quinta-feira, 22 de abril de 2021

Leitura: Losango Cáqui (1926) - Mário de Andrade



Refeição Cultural

O dia está nublado, com chuviscos. Meio friozinho na Pauliceia arlequinal. É tudo que se precisa para ler Mário de Andrade. Estou com os modernistas nesses dias. Depois de três livros de Oswald de Andrade, li a Pauliceia Desvairada e agora conheci Losango Cáqui. Sigo na procura, como diz o poeta na "Advertência" contida no início da obra.

"Porém peço que este livro seja tomado como pergunta, não como solução que eu acredite siquer momentânea. A existência admirável que levo consagrei-a toda a procurar. Deus queira que não ache nunca... Porque seria então o descanso em vida, parar mais detestável que a morte. Minhas obras todas na significação verdadeira delas eu as mostro nem mesmo como soluções possíveis e transitórias. São Procuras. Consagram e perpetuam esta inquietação gostosa de procurar. Eis o que é, o que imagino será toda a minha obra: uma curiosidade em via de satisfação." (ANDRADE, 1976, p. 81)

O livro de Mário de Andrade é bem curioso. Achei interessante.

Eu não tive a capacidade de aprender toda aquela física quântica das nominações impronunciáveis que inventaram para os fenômenos da gramática e da linguagem poética. Male male fui aprender a ler poesia depois dos trinta anos de idade. Sigo assim nas últimas duas décadas, um curioso lendo poesia, conhecendo um pouco os poetas mais aclamados, e tendo claro que não sou um entendido em poesia. Sou um ignorante, mas um ignorante consciente e que busca preencher suas lacunas culturais.

Deixo na postagem um dos poemas que mais gostei de Losango Cáqui:


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XXIV

A ESCRIVANINHA

Meu pai com seu nariz judeu...
Eu vivia quási sem ruído.
Dúmas Terrail Zóla escondidos,
Si ele souber... Meu pai? Meu Deus?

Duas pessoas num só terror.
Meus quatorze anos sorrateiros:
Leituras pobres, vícios feios,
Quanto passado sem valor!

Eu não vivi no meu país.
Zóla Terrail Dúmas franceses...
Que gramáticas portuguesas
Pro miserável de Paris!

Depois a Vida me ensinou
A vida. Meu pai morreu. Quando
Órfão me vi, chora-chorando,
Minha miséria se acabou.

Anjo-da-Guarda, Solidão!
Zóla voltou pra escrivaninha
De meu pai. Que grandeza estranha
Pôs esse gesto em minha mão?...
        Não sei.

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Vamos lendo enquanto vivos. As lacunas culturais são cada dia maiores... você lê uma coisa e aparecem as referências que são lacunas a se preencherem em nossas vidas de curiosos, de leitores. Ainda não li um livro sequer de Émile Zola... É f...

Leiam, leiam, raros amig@s leitores. Leiam!

William


Bibliografia:

ANDRADE, Mário de. Poesias Completas. Círculo do Livro S.A. São Paulo, 1976.


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