quinta-feira, 27 de maio de 2021

30. Prometeu Acorrentado - Ésquilo



Refeição Cultural - Cem clássicos

Agora conheço um pouco melhor o mito de Prometeu. A cada leitura de um desses clássicos da antiguidade, mais vontade tenho de ler outros. 

Na edição que li de Prometeu Acorrentado, da "Coleção a obra-prima de cada autor", da editora Martin Claret, na tradução de J. B. Mello e Souza, consta que o autor é o dramaturgo Ésquilo, o mais antigo dos 3 autores trágicos da Grécia antiga (Sófocles e Eurípides são os outros dois).

Ao ler e pesquisar sobre Ésquilo e, principalmente, sobre esta narrativa, vi que mais recentemente existem dúvidas sobre a autoria do Prometeu Acorrentado ser mesmo de Ésquilo. Mas vamos ficar com as referências constantes no livro que li.

PROMETEU ACORRENTADO

A tragédia se passa nas montanhas do Cáucaso ou nas Estepes, pelo que pude aferir em relação à antiga região da Cítia.

"Nos rochedos da Cítia: O poder, a Violência, Vulcano e Prometeu

Eis-nos chegados aos confins da terra, à longínqua região da Cítia, solitária e inacessível! Cumpre-te agora, ó Vulcano, pensar nas ordens que recebeste de teu pai, e acorrentar este malfeitor, com indestrutíveis cadeias de aço, a estas rochas escarpadas. Ele roubou o fogo, - teu atributo, precioso fator das criações do gênio, para transmiti-lo aos mortais! Terá, pois, que expiar este crime perante os deuses, para que aprenda a respeitar a potestade de Júpiter, e a renunciar a seu amor pela Humanidade." (p. 25)

Assim começa a narrativa sobre as desgraças de Prometeu por ajudar aos humanos. Nas guerras de poder dos céus, Júpiter assumiu o trono e pensava até em se desfazer da humanidade para criar outra raça no lugar. Prometeu acabou interferindo e dando uma mãozinha aos humanos.

Daí em diante a tragédia se desenvolve.

O mito de Prometeu me lembrou a descrição do neurocientista Miguel Nicolelis sobre a evolução do cérebro do homo sapiens, o professor chama nosso cérebro de O Verdadeiro Criador de Tudo. Prometeu diz que tornou os homens "inventivos e engenhosos".

"(...) Não falemos mais nisso; seria repetir o que já sabeis. Ouvi, somente, quais eram os males humanos, e como, de estúpidos que eram, eu os tornei inventivos e engenhosos. Eu vo-lo direi, não para me queixar deles, mas para vos expor todos os meus benefícios. Antes de mim, eles viam, mas viam mal; e ouviam, mas não compreendiam. Tais como os fantasmas que vemos em sonhos, viviam eles, séculos a fio, confundido tudo. Não sabendo utilizar tijolos, nem madeira, habitavam como as próvidas formigas, cavernas escuras cavadas na terra. Não distinguiam a estação invernosa da época das flores, das frutas, e da ceifa. Sem raciocinar, agiam ao acaso, até o momento, em que eu lhes chamei a atenção para o nascimento e acaso dos astros. Inventei para eles a mais bela ciência, a dos números, formei o sistema do alfabeto, e fixei a memória, a mãe das ciências, a alma da vida. Fui eu o primeiro que prendi os animais sob o jugo, a fim de que, submissos à vontade dos homens, lhes servissem nos trabalhos pesados. Por mim foram os cavalos habituados ao freio, e moveram os carros para as pompas do luxo opulento. Ninguém mais, senão eu, inventou esses navios que singram os mares, veículos alados dos marinheiros. Pobre de mim! Depois de tantas invenções, em benefício dos mortais, não posso descobrir um só meio para pôr fim aos males que me torturam." (p. 37/38)

PARA OS GREGOS, NEM OS DEUSES FUGIAM DE SEU DESTINO

Uma das características das mitologias gregas é a força do Destino. Nesta narrativa de Prometeu, nem Zeus (Júpiter) foge ao seu destino.

"O CORO

Depois de haver prestado tamanhos benefícios aos mortais, não te abandones à desgraça. Estamos persuadidas de que poderias, liberto dessas cadeias, ser tão poderoso quanto Júpiter...

PROMETEU

Não!... Não foi assim que dispôs o destino inexorável. Só depois de haver sofrido penas e torturas infinitas é que sairei desta férrea prisão. A inteligência nada pode contra a fatalidade.

O CORO

E a fatalidade, quem a dirige?

PROMETEU

As três Parcas, e as Fúrias, que nada perdoam.

O CORO

Será Júpiter, acaso, menos poderoso que essas divindades?

PROMETEU

Sim... ele próprio não poderá eximir-se a seu destino..." (p. 39)

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"A inteligência nada pode contra a fatalidade"

Que mensagem essa! Profunda!

A fatalidade...

É essa que nos coloca na condição da incerteza de estarmos aqui amanhã... ainda mais com o vírus da morte à caça de cada um de nós em países como o Brasil, onde os desgraçados no poder querem nossa morte sem nos prover do apoio do Estado através de vacina, de medidas protetivas e de recursos de saúde pública.

Estamos sós e por conta própria. 

Que foda.

William


Bibliografia:

ÉSQUILO. Prometeu Acorrentado. Coleção a obra-prima de cada autor. São Paulo: Martin Claret, 2005.


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