sábado, 4 de abril de 2020

Leitura: Decamerão (1353) - Giovanni Boccaccio




Refeição Cultural

Hoje é sábado, dia 4 de abril de 2020 (d.C.)*.

Estamos vivendo uma pandemia mundial. O mundo parou literalmente desde o início do ano. A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) foi identificada inicialmente na China e depois se espalhou pelo planeta (que alguns animais humanos dizem ser plano, apesar de serem bípedes e com telencéfalos altamente desenvolvidos, como disse o cineasta Jorge Furtado, no documentário Ilha das Flores, de 1989). 

Neste momento, já passa de um milhão o número de pessoas atingidas pelo vírus e mais de 60 mil perderam suas vidas, sendo que Itália, Espanha e demais países da Europa foram fortemente atingidos. Agora a pandemia avança nas Américas, e um dos novos epicentros dela são os Estados Unidos. Semanas atrás, o presidente de lá e o de cá afirmaram que a pandemia era um exagero, coisa de gente alarmista, e que não passava de uma "gripezinha".

No Brasil, os efeitos da pandemia começam a aparecer. Como o Brasil é diferente de tudo no planeta - país jabuticaba, onde preto é racista, pobre é de direita e funcionário público é contra o Estado -, temos aqui uma situação trágica de ordem política, social e econômica que torna imprevisível o que virá com o avanço da pandemia. (O país já se encontra destruído com a pandemia do bolsonarismo)

O país sofreu um golpe de Estado em 2016 e o pouco que havia de civilidade e normalidade institucional republicana foi se desfazendo ao longo dos anos até chegarmos ao momento atual: fraudes eleitorais fizeram com que tivéssemos na cadeira da presidência um ser chamado Jair Bolsonaro. Aliás, sua prole está na Câmara, no Senado e dizem haver parentes e amigos do clã enfiados até nos almoxarifados do poder.

É nesse cenário real que peguei para ler o clássico de Giovanni Boccaccio. O Decamerão foi composto entre os anos de 1348 e 1353, após a peste que devastou a Europa naquele período. No romance, dez jovens, sendo sete moças e três rapazes, narram cem novelas em dez dias ou jornadas, origem grega do nome Decamerão. Eles se reúnem numa propriedade nos arredores de Florença e ali se revezam narrando as histórias de amor, de aventuras, de sabedorias, de vilanias, de sofrimento etc. Talvez este seja um dos livros mais apropriados do mundo para lermos neste momento da história.

Estamos em quarentena em casa. A quarentena é sugestão das autoridades sanitárias e médicas do mundo todo. Em alguns lugares é ordem, em outros é sugestão. Chamam de isolamento social horizontal ou vertical. Mas no Brasil, como disse, tudo é diferente do mundo. Os degenerados no poder federal atuam contra tudo e todos. Querem que todos peguem a doença, conquanto que seus financiadores e apoiadores bilionários não parem a exploração da mais valia da massa de miseráveis brasileiros. Segundo os empresários que financiaram o bolsonarismo, não tem problema "morrer uns 7 mil".

Por fim, para o momento, digo que li o proêmio (um prefácio), onde o autor-narrador descreve o porquê da obra e depois li uma espécie de introdução dentro da primeira jornada, descrevendo o cenário em que se passam os acontecimentos do romance no qual os personagens estão reunidos e contando histórias.

Já li três novelas, as narrativas com as histórias dos personagens senhor Ciappelletto, senhor Giannotto e senhor Melquisedeque. Li uma por dia: anteontem, ontem e hoje.

Faltam 97 novelas ou histórias. Serão 97 dias. Não tenho pressa, estou em quarentena mesmo. Vamos ver se chegamos ao fim das dez jornadas com as dez narrativas em cada uma delas, o que equivale às 100 histórias, que no meu caso serão narradas (lidas) em 100 dias. Que essa peste não me pegue! A do coronavírus, quero dizer! Porque a do bolsonarismo nos pegou a todos, querendo ou não, apoiando ou não essa doença. As consequências estão aí. É um salve-se quem puder.

Estamos vivos, então sigamos...

William

*Diversos analistas e intelectuais afirmam que o mundo mudou após a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Dizem que nada será como antes na forma como a sociedade atual está organizada. Eu estou brincando com o conceito antes e depois do Covid-19 (a.C. - d.C.).

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