domingo, 25 de outubro de 2020

Tempo (V)



Refeição Cultural

Domingo de chuva amena em Osasco, São Paulo. Diria que o tempo está belíssimo, posto que a chuva é refrescante e a natureza se beneficia dela. Nas últimas horas, o clima alternou sol e chuva.

Estou às voltas com textos teóricos que tratam das temáticas tempo, narrativa, história, literatura. Meus estudos se dão no contexto da disciplina que estou fazendo neste semestre na Universidade de São Paulo, a disciplina Literatura Comparada II, com a professora Viviana Bosi.

A primeira leitura do dia foi o capítulo 4 "Ó tempos! Ó verbos!" do livro de Benedito Nunes - O tempo na narrativa. Muito interessantes os conceitos abordados. Segundo Harald Weinrich, teríamos tempos verbais mais comuns à situação de narrar e outros à situação discursiva, de comentário. Porém as situações se mesclam também:

"Sem serem estanques, as duas situações de locução, narrar e comentar, se interpenetram. Podemos narrar empregando o presente e discorrer no pretérito se nosso interesse é o de conhecer o passado. O pretérito assinala que há narrativa, e não o fato de que esta se realiza para trás no tempo que passou." (NUNES, 1995, p. 40)

Nunes nos explica uma das relações criadas entre o autor e o leitor em uma obra ficcional narrativa, a criação de um conceito de "quase-passado". Vou citar o conceito abaixo porque ele chama muito a atenção. Nunes cita um autor no trecho, Paul Ricoeur.

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"Mas por que a narrativa ficcional, até a que transpõe para o futuro, 'conta o irreal como se o irreal fosse passado'?, pergunta Paul Ricoeur. Por que o passado subsiste e insiste na forma do pretérito? O pretérito guardaria esse privilégio devido à voz narrativa.

      disfarce fictício do autor real. Uma voz fala contando aquilo que se realizou para ela. Ingressar na leitura é incluir no pacto entre leitor e autor a crença de que os acontecimentos reportados pela voz narrativa pertencem ao passado dessa voz (Ricoeur).

É pois o leitor a quem essa voz se dirige, que atualiza o passado épico como um quase-passado. Em última análise, o tempo da narrativa não decorre somente das relações entre o autor fictício e o texto, mas depende também, das relações entre o texto e seu destinatário, o leitor." (p. 44)

Essa questão do pacto entre leitor e autor ou entre leitor e narrador ficcional é muito importante na leitura literária.

Textos teóricos como esse de Benedito Nunes, que citam diversas obras clássicas, deixam a gente ora meio diminuídos por não termos lido diversas delas, ora nos deixam orgulhosos quando já lemos algumas das obras citadas. 

Nunes já citou A montanha mágica (Mann), Cem anos de solidão (Márquez), Admirável mundo novo (Huxley), O processo (Kafka), A causa secreta (M. de Assis), obras que já li (eba!). Mas já citou tantas obras que não li, aff! Exemplos: Orlando (Woolf), O nome da rosa (Eco), Memorial do convento (Saramago), O castelo (Kafka) e por aí vai...

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Enfim, o roteiro da disciplina que estou fazendo é excelente, instigante! Agora vou ler a respeito de Tchekhov, e vou ver dois contos dele - Um caso clínico e Vanka. Na aula anterior, trabalhamos com Baudelaire, poeta que praticamente não conheço. Lemos alguns poemas dele.

Seguimos estudando, independente da fase da existência em que nos encontramos. Todo dia é dia de aprender algo novo. É melhor ocupar a mente com estudos do que com ódios e sentimentos destrutivos.

William



Bibliografia:

NUNES, Benedito. O tempo na narrativa. Série Fundamentos. Editora Ática, São Paulo, 1995.

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