sábado, 1 de maio de 2021

Ulysses - Introdução de Declan Kiberd



Refeição Cultural

Sábado, 1º de maio. No mundo do trabalho é um dia de lutas e reflexões da classe trabalhadora. Este é um dos piores 1º de Maio do povo brasileiro em sua história. Tragédia total sob o regime fascista e genocida de milicianos alçados ao poder pelos grupos que executaram um golpe de Estado no Brasil em 2016. 

Desemprego, fome do povo, destruição dos direitos sociais e patrimônios públicos, destruição da Amazônia, Pantanal e ecossistemas, aparelhamento do Estado pelo crime organizado, mais de 400 mil mortos por Covid-19. Este é o cenário no qual nos encontramos. Estou em casa, numa condição privilegiada em relação aos meus pares da classe trabalhadora. Sigo focado em ler, obter conhecimento, me tornar uma pessoa melhor, dar significado às coisas.

Vou iniciar a releitura de um grande clássico da literatura mundial, um dos romances mais impactantes do século XX: Ulysses, do escritor irlandês James Joyce, publicado em 1922. Li esta obra aos trinta anos. Agora vou me aventurar nela novamente. Eu sou outro, o mundo é outro, é provável que a obra seja outra, ao menos para mim. 

A leitura será bem interessante. Ganhei de presente a edição que vou ler, traduzida por Caetano W. Galindo e com uma introdução do irlandês Declan Kiberd. O presente foi de meu amigo Sérgio Gouveia, estudamos juntos na USP e hoje ele é professor e mora no interior de São Paulo. Vamos ler juntos o livro nas próximas semanas. Fizemos isso semanas atrás com o Moby Dick, do norte-americano Herman Melville.

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"Em considerações como essas é possível encontrar a resposta para questão tantas vezes feita pelos leitores do Ulysses: se Joyce queria embasar sua narrativa numa lenda antiga, por que se voltou para os mitos gregos, e não para os gaélicos? Cúchulainn já tinha sido apropriado pelos nacionalistas militantes de Dublin, cuja política era incompatível com o pacifista e internacionalista Joyce. Desde sua juventude, ele se sentiu mais atraído pela humanidade calorosa de Ulisses. O herói épico não queria ir à Troia, recordava Joyce, porque considerava que a guerra não passava de um pretexto empregado pelos mercadores em sua busca por novos mercados. A analogia com a Europa contemporânea mergulhada na carnificina para garantir lucro aos barões da indústria do aço não se perderia naquele que se autointitulava um 'artista socialista'." (p. 19)

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A introdução de Kiberd é uma senhora introdução! São quase 90 páginas. Comecei a leitura do livro por ela porque já conheço a obra e não vou me decepcionar com eventual spoiler (e há). As informações e as reflexões do autor a respeito de Joyce, do Ulysses e do contexto da época são simplesmente fantásticas!

Lembra do cenário que descrevi sobre nós, brasileiros: destruição do país, fome e desemprego, 400 mil mortos etc? Joyce escreveu Ulysses entre 1914 e 1921, ou seja, durante a 1ª Guerra Mundial. Ele teve que se deslocar durante a guerra e seguiu escrevendo assim mesmo, em meio ao morticínio que o mundo viveu.

Li umas 30 páginas hoje e as reflexões a partir da leitura foram profundas. Novos conhecimentos após ler Kiberd: a relação entre Ulysses e a Odisseia de Homero; a questão do pacifismo em Joyce, em Leopold Bloom e no Odisseu grego (Ulisses na forma latina). Quanta informação obtive hoje, informação que vai fazer a releitura do clássico ser muito mais proveitosa que a primeira vez!

É isso. Estamos começando essa viagem. Também estou lendo a Odisseia de Homero, só que agora em versos, na "transcriação" do intelectual maranhense Odorico Mendes. São viagens, viagens. É uma das coisas que podemos fazer neste momento de nossas vidas, recolhidas no isolamento social para evitar o contágio e morte pelo novo coronavírus: viajar através da literatura.

Abraços aos leitores e leitoras que por acaso passarem por aqui.

William


Bibliografia:

JOYCE, James. Ulysses. Tradução de Caetano W. Galindo. 1ª ed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012.


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