quarta-feira, 14 de outubro de 2020

À la Benjamin Button... (11)


Instantes: 9/5/20.

Refeição Cultural

Olhar para trás...


Hoje é dia 14 de outubro. Ano 2020. Uma quarta-feira.

Estava mexendo em papéis velhos. Quanta história há neles. Reviro as pilhas de papéis e documentos com a intenção de jogá-los fora e na hora H não consigo. Os papéis me lembram de uma época recente em que a classe trabalhadora vivia momentos mais promissores. O Brasil parecia ter encontrado o caminho da felicidade. Eu participei da construção daquela realidade da história brasileira com democracia, liberdade, ascensão social, oportunidades para as camadas populares da sociedade. 

Pensando os tempos históricos, é algo muito recente aquele mundo melhor. Estou falando de 2006, 2008, 2010, 2012. Em 2014 o Brasil alcançava praticamente o pleno emprego e com direitos sociais (menos de 5% de desemprego), com aumentos reais do salário mínimo e dos salários das categorias profissionais fazia uma década. Direitos novos para a classe trabalhadora. Empresas públicas sem risco de extinção e doação, pelo menos as estatais federais (sob governos do PT). As pessoas tendo plena liberdade de dizer o que bem queriam, inclusive contra o governo federal. Hoje vivemos uma tragédia. A destruição de tudo contando com o apoio de parte do povo idiotizado e parte apoiando a destruição por pura canalhice egoísta e lesa-pátria. Por puro ódio incentivado e estupidificante. Que retrocesso em tão pouco tempo!

Onde erramos? Quanto da realidade é culpa nossa, individual, quanto é culpa nossa, coletiva? Será que tudo que fazemos é em vão, em relação à luta de classes? A impressão, neste momento em que avalio minhas cinco décadas de existência, é que a gente luta, avança um pouco e tudo volta ao normal; o normal sendo uns poucos com todo o poder violento e totalitário contra a imensa maioria do povo. Isso é o que conhecemos de alguns milhares de anos da existência humana, em qualquer lugar do Planeta. A violência e a força são as ferramentas que vencem na luta pela existência na natureza. E a ideologia da classe dominante também. Como indivíduo, naquilo que posso, não endosso essa questão de uns poucos desgraçarem a nossa vida. Mas que essa é a realidade, é.

É tudo tão sem sentido, nesta conjuntura social, que morro qualquer hora dessas e toda a papelada de história, que fico com dó de jogar fora, vai pro lixo. Tudo some. Tudo se apaga e é apagado. Vaporizado, como acontece no clássico distópico 1984, de George Orwell. O que era distopia na ficção, virou a realidade. Veja o Brasil após o golpe de 2016... Na ficção, tínhamos o Ministério da Verdade, baseado nas mentiras; tínhamos o Ministério do Amor, baseado no ódio. 

A ficção virou realidade. Agora temos ministério da educação, baseado na ignorância e destruição da educação; ministério do meio ambiente, baseado na extinção da fauna e flora; ministério da saúde, baseado no dane-se o povo. Aquela realidade que vi faz pouco tempo, parece agora uma ficção distópica. 

Que pena tudo isso! As coisas poderiam ser diferentes, já que não são naturais como as leis da Física, mas são naturalizadas pela ideologia da classe dominante. Que saco tudo isso! A gente não desiste, mas tudo conspira para que o mal vença. A gente ganha, porque não pactua com o mal, mas perde, porque o mal vai destruir tudo. Não tenho ilusões metafísicas e esotéricas. 

Olhando para trás, meses atrás, vi que a gente tinha sido convencido em fazer isolamento social porque a pandemia era algo sério. Os representantes do mal diziam que a Covid-19 era uma "gripezinha" e que poderia morrer umas "7 mil pessoas", mas que a vida era assim mesmo. Passados meses, vemos que a realidade é péssima. Já morreram mais de 150 mil pessoas no Brasil. 

Agora, mais que no começo da pandemia, quase não morrem ricos, classe média, gente famosa com recursos, gente branca. Morrem pobres, pretos, pardos, gente sem plano de saúde, gente sem remuneração certa. Morre gente na periferia das cidades. É como se algo viesse para diminuir as pessoas que dependem do Estado para viver: idosos, pessoas com alguma doença crônica, enfim, pobres em geral.

De novo, ao ver o cenário da sociedade humana, ele se parece muito com os cenários naturais em condição de natureza, nas savanas, nas florestas, desertos, nos habitats onde sobrevivem os mais fortes, mais adaptados e os que sobrevivem por acaso. Que merda! 

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(Olhando para trás, vejo que algumas postagens que fiz em rede social registram impressões, sentimentos e leituras de possíveis acontecimentos futuros)

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14/6/20

LITERATURA

Leitura do 3° conto do livro de Cortázar - Las armas secretas. "El perseguidor", ao som do grande músico de jazz Charlie Parker.

Post Scriptum (21h): Ufa! 80 páginas. Eu não conhecia o jazzman retratado neste conto de Cortázar, Charlie Parker (Bird). Ouvi por horas as músicas dele.

(Lá fora, seguem as coisas do mundo. Pandemia, mortes, fascismo, e alguma resistência surgindo)

17/5/20

POLÍTICA - DESUNIÃO DA ESQUERDA (II)

A "esquerda institucionalizada" e ou seus burocratas, sei lá, decidiram se extinguir... cansaram de existir. O mal que se apoderou do poder, agradece!

Post Scriptum: além da matéria estar excelente (da Revista Fórum, sobre ser necessário alianças país afora entre PT, PCdoB e PSOL), me fez lembrar das eleições Cassi 2018 e 2020... as questões de divisões no campo da esquerda e popular são de consequências óbvias! 

(Mas o óbvio vai prevalecer DE NOVO..., é o que prevejo)

16/5/20

POLÍTICA - DESUNIÃO DA ESQUERDA

Frente ampla, frente única, unidade da esquerda? Com os humanos que temos aí? Esquece! Seremos extintos antes... (sobre desistência de Freixo em ser candidato no Rio por não haver unidade da esquerda)

Triste afirmar isso, mas passei duas décadas no movimento e vi a degeneração dos princípios e práticas da esquerda... nossa essência era a solidariedade e a tolerância, o diferente importava...

Já era! As bolhas cada vez menores de gente concordante acabou com a esquerda.

15/5/20

UM "MINISTRO" SOBRE O BANCO DO BRASIL

"Vamos vender logo a porra do Banco do Brasil" teria dito o Ministro do cara eleito com 57 milhões de votos de mulheres, negros, pobres, colegas da ativa e aposentados do BB...

Depois da "porra" de nossa empresa pública ser doada, os caras vão meter a mão nos BILHÕES de nossas aposentadorias da Previ...

Tudo bem, coleguinhas de direita? Será que vai fazer falta o complemento de aposentadoria da Previ na vida de vocês? (Continuem bolsonariando)

09/5/20

JÁ FIZEMOS COISAS BOAS

Instantes (já fizemos muita coisa boa...)

Acordei e peguei o celular para ver alguma coisa do mundo em declínio. Tudo fragmentos, instantes de um mesmo mundo.

Ao ler um texto de memórias do companheiro Zé Alves, pensei no quanto nós trabalhadores já fizemos coisas boas. Zé Alves é um brasileiro.

Ontem, conversava com um grande amigo, Ricardo Linares, e ele me contou da rotina em família durante a quarentena. Comentei com minha esposa emocionado o quanto é legal ver pessoas como ele esposa e filhos estarem bem e atravessando essa pandemia unidos e crescendo juntos. Ricardo é um brasileiro.

De meu desejo de ser mais acabativo com leituras, porque a vida se tornou muito incerta e se vive hoje, se tosse, falta o ar e se morre amanhã, fui olhar as pilhas de livros iniciados e não acabados. Tem clássicos, tem lançamentos, tem romance, tem de política, tem de história...

Aí peguei agorinha o de romance do Sandro Sedrez dos Reis. Amigo de coração. A estória começava em um sábado de algum outono do século XXI (coincidência!) E acabei fazendo um cappuccino como a personagem... o livro do Sandro é um dos lançamentos que tenho iniciada a leitura. O livro já me fez pensar muito, as estórias pegam a gente de jeito. O Sandro é um brasileiro.

Nesse instante, ouvindo a trilha sonora de um filme que mexeu comigo (ver abaixo), pensando em várias vidas comuns de brasileiros como Zé Alves, Ricardo Linares, Sandro Sedrez, eu mesmo, olhando pra história de vida da classe trabalhadora, no BB onde passamos nossa vida, emocionado e com lágrimas nos olhos, tenho a certeza que fizemos coisas boas, lutas pessoais e coletivas que visavam o bem e não prejudicar ninguém.

Quando lembro de quanto busquei energia extra dentro de mim pra enfrentar patrões, assediadores, gente má (algumas pessoas são más, de verdade), e também para enfrentar adversidades normais na luta entre capital e trabalho, sei que fizemos coisas boas para as pessoas.

Minha última etapa de lutas coletivas foi à frente da diretoria de saúde da autogestão dos funcionários do BB. Apesar de todas as dificuldades antigas de falta de recursos da entidade, fizemos coisas boas na área que éramos responsáveis. Nunca vou me esquecer das carinhas dos funcionários nas reuniões presenciais que fazíamos de Norte a Sul, de Leste a Oeste, conversando com todo mundo, de igual pra igual, d@ gestor(a) ao auxiliar, ouvindo a tod@s com respeito. O mesmo se dava com os funcionários do BB que representamos. Fizemos coisas boas, sei disso, e fizemos porque tivemos muita gente boa conosco. Sou muito grato a tod@s.

A gente torce para que passe esse período de ascensão do mal e da ignorância e que as pessoas voltem a ter oportunidades de vida como nós tivemos em nossas vidas de lutas.

(ouvindo Stay Alive... Don't Let It Pass... Space Oddity... trilha sonora do filme A vida secreta de Walter Mitt)

07/5/20

SOBRE A QUESTÃO SE FALHEI (FALHAMOS) OU NÃO EM RELAÇÃO À SITUAÇÃO EM QUE CHEGAMOS

Opinião

Post Scriptum (7/5/20, às 10h20):

Após ver os comentários, boa parte deles embasados no comportamento político questionável do cidadão Lima Duarte, e eu respeito os comentários, que por sinal me fizeram pensar se eu acertei ou errei ao aproveitar o vídeo de Lima Duarte para fazer uma autocrítica sobre a situação em que nos encontramos, eu penso o seguinte:

Quem fala, fala de algum lugar. Não existe fala neutra, isenta, imparcial. O pior é quando dizem que uma fala é "técnica" como se um técnico não fosse tucano, petista, bolsonarista, agressor de mulheres, racista etc.

O Lima Duarte, na altura de seus 90 anos, pode não ser a melhor pessoa para fazer mea culpa de suas posições políticas que contribuíram para o país chegar ao ponto em que chegou com o MAL no poder e com adesão de 1/3 das pessoas comuns. Mas é importante ele pedir perdão, sim! 

Inclusive ao amigo que se suicidou por não aguentar mais!

(Hitler - e o nazismo - conquistou apoio expressivo do povo alemão também. Como teria sido possível? Todo o povo alemão era mal? Ou vários fatores contribuíram para aquela desgraça toda?)

Eu refleti sobre os comentários e sobre o que escrevi e reafirmo que FALHEI e como ex-dirigente sindical e membro de movimentos de luta da classe trabalhadora nos últimos 20 e poucos anos, penso que FRACASSAMOS sim. As coisas não acontecem sem estarem interligadas. Tudo na vida pessoal e coletiva, social, está imbricado como as peças de um telhado, tudo são tijolos da mesma parede.

Como posso achar que não falhei, se apoiaram Bolsonaro e outros seres asquerosos (e suas ideias) pessoas que amei a vida toda como tios queridos, primos com quem vivi décadas, colegas do banco com os quais sofri junto, vizinhos que me viram a vida toda saindo de casa para ir pro Sindicato, pra CUT, pra assembleias estudantis e dos trabalhadores e quando vemos, eles estão apoiando tudo aquilo que combatemos?

Nós somos os bonzinhos e eles são os mauzinhos? Nós os paladinos da ética e da moral e eles os defensores do jeitinho brasileiro de fazer tudo politicamente incorreto? Será que não temos culpa nisso?

Quando começamos a nos afastar e isolar qualquer pessoa que pensava diferente de nós pra ficarmos confortavelmente em nossas bolhas concordantes, achamos que eles sumiriam da terra? Não sumiram. Ao invés disso, se bandiaram pro outro lado, e esse lado se transformou no MAL do bolsonarismo, violento, odiento, repugnante.

Eu vi nos últimos 15 anos pessoas angelicais, moças bonequinhas, rapazes doces, gente adulta e idosa virar gente que te assusta quando abre a boca e começa a falar grosserias, a repetir ofensas e afirmar coisas sem fundamento de quem eles não conheceram como se fossem "inimigos" que eles viram fazer o mal pessoalmente por anos a fio.

As pessoas foram envolvidas em sistemas de manipulação de massas nunca criados na história da humanidade porque não havia ferramentas para isso antes. Como quase todos os seres humanos têm alguma conta em redes sociais e vê algum tipo de noticioso de informação que manipula gente, mexe com medos e ódios, esconde ou enaltece pautas programadas, as pessoas não foram capazes de resistir a essas máquinas de manipulação.

E nós da esquerda, progressistas, dos movimentos populares não erramos em nada? Não temos culpa nenhuma nisso? Então, tá! Fica assim...

Eu sinto enquanto cidadão de 51 anos, que nasceu em 1969, que foi jovem nos anos 80 e 90 e militante social com mandatos eletivos até dias atrás, eu sinto que FALHAMOS, porque estivemos em instâncias de poder e algo fizemos (ou não fizemos) que não conseguimos combater os inimigos que agora estão aí.

Repito: respeito os comentários e eles me ajudaram a refletir mais sobre pedir ou não perdão por não ter conseguido evitar que meus tios, primos, colegas do banco, amigos e vizinhos se tornassem bolsonaristas ou dê o nome que quiser para pessoas que são de direita, de extrema ou de centro, que odeiam pobre, preto, petista, comunista, direitos humanos, gay, ateu etc. E eu tenho na família tudo, preto, gay, pobre, ateu, deficiente físico, evangélico, tucano, petista, bolsonarista...

É isso! Abraços fraternos aos amig@s que comentaram na postagem sobre "perdão".

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Fim dos registros e do olhar para trás... (por enquanto).

William

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