sábado, 7 de novembro de 2020

Mundo comemora o império norte-americano!



Opinião

Em 2010 eu me posicionei contra a panaceia daquele momento para resolver todos os males da humanidade e da política brasileira, a aprovação da lei da "ficha limpa". Aquilo era uma loucura! Mesmo assim, a quase totalidade da esquerda e dos movimentos populares, incluindo o Partido dos Trabalhadores, aderiu à tese e, a partir de então, a casa grande bem postada em todos os espaços de poder, se aproveitou daquilo para criminalizar toda e qualquer liderança popular antes ou depois de eleita em qualquer espaço político e as estratégias jurídicas avançaram até o atual estágio com o lawfare, que acabou com a política e com as democracias ocidentais, principalmente nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, sobretudo os latino-americanos.

A panaceia do momento nesse mundo em "desordem mundial", para lembrar do livro do intelectual Moniz Bandeira é a eleição presidencial dos Estados Unidos que, em tese, foi definida hoje com o anúncio da vitória dos democratas e a derrota dos republicanos. Os sujeitos que disputavam o pleito eram o ex-vice de Barack Obama, Joe Biden, e o atual presidente Donald Trump. Os democratas conseguiram a maioria no colégio eleitoral e venceram a corrida à Casa Branca. Pelo que sabemos, o mundo está comemorando. Aqui no Brasil, vemos comemorações emocionadas por parte dos partidos de esquerda e de lideranças que se posicionam no espectro dos "progressistas" e talvez "liberais". Além desses segmentos, temos a festa dos brancos da casa grande. Pois é! 

Peguei o livro do Moniz Bandeira, A desordem mundial (2016), e reli o capítulo quatro. Nele, vemos alguns dados sobre a eleição de Barack Obama, dos democratas, e alguns feitos dos Estados Unidos sob o governo do Prêmio Nobel da Paz em 2009. O autor nos mostra que sob Obama, que assumiu após dois mandados de George W. Bush, o império não mudou nada sua política em relação ao mundo; pelo contrário, ampliaram-se as guerras provocadas pela política norte-americana, os golpes de Estado, as desestabilizações de governos latino-americanos, africanos, e dos países do médio e extremo Oriente; os assassinatos por meios tecnológicos como drones de lideranças e grupos políticos de outros países foram multiplicados por cinco em relação ao republicanos anteriores (Bush), incluindo a morte de civis. Pois é!

"As Overseas Contingency Operations recresceram, desde que o presidente Barack Obama inaugurou sua administração. Em 2009, ano em que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, o Pentágono e a CIA lançaram 291 ataques com drones e eliminaram, até janeiro de 2013, entre 1.299 e 2.264 militantes ou supostos militantes terroristas, enquanto comandos do Navy SEALs Team 6 executaram 675, em 2009; e 2.200, em 2011. Segundo o Bureau of Investigative Journalism, do total de 413 ataques com drones realizados, pela CIA, contra Talibãs e membros ou suspeitos de pertencerem à al-Qa'ida, desde 2004, até 31 de janeiro de 2015, 362 ocorreram durante a administração do presidente Obama iniciada em 20 de janeiro de 2009, e mataram entre 2.342 e 3.789 pessoas, das quais entre 416 e 957 eram civis. Essa guerra não declarada estendeu-se do Afeganistão e Paquistão ao Iêmen e Somália." (MONIZ BANDEIRA, 2018, p. 94)

Enfim, na época dos governos de George W. Bush e Barack Obama eu era dirigente da classe trabalhadora e estava bastante envolvido com o dia a dia da política nacional e internacional. Para não me alongar, cito aqui só dois eventos sob a administração Obama que foram definidores da desgraça que se abateu sobre nosso destruído Brasil e que tiveram ampla divulgação na época nos meios de comunicação. A nossa maior empresa pública, a Petrobras, foi espionada por empresas e agências norte-americanas e teve dados sigilosos roubados logo após a descoberta do Pré-sal e nós vimos toda uma operação de destruição da estatal. Departamentos americanos treinaram uns sujeitos vira-latas do Brasil para desestabilizar os governos de Dilma Rousseff, treinamento que teve como consequência o golpe de Estado em 2016 e a entrega do Pré-sal para as empresas de petróleo estrangeiras. Tivemos também os grampos vergonhosos de lideranças políticas internacionais, inclusive da presidenta do Brasil, com o mesmo intuito de atacar e destruir a soberania nacional.

O Brasil hoje é um quintal dos norte-americanos, mais que um quintal, é um campo de exploração de bens primários. É também um pasto dos países do primeiro mundo. Antes de virarmos um deserto maior que o do Saara, ainda vamos fazer a felicidade dos outros povos do mundo. O crime organizado e todos os tipos de manipuladores profissionais dominaram os espaços de poder e não temos mais democracia nem instituições que possam socorrer o povo brasileiro que não pertence ao seleto grupo de uns 5% dono de tudo ou a serviço dos donos do poder.

Semana que vem, teremos eleições nos mais de 5.500 municípios brasileiros. As eleições no Brasil são de faz de conta. Desde o golpe de 2016, articulado com a participação de representantes de praticamente todas as instituições do Estado, públicas e privadas, e com o fim da democracia capenga que tínhamos, não há segurança alguma de garantia de respeito ao voto de qualquer eleitor(a) nesta terra de exploração. A gente tem simpatia por diversas candidaturas, mas o voto em candidatos ou partidos que incomodem os donos do poder é um voto nulo de nascimento. Meia dúzia de sujeitos podem organizar a cassação de mandatos com n técnicas de lawfare. E ainda prendem o(a) coitado(a) do(a) candidato(a) eleito(a), tiram sua liberdade, seus recursos e destroem sua vida e de sua família.

Eu fico estupefato de ver tanta comemoração de petistas, gente de esquerda, e lideranças diversas do mundo da política com a vitória dos democratas nas eleições americanas. Na guerra atual entre opressores e oprimidos, sabemos que os sujeitos no poder desde o golpe governam por atos de tortura, o tempo todo, e isso tem um efeito profundo no outro lado, nós que não compactuamos com a ultradireita no poder. Mas comemorar tanto só por ver um pouquinho de sofrimento do bolsonarismo pela derrota do chefe deles não vai alterar os planos do imperialismo na guerra de dominação que o império norte-americano empreende contra o mundo todo. Não vai.

Fica registrado. Eu não vejo motivo pra comemorar nada em favor do império norte-americano.

William


Bibliografia:

MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. A desordem mundial - O espectro da total dominação - Guerras por procuração, terror, caos e catástrofes humanitárias. 5ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.


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