domingo, 15 de agosto de 2021

Trótski - A paixão segundo a revolução



Refeição Cultural

"Seria o proletariado capaz de recriar a cultura a partir de zero, fundando novas formas, novos padrões formais, um novo gosto, uma nova estética, uma nova poética?

Lênin e Trótski não eram idiotas. Sabiam que isso não era possível. O comunismo teria que ser o herdeiro de toda a cultura passada, escravagista, feudal, burguesa. Os dois líderes tinham consciência muito nítida do caráter de carência da condição trabalhadora. Sabiam muito bem que o trabalhador, fabril ou agrário, caracteriza-se pela ignorância, pelo conservadorismo, mais obtuso, pela superstição, pela pobreza mental de horizontes, pelo imediatismo de visão política." (p. 368)


A leitura dessa obra de Paulo Leminski foi uma surpresa para mim. Sei que somos muito ignorantes (não sabedores) em quase tudo na vida, e não quero jamais perder a capacidade de me surpreender com as coisas. Ver Leminski escrever sobre a história da Rússia, de seu povo e de seus líderes como Liev Trótski foi uma surpresa para mim. 

Eu recém conheci Toda poesia (2013), do poeta curitibano - ver postagem aqui. Agora começo a conhecer seu lado prosaico, narrativo e historiador. Impossível não ficar curioso para ler o que Leminski nos conta sobre Jesus, Cruz e Sousa e Bashô. Qualquer hora eu descubro.

Para falar da Rússia e dos líderes da Revolução Russa, Leminski faz uma analogia interessante com a obra Os irmãos Karamázov (1880), de Dostoiévski, comparando as características do pai e dos filhos com os principais tipos característicos do povo russo e pensando a Rússia do passado e presente e com as perspectivas do que viria a ocorrer em 1917.

O velho Karamázov, os filhos Aliócha, Ivan, Dmitri e Smierdiakóv seriam os representantes bem característicos dos tipos mais comuns da Rússia milenar. Apesar de fazer muito tempo que li esse clássico, o fato de ter lido me ajudou a compreender o que Leminski quis dizer. Mas não se preocupem porque ele explica no início as características de cada um deles.

Aprendi muita coisa com a leitura, rabisquei o livro inteiro e fiz diversos comentários nas margens. Seria difícil escolher uma ou duas citações para fazer na postagem. A leitura é densa e leve ao mesmo tempo, pela forma que o poeta nos conta a história e as versões da história. Fiz um breve comentário em vídeo sobre o livro: ver aqui.

A epígrafe acima foi escolhida porque fiquei pensando no Brasil atual, após o golpe de 2016, liderado pelos tucanos com o suporte da mídia corporativa (PIG) e a operação imperialista Lava Jato, após o golpista Temer e destruído pelo regime militar e bolsonarista. 

Pensei no povo miserável que somos, povo primitivo e ignorante em diversos sentidos, mas ignorantes porque assim é melhor para as classes dominantes e não por escolha própria do povo. Leminski fala sobre uma carência do povo em relação à cultura, mas podemos estender o sentido dessa ignorância (não saber) para todos os sentidos da vida social.

Enfim, é bom aprender sobre a história humana. O texto sobre a biografia de Trótski nos ensina muita coisa. Obrigado Leminski!

William


Bibliografia:

LEMINSKI, Paulo. Vida: Cruz e Sousa, Bashô, Jesus e Trótski - 4 Biografias. 1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2013.


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