quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Tempo


Refeição Cultural

O tempo é uma variável que me intriga desde que me entendo por gente. Para os seres vivos, a passagem do tempo cessa com a morte. Em algum momento, meu tempo de existência vai chegar ao fim. Isso é natural e todo ser humano vai lidar com a questão do fim das coisas vivas. Inclusive, os seres vivos têm que lidar com o fim das coisas não vivas, pois o tempo passa para tudo e uma das poucas coisas que sabemos é que tudo muda o tempo todo. Hoje tem uma floresta ali, amanhã tem um deserto. Hoje é terra, amanhã é mar. A montanha que existia sumiu. O planeta que existia explodiu...

Estou cursando uma disciplina na Faculdade de Letras que aborda esse tema, o tempo: "Configurações do tempo em diversas formas de narrativa e poesia", com a professora Viviana Bosi, na disciplina de Literatura Comparada II. Os textos do programa estão me fazendo pensar muito a respeito da questão. Algumas coisas me ligam mais ainda à temática da matéria: estou me despedindo da Universidade e do curso de Letras depois de duas décadas do início da graduação. Retornei ao curso o ano passado para completar os créditos e colar grau nas habilitações que fiz na década passada.

O primeiro texto que lemos foi um texto de um livro da década de cinquenta - Mito do eterno retorno -, de Mircea Eliade, e fiquei muito pensativo após a leitura. O autor afirma na introdução que o livro poderia ter como subtítulo "Introdução à Filosofia da História" porque ele vai tratar disso, olhar as sociedades arcaicas, que fazem um esforço tremendo para desprezarem a "história" por causa de uma característica delas: "trata-se de sua revolta contra o tempo concreto e histórico, sua nostalgia por uma volta periódica aos tempos míticos do começo das coisas, à 'Grande Era'." (ELIADE, 1992, p. 5)

Tempo, história, passado, presente, futuro. Como não refletir sobre essas variáveis em tempos de pandemia mundial? Como não pensar nessas questões neste momento da história humana sob a hegemonia do modo de produção capitalista, que acelerou como nunca a destruição do planeta Terra e, consequentemente, reduziu as possibilidades de existência dos seres vivos? Como não pensar no tempo e na história estando com mais de cinquenta anos de idade num mundo e numa sociedade nos quais a vida humana tem cada vez menos valor?

Ainda na introdução, gostei bastante do conceito de "homem cultivado" que o autor utiliza em relação a certa categoria de pessoas não-especialistas: "nossa preocupação foi no sentido de chamar a atenção do filósofo, do homem cultivado em geral". (p.6)

Do livro de Eliade, lemos o capítulo dois - "A regeneração do tempo".

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REFLEXÕES QUE TENHO FEITO

Quando olho para trás em minha vida, acho que sempre quis ser um "homem cultivado", mas o esgotamento físico e mental por ter que trabalhar desde muito cedo deve ter pesado um pouco no não atingimento deste objetivo de vida. Eu queria ser uma espécie de intelectual. Queria ser professor ou diplomata ou coisa do gênero. Não fui. A vida me levou por outros caminhos.

Além da questão da passagem do tempo, tenho pensado em outra coisa com muita frequência: a ideia de que a vida é uma jornada e não um destino. Os textos que estamos lendo na disciplina da professora Viviana Bosi também já me fizeram pensar nisso, pois não consigo concordar com a questão de um futuro determinista, já dado, ou de uma eterna recorrência e retorno das coisas. No entanto, essa forma de olhar para a vida e o tempo já foi bem diferente em minha vida. E como foi! 

Por enquanto, fico por aqui. Ando sem vontade de escrever. 

William


Bibliografia:

ELIADE, M. Mito do eterno retorno. Trad. José Antonio Ceschin. São Paulo: Mercuryo, 1992.


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