quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Queria férias da pandemia e do bolsonarismo



Opinião

Dos quase quarenta anos de trabalho, ou da venda do meu corpo em horas de trabalho para os outros - os capitalistas, os burgueses e seus agregados, gente que acha que é rica e da elite e, muitas vezes, não é porra nenhuma -, quase três décadas foram de trabalho para o sistema financeiro, dois anos para banqueiros privados e quase 27 anos como funcionário de um banco público de economia mista. Os outros dez anos foram muito foda, fiz de tudo desde os onze anos de idade, trampos braçais. Fizemos de tudo, eu e todo mundo com a mesma origem na classe trabalhadora.

Ao longo de três décadas como bancário - trabalho com direitos coletivos conquistados na base de muita luta organizada através dos sindicatos -, nos acostumamos a uma rotina de vida que incluía um ou quase dois anos de trabalho para depois tirarmos férias. Que coisa fantástica para a classe trabalhadora poder desligar alguns dias ou semanas daquela servidão necessária para sobreviver! Em alguns momentos de nossas vidas de trabalhadores, como nos anos de governos do PT (2003-2015), as férias foram momentos de muita felicidade! O céu era o limite dos sonhos das categorias profissionais assalariadas e com carteira assinada. Num mês como esse, janeiro, meu corpo traz ainda a memória das férias, das viagens de uma semana para algum lugar legal. De rede e leituras livres. (hoje estou na rede, mas o cansaço é descomunal...)

Vieram as eleições presidenciais de 2010, e o PSDB (e tudo o que ele representa) perdeu a 3ª eleição seguida para o Partido dos Trabalhadores. Depois de dois mandatos de Lula, o povo brasileiro escolheu Dilma para governar o país. O mundo enfrentava a maior crise econômica desde o crash da Bolsa de Nova Iorque, de 1929. Vivíamos a crise do subprime desta vez. Os índices de desemprego em alguns países do mundo desenvolvido variavam entre 20% e 50% da classe trabalhadora. Os tucanos liderados pelo candidato Serra se tornavam cada vez mais agressivos e destruidores da política, em parceria com os barões da mídia venal e concentrada do país. Serra inventou até uma agressão de apoiadores do PT, simulando ferimento ao ser atacado "violentamente" por uma bolinha de papel. Seria só ridículo se não fosse séria aquela esculhambação.

Em 2013, os ataques do PSDB e sua tropa midiática aos avanços do povo brasileiro seguiam através das mais diversas estratégias, diuturnamente, cotidianamente, até a náusea. Era necessário interromper os governos democráticos e pacíficos do Partido dos Trabalhadores, mesmo com o país crescendo, com o povo feliz, com os empresários ganhando dinheiro. Os empresários da grande mídia, liderados pela Rede Globo e pela revista Veja da Editora Abril, foram para o tudo ou nada para derrubar o governo de Dilma Rousseff. A única pauta midiática do país era derrubar o PT. Era preciso criminalizar a política e os políticos, criminalizar os movimentos sociais e as instituições da classe trabalhadora. A operação em andamento era baseada numa estratégia que o mundo já havia visto no passado: a máquina de propaganda nazifascista de Hitler e Mussolini. Os meios de comunicação foram usados para modificar o comportamento de todo o povo brasileiro. Foi muito ódio, muita mentira, muito medo enfiado goela abaixo de milhões de pessoas.

Em 2014, vieram novas eleições presidenciais. O mundo ainda sentia os fortes reflexos da crise econômica mundial (subprime). Um dos maiores países do mundo, a China, havia reduzido seu crescimento econômico, e isso afetou o comércio no mundo todo, inclusive de países como o nosso, fortemente apoiado na exportação de commodities. O Brasil, sob a liderança do Partido dos Trabalhadores, era quase uma ilha em relação ao mundo do trabalho e da cidadania. A taxa de desemprego daquele ano foi de 4,6%, uma das menores da história. Tínhamos emprego de carteira assinada, aumento real todos os anos, aposentados sendo respeitados pelo governo, férias, 13º salário, licença-maternidade de 6 meses para mães trabalhadoras de várias categorias organizadas. Tínhamos oportunidades para todos na área da educação, inclusive de nível superior. E os empresários seguiam ganhando muito dinheiro. Mas para o PSDB e seus agregados tirar o PT do governo era uma questão de classe e pouco importava o povo e o país.

Dilma Rousseff venceu as eleições em 2014. Era a 4ª eleição seguida que o PSDB perdia para o PT. Os tucanos e os meios de comunicação já não queriam saber de democracia, de respeito às instituições, à política e à Constituição Federal. Os tucanos questionaram a legitimidade das eleições, levantaram suspeitas sobre as urnas eletrônicas, atiçaram o ódio, gritaram "fraude!" sem prova alguma, ampliaram as mentiras contra o governo e o partido vencedor das eleições. Ao mesmo tempo uma operação chamada Lava Jato havia sido montada para destruir o governo do Partido dos Trabalhadores e condenar e prender suas lideranças. Uma das consequências drásticas dessa operação foi a destruição do país, das cadeias econômicas e de produção. Veio o desemprego em massa. Bloquearam o início do 2º mandato de Dilma através do Congresso com pautas bombas. Colocaram o presidente da Câmara, um sujeito de longa ficha corrida, para impedir o mandato da presidenta recém reeleita.

Gente, que merda tudo isso! Eu tenho que registrar essa história de forma sintética. Isso é duro, mas isso é a nossa história. Não foi invenção do Bolsonaro questionar as urnas e inventar fraudes nas eleições. Toda essa desgraça hoje começou com Aécio, FHC e essa gente tucana. Toda essa violência contra os outros começou com essa elite tucana paulista e das casas-grandes e capitanias hereditárias dos coronéis, reunidos em partidos de direita (a invenção "Centrão") e liderados pelo emedebê de hoje.

Veio um golpe em 2016, um golpe parlamentar, com apoio daquela mídia que construiu o ódio e matou a política. Com o apoio irresponsável da justiça brasileira. Jogaram o país e o povo na merda. Um troglodita de histórico envolvimento com milicianos e com décadas de mamata no poder elogiou um torturador reconhecido em sessão do Congresso durante o impeachment sem crime de Dilma - ele não saiu preso daquela sessão. Todas as leis foram rasgadas para perseguir, processar e condenar sem provas as lideranças do Partido dos Trabalhadores. A maior vítima dessa monstruosidade foi o ex-presidente Lula, que ficou 580 dias numa masmorra em Curitiba. Hoje tudo foi denunciado, a Vaza Jato mostrou as conversas e armações de servidores públicos do judiciário brasileiro para interferir nas eleições presidenciais de 2018 e o resultado foi demoníaco, foi apocalíptico. 

O ano de 2019 foi uma desgraça para o povo brasileiro, como já haviam sido os anos sob o governo do traidor lesa-pátria Temer. Os direitos trabalhistas e previdenciários foram destruídos. Neste período pós golpe de 2016 a nossa maior empresa pública, a Petrobras, foi desmontada e suas riquezas incluindo o Pré-sal foram entregues para as empresas do imperialismo. Grandes empresas estatais fundamentais para o país como os bancos públicos, Correios e Eletrobras estão sendo destruídas, esvaziadas. De 2016 pra cá é só desgraça para o povo trabalhador brasileiro e para o mundo do trabalho. Tiraram o PT do poder para uberizar o emprego brasileiro. O ano de 2020 trouxe como novidade para se somar à tragédia da destruição do Brasil, a pandemia mundial do novo coronavírus. Esta peste mudou o mundo, mas foi uma oportunidade para o regime fascista colocado no poder pelos tucanos e grande imprensa. 

O longo ano de 2019 seria de difícil repetição e manutenção do poder bolsonarista até 2022, pois havia sido um ano de destruição nacional e mentiras e ódios diários por parte do novo regime fascista. Dificilmente seria possível manter 4 anos na mesma toada de mentiras para encobrir a incompetência do governo e as denúncias de crimes de sua família e ministros. A pandemia caiu como uma luva nas mãos suspeitas do governo fascista. O vírus serviu como desculpa para justificar toda a destruição econômica e crise política e social causada pelo golpe e pelo governo de Bolsonaro e seus ministros incompetentes e mais que isso, a pandemia virou ferramenta do governo para dividir mais ainda a sociedade e o povo sofrido. O sujeito não esconde que está disposto a se manter no poder levando a sociedade brasileira à guerra civil, a uma ruptura institucional como nunca se viu antes no país, uma ruptura baseada na violência, nas táticas e estratégias conhecidas do totalitarismo nazifascista.

Queria férias da pandemia e do bolsonarismo. Mas não há tempo a se perder. Está em andamento um regime de morte e fim das liberdades civis, de miséria e fanatismo. De escravidão.

Ou nos unimos e combatemos o que vem por aí, ou morreremos sem ter ao menos tentado lutar pela democracia, pela liberdade, pela cultura, pelo amor, pela amizade, pela solidariedade, pela tolerância, pela distribuição da riqueza e pela igualdade de oportunidades a todas as pessoas. Morreremos sem ao menos lutar contra a exploração assassina da classe trabalhadora.

Queria férias da pandemia e do bolsonarismo, mas sei que não teremos férias. Nossas vidas estão sob risco neste exato instante.

William


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