domingo, 25 de outubro de 2020

Vanka - Conto de Tchekhov


Tchekhov, imagem Wikipedia.

Refeição Cultural

Li hoje o segundo conto de Tchekhov. É um conto de gênero narrativo, mas é um conto dramático, porque é difícil não sentir o coração apertar ao ler a estória do garoto Vanka, uma criança órfã de nove anos de idade.

Segue abaixo alguns apontamentos que fiz durante a leitura.

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Vanka - Tchekhov


A estória introduz o garoto Vanka Jukov, de 9 anos de idade, deixado 3 meses antes em uma casa de sapateiro, Aliákhin, para que aprendesse o ofício. É noite de Natal. Vanka não saiu para a missa com os patrões e demais aprendizes. O garoto se prepara para escrever.

O garoto começa a escrever para seu avô. Cito abaixo. As aspas são do próprio texto.

“Querido vovô, Constantin Macáritch! – escreveu – te escrevo uma carta. Dou-lhe os parabéns pelo Natal e desejo a ti tudo o que te possa dar Deus, nosso Senhor. Não tenho pai nem mãezinha, só me ficou você no mundo”.

O avô de Vanka é guarda noturno em outra propriedade: “É um velhinho miúdo, magricela, mas extraordinariamente vivo e ligeiro, de uns 65 anos, com rosto sempre risonho e olhos ébrios”. Anda com dois cachorros, a velha Kachtanka e o machinho Viun “assim chamado por causa de sua cor preta e do corpo comprido, como de uma lontra”.

Após o narrador caracterizar o avô de Vanka, a narrativa retorna para o garoto e o leitor passa a ler o conteúdo da carta ao vovô Macáritch. É duro de ler, comovente, porque o menino descreve todas as infelicidades que enfrenta desde que foi deixado com Aliákhin.

“Vovozinho querido, não aguento mais, vou morrer. Eu já quis fugir para ir a pé até a aldeia, mas não tenho botas estou com medo do frio...”.

O garoto se lembra de tempos melhores do que o que está vivendo, quando estava na antiga casa onde vivia, antes de sua mãe Pielaguéia falecer, época inclusive em que lhe ensinaram a ler e a contar até cem.

“Vanka suspirou convulsivamente e fixou novamente os olhos na janela. Lembrou-se...” – o garoto segue com suas lembranças, mas quem nos conta é o narrador: 

“Quando ainda era viva a mãe de Vanka, Pielaguéia, e trabalhava de arrumadeira em casa dos senhores, Olga Ignátievna dava caramelos a Vanka e, por não ter o que fazer, ensinara-lhe as letras, contar até cem e, mesmo, dançar quadrilha. Mas, depois que Pielaguéia morreu, Vanka foi encaminhado para junto do avô, na cozinha da criadagem, e da cozinha para Moscou, à casa do sapateiro Aliákhin...”

O final deste conto tem um pouco de semelhança com o final do outro conto que li, “Um caso clínico”. O leitor tem um final aberto, com um fio de esperança para o personagem ou esperança no amanhã.

Na minha opinião, fica clara a postura de Tchekhov ao abordar tema tão duro como esse de maus tratos às crianças, tema de denúncia social sobre condições adversas para determinados grupos sociais. A condição do pequeno órfão Vanka é desesperadora.

Gostei dos textos de Tchekhov que li até agora.

William

Bibliografia:

TCHEKHOV, Anton. A dama do cachorrinho e outros contos. Tradução de Boris Schnaiderman. São Paulo, Max Limonad, 1985.

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