das Vanguardas Latino-Americanas

Bosi inicia a introdução ao livro, destacando o trabalho fantástico desenvolvido pelo crítico argentino-brasileiro e professor de Literatura Hispano-Americana Jorge Schwartz.

Depois começa a dissertar a respeito das vanguardas em si.

"Consideradas por um olhar puramente sincrônico, isto é, vistas como um sistema cultural definido no espaço e no tempo, as nossas vanguardas literárias não sugerem outra forma se não a de um mosaico de paradoxos. Causa embaraço ao seu historiador atual qualquer tentativa de exposição sintética desses movimentos, pois a busca de traços comuns esbarra a cada passo em posições e juízos contrastantes. O leitor de hoje, se interessado em detectar o caráter dessa vanguarda continental, o quid capaz de distingui-la de sua congênere europeia, colhe os defeitos de tendências opostas e, muitas vezes, repuxadas para seus extremos: as nossas vanguardas conheceram demasias de imitação e demasias de originalidade.

Quem insiste em proceder ao corte sincrônico terá que registrar, às vezes no mesmo grupo e na mesma revista, manifestos em que se exibe o moderno cosmopolita (até à fronteira do modernoso e do modernóide com toda a sua babel de signos tomados a um cenário técnico recém-importado) ao lado de exigências convictas da própria identidade nacional, ou mesmo étnica, misturadas com acusações ao imperialismo que desde sempre massacrou os povos da América Latina.

Assim, no interior da mesma corrente, como por exemplo entre os modernistas brasileiros da fase mais combativa (de 22 a 30, aproximadamente), valores estetizantes mais protestos nacionalistas pedirão a sua vez impondo-se à atenção do pesquisador que se queira analítico e isento de preconceitos. A esse historiador caberá por fim adotar a linguagem resvalante das conjunções aditivas que somam frases semanticamente disparatadas embora sintaticamente miscíveis: 'o modernismo foi cosmopolita e nacionalista'; 'as vanguardas buscaram inspiração nos ismos parisienses bem como nos mitos indígenas e nos ritos afro-antilhanos', ou ainda, 'a arte latino-americana de 20 foi não só absolutamente pura como também radicalmente engajada'...

Essa leitura estática tenderia a cair por si mesma sob o peso das antinomias que pretendesse agregar. As vanguardas não tiveram a natureza compacta de um cristal de rocha, nem formaram um sistema coeso no qual cada face refletisse a estrutura uniforme do conjunto. As vanguardas devem ser contempladas no fluxo do tempo como o vetor de uma parábola que atravessa pontos ou momentos distintos."

Mas uma visão que persiga modos e ritmos diferentes não deverá, por sua vez, camuflar a imagem de uma outra unidade, sofrida e necessariamente contraditória: a unidade do processo social amplo em que se gestaram as nossas vanguardas. As diferenças entre movimento a e movimento b, ou entre posições do mesmo movimento, só são plenamente inteligíveis quando se consegue aclarar por dentro o sentido da condição colonial, esse tempo histórico de longa duração no qual convivem e conflitam, por força estrutural, o prestígio dos modelos metropolitanos e a procura tacteante de uma identidade originária e original.

Nos escritores mais vigorosos que por sua complexidade interior se liberam mais depressa das palavras de ordem, é a busca de uma expressão ao mesmo tempo universal e pessoal que vai guiar as suas poéticas e as suas conquistas estéticas. As passagens, as mudanças aparentemente bruscas que se observam, por exemplo, em Mário de Andrade e em Borges, conheceram motivações de gosto e ideologia mais profundas do que o pêndulo das modas vanguardeiras. No entanto, como nada acontece fora da história (totalizante: pública e íntima), também as opções decisivas desses artistas tão diferenciados se inscrevem naquela dialética de reprodução do outro e auto-sondagem que move toda cultura colonial ou dependente.

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Sigo depois com o texto do Professor Bosi. Ele é muito esclarecedor para leitores amadores como nós.

É isso. Sigamos aprendendo algo novo, já que estamos vivos.

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