quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Vanguardas e contemporaneidades hispano-americanas (I)



Relógio da USP, em frente à FFLCH.

Refeição Cultural

Esta postagem se refere a anotações feitas por mim em sala de aula, aulas com a Professora Doutora Idalia Morejón Arnaiz, da disciplina de Vanguardias y Contemporaneidad, matéria na qual estudaremos um panorama crítico da narrativa e da poesia hispano-americana, desde as vanguardas dos anos 1920 até o presente, através da leitura e análise de textos literários e ensaísticos que colocam em evidência as propostas de ruptura e continuidade estética e cultural ao longo de um século.

As anotações são de minha inteira responsabilidade. Qualquer equívoco conceitual pode ser corrigido pelo(a) leitor(a) buscando outras fontes sobre o tema conflitante. Aqui é um espaço de compartilhamento gratuito de informações e conhecimento, dentro do conceito Wiki: What I Know Is.

Durante as postagens, vou variar os textos entre português e espanhol, e as não conformidades formais das duas línguas são de minha responsabilidade também. Combinado?

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Temas que serão abordados durante o semestre conforme o programa da disciplina de responsabilidade da Profa. Dra. Idalia:

1. Las vanguardias latinoamericanas de los años 20:  teorías y polémicas. Lectura crítica de manifiestos y ensayos.

2. La poesía vanguardista: Vicente Huidobro, César Vallejo, Nicolás Guillén.

3. La renovación narrativa a partir de la década de 1940 y la crísis del realismo. Los narradores del Boom: Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez.

4. La postvanguardia latinoamericana: antipoesía y neobarroco de Nicanor Parra a José Kozer.

5. Literatura y arte contemporáneo. Las literaturas del siglo XXI: Mario Bellatin, Carlos A. Aguilera.

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Aula de 06/08/19

Durante a aula, anotei alguns eixos temáticos e pontos que considerei importantes para fixar. Vamos ver poesias e manifestos desde a década de 20 do século XX. Foco na questão da história e da autonomia das vanguardas literárias.

Em linhas gerais, há duas formas de se analisar ou se definir os objetivos ou as características dos textos literários e poéticas dos autores: literatura como veículo de disseminação das ideias das sociedades ou literatura como arte em si mesma, que se "protege" da sociedade e suas realidades.

A linha que vamos seguir na disciplina é a da autonomia da literatura como vanguarda. Nos foi pedido para ler um texto de Eduardo Milán, poeta, ensaísta e crítico literário - Visión de la poesía latinoamericana actual.

A professora nos alerta que estudar as vanguardas requer dos leitores certas habilidades novas. Um exemplo da diferença de linguagem poética em relação à tradição que havia pode ser visto na obra "Trilce" de César Vallejo.

O contexto em que se deram as vanguardas na primeira metade do século XX é marcado pelas duas grandes guerras e pela crise econômica dos anos trinta. Os "ismos" são deste período: Futurismo, Dadaísmo, Cubismo etc. 

Os artistas buscavam uma espécie de rebeldia do homem perante a morte e as crises. Outro objetivo das vanguardas era romper com as tradições artísticas.

Tradição x Ruptura

Outra obra crítica que vamos ler na disciplina é Los hijos del limo - Del romanticismo a la vanguardia, de Octavio Paz, poeta e ensaísta mexicano.

A tradição do Barroco é uma das poéticas que se mantêm ao longo do tempo: sonetos com estrofes com versos em decassílados 4/4/3/3. São formas fixas bem tradicionais. Retoma temas antigos, exemplo: Sor Juana Inês de La Cruz e a decadência do corpo e a passagem do tempo.

Atenção: nas vanguardas não confundir o novo com novidades, pequenas variações na tradição. No Barroco, as temáticas são retomadas com pequenas alterações. O novo tem que nascer, tem que romper com a tradição para mudá-la.

"Trilce" de Vallejo, de 1922 - não havia leitores preparados para compreenderem o novo que estava chegando com as vanguardas. Essa obra de César Vallejo era uma poesia difícil, de pouco acesso à compreensão dos leitores, e isso ainda hoje. Foi composta no cárcere, apenas com um dicionário de subsídio para o poeta. Veja abaixo uma poesia de Trilce:

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II

          Tiempo Tiempo.

Mediodía estancado entre relentes.
Bomba aburrida del cuartel achica
tiempo tiempo tiempo tiempo.

          Era Era.

Gallos cancionan escarbando en vano.
Boca del claro día que conjuga
era era era era.

          Mañana Mañana.

El reposo caliente aún de ser.
Piensa el presente guárdame para
mañana mañana mañana mañana

          Nombre Nombre.

¿Qué se llama cuanto heriza nos?
Se llama Lomismo que padece
nombre nombre nombre nombrE.


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Creacionismo - Vicente Huidobro

Autor chileno

Os manifestos e a poesia de Huidobro tiveram grande impacto nas vanguardas hispano-americanas. O escritor propõe a negação da mímese da natureza e a criação de nova linguagem.

Tradição: poesia como mímese da natureza.
     x
Ruptura: criação de novas palavras e nova linguagem poética. Destruir a linguagem para criar nova linguagem.

A professora nos explica que o ensaio de Octavio Paz que devemos ler é fundamental para melhor compreensão conceitual sobre as vanguardas. O texto é referência até hoje, mesmo tendo sido escrito nos anos 70.

Romper com as tradições não quer dizer que elas deixaram de existir nas artes. Por isso é importante ler o texto de Octavio Paz.

A partir das vanguardas literárias ocorre uma aproximação das letras e da poesia com as artes pictóricas.

Termos utilizados para definir as novas poéticas surgidas a partir das vanguardas:

- Literaturas expandidas
- Literaturas interferidas
- Artes verbais
- Reprodução ampliada
- Literaturas inespecíficas

Sobre alguns autores da época:

- Jorge Luis Borges: um dos maiores de sua língua e nunca usou  a cor local. Ler o texto dele "El escritor argentino y la tradición". Borges renegou seu período vanguardista, dos tempos da juventude.

- Oliverio Girondo: apesar de ter sido cada vez mais vanguardista, se estuda dele muito mais as obras do início da carreira que da fase de vanguarda.

Vamos estudar alguns manifestos do período durante as aulas.

A professora comentou em sala que há uma espécie de rejeição de parte dos europeus aos escritores do período chamado El boom, dos anos 60. Isso tem relação com as diferenças entre Espanha e países hispano-americanos.

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Amig@s leitores, não é fácil organizar em um texto toda informação que anotei correndo durante a aula. Tentei sintetizar o que foi possível.


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