quinta-feira, 28 de maio de 2020

280520 (d.C.) - Diário e reflexões



Tia Alice, vovó Cornélia, tia Lúcia, no aniversário
de 84 anos de nossa avozinha, em Uberlândia, MG.
Tia Alice e a vovó nos deixaram muitas saudades.

Eram quase dez e meia da noite desta quarta-feira e o meu intestino estava roendo fundo, não era o estômago, era um tipo de roeção no intestino. A cada dia que passamos vivendo sob o governo do Mal parece que as tripas da gente sofrem uma espécie de roeção, efeito de ver tudo o que vemos. É de dar dó ver o que virou o nosso antigo mundo, o Brasil, ver o que somos neste momento.

Por algum motivo, lembrei-me da querida tia Alice, falecida já faz alguns anos. Como amávamos nossa querida tia, irmã de minha mãe. Eu senti uma necessidade de comer uma feijoada naquele exato momento que pensei na minha tia Alice. Me lembro da alegria que eram os dias na casa da vovó e da tia porque debatíamos o mundo inteiro, tomando uma cervejinha no almoço, e no fim da tarde comendo pipoca e tomando um cafezinho.

Por sorte havia sido dia de feijoada em São Paulo e nós tínhamos pedido uma na hora do almoço. Eu não comi naquela hora. Mas tinha sobrado. Vamos lembrar que estamos sob a Covid-19 e enfrentamos uma quarentena há mais de dois meses. Quem sai para comprar as coisas necessárias sou eu, com alguma daquelas merdas de máscaras e parecendo os tuaregues no deserto.

Nunca me esqueço do dia em que estávamos na casa da vovó e da tia Alice, reunidos em família, e o almoço seria uma bela feijoada feita em casa. Minha tia estava com câncer e estava deitada no quarto. Nos revezávamos o tempo todo conversando com ela.

Fiz um prato enorme de feijoada, mesmo sendo mais de dez horas da noite. Nossa realidade é essa merda de coronavírus, com mil mortes por dia e uma disputa política feita em cima da maior pandemia do novo século, com um genocida fazendo de tudo para que morra um monte de gente que poderia sobreviver caso o governo se importasse com as pessoas e seguisse as recomendações de isolamento e quarentena que o mundo todo adotou. Essa merda toda nos trouxe um clima de morte que ninguém mereceria num mundo normal. Mas o país é uma jabuticaba, caso único no mundo.

Nunca me esqueço que a tia Alice me falou deitada no quarto que tudo que ela queria era sarar logo para poder voltar a comer e ela estava louca de vontade de comer um pouquinho daquela feijoada.

Esquentei o pratão de feijoada no micro-ondas, peguei meio copo de Coca Cola com limão espremido, escolhi ouvir uma música (Kitaro) que me fizesse relaxar um pouco dos pensamentos envoltos na desgraça que nos abateu com o governo do Mal e da morte e da mentira e do fanatismo de seguidores zumbis que perderam a capacidade de pensar. Só de se informar e de ser politizado e consciente o nível de intoxicação que sofremos nos afoga em vida. Que horror!

As vítimas acometidas pelo novo coronavírus dizem exatamente isso, que o ataque do vírus aos pulmões faz com que as vítimas sintam uma sensação de estarem se afogando no seco.

O nível de intoxicação do bolsonarismo que tomou conta do país parece que afoga a gente; quando não afoga, dá uma roeção no intestino de tanta tristeza em ver um bando de pessoas que eram seres humanos talvez normais e que hoje são zumbis acéfalos andando por aí babando e vociferando ódio, grunhindo.

Comi a feijoada lentamente, com direito a tudo o que faz mal pra saúde de quem está com pressão alta e colesterol acima da média. Ouvi Kitaro. 

Se morresse agora, esta noite, por esses instantes, não morreria com vontade de comer uma feijoada como acho que aconteceu com a nossa querida tia Alice.

Vou dormir, já são mais de duas horas da madrugada. Um novo dia... um dia igual na política, de destruição do país, de mais aberrações do governo, sem nada acontecer a ele.

Provavelmente morrerão mais umas mil pessoas de Covid-19 que não precisariam morrer. Não me parece que a quinta-feira será muito diferente desta quarta. 

Faça o crime que fizer, o bando enorme de vigaristas que colocaram nas instâncias de poder não vai largar o osso sem incitar uma guerra civil, como foi prometida pelo inumano que colocaram no poder.

Seguimos, já que estamos aqui. Quem sabe a gente um dia veja esses desgraçados caírem e o país voltar a ter alguma perspectiva de reconstrução.

Tia Alice, saudades! Como disse pra senhora e pra vovó no dia do enterro da vovó, eu lutei por quase duas décadas como dirigente eleito dos trabalhadores por causa de pessoas como vocês, simples, humildes e que mereciam uma vida melhor.

William
Sobrinho da tia Alice

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