sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Tempo (XI)



Refeição Cultural

"Iahweh Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para o cultivar e o guardar. E Iahweh Deus deu ao homem este mandamento: 'Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal (b) não comerás, porque no dia em que dela comeres terás que morrer.'" (c) (Bíblia de Jerusalém, 1973, p. 34/35)


É muito interessante a forma narrativa do Gênesis (lemos mais de uma versão do texto na disciplina que estamos fazendo em Literatura Comparada II). A descrição dos acontecimentos nos põe a pensar em relação ao momento no qual vivemos, a história. Mesmo com o avanço da ciência por centenas de anos, as narrativas baseadas em mitos estão derrotando a ciência e a história segue como resultado das ações humanas, independente se prevalece a hegemonia da ciência ou dos mitos.

Na narrativa do Gênesis Deus criou o homem e a mulher a partir da costela do homem; Ele havia criado antes todas as coisas: a luz, o céu, os mares e a terra, os seres que habitam a terra. Aí Deus não permitiu que homem e mulher comessem o fruto da árvore da sabedoria. Mas a desobediência prevaleceu. O pior é a situação em que se coloca a mulher, como responsável por todos os males da humanidade. Nossa! É um absurdo o que se faz com a mulher na narrativa bíblica. A nota abaixo esclarece um pouco:

"(b) Este conhecimento é um privilégio que Deus se reserva e que o homem usurpará pelo pecado (3,5.22). Não se trata, pois, nem da onisciência, que o homem decaído não possui, nem do discernimento moral, que o homem inocente já tinha e que Deus não pode recusar à sua criatura racional. É a faculdade de decidir por si mesmo o que é bem e o que é mal e de agir consequentemente: uma reivindicação de autonomia moral pela qual o homem renega seu estado de criatura (cf. Is 5,20). O primeiro pecado foi um atentado à soberania de Deus, uma falta de orgulho. Esta revolta exprimiu-se concretamente pela transgressão de um preceito estabelecido por Deus e representado sob a imagem do fruto proibido." (p. 35)

Pois é!

Ao ler um pouco mais da narrativa do Gênesis, a gente fica chocado! Seria necessário se esforçar muito para dizer que ali existe algum sentimento de solidariedade, amor, compaixão, amizade, perdão. 

Me pareceu que, no texto, a questão com Deus é olho por olho, dente por dente. O criador não queria que suas criaturas tivessem conhecimento (queria que fossem ignorantes?). 

Adão e Eva desobedeceram a ordem de não comer a fruta da árvore do conhecimento e foram duramente castigados, sem conversa e sem perdão. Eles foram expulsos do jardim de Éden e que se virassem para sobreviver dali adiante. 

Depois disso, Deus elogia a oferenda de Abel e não gosta da oferenda de Caim. Qual o sentido disso? Criar a cizânia? É quase como se estimulasse o ódio do esculachado pelo protegido Dele. Deu em morte! 

Cara, que narrativa atual! Não é à toa que vivemos o momento que vivemos nas sociedades dominadas por discursos de fanáticos religiosos, com pessoas pregando o ódio e a intolerância citando algumas narrativas bíblicas.

Fiquei pensando na ira de Aquiles, nas narrativas das epopeias do aedo Homero... a Ilíada e a Odisseia e na ira dos deuses gregos.

Essas leituras de narrativas mitológicas nos mostram que alguns dos sentimentos mais frequentes nesses textos são ódio e vaidade. Esse negócio de "mito" tem muito ódio por trás...

William


Bibliografia:

Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1973.


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