segunda-feira, 17 de maio de 2021

Odisseia (Homero) - Ulisses no Hades (X)



Refeição Cultural

"A augustíssima ninfa respondeu-me:
'Divo astuto Laércio, constranger-vos
Não quero; mas convém baixeis primeiro
De Prosérpina e Dite à feia estância
O vate a consultar cego Tirésias,
Único morto a quem a infernal Juno
O saber e o pensar tem conservado,
Não sendo os outros mais que aéreas sombras'." (LIVRO X, v. 363-370, p. 202/203)


ULISSES VAI AO INFERNO

O herói grego Odisseu (Ulisses em latim) está contando aos Feácios suas atribulações e desventuras após o fim da Guerra de Troia e de como não conseguiu retornar a sua bela Ítaca. Estou no Canto X da Odisseia, de Homero, na magnífica tradução do maranhense Odorico Mendes.

Circe sugere que Ulisses vá para o Inferno... Explico: a augusta ninfa Circe diz a Ulisses que desça ao Hades para consultar o sábio adivinho tebano Tirésias, para que o herói seja bem sucedido em sua jornada de volta para casa, Ítaca, onde o esperam a esposa Penélope e o filho Telêmaco.

O professor Medina, responsável pela edição que tenho da Odisseia, publicada pela Edusp, colocou uma nota tão importante nesta parte do canto que vou reproduzi-la abaixo. Ela ensina e esclarece muita coisa. Inclusive sobre o Ulysses, de Joyce, que estou relendo ao mesmo tempo em que leio a epopeia homérica.

É a quarta vez que me sentei para ler o clássico e postar algum comentário sobre ele. A postagem anterior pode ser lida aqui.

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TIRÉSIAS (nota do professor Antonio Medina para a Odisseia, na tradução de Odorico Mendes)

"Tirésias: adivinho tebano, que em jovem fora cegado por Atena, de quem havia revelado um segredo. Outra variante testemunha que a cegueira de Tirésias se deveu a uma vingança de Hera, que o punira porque, convidado a mediar uma discussão entre Zeus e sua esposa, Tirésias teria respondido que a mulher sente mais prazer no sexo do que o homem (Tirésias falava com saber de causa, porque sua natureza andrógina implicava o conhecimento dos dois sexos e portanto dos dois prazeres). Por favor de Prosérpina, conservou seus dons de vidente mesmo no Inferno. É uma das figuras mais vigorosas da história da literatura. Aparece também em Édipo-Rei e Antígona, de Sófocles, em As Fenícias e As Bacantes, de Eurípides, no livro III das Metamorfoses de Ovídio, em Mamelles de Tirésias, de Apollinaire, em Édipo, de André Gide, em The Waste Land de Eliot, e em muitos outros; e a Odisseia, no seu conjunto, conheceu sua mais célebre alegoria no romance Ulisses (1922) de James Joyce, onde se conta não apenas a história de Stephen, de Bloom e da cidade de Dublin em um dia. Bloom é Ulisses, Stephen é Telêmaco, Molly é Penélope (sem as virtudes desta), o Ciclope é um fanático irlandês encontrado numa taberna, Nausica é uma bela moça entrevista fugazmente na praia; algumas sugestões ultraparódicas da Odisseia, realizadas num contexto antiépico e 'irônico' estão em Os Ratos, de Dionélio Machado." (Nota 367 in: Odisseia, Edusp, p. 203)


Amig@s leitores, só lendo muito para suportar a tristeza que sinto perante a realidade brasileira. Eu não tenho como perdoar meus conterrâneos após o advento do bolsonarismo. Não tenho. Sei que sou um ser social, animal homo sapiens etc, mas quase que poderia afirmar que não quero mais saber dos seres humanos. Poucos valem a pena.

Ler é fundamental, ler é uma forma de resistência, é uma forma de sobreviver. Tenho tantas obras pra ler que gostaria de seguir vivendo.

William


Post Scriptum: até esta postagem eu não conhecia os clássicos dramáticos de Sófocles. Agora já conheço alguns. Li Édipo Rei e Antígona. Mais duas lacunas culturais preenchidas.


Bibliografia:

HOMERO. Odisseia. Tradução de Manuel Odorico Mendes. Edição de Antonio Medina Rodrigues. - 2. ed. - São Paulo: Ars Poetica: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. - (Coleção Texto & Arte; 5).


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