quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

15. O processo - Franz Kafka



Refeição Cultural - Cem clássicos

Dias atrás, assisti ao filme O processo (1962), dirigido por Orson Welles, com Anthony Perkins na interpretação de Joseph K. e o próprio Welles na interpretação do advogado Albert Hastler. O filme é inspirado no clássico homônimo de Kafka. Algumas cenas e cenários criados pelo diretor se encaixaram perfeitamente nas imagens que eu havia criado em minha mente quando li o livro pela primeira vez. Muito legal isso!

O processo, obra fantástica e inacabada do escritor tcheco Franz Kafka, organizada e publicada postumamente por seu amigo Max Brod, é uma estória claustrofóbica, única, que nos traz agonia, mas é uma leitura necessária em algum momento da vida dos leitores engajados em obras clássicas. Felizmente, tive a oportunidade de ler e reler esse livro de Kafka. 

Tenho duas edições. Uma da coleção Clássicos de Bolso, da Ediouro, com prefácio e tradução de Torrieri Guimarães. Nessa edição consta que a li em fevereiro de 2001. A outra edição é do Círculo do Livro, com tradução de Manoel Paulo Ferreira, volume que reli agora. 

Terminei a releitura hoje, leitura iniciada e retomada várias vezes entre 2016 e agora. Peguei pra ler o livro de Kafka durante o golpe de Estado no Brasil, durante o processo de lawfare no qual fui vítima em meu mandato eletivo de gestor de saúde - um verdadeiro processo kafkiano -, e li vários trechos durante o maior dos processos kafkianos da história jurídica mundial, a merda toda montada contra o presidente Lula e a democracia no Brasil.

O clássico processo pelo qual passa o bancário Joseph K. já foi interpretado de várias formas ao longo do século de existência da obra. O que Lula enfrentou seria (ainda é) um fato bem concreto do mundo real para se comparar ao processo no qual Joseph K. foi vítima da burocracia de um Estado totalitário. Assim como K., até o momento o cidadão Lula não encontrou a Justiça e segue condenado sem crime, sem culpa, sem provas e sem acesso à Lei. 

A postagem não tem objetivo de fazer análise crítica da obra, é mais um registro pessoal de minhas leituras clássicas.

Por sinal, o processo kafkiano pelo qual passamos no Brasil desde o golpe de Estado, a tomada das instituições por neofascistas e todo tipo de bandidos e gente da pior espécie, com consequências irreversíveis como a destruição do país não me deixam muito ânimo para escrever a respeito dessa tragédia que vivemos. Processos kafkianos nos levaram à banalidade do mal, para usar uma expressão de Hannah Arendt.

O processo é um clássico atemporal, assim como seu autor Franz Kafka (ou "Kafta" como disse um ministro da "educação" do atual regime neofascista no Brasil). 

A leitura vale muito a pena, ontem, hoje e sempre.

William


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